Capítulo 69 - O vazio que fica
n/a: olá olá! A música é INDISPENSÁVEL pra esse cap! É um cover que o Daley fez de Climax, do Usher. Espero que gostem...
Cap. 69 – O vazio que fica
Qualquer coisa, tudo que eu havia planejado simplesmente caiu por terra quando abri aquela porta. Olhos perdidos que encontraram os meus. Talvez tenha sido reflexo, mas algo me puxou, me coloquei na ponta dos pés e me vi agarrando seu pescoço, envolvendo-o em um abraço. Recostei minha cabeça em seu peito e senti que ele havia ficado paralisado, mas em instantes seus braços atravessaram minhas costas. O silêncio era absoluto, eu não seria capaz de descrever os mil sentimentos que corriam por mim enquanto aquele abraço durou.
-Oi... – soltei sem graça. – Fica à vontade.
Disse como se ele nunca tivesse entrado em meu apartamento antes e ele coçou a cabeça, encarou o chão e sorriu sem graça como se não nos conhecêssemos. Fechei a porta, mas não me movi, vi seu corpo se deslocando pela sala: cabelos um pouco mais compridos do que a última vez, barba por fazer, vestido em uma jaqueta jeans clara, calça escura, nada menos que encantador. Respirei fundo e me desencostei da porta indo em sua direção, coloquei-me ao lado do sofá.
-Senta, ué. – disse rindo um pouco notando o quanto ele estava sem graça, tentando disfarçar que eu sentia o mesmo.
Ele ocupou finalmente uma ponta e eu a outra. Cruzei minhas pernas sobre o assento para encará-lo, mesmo que estivesse com medo de fazê-lo.
-Então, você quer comer alguma coisa? – questionei para quebrar o silêncio.
-Estou bem... – ele negou com a cabeça.
-Hmmm, água? – ele negou mais um vez. Ri de nervosismo sentindo as palavras que passei a semana selecionando se dispersando enquanto encarava o movimento apreensivo de suas mãos contra suas pernas.
-Como você está? Sua família, todo mundo bem? – ele se resumiu a balançar a cabeça e retornou a primeira pergunta pra mim, fiz o mesmo, balancei a cabeça rápido mesmo não sabendo se eu estava bem, ou se deveria me sentir bem ou como deveria me sentir. O silêncio voltou a tomar conta da sala, sala que nunca pareceu tão fria. Me encolhi em meu casaco de moletom da LAA azul marinho tentando encontrar a tranqüilidade que foi embora quando ele chegou.
-Nós precisamos conversar, Zayn. – tentei dizê-lo de modo mais sereno possível depois de reunir toda coragem que havia em mim.
-Eu sei, eu sei... – ele repetiu baixo e abaixou a cabeça. Coloquei uma de minhas mãos sobre o seu ombro como se o encorajasse, sendo que eu não sabia pra que estava-o encorajando.
-Eu não sei por onde começar... só sei que preciso... – ele parou para respirar fundo, retirei a mão de seu ombro e passei a encará-lo. – Me desculpa, por favor.
Ia dizer que estava tudo bem, quando sabia que na verdade não estava, mas ele me interrompeu antes que pudesse:
-Eu não sabia o que fazer, eu sei que não tinha direito de pedir um tempo e depois fazer aquilo... Eu só precisava tanto de você que não pensei... Não pensei em nada, não pensei em você, em nós. Eu fui um idiota.
Paralisada diante das suas palavras, minha boca se abria mas de lá não saia nada. Ele simplesmente me disse tudo que eu precisava ouvir dele, me desarmando completamente.
-Eu te amo, Jessica. Só não sei até que ponto podemos continuar isso.
E a sua boca se abriu mais uma vez enquanto eu estava inerte. Suas palavras foram como um soco na boca do estômago, a verdade estampada diante de mim. Talvez eu devesse ter tentado impedir, mas apenas deixei que meus olhos se enchessem d'água e em poucos minutos se transformassem em lágrimas.
-Não chora, por favor. – no mesmo instante sequei as lágrimas, mesmo não sendo capaz de impedir que mais delas caíssem. Suas mãos fizeram um sinal, pedindo que eu chegasse mais perto dele. O fiz para notar a pequena distância entre nossos rostos. Nossos olhares se cruzaram fazendo com que um sorriso discreto brotasse em ambos os lábios, seu e meu. Ele se aproximou implantando um beijo em minha testa, senti aquele gesto como um choque. Um arrepio subiu por todo o meu corpo, olhei para cima e vi que ele ainda me encarava e percebi os seus olhos aflitos.
-Zayn, eu não consigo mais... eu não... – confessei, bambeei em minhas palavras e mais lágrimas chegaram.
-Me perdoa por tudo? – ele disse segurando minhas mãos geladas.
- Já tá tudo bem... eu só não soube lidar com tudo aquilo.
-E eu não tinha direito de te deixar sozinha e mesmo assim fiz. – sua mão fazendo carinho em minha bochecha. Seu toque mais uma vez causando minha destruição interna. Minha mão encontrou sua nuca e então ousei acariciá-la, vi seus olhos se fecharem e sua respiração se tornar descompassada.
Senti meus atos pararem de fazer sentido e me vi perdida naquela sala, com a certeza de que todos os meus propósitos para a noite a cada instante se distanciavam de mim.
-Eu achei que fosse conseguir lidar com isso tudo, mas eu não consigo. As fãs, a distância, eu. O problema tá comigo, eu não sei mais fazer com tudo o que a gente construiu... Tudo é motivo de briga, eu não sei... – e eu dizia sem consegui conectar uma frase à outra, um raciocínio a qualquer conclusão lógica, eu queria concluir, eu não conseguia, mas não sabia.
-Eu pensei que eu conseguiria, sabe? Naquele dia que eu te trouxe pra casa, no seu aniversário... Eu só queria cuidar de você, te proteger. Porque eu não consigo mais? O que aconteceu?
Aflição. Dúvida. Desespero.
Talvez ele estivesse sentindo tudo isso tanto quanto eu, ele não esperava uma resposta, mas mentalmente eu tentava e não conseguia responder. Talvez nunca saibamos como as coisas mudam no meio do caminho ou mesmo por que. Minha mente me levou para esse dia, me lembrava como se fosse há poucos minutos: "dela você não chega perto", sua voz ecoou por meus ouvidos. Meu corpo sendo recolhido por seus braços, como eu me sentia vazia, mas ao mesmo tempo protegida. Eu não precisava saber pra onde ele estava me levando, e não precisava, pois sempre me senti tão segura ao seu lado.
E porque toda a segurança se tornou insegurança? E os sorrisos em lágrimas? Porque estávamos no mesmo lugar que já ocupamos tantas vezes, mas agora não sabíamos o que fazer? O silêncio se tornou presença e as minhas lágrimas ocuparam meus olhos de novo.
Acabou.
Os soluços se tornaram audíveis no momento que a conclusão que eu queria tanto ignorar chegou à minha mente. Senti que ele me abraçava forte como se um abraço pudesse consertar tudo, mas nós dois sabíamos que no momento não havia nada que juntasse de volta os pedaços.
-Você acha que devemos... você sabe... – sua voz falhou. Não podia vez seu rosto mas pensei que talvez ele pudesse estar chorando também, imaginei que deveria doer tanto nele quanto em mim. O meu silêncio talvez deva ter dito mais que qualquer palavra, pois ele se afastou e me encarou:
-Mesmo que eu não seja o seu namorado, você sabe que sempre pode contar comigo.
-Não desaparece da minha vida, por favor. – implorei tentando não parecer desesperada enquanto imaginava como seria a minha vida sem ele. Por um instante perdi o chão, pensei em voltar atrás, mas sabia que não deveria.
-E não vou. – a firmeza em suas palavras me acalmaram, entretanto me fizeram questionar se de fato seria bom continuar tendo-o por perto sabendo que ele não seria meu.
-Então, é isso? – disse tentando segurar as lágrimas, mesmo sentindo um nó se formar na minha garganta.
-É, eu acho que sim... – Zayn disse depois de expirar todo o ar do seu pulmão. E fez como se fosse levantar do sofá. – Acho melhor eu ir embora...
Não soube o que dizer, então o vi se levantar e continuei estática sentada. Só quando o vi se aproximando é que me levantei em um salto. De costas pra porta parei virada de frente pra ele, encarei-o mais uma vez encontrando aquele que eu tinha divido os últimos meses da minha vida e não pude evitar as memórias atravessaram a minha mente, sorri boba deixando uma lágrima escapar. Ele não perdeu tempo e levou seu polegar à minha bochecha com o intuito de fazer desaparecer qualquer indício de que um dia aquela lágrima havia existido.
-Você é a menina mais incrível que já atravessou o meu caminho, você não faz idéia do quando sinto por estar perdendo você agora. – sua voz saiu serena e ele não perdeu um instante sequer, colocou as duas mãos sobre a porta me cercando. – Posso?
Ele pediu permissão para se aproximar, mesmo sem que eu dissesse uma palavra ele o fez. Senti sua respiração e seu hálito quente me atordoarem para que em seguida seus lábios tocassem os meus. Calmo, intenso temeroso, como se fosse o último, e talvez fosse mesmo. Suas mãos pressionavam seu corpo contra o meu e a cada instante o beijo ficava mais intenso, até que ele parou de súbito.
-Me desculpa... – ele disse ao se afastar balançando a cabeça. – Eu não posso...
- É melhor... – esbocei um sorriso. E me virei de costas para abrir a porta da sala.
-Fica bem. – ele disse beijando minha testa.
- Você também... – disse o vendo se afastar. Ainda de porta aberta o observava esperar o elevador que se abriu em alguns segundos. Já dentro ele acenou e sorriu fraco e eu fiz o mesmo enquanto a porta se fechava.
E ele foi. Fechei a porta atrás de mim, me virei para a sala sem saber o que fazer. O silêncio e solidão tomaram conta. Encostei-me sobre a porta e fiz com que meu corpo deslizasse até o chão, me colocando agachada. "Ele foi."; "Acabou". Essas palavras ecoavam em minha cabeça enquanto memórias me atingiam, fazendo surgir lágrimas já esperadas enquanto eu ouvia sua voz ecoar em alto e bom som dentro da minha cabeça:
" –Seria ótimo se eu pudesse... te beijar." (Cap. 9, parte II)
"-Queria saber como você estava depois da noite agitada de ontem, ia mandar uma mensagem, mas achei que o cheesecake faria isso melhor que uma mensagem, acertei?" (Cap. 15)
"-Eu quero fazer isso diferente sabe... Quero conversar com você, quero te ouvir, quero te proteger, quero ser o seu namorado...." (Cap. 56)
"-Gostou, não é, princesa? [...] Você, minha princesa." (Cap. 57)
"-Já disse, o que eles ou qualquer um acha não importa pra mim, isso é bobeira... Você está feliz? Isso é o mais importante de tudo, eu não vou deixar que ninguém acabe com isso.[...] -Por mais que elas digam coisas elas não podem mudar o fato de que estamos juntos e eu estou amando isso, amando ficar com você... " (Cap. 58)
"-Eu sei que você vai ir super bem na prova, você é a minha gênia, se esqueceu?" (Cap. 59)
"-Não precisa mais chorar, eu estou aqui." (Cap. 60)
"-Eu te amo, nunca vou te deixar." (Cap. 62)
A dor de ouvir claramente todas as declarações em minha cabeça contrastavam com o desfecho da noite, a dor de saber que todas aquelas palavras ocupavam só o passado e assim lá eu deveria deixá-las. E que a partir de hoje tudo aquilo deveria ser apenas memória, história com ponto final. Ainda sim meus olhos não cansavam de chorar, talvez estivessem tentando se acostumar com o vazio que ficava na minha sala sem a sua presença.
n/a: Enfim.... me desculpem por esse capítulo, vocês não fazem ideia do quão difícil escrever :( o que acharam? Beijos, boa noite e uma boa semana pra todas!
Maria Clara
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro