Capítulo Dezoito
Dominic Rosende:
— Esta é a hora! — sussurrei para Harry, apertando sua mão com força.
Levantei os olhos na direção do meu pai, que erguia uma taça de champanhe.
— Quero agradecer a todos que vieram para minha festa — começou meu pai. — Pode parecer estranho, mas descobri recentemente que meu filho mais novo voltou do exterior para a cidade. Como não consegui contatá-lo diretamente, pedi que alguém de minha confiança lhe entregasse uma mensagem.
Todos os olhares se voltaram para mim e para Harry. Apertei a mão dele um pouco mais forte e caminhei em direção ao homem que achava difícil chamar de pai.
Ao nos aproximarmos, a expressão severa dele permaneceu inalterada, mas algo em seus olhos sugeria uma mistura de sentimentos. O rapaz ao seu lado parecia nervoso, olhando ao redor como se procurasse uma saída.
— Dominic — disse o senhor Rosende, sua voz firme. — Finalmente decidiu aparecer.
Respirei fundo, tentando manter a calma. — Sim, pai. Decidi que era hora de resolvermos as coisas.
O silêncio ao redor era palpável, e senti o aperto da mão de Harry ficando mais forte. Continuei:
— Este é meu amigo — disse, olhando para Harry com um breve sorriso. — Ele tem sido um grande apoio.
Meu pai olhou para Harry com olhos avaliadores, e por um momento pensei que ele diria algo desagradável. Mas, para minha surpresa, ele apenas assentiu levemente.
— Muito bem — disse ele, com a voz um pouco mais suave. — Talvez seja hora de termos uma conversa. Todos nós.
O rapaz ao lado do senhor Rosende parecia aliviado, e soltei um suspiro que estava segurando.
— Vamos conversar depois — disse meu pai, assentindo lentamente.
Nos posicionamos ao lado dele e do rapaz, que parecia desconfortável com toda a situação, e Harry o encarou.
— Então, vamos brindar ao retorno do meu filho Dominic e ao meu casamento — continuou meu pai. Ao ouvir a última parte, engasguei com o champanhe, e Harry teve que me socorrer. — Nicolas Baker, meu amado noivo.
Nicolas pareceu ainda mais constrangido e se escondeu um pouco atrás do meu pai.
— Então, aproveitem o restante da festa e essa comemoração — disse meu pai, virando-se para mim e Harry. — Vamos, sei que você não veio apenas para socializar comigo ou com qualquer um presente na festa.
— Ainda bem que você sabe — falei sem demonstrar emoção.
Ele assentiu e puxou Nicolas consigo, e os seguimos pelo corredor que levava ao seu escritório.
Começamos a nos mover em direção a um canto mais tranquilo da festa, prontos para enfrentar o que viesse a seguir.
Seguimos por um corredor que sempre foi proibido para mim. Como um bom idiota que eu era, obedecia sem questionar.
Ao caminharmos, vi no final do corredor uma escada que descia um pouco, revelando a enorme porta da sala do meu pai. Ele a abriu, e nós entramos. Observei tudo ao redor e me surpreendi ao ver uma foto na parede da nossa família unida: minha mãe abraçando uma versão mais jovem de mim, enquanto meu pai tinha a mão sobre o ombro de Alex, que sorria. Meu pai era o único sério naquela pintura.
Olhei para a mesa dele e vi um monte de catálogos de casamento e reconheci um álbum de casamento que minha mãe havia feito, ao lado de um novo.
— Não repara na bagunça — disse meu pai, sentando-se na cadeira e colocando as coisas de lado. — Nicolas estava vendo dicas para o casamento e, como sabia onde estava o álbum que sua mãe fez, dei para ele se inspirar.
— Mas não vou usar nada e nem abri. Era particular da sua mãe — disse Nicolas, temeroso pela minha reação. — Eu a conheci, ela ajudou meu pai com alguns assuntos dos meus irmãos.
Olhei para ele seriamente, e ele se encolheu. Harry bateu no meu ombro.
— É verdade, a irmã dele era a babá do Milo — explicou Harry, e fiquei surpreso por eles quase se conhecerem. — Mas então, ela conseguiu um estágio em uma empresa que desenha quadrinhos, e eu disse para ela ir atrás, que não precisava se preocupar, que eu acharia outra pessoa para cuidar do...
Ele parou bruscamente e olhou para meu pai, que observava Nicolas.
— Quem é Milo? — perguntou meu pai. — E, afinal, Dominic, quem é esse rapaz?
Coloquei o braço na frente de Harry, que olhava para meu pai em choque.
— É o Harry Heart, não se lembra dele? — falei, e um vislumbre de reconhecimento passou pelo rosto do meu pai. — E o Milo é um dos meus filhos.
Eu esperava que meu pai surtasse e começasse a gritar, já que ele nunca gostou de não saber das coisas. Se ele dissesse algo ofensivo ao Harry ou sobre meu filho, não aceitaria calado.
Estava preparado para tudo, mas Nicolas entrou na frente e segurou o rosto do meu pai da mesma forma que minha mãe fazia quando ele estava prestes a surtar e avançar em alguém. Lembro que ele avançou em um homem que tentou bater no meu irmão, mas minha mãe interveio, olhou bem nos olhos do meu pai, tendo uma conversa silenciosa, e ele se acalmou imediatamente.
Vi essa cena se repetir à minha frente. Nicolas estava tentando acalmar meu pai, e vi os músculos dele relaxarem rapidamente. Ele colocou suas mãos sobre as do noivo, fazendo um carinho, e suspirou ao voltar a olhar na minha direção e na de Harry.
— Vamos conversar calmamente — disse meu pai, sua voz agora mais suave e controlada. — Precisamos entender melhor tudo isso.
O alívio tomou conta de mim, e vi a mesma sensação nos olhos de Harry. Estávamos finalmente prontos para enfrentar o passado e construir um novo futuro.
— Então, você estava grávido naquele tempo — disse meu pai lentamente. — Por que não veio atrás do meu filho? Poderia ter dado dinheiro para que você cuidasse do meu neto ou deixado a guarda para mim.
Harry o olhou horrorizado.
— Senhor, com todo respeito, nunca pensei que eu fosse alguém que engravidasse por dinheiro — disse Harry, sério. — Também nunca daria meu filho ao senhor. Desde o primeiro momento que soube da existência dele, o amei por ser meu filho. Nenhum dinheiro se compara à felicidade que senti segurando o meu filhinho ou sabendo da sua existência.
Sorri ao ver a expressão culpada do meu pai ao ouvir isso, já que ele sempre julgou as pessoas pela aparência e condição financeira.
— Também nunca pediria ajuda de um homem que separou meu filho do outro pai dele — continuou Harry, como se fosse óbvio. — Posso ter sofrido por algum tempo até que meus tios chegaram ao meu resgate, mas de você não quero nada. Deveria pedir desculpas ao Dominic.
— Dominic, você disse que tem mais de um filho? — meu pai perguntou, olhando para mim. — O que andou fazendo, além de me esconder dos meus netos?
Revirei os olhos.
— Pai, tenho mais dois filhos. O Daniel e a Ayla. E não estava escondendo nada de você. Simplesmente, não era da sua conta. Sabe muito bem que nossa relação não é boa
Meu pai parecia estar processando essa informação. Finalmente, ele suspirou, mostrando um raro momento de vulnerabilidade.
— Talvez eu tenha errado em muitas coisas — admitiu ele, sua voz baixa e cansada. — Mas estou disposto a tentar consertar o que for possível.
Nicolas apertou a mão do meu pai, oferecendo-lhe apoio silencioso.
— É um começo — disse Harry, suavizando um pouco o tom. — O importante é que estamos aqui agora, prontos para enfrentar isso juntos.
— Certo — concordei. — Vamos tentar reconstruir o que foi perdido, mas vai exigir esforço de todos nós.
Meu pai assentiu, e senti uma leve esperança de que, talvez, pudéssemos realmente construir um novo futuro juntos.
— Se você me permitir falar ao invés de falar da sua vida, consigo te explicar tudo sobre a minha vida particular — falei. — Afinal, segundo o que Alex me disse nos últimos anos, você tem tentado mudar.
Meu pai se sentou, indicando que estava disposto a ouvir. Comecei a explicar tudo para ele, observando sua expressão mudar à medida que revelava detalhes da minha vida. Quando mencionei que sou o Pianista Fantasma, o maior astro de Milão e da Europa, sua face ficou estranha, uma mistura de surpresa e incredulidade.
— Você está me dizendo que é o Pianista Fantasma? — perguntou ele, tentando processar a informação.
— Sim, pai. Tenho vivido essa vida dupla por anos. Foi a música que me ajudou a superar muitos desafios e me deu forças para criar Milo e Aiden.
Harry, que estava ao meu lado, assentiu, confirmando tudo o que eu dizia.
— E é por isso que não quisemos expor nossos filhos a tudo isso — continuou Harry. — Queríamos que tivessem uma vida normal, longe dos holofotes e da pressão.
Meu pai respirou fundo, ainda tentando absorver tudo o que estava ouvindo.
— Eu... Eu não fazia ideia — disse ele, a voz falhando levemente. — Sempre pensei que você estava apenas fugindo de nós, mas na verdade estava construindo algo incrível.
— Estava tentando fazer o melhor para minha família — respondi, mais suave. — E agora, estou aqui, tentando reconstruir pontes, se você estiver disposto a fazer o mesmo.
Meu pai olhou para Nicolas, que assentiu, dando-lhe coragem.
— Estou disposto — disse ele finalmente. — Sei que errei muito, mas quero tentar fazer as coisas certas desta vez.
Um silêncio carregado de esperança e tensão se instalou na sala. Era o começo de algo novo, algo que todos nós estávamos dispostos a tentar, apesar dos medos e mágoas do passado.
— Então, vamos seguir em frente — falei, estendendo a mão para meu pai. — Juntos.
Ele pegou minha mão, e senti que, talvez, este fosse o primeiro passo para finalmente sermos uma família novamente.
— Eu tenho uma condição para vocês — disse ele com uma expressão neutra.
— Richard! — Nicolas o censurou, olhando para meu pai. — Ele é seu filho. Acabou de vê-lo depois de anos e quer tratá-lo como se fosse um dos seus amigos empresários.
— Eu sei disso perfeitamente — meu pai falou, revirando os olhos. — Você mesmo ouviu, tenho três netos que nem conheço.
— Você quer conhecê-los? — perguntei, olhando para ele como se tivesse duas cabeças. — Essa é sua condição?
— Sim, só quero conhecer os três e que venham jantar em casa todas as sextas-feiras — disse meu pai, e quase jurei que ouvi errado. — Não me olhe assim! Sei que errei muito com você e seu irmão, mas não mereço ser penalizado pelos meus netos. Até a Gabi e seu irmão me deixaram conhecer o Cameron.
Eu ia abrir a boca para responder que ele merecia ficar desse jeito por qualquer pessoa, mas Harry colocou a mão na frente da minha boca.
— Você pode vê-los com a condição de ser o mais discreto possível e sem nenhum tipo de loucura — disse Harry, assumindo uma expressão de negócios. — E também, precisamos garantir que a convivência será saudável para todos.
Meu pai assentiu, visivelmente aliviado.
— Concordo com essas condições — disse ele, olhando diretamente para Harry e depois para mim. — Prometo ser discreto e respeitar os limites que vocês estabelecerem.
— Ótimo — falei, retirando a mão de Harry da minha boca. — Vamos tentar isso. Sexta-feira, então.
Nicolas sorriu, e pude ver o alívio em seus olhos também.
— Isso é um bom começo — disse ele, apertando a mão do meu pai novamente.
— Obrigado — meu pai disse, sua voz carregada de sinceridade. — Estou realmente tentando fazer as coisas certas desta vez. — Suspiro e olhou para harry. — Você é bom em fazer um acordo, Heart — disse com um enorme sorriso surgindo em seus lábios, levantando-se para apertar nossas mãos. — Podemos dizer que temos um acordo, então.
Harry apertou a mão dele com firmeza.
— Temos um trato, nada de passar a perna e querer mais tempo com meus meninos — disse Harry sério. — Não confio muito em você perto deles.
Dito isso, fomos embora, e juro que me apaixonei ainda mais por Harry.
Harry e eu trocamos um olhar, sabendo que essa era uma chance para algo novo e positivo. Talvez, finalmente, pudéssemos construir um futuro melhor juntos.
— Até sexta-feira, então — finalizei, sentindo um misto de esperança e nervosismo.
Enquanto saíamos da sala, senti que, apesar de tudo, estávamos dando um passo importante para o futuro da nossa família.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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