Capítulo 68 - Três anos em trinta ou mais linhas
n/a: hmmmmm espero que gostem! A música do cap. é Ask Yorself do Foster de People, que eu amo, por sinal...
Créditos a Teté (@sgueiros) pela foto linda desse cap!
Cap. 68 - Três anos em trinta ou mais linhas
Paredes brancas, vazias se não fosse por um quadro Impressionista, algo como Monet, quem sabe. Os tons de azul matizados naquela paisagem me traziam uma calma. Respirei fundo e encarei a mulher de mais ou menos 40 anos, cabelos loiros ondulados, pele branquinha, magra que ajeitava os óculos enquanto aguardava a minha resposta. "O que te trouxe aqui, Jessica?". Acomodei-me pela milésima vez naquilo que chamavam de divã, extremamente confortável, por sinal, apesar de me fazer sentir na posição de uma paciente, o que eu era, de fato, mas ainda não conseguia aceitar. Refiz um caminho mental dos quinze primeiros minutos naquele consultório e já tinha liberado 50% da minha vida, talvez psicólogos tenham esse poder de te fazer falar com a força do olhar, apenas. Pensei em responder que estava aqui porque uma amiga disse que seria bom pra mim, mas ai eu não estaria liberando o real motivo, ou motivo algum.
-Vejamos, você é estagiária do Robert, correto? - ela disse encarando uma pasta onde deveria, provavelmente, conter uma ficha minha. Confirmei com a cabeça. - Como está sendo estagiar aqui?
A estratégia dela de fato era sensacional, conseguiu me fazer falar um pouco do estágio até que me senti confortável para dizer que uma amiga tinha indicado que eu viesse aqui, porque eu andava muito estressada e ao mesmo tempo desanimada com as coisas no geral.
-Eu meio que tenho um namorado, meio que não sei se tenho mais. As coisas estão meio complicadas, sabe. - ela confirmou com a cabeça, do mesmo jeito que fazia com tudo que eu falava.
-Como vocês se conheceram? - ele me surpreendeu, achei que fosse perguntar de cara sobre o que estava complicado. Comecei falando que ele era da banda do meu amigo, sem liberar muitos nomes ou detalhes.
-Bem, o que você acha de fazermos uma coisa... - ela disse enquanto mexia na pasta que estava sobre seu colo.
Um folha branca sem linhas foi estendida em minha direção junto com uma caneta azul.
-Você se mudou para Londres em setembro de 2011, não foi? - ela confirmou em suas anotações e balancei a cabeça também confirmando. - Porque você não escreve em 30 linhas como foram esses anos? O que você acha?
-Hmmm, está bem... - peguei a folha e a caneta e as encarei por alguns segundos, 30 linhas? Será que seriam suficientes pra confusão bizarra que tem sido a minha vida?
-Você pode se apoiar sobre a minha mesa, se quiser... - me levantei então do divã e me aproximei da mesa de vidro e me acomodei sobre uma das cadeiras.
Respirei fundo e encarei mais uma vez aquela folha de papel em branco e me pus a descrever os últimos anos:
"2011:
Era uma quarta-feira quando recebi minha carta de aceitação na LAA, inicialmente a ficha não caiu pois estava muito chateada. Meu melhor amigo, Louis, que participava de um daqueles realitys shows de música havia acabado de ser eliminado do programa. Minha ficha só foi cair duas semanas depois quando fui a Londres procurar um apartamento e fazer minha matrícula no curso de cinema. Vi os olhos da minha mãe encherem d'água quando encontramos o apartamento, mas ela me garantiu que era felicidade e orgulho, lembro que ela me disse que Doncaster era pequena demais pros meus sonhos. Mal eu sabia que eu que era pequena demais para a grande Londres. A cidade me engoliu, ruas cheias, muitos turistas, uma beleza de encher os olhos que aos poucos me encantou. Me apaixonei por Londres quando, sem querer, em uma terça de setembro achei o Hyde Park.
Louis, nessa altura já morava em Londres, fazia parte da nova febre do momento, a One Direction. Duas semanas depois de já estar estabelecida em Londres ele me convidou para conhecer os outros 4 componentes da boyband. Posso dizer que esse foi o marco zero das confusões da minha vida, ao mesmo tempo que foi a minha salvação em Londres, mal eu sabia ao passar pela porta do flat do Louis que aqueles meninos se tornariam os meus melhores amigos.
Em uma madrugada de domingo foi quando fiquei com Zayn pela primeira vez, estava levemente alterada devido ao efeito do álcool, mas nada que tenha me impedido de lembrar pela manhã do beijo dele que encaixava tão perfeitamente no meu. Ficamos outras vezes até que decidimos ser apenas amigos, o que na época me pareceu bem sensato.
Foi então, depois de uma festa no Funky Buddha, que Harry arrombou as portas da minha vida. Depois de uma série de mal entendidos dentro daquela boate e uma conversa franca pelo skype nos tornamos bons amigos. Em outubro de 2011 já estava bem mais próxima de todos os meninos, inclusive Niall e Liam, eles conseguiam salvar praticamente todos os meus fins de semana longe de casa.
Chegou algum momento, que não me lembro exatamente quando ou como, que me apaixonei por Harry. O que na minha cabeça seria só mais uma desilusão amorosa se transformou em mágica no Ano novo quando nos beijamos pela primeira vez, o primeiro de muitos beijos.
2012:
Foram 6 meses juntos até que sem a ajuda de ninguém Harry conseguiu destruir tudo que havíamos construído nos últimos meses junto com o meu coração, em questão de segundos, quando descobri que aparentemente ele estava ficando com outras mulheres enquanto fazia turnê pelos EUA..."
-Ih, passei das trinta linhas. Acho que os último 3 anos foram conturbados. - dei uma risadinha meio sem graça.
-Sem problemas, fique a vontade. Se precisar de mais folha tenho aqui. - ela disse tranquila, sorri em agradecimento.
Depois de autorizada, peguei mais uma vez na caneta e prossegui:
"...Aquilo havia sido o fim do mundo na minha cabeça, até que dois meses depois eu estava, teoricamente, curada. Até vê-lo na festa de aniversário do Liam, quando tudo voltou de uma forma terrível, ainda tive que ouvir ele dizendo que "gostava mesmo de mim". Suas palavras chegaram a convencer a minha boca de me aproximar mais uma vez. Na mesma festa ele estava beijando outra mulher, em um acesso de raiva usei o Zayn pra fazer ciúmes nele, o que me arrependeria amargamente segundos depois. No dia seguinte a ressaca havia se transformado em desespero, tinha que pedir desculpas para o Zayn, o que fiz com um cheesecake, o mesmo que ele costumava levar pra mim.
Foi no final de 2012 que conheci Alex, estudante de engenharia mecância, músico nas horas vagas. Tinha tudo pra dar certo se eu não estivesse, por mais que tentasse negar, ainda apaixonada pelo Harry. Viagem pra NY no final do ano para assistir ao show dos meninos no MSG. A viagem foi maravilhosa, mas trouxe de volta a figura do Harry ao meu cotidiano, ele passou a me mandar mensagens de novo e ainda me ligou quando terminou com a Taylor.
2013:
Harry me convidou e fui a um encontro oficial pela primeira vez, tendo em vista que nosso relacionamento em 2012 era praticamente entre paredes, digo, dentro de casa, escondidos da mídia. Tomamos vinho, conversamos, foi ótimo. Cheguei até pensar que poderia dar certo de novo. Apresentei isso aos meus amigos e ouvi uma resposta seca de Zayn, que no final do noite estava me cercando de indiretas e elogios, me fazendo mais uma vez terminar a noite com a cabeça apoiada em seu peito depois de termos trocado alguns beijos.
Pelo que entendi, Zayn e Harry estavam me puxando pra lados diversos, o que percebi quando ouvi uma gravação dos dois discutindo por minha causa, aparentemente. Harry foi o primeiro a sair do campo de batalha quando disse que achava que não daria mais certo entre nós dois. Respirei fundo e confirmei com a cabeça como se aquilo não tivesse nenhuma importância. O que de fato gradativamente foi acontecendo quando Zayn passou a tomar todos os espaços vagos da minha vida e foi assim, quando vi já estava presa a ele e ele a mim. Não conseguia passar um dia sequer sem falar com ele e usava todas as minhas noites vagas para sairmos juntos. Em pouco tempo, fatalmente, já estava apaixonada e quando fui ver já estávamos namorando.
Zayn como namorado foi tudo que eu precisava, ele era atencioso, romântico, preocupado, maduro. E estava tudo bem até a bendita festa de estréia do documentário do 1D, quando o ciúmes que o Zayn sempre sentiu do Harry aflorou. Não tivemos tempo de passar tudo a limpo porque a 1D tinha que viajar mais uma vez. O mês que ele ficou fora foi simplemente terrível, brigávamos por tudo mesmo. Quando ele voltou explodi de felicidade mas não consegui esconder que eu não estava bem com toda aquela situação.
Há algumas semanas encontrei Harry em Nothing Hill, almoçamos juntos, conversamos e só. Entretanto, o fato de não ter contado ao Zayn deflagrou a pior briga que já tivemos no namoro. Ele chegou a me largar na festa onde estávamos, mas mesmo assim fui atrás dele. Esperava que discutíssemos, que o namoro acabasse. Mas havia algo entre nós dois que de lágrimas virou amor.
Depois da minha primeira vez eu não estava pronta pra ouvir, naquela mesma noite, que precisávamos dar um tempo. Eu não queria tempo nenhum, e nem achava que ele tinha direito algum de pedir isso. Mas mais uma vez eu confirmei como se estivesse tudo bem. Entrei em um taxi destruída e fui para a minha casa encontrar com o meu travesseiro e chorar tudo que eu consegui. Duas semanas depois a 1D estava na BBC, me vi levada ao banheiro masculino por Zayn que não trocou nenhuma palavra comigo, ocasionando mais uma crise de choros e o meu estado atual de confusão interna."
E todos os cantinhos da folha estavam ocupados com a minha letra terrível.
-Pronto. - disse encarando a folha que agora que estava escrita na frente e no verso.
-Hm, que tal você ler tudo o que você escreveu? Não precisar ser em voz alta.
Ao terminar uma conclusão me saltou:
- Eu só falei da minha vida amorosa, meu Deus... - eu estava pasma.
-Talvez os seus problemas se concentrem ai... - ela sugeriu e foi então que começamos uma conversa, bem profunda, sobre tudo que aconteceu nesses últimos anos, especialmente, nas últimas semanas.
E bem, talvez eu tivesse encontrado uma resposta pra todas as minhas complicações naquela manhã, naquela sala de paredes brancas.
n/a: esse definitivamente não é um dos meus caps. favoritos, mas ele meio que tem aquele papel de fazer uma resumida no que rolou até agora na história. Digo apenas uma coisa: se segurem, porque no prox teremos fortes emoções. Beijo, beijos,
Maria Clara
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