Já fazem dois meses que que estou aqui e eu não estou mais aguentando ficar nessa cidade, essa calmaria, essa mesmice. Eu sei que estou ao lado de pessoas que me amam, onde nasci e morei e até estou fazendo aula de boxe, que é algo que eu gosto, mas sinto falta do meu trabalho e do meu dia-a-dia. Sei que ainda fazem três meses para terminar a minha licença mas decidi ligar para Ian, talvez ele consiga conversar com meu superior e convencê-lo de encerrar antes essa licença.
Alô Ian - disse assim que ele atendeu - está podendo falar?
Eh..oi...sim posso - ele diz parecendo ofegante
Se estiver ocupado com alguém, ligo depois - digo revirando os olhos
Dulce sabe que sempre tenho tempo para você...sabe que sinto sua falta
Ian eu não liguei para isso - bufei - o que tivemos já acabou. Estou ligando profissionalmente. Eu não aguento mais essa licença, minha equipe precisa de mim, será que não pode falar com o Coronel Augusto, e convencê-lo a me deixar
Dulce sabe que não posso. Você precisa terminar a licença...precisa estar realmente bem para voltar
E eu estou - minto - minha perna já quase não dói e eu já me livrei do pesadelo
Será? - ele diz não acreditando
Droga Ian! - disse irritada - achei que poderia me ajudar. Já que não pode, volta aí para sua amiguinha - desligo na cara dele

Se não ia me ajudar, também não tinha mais nada para falar com ele e desliguei mesmo em sua cara. Ele retornou três vezes mas não atendi, já até me arrependi de ter pedido sua ajuda. Eu saí do quarto e deixei o telefone lá, fui tomar meu café da manhã e em seguida ajudaria minha tia a organizar os quartos, já que era domingo e dia de saída de vários hóspedes.

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Estava no salão de jantar, ajudando Maite e arrumar as meses para o almoço quando Lucy apareceu afoita e sozinha.
Tiaaa Duuul - ela me abraça muito animada - você aceitaria ir a um piquenique ao parque comigo, Hanna e o papai?
O que? - disse confusa - você está sozinha? - disse sem ver ninguém atrás dela
Eles estão no carro deeer - ela diz como se fosse óbvio - vamos Tia Dul, por favor - ela me puxa pela mão - o dia está lindo e vai ser legal - ela faz aquela carinha que não resisto
Vai Dulce, eu e sua tia ajeitarem os tudo aqui - Mai me encoraja - o dia está lindo lá fora
Não sei não - digo ainda indecisa
Tia Dul por favorzinho - ela faz bico

Eu não sabia se deveria ir ou não, desde aquele dia da missa quase não falo com Christopher, não porque ele não quer, mas sim porque eu sempre o evito. Estava dando certo essa distância, mas agora vem Lucy com essa ideia de piquenique. Respirei fundo e decidi seguir meu coração e não a razão e acabei aceitando. Pedi que Maite avisasse minha tia, e deixei Lucy sair me puxando pela mão, não peguei nada, nem celular, apenas fui daquele jeito.
Christopher estava dentro da sua caminhonete, e sorriu quando me viu com Lucy e acreditem eu senti meus batimentos acelerarem com aquele sorriso e me senti uma boba com isso. Assim que me aproximei falou com ele pela janela do passageiro.
Tem certeza que vocês querem que eu vá?
É claro, vai ser um passeio legal - Christopher disse - não é querida? - se virou para Hanna que estava no banco de trás
Tanto faz - ela revirou os olhos e deu de ombros
Hanna o que combinamos?
Tudo bem...ela realmente está entusiasmada - brinquei

Ajudei a pequena Lucy a subir na caminhonete e colocar o cinto de segurança, em seguida fechei a porta e também entrei, e sentei no banco do passageiro ao lado de Christopher.
Faz muito tempo que não sei o que é um piquenique - confessei
Sério? - Lucy disse de boca aberta
Ué, em que mundo você vive? - Hanna disse irônica
Em um mundo chamado Afeganistão conhece? - me virei para ela - no meio de muita coisa ruim, não tinha tempo para isso - me vire e me acomodei no banco - é...pode ser divertido esse piquenique - virei e olhei para Christopher que ficou surpreso com jeito mais leve

Eu prometi a mim mesma que tentaria ser mesmos rude com Christopher, principalmente na frente das filhas dele, tia Victoria havia conversado comigo sobre isso, até porque seria apenas um simples passeio, um piquenique no parque, que mal haveria nisso né?

{...}

Assim que chegamos, Christopher fez questão de não apenas ajudar as meninas a desceram, como abriu a porta do carro pra mim e estendeu a mão e eu acabei aceitando. Como o domingo estava quente eu decidi usar um shorts e uma regata, e uma sandália no pé, então estava combinando com esse passeio. Lucy deu a mão para mim enquanto Christopher pegava as coisas atrás da caminhonete. Hanna andava mais a frente, com certeza ela não estava gostando tanto assim da minha presença ou ela não queria ter vindo mesmo.
Quando por fim encontramos um lugar, debaixo de uma árvore, ele estendeu a toalha e colocou a cesta com comidas no chão. Hanna sentou encostada na árvore,com Christopher ao lado, eu sentei de frente para eles e Lucy quis ficar ao meu lado. Comemos e acabamos rindo da brincadeira de caretas que Lucy e Hanna começaram, até que eu e ele entramos na onda. Depois, Christopher pegou o frisbee que trouxe, as garotas pelo jeito gostam de brincar disso porque ficaram animadas e eu decidi aprender a jogar. Realmente havia sido uma boa escolha ir nesse passeio, porque até esqueci a raiva que estava por Ian não ter me ajudado. Quando por fim estava cansada, decidi ficar sentada encostada na árvore, e Christopher me acompanhou, enquanto as meninas continuaram a brincadeira.
Ual fazia tempo que eu não me divertia assim - ele confessa
Realmente, foi legal da parte de vocês me convidarem - digo ainda olhando as garotas jogarem
Lucy teve a ideia e eu concordei - ele confessa - mas não achei que aceitaria
Porque? - me virei para ele
Porque será né? - ele ri - porque você nem quer olhar pra mim
Estou olhando - me viro - não tenho problema nenhum
Se você está dizendo - ele dá de ombros - mas obrigado por vir, Lucy está feliz - ele diz suspirando - desde que você chegou e ela te conheceu, ela parece uma garotinha feliz
Ela não era assim?
Não - confessa - ela era bem introvertida. Você a tem ajudado muito Dulce...não apenas ela como eu - ele toca a minha mão
Christopher...por favor não - puxo minha mão - olha eu não estou interessada em romance - digo me virando para olha-lo - confesso que você é atraente e até um bom homem - ele ri - mas assim que minha licença acabar, voltarei para o meu trabalho, que é o que eu verdadeiramente amo, que é ser militar. Isso não daria certo, só te magoaria
Será? Eu aposto que sou grandinho o bastante para decidir - ele pisca pra mim - mas tudo bem...eu disse que tenho paciência

E então Christopher me surpreende com um beijo na bochecha, e então se levanta e se junta as filhas. Eu fiquei ali observando-os, como podia em tão pouco tempo me sentir tão bem perto deles e pior, porque Christopher me causava essas sensações? Meu coração dizia que eu devia tentar saber o que é isso mas minha razão dizia que não, o melhor era as coisas como estão, porque quando eu for embora nada disso mais importará.