Dominic Rosende:

Saí da casa dos Rodrigues, caminhando em direção ao teatro que Jean encontrou, um lugar perfeito para a minha última apresentação como o fantasma Pianista. O pensamento de encerrar essa fase da minha vida trouxe uma mistura de nostalgia e alívio. Refleti sobre o futuro e uma ideia começou a tomar forma: abrir uma escola de música para permanecer ligado a essa paixão que tanto amo.

Meus devaneios foram interrompidos pelo toque do celular. O nome de Nicolas, o noivo do meu pai, apareceu na tela. Conectei o celular ao Bluetooth do carro e atendi.

— Dominic, preciso te pedir um favor — disse Nicolas, com um tom de urgência na voz. — Olá, tudo bem? Como você está?

— Estou... bem, mais ou menos. Mas me diga o que precisa e, por favor, avise ao meu pai para parar de falar sobre romance ou casamento com meus filhos — respondi, tentando manter um tom leve. Ouvi Nicolas rir do outro lado, o que trouxe um sorriso ao meu rosto. — Ontem passei por uma situação muito constrangedora.

— Isso vai ser complicado, ele está se sentindo como um conselheiro amoroso desde que nos conhecemos — disse Nicolas, e então ouvi um murmúrio ao fundo. — Não, não sei onde está o seu celular.

Aguardei alguns segundos, imaginando a cena caótica do outro lado da linha, até que Nicolas voltou a falar.

— Ah, sim. Bem, a banda que iria tocar durante nossa entrada no altar, na recepção dos padrinhos e no restante da festa acabou cancelando na última hora. Ficamos sem opções até que me lembrei de você — explicou ele, em um ritmo rápido, como se estivesse ansioso. — Então, gostaria de saber se você poderia se apresentar nessas partes? Seria algo realmente especial.

Mordi o lábio, sentindo uma mistura de emoções. Eu e meu pai estávamos tentando reconstruir nossa relação, que ainda era frágil, mesmo com todos os esforços. A ideia de tocar na recepção do casamento dele parecia um grande passo, algo que exigiria mais do que eu estava preparado para dar.

— Não é fácil deixar o passado para trás — comecei, escolhendo cuidadosamente minhas palavras. — Meu pai me virou as costas e me magoou profundamente. Mesmo que Alex e Gabi digam que ele mudou desde que conheceu você, Nicolas, não consigo vê-lo como uma pessoa totalmente transformada, quase um santo.

O silêncio se estendeu por um momento, enquanto eu ponderava sobre a oferta. Seria essa a chance de dar um passo em direção ao perdão? Ou uma oportunidade de reafirmar minhas mágoas? A decisão parecia pesar uma tonelada, mas a resposta não podia esperar muito mais.

— Nicolas, acho que não posso fazer isso. Sinto muito, mas nem vou ao casamento — falei, estalando a língua, tentando aliviar a tensão. — Acho que seria melhor assim, para não estragar o seu dia especial ou criar uma situação desconfortável com os convidados sobre a minha relação estranha com o meu pai.

Ouvi um suspiro do outro lado e, em seguida, duas vozes perguntando o que havia acontecido.

— Eu entendo o que você e seu pai passaram, mas gostaria que você viesse por mim. Não pelos outros, mas porque você se tornou um amigo nesses últimos dias e, em breve, seremos uma família — disse Nicolas, com uma sinceridade que me tocou. — Então, por favor, pense com carinho sobre isso. Seria algo muito especial.

— Eu... vou pensar no que posso fazer. Mas não prometo muita coisa e não crie expectativas — respondi, soltando um suspiro pesado, claramente contrariado.

Nicolas agradeceu e desliguei a ligação. Fiquei em silêncio por um momento, tentando afastar os pensamentos sobre meu pai e os problemas que sempre o acompanhavam. Decidi focar em outras coisas, algo que me trouxesse paz e afastasse o turbilhão de emoções que a situação havia despertado.

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Uma hora depois, cheguei em frente ao teatro, cujo design inovador era inspirado por ondas sonoras, criando uma acústica única. O projeto incluía também uma sala de concerto e uma sala de câmara, além de um lobby funcional que seria utilizado para encontros da comunidade local.

Jean acenou para mim quando me viu, e eu caminhei em sua direção. Entramos no espaço e logo percebi que a sala poderia ter alguma dificuldade em acomodar o crescente número de visitantes que esperávamos. A dona do local, vestindo um terno cinza elegante, falava animadamente enquanto Jean tirava fotos de todos os cantos.

— Nossa construção foi feita sob medida para oferecer aos artistas e ao público uma experiência musical diferenciada. As salas exercem um papel fundamental na difusão do repertório sinfônico e se destacam não apenas pela beleza de seus projetos arquitetônicos, mas também pela relevância histórica e pelas personalidades artísticas que já passaram por seus palcos — explicou a dona, com um entusiasmo evidente. — Somos considerados uma das salas de concerto mais renomadas dos arredores da cidade. Talvez não tenhamos a mesma fama de outros locais conhecidos pela "acústica de ouro", mas nossa qualidade técnica é impecável, e o metal nobre que adorna todas as nossas instalações do luxuoso auditório é um destaque à parte.

Não pude deixar de admirar o lugar; realmente era fantástico, com uma construção que combinava beleza e funcionalidade.

— Isso realmente é impressionante, esse lugar é perfeito para o último show do meu cliente — disse Jean, olhando para mim com um sorriso satisfeito. — Qual seria o preço que você consideraria justo para começarmos a negociar?

— Bem, isso pode depender do tempo que vocês estão planejando para realizar este evento — respondeu a dona, alternando o olhar entre mim e Jean, com os olhos brilhando como se visse cifrões sobre nossas cabeças.

— Que tal daqui a dois meses? Podemos até fazer um evento online para os fãs da Europa — sugeri, olhando para Jean, que pareceu ponderar a ideia.

— É uma ótima ideia, considerando que muitos fãs não poderão vir para o seu último show da carreira musical — concordou ela, voltando-se para a dona do teatro.

A dona do local assentiu, parecendo satisfeita com a proposta, e começamos a discutir os detalhes para garantir que essa última apresentação fosse um evento memorável para todos os envolvidos.

Enquanto Jean e a dona do teatro continuavam a conversar, me afastei um pouco e comecei a explorar as outras salas do local. Passei por uma porta aberta e vi três monitores alinhados, com um rapaz editando um vídeo, usando o teclado e o mouse. Na tela principal, alguns sons estavam sendo capturados e exibidos.

Aproximei-me silenciosamente, mas o rapaz se assustou ao perceber minha presença. Ele era mais baixo que eu e parecia ter cerca de dezessete anos.

— Olá — disse, levantando as mãos em um gesto pacífico, indicando que não era minha intenção assustá-lo. — Você está fazendo vídeos?

— Oi, na verdade, estou fazendo alguns remixes para a senhorita Kelly — respondeu ele, ainda um pouco surpreso. — Ela me deixa usar o estúdio depois que termino os estudos.

Curioso, me aproximei do teclado e coloquei os fones de ouvido para ouvir o que ele estava criando. Os remixes eram impressionantes, e eu não pude deixar de elogiá-lo, o que fez com que ele ficasse visivelmente envergonhado.

— Não é para tanto — disse ele, com as bochechas coradas.

— São incríveis, você tem muito talento — comentei, realmente impressionado. Nesse momento, ouvi Jean me chamar. — Preciso ir, mas nunca desista do seu talento.

Saí da sala e voltei para onde Jean e a dona do teatro estavam conversando animadamente.

— Desculpe interromper a conversa, mas quem é o rapaz que está fazendo alguns remixes naquela sala? — perguntei à senhora Kelly.

— Ah, aquele é o Nilo. Ele trabalha aqui. É um garoto adorável, muito talentoso e carismático. Infelizmente, ele perdeu os pais quando tinha dez anos, e ninguém da família quis ficar com ele — explicou ela, com um tom de voz mais baixo. — Ele mora em um orfanato fora da cidade. Quando completar dezoito anos, terá que sair de lá, e isso acontecerá em onze meses. Deixo ele tocar aqui e me ajuda depois da escola.

— Que situação triste — comentou Jean, voltando-se para mim. — Mas, vamos deixar isso de lado e começar os preparativos para o nosso grande evento de despedida.

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Até a próxima 😘