Cap. 6 - Um pouco de Harry Styles e duas doses de tequila

Já havia duas semanas desde o início das aulas. Os professores eram bons e as matérias pareciam ser legais. Alguns textos para ler, livros para comprar e documentários para ver. Mesmo assim o dia ainda não estava muito cheio, as aulas se concentravam no período da tarde, com algumas pela manhã apenas. Havia conhecido algumas pessoas legais, mas ninguém que eu tivesse me identificado muito do tipo "amizade à primeira vista", era mais pra tipo amigos na pré-escola "a gente trocava lápis de cor, mas nada muito íntimo...". No geral as conversas eram sobre a faculdade, sobre qual seria a próxima aula, sobre o quanto a calça do professor era estranha, esse tipo de coisa. Assim, não havia ninguém para fazer nada comigo, me distrair nessa cidade gigante. Já não havia feito nada sexta alem de preparar um jantar para mim e assistir a um filme qualquer depois. Sábado foi um tédio, arrumando a casa e ouvindo música. Tanto que lá pelas cinco da tarde me deu um ataque de saudade. Liguei para minha mãe, mas ela estava indo para um festa com papai e não pôde falar muito. Estava deitada na cama a ponto de chorar quando recebo uma mensagem. Era do Louis:

"Preciso fazer algo, a solidão está me consumindo."

Resposta ninja, digitei tão animada que o celular quase pulou da minha mão:

'CARAMBA LOU, COMO VOCÊ LEU MEUS PENSAMENTOS?"

Lou: "Ok, não precisa gritar haha Posso ir ai te buscar?"

Eu: "Pode, me leva pra onde você quiser hahaha"

Lou: "Cuidado, posso me aproveitar haha Saindo de casa já."

Eu: "Mas, eu nem me arrumei."

Lou: "Trás as coisas, se arruma aqui, ok?"

Eu: "Mas..."

Lou: "Harry não está, fica tranqüila. Beijos, pode descer se quiser."

Peguei uma roupa arrumada e uma de ficar em casa, pois não sabia o que íamos fazer. Taquei tudo em uma bolsa com pressa. Coloquei minha nécessaire na mochila, peguei minha carteira e às chaves de casa e desci. Quando cheguei ao térreo Lou já estava com o carro encostado. Abri a porta e me acomodei no banco da carona. Ele me cumprimentou com um beijo na bochecha.

-Então, o que você estava fazendo de tão legal em casa? - ele disse irônico.

-Sentindo saudade de casa. - eu disse um pouco chorona.

-Eu também... - ele confessou.

-Que bom que você vai me tirar dessa fossa, né?- disse esperançosa.

-Eu estava esperando que você tivesse uma idéia genial.

-Hm, não tenho. Não é você que conhece Londres? - ele fez uma careta do tipo "acho que sim". E deu a partida.

Quando chegamos a sua casa ele disse que também tinha que se arrumar e sugeriu que eu tomasse banho no banheiro do Harry. Como de reflexo disse "de jeito nenhum". Mas Louis praticamente me arrastou até lá e me jurou que não tinha problema nenhum, insinuando algo do tipo "muitas mulheres já tomaram banho aqui". É, observação desnecessária.
Entrei no quarto que estava até que bem organizado, só havia duas camisas jogadas em cima da cama: uma branca e outra cinza escura, da capa do cd do Pink Floyd. Olhei impressionada, não fazia idéia de que ele gostava desse tipo de música. Abri uma porta que deveria ser a do banheiro, mas na verdade era um closet que dava para o banheiro. Juro que não quis reparar, mas eram tantas roupas! Blazers e mais blazers, muitos sapatos, alguns allstars! E sem querer reparar, mas já reparando de novo, havia uma gaveta entreaberta com uma camisa pendurada, era do Ramones. Sorri involuntariamente por saber que tínhamos mais uma coisa em comum. Balancei minha cabeça pensando o que importava de fato se nosso gosto musical era semelhante? O dono dessas roupas, aqueles que dormia nesse quarto era Harry Styles. Amigo do Lou eu sei, mas eu não podia competir com as muitas que já haviam tomado banho ali.

E o banheiro também não deixou nada a desejar! Espelho de fora a fora, uma banheira linda no canto! Uau, eu não estava acreditando que ia tomar banho naquele lugar! Em cima da pia havia algumas coisas que certamente eram dele. O que me chamou atenção foi o perfume "Bleu de Chanel", e fiquei imaginando como seria aquele cheiro. Balancei minha cabeça pela segunda vez, eu já deveria estar tomando banho e não estar pensando no gosto musical ou como cheirava Harry Styles.

Em alguns minutos já estava quase pronta, dando os últimos retoques na maquiagem quando Lou invadiu o banheiro.

-E se eu estivesse no banho, senhor? - disse indignada.

-Seria ainda melhor! - ele brincou o que me fez um dar um murro em seu braço. - Você está bonita...

Ele disse me observando. Eu agradeci e disse que ele também estava muito bonito. Eu usava um short de paietê dourado com uma camisa jeans de botões que estava por dentro do short e uma sandália marrom meia-pata com listras cruzadas. Ele usava uma camisa em gola V azul bebê com um blazer cinza escuro com as mangas dobradas e uma calça jeans escura.

-E alta. - ele disse quando viu meu salto.

-Pra te acompanhar, não é? - ri.

-Bem, estava pensando que poderíamos virar algumas tequilas em um mexicano que tem a algumas ruas daqui. - ele disse apoiando os cotovelos sobre a pia e me observava pelo espelho.

-Bem, pode ser uma boa idéia! Acho que estou precisando de algo do tipo.

Chamamos um taxi que nos levou ao local em menos de dez minutos. O ambiente parecia ser bem legal. Iluminação mais amena com alguns focos de luz coloridos. A música era alta e animada, deveria ser mexicana. E as paredes eram decoradas com sombreiros e fotos engraçadas. Sentamos-nos em uma mesa parcialmente reservada. Demos uma olhada no cardápio e sem cerimônia disse que ia querer tacos.

-Eu amo tacos! - disse animada e ele me olhou desconfiada. - O que foi Lou?

-Acabei de lembrar que a comida favorita do Harry é exatamente... Tacos.

-Hm, bem legal. - disse irônica. - Vamos pedir logo.

O ignorei, mas mentalmente eu contabilizava aquilo como mais uma coisa que eu e ele tínhamos em comum, o que me fez sentir estranha de novo.

-E as tequilas, onde estão? - apressei.

-Uau, vejo que alguém aqui está animada! - Lou riu. - É pra já senhorita!

Então ele chamou o garçom que trouxe ou dois "copinhos" que continham uma bebida de cor amarelada e do lado havia um pratinho com sal e limão.

-Preparada? - Lou disse colocando o sal no canto da mão, então eu fiz o mesmo. Assenti. - Mas tem que virar!

-Senhor, eu sou melhor nisso do que você, caso o senhor não se lembre... - o provoquei. Contamos até três e viramos praticamente na mesma hora o líquido do copo. Senti descer queimando pela minha garganta e soltei uma gargalhada.

Algum tempo depois os tacos chegam. Os devoramos e depois foi-se mais uma dose e mais tacos. Eu já estava tonta, era fato. Fazia um esforço gigante para que as palavras saíssem corretamente e ria sem parar.

-Jess, você não está bem. - Lou disse rindo também.

-Como se você estivesse... - contrapus. - Mas agora, você e o Harry, naquele apartamento, muito bonito cara. O apartamento, tá? Não que o Harry não seja bonito...

Disse tentando não me embolar nas palavras. E me esforcei por um tempo até que desisti de segurar minha língua:

-Cara, o seu amigo gosta de tudo que eu gosto. Ele deveria gostar de mim. - ri ainda mais e Lou fez o mesmo.

-Ele não pode gostar de você Jess, porque você só gosta de mim. - ele me olhou como se insinuasse algo.

-Tenso você, passou babe, agora estamos em Londres o centro do mundo! - disse como se aquilo fizesse todo o sentido. E bem, acho que pessoas bêbadas são assim, dizem coisas sem nexo como se elas fizessem todo o sentido.

Ficamos mais um tempo, o suficiente para falar muitas besteiras. Na hora de me levantar me segurei em Lou, meus passos estavam falsos. Pensei, que ódio, duas tequilinhas me deixaram doida. Pegamos um taxi de volta. Assim que entramos em casa tirei meu salto. Lou estava indo se jogar no sofá quando o adverti:

-Negativo. Eu posso não estar tão bem assim, mas vamos nos arrumar para dormir bonitinho. - arrastei-o até o seu quarto.

- Coloca o seu pijama ai. - nessa hora lembrei que não havia trazido nenhum. - Lou, esqueci meu pijama em casa.

-Uma camisa minha serve? - ele disse abrindo a gaveta. Assenti e ele me jogou uma camisa listrada. Fui ao quarto do Harry, tirei minha roupa e coloquei a camisa do Lou que ficou mais parecendo um vestido (um pouco curto). Tirei a maquiagem e escovei os meus dentes. Depois disso voltei ao quarto do Lou, ele estava sentado na cama.

-Senta aqui. - ele me chamou.

-Ai que cama gostosa! - exclamei após me sentar.

-Você já pensou como as coisas mudaram? - ele disse reflexivo.

-Caramba, Lou. Não sabia que você era aquele tipo de bêbado que fica sério. - disse rindo um pouco. O efeito do álcool já era residual, então acreditava que não estávamos mais tão bêbados.

-Eu to falando sério mesmo... Eu, você, olha só pra gente...

-Bem, Lou, eu posso ter mudado um pouco. Digo, não moro mais em Doncaster, já estou na faculdade. Mas essas coisas são normais. A sua vida que mudou radicalmente... - disse e sorri. - E eu fico muito feliz por isso.

-A vida é uma loucura, não é?

-Muito louca, só não é mais que a gente. - disse, o que nos fez rir.

-Se divertiu hoje?

-Muito! -confessei. Logo em seguida bocejei.

-Vamos dormir, então?

Ele se levantou e eu fiz o mesmo. Esperava que ele dissesse que ia pegar um colchão pra mim ou qualquer coisa do tipo, mas não. Me falou para dormir na cama do Harry. Disse que não mil vezes até que ele me pegou no colo e me jogou em cima da cama.

-Jess, o Harry não vai ser importar! - ele argumentou.

-Lou, eu não sei se é uma boa idéia. - disse receosa.

-Confia em mim, não tem problema.

Então eu acabei cedendo. Me deitei e ele me cobriu. Pedi pra que ele ficasse um pouco comigo, então ele se sentou na beirada da cama e ficou mexendo em meu cabelo suavemente.

-Minha irmãzinha mais linda... - ele disse quase sussurrando.

Meus olhos estavam pesados. E logo antes de cair no sono o pedi:

-Lou, não me deixa sozinha... Londres é muito grande. - senti ele me dar um beijo na bochecha e só.