Cap. 12 – Pouco tempo para colocar as coisas no lugar

 Eu fugi.  Deu a hora do almoço, e quando ouvi alguém dizer sobre ir embora me manifestei logo em seguida. Todos estavam indo embora ao mesmo tempo, então eu não parecia estar fugindo, apesar de estar de fato.  “O que tem de errado com você menina? Fugindo do maravilhoso do Zayn?”. Eu não me entendia, mas aquela situação toda somada aos olhares acusadores/repreensivos do Harry estavam me incomodando.  Almocei com Louis lá em casa. Tive que aturar um chilique de magnitude maior que o terremoto do Japão enquanto preparava a carne assada. E o chilique continuou, em cada tomate picado para a salada ele me lembrava de eu ter mentido pra ele. Mas não consegui aturar até terminar de lavar a rúcula:

- Eu não queria contar porque não sabia se ele queria alguma coisa ou se eu queria!

-Não precisa gritar, estou do seu lado.  – ele disse fingindo chateação.

-Eu devia ter falado isso pra você quando começou o seu piti. Não precisa, Lou, é sério. Eu já estou confusa o suficiente, não precisa ficar jogando as coisas em cima de mim assim...

-Confusa porque? O Zayn simplesmente acabou de externar que quer alguma coisa. Eu pelo menos achei que aqueles beijinhos, etc fossem ele dizendo que queria algo.

-Esse é exatamente o problema.

-Não estou te entendendo, antes o problema era ele não querer, agora o problema é ele querer... Então... O problema só pode estar em... você!

-E talvez esteja mesmo... Ainda é muito cedo pra querer alguma coisa...

-Você é estranha, mas também acho que é muito cedo. Mas isso é uma coisa do Malik, os namoros dele surgem assim e somem assim também... – Louis disse.

-Cara, sabe qual é o problema mesmo? – disse me lembrando da noite passada. - É muito homem gato junto, não estou acostumada com isso.

Nessa hora Louis riu da minha cara e alegou que boa parte dos meus amigos sempre foram homens.

-Homem não, homem gato. Muda tudo... - brinquei.

-Quer dizer que eu sou um “gato”. – ele concluiu.

-Você é. – disse rindo. – Agora vamos mudar de assunto, você já entendeu que eu sou o problema porque eu estou confusa, porque não acho que faça sentido algum o Zayn querer alguma coisa...

-Talvez você que não queira... – ele disse sugestivo.

-Mudamos de assunto, lembra?

-Então, o que você me diz do comportamento do Hazza diante da revelação Zayn & Jess...

-Você sabe que isso é tecnicamente o mesmo assunto, não é? – ele assentiu com a cabeça. E eu acabei me rendendo. Contei sobre Harry ter visto nós dois juntos de madrugada e depois de termos acordado “juntinhos”.

-Ciúmes, simples. – ele concluiu.

-LOUIS, PELO AMOR DE DEUS! Não complica mais ainda a minha vida... Styles está muito bem com Caroline, me deixe fora disso.

Harry... De fato ele parecia incomodado, não sei, não entendia. E também não queria ter mais uma coisa pra embolar a minha cabeça. Eu e Zayn, isso era mesmo um problema?  Por eu estava me comportando como se fosse? Ele é uma pessoa super divertida, atenciosa, me tratou muito bem todas as vezes que estávamos juntos. E nossos ‘encontros’, eu tinha que admitir que ele fazia com que eu me sentisse mais que bem. Mas, ao mesmo tempo, estar com ele, Zayn Malik do One Direction me fazia sentir insegura. Apesar de gostar do que acontecia conosco quando estávamos sozinhos, eu não entendia o porquê. Porque ele iria querer alguma coisa comigo afinal? Porque ele me tratou como ‘algo mais’?            

E Paradoxalmente ao sábado colorido que eu e Zayn tivemos, digo até a hora do almoço, que foi quando fugi com Louis, o Zayn e suas mensagens haviam sumido.  Sumido mesmo, até o fim do domingo nenhuma mensagem tinha aparecido no meu telefone. Eu queria saber dele, saber o que tinha acontecido, mas não tive coragem o suficiente pra mandar alguma coisa. Louis estava ficando comigo em casa. Ele foi à sua casa, buscou algumas coisas e voltou para passar o resto do fim de semana comigo, prometeu que ia me fazer equecer o Zayn com muita pipoca e uma maratona de musicais. Eu era apaixonada por cinema, por isso a escolha do meu curso, amava filmes antigos e musicais. Louis era super fã de musicais, sempre brincávamos em dividir os duetos do Fantasma da Ópera, apesar dele cantar um milhão de vezes melhor do que eu.

Fomos dormir super tarde no sábado, depois que assistimos “A Westside History” ficamos conversando sobre coisas aleatórias. Ele queria saber como estavam as coisas em Doncaster, o pessoal, sobre a Hanna. Perguntei se ele ainda sentia alguma coisa por ela, ele me respondeu:

-Eu acho que não, o negócio é que ela foi a minha primeira namorada séria mesmo... Ai nem tudo a gente esquece, sabe...

Fiquei pensando em que termos “sério” queria dizer. Eles viviam grudados. Matavam aula constantemente pra fazer só Deus sabe o que. Fique lembrando dos dois, eu tinha muito ciúmes dela. Apesar de ver o Louis feliz, eu, de certo modo, não conseguia aceitar o namoro dos dois.  Louis estava deitado na bicama, e eu na cama. Ele estava pensativo também. Ficamos um pouco em silêncio até que ele soltou:

-Eu e ela, você sabe, foi a minha primeira vez...

Fiquei muito sem graça sem ouvir aquilo. Ele nunca havia me falado nada sobre isso, e nem eu pra ele.  Em seguida ele me perguntou:

-E você e o Paul?

-Não... – respondi sem graça. – Nós dois, acho que no final das contas não tinha nada a ver.

-Quer dizer que você?

-Sim... Eu estou esperando pela pessoa certa, entende? – ele confirmou com a cabeça e sorriu pra mim como se houvesse compreendido.

Perguntei sobre agora, como ele estava, se estava gostando de alguém. Disse que não e riu. O olhei confusa e ele alegou que a “vida de famoso” era uma loucura. Confessou que tinha ficado com muitas mulheres e até feito ‘algo mais’ com algumas, mas que não tinha se interessado por ninguém ainda. Não o julgaria por aquilo, Louis era novo, estava vivendo um momento incrível da sua vida, não achava que ficar com muitas mulheres era o melhor jeito de aproveitar, mas eu não tinha o direito de repreendê-lo.  Então ele soltou o que eu não queria ouvir:

-E ai, Zayn ou Harry? – seu tom parecia de brincadeira.  – Sacanagem... Mas a queda pelo Harry passou?

-Acho que sim... Ele é uma graça mesmo, mas acho que conhecer ele me fez colocar os pés no chão, já estou crescidinha pra ficar sonhando com super estrelas.

-Ei! Eu sou uma super estrela! – ele contrariou, o que me fez rir. – Acho que é uma bobagem sua ver o Harry, e principalmente, o Zayn como alguém tão diferente de você.

-Mas em alguns termos você são... Essa coisa de fãs, shows, paparazzis, isso tudo é bem estranho. Você sempre foi o meu amigo, mas eu acabei de conhecer os outros meninos e eles já são famosos.

- E o que tem? Eles te tratam diferente do que qualquer um te trataria? – assenti que não um pouco tímida. – Todos eles gostaram muito de você desde a primeira vez que te viram, e te tratam como uma amiga, mais que isso, se importam com você. Você tem ideia de quantas mensagens eu já recebi hoje deles perguntado sobre você? Sobre como você tinha ficado? Muitas, Liam, Niall e Harry. Acho que é um pouco injusto você colocar essas barreiras nas relações que envolvem a gente.

-Me desculpa Louis, pensar assim foi besteira mesmo... Mas é como você me disse, muitas mulheres dão em cima de vocês, estou falando de mulheres muito bonitas, como modelos, cantoras, atrizes, dançarinas. E eu sou o que perto delas?  

-Você é linda, divertida, inteligente, sabe conversar. É isso que você tem. – ele disse me deixando sem graça. – Auto-estima é bom às vezes.

O resto do fim de semana foi divertido. Conversamos bastante, Louis me ajudou a arrumar a casa e preparou o almoço de domingo quase sozinho. Implorei pra ver as mensagens dos meninos, mas ele não deixava de jeito nenhum. 

-Por acaso você está trocando confidências? – ele assentiu e guardou o celular no bolso.

-Seu chato. – fiz um bico e sentei no sofá, fingindo que estava chateada.

-Tudo bem, eu leio pra você. Liam: Esse Zayn... Tranquiliza a Jess ai. Niall mandou: Tá tudo bem com a Jess? Diz pra ela que estou esperando minha pareceira de dança semana que vem. Por fim, Harry: Acho que estou sendo um idiota, ela... Ops, mensagem errada. Ele perguntou se estava tudo bem, pronto.

-Sinto que você está escondendo coisas, mas isso está bom por enquanto. E o que tem semana que vem? – perguntei.

-Ah, festa de lançamento do CD, no Funky Buddah. Você, nem preciso dizer, está convidadíssima. Eu acho que recebo os convites semana que vem.

Eu disse que iria com certeza, era mais que minha obrigação prestigiar os meninos, que tinham trabalhado tanto pra aquele álbum sair. 

A semana começou bem mal, tempestade logo pela manhã. Coloquei minhas galochas pretas com bolinhas brancas, uma legging preta e uma blusa meia- manga comprida e a minha jaquetinha de couro.  A tempestade não passou, voltando da faculdade, no caminho até o metrô o vento estava insuportável e adorava virar o meu guarda-chuva. Na esquina antes do metrô havia um carro preto encostado com o pisca - alerta ligado.  O insulfilme era escuro, o vidro se abriu, ouvi meu nome, olhei para trás e para os lados, vinha de dentro do carro, era Zayn.

-Carona? – ele perguntou.

-Minha mãe disse que era perigoso aceitar carona de estranhos, principalmente estranho em porsches.

-Esses são os piores de fato. – ele brincou me fazendo rir. Atravessei o carro pela frente, abria a porta e fechei o meu guarda-chuva.  Ele deu a partida.

-Como você me achou aqui? – perguntei curiosa.

-Louis.

-Ah sim... – ri de lado. – Mas algum motivo em especial?

-Vim te entregar o convite pra festa sábado, Louis me disse que te avisou sobre.  Tá ai no banco de trás. – me virei e peguei a única coisa que havia no banco, um envelope preto. O agradeci.

-E queria conversar... – ele disse tímido, sem tirar os olhos da direção. – pensei que pudéssemos almoçar em algum lugar.  O que você acha?

-Pode ser...

Ele perguntou se eu gostava de algum lugar. Disse que não conhecia muitos lugares, ele perguntou se seria uma heresia me levar pra comer pizza. Ri e disse que estava tudo bem, quem não adorava pizza afinal? Fomos para um lugar chamado Covent Garden, uma mistura incrível de praça com galeria, fomos para uma pizzaria que era na parte central. Era aberta, coberta pela estrutura da praça, mas não era em uma loja fechada ou algo.  Sentamos em uma mesa com duas cadeiras, uma virada de frente para a outra. Pedimos uma pizza meia margheritta, e a outra metade era um sabor da casa que o Zayn sugeriu.

-Não sei se aqui é o melhor lugar... – ele disse sem graça.

-Adorei esse lugar! – disse empolgada. – Mas ficar em um lugar exposto assim, não tem problema pra você?

-Ah, está tudo bem. Talvez estejam nos observando, mas eu também não posso deixar de viver. – ele alegou e sorri com o que ele disse.  – Queria pedir desculpas, de novo. Eu não deveria, no domingo, ter exposto você daquele jeito.

-Não Zayn, está tudo bem... Eu só não sei como lidar...

-Dizem que eu sempre vou muito rápido, estive conversando com Liam... Acho que não foi legal externar o que estava acontecendo com a gente pros meninos sem antes conversar com você.

-Zayn, eu acho você ótimo, mesmo. Uma pessoal super legal, mas eu não sei o que achar de nós dois. – confessei com muito esforço.

-Você não quer continuar?

-Poderíamos dar um tempo ao tempo. Ver como as coisas acontecem...

-Desculpa por ser tão apressado...

-Não precisa pedir desculpas... – disse sem graça.

-Mas eu queria que você soubesse que eu gosto muito de você, Jess. Independente de qualquer coisa você pode sempre contar comigo. – ele segurou minha mão sobre a mesa.

-O mesmo vale pra você.  – respondi com um sorriso no rosto.

O almoço foi ótimo! A pizza era maravilhosa. O garçom que nos atendeu era super engraçado, e fez várias palhaçadas. A conversa foi super agradável. Me diverti muito ao lado do Zayn. Logo depois ele me deixou em casa, eles tinham uma entrevista em uma rádio. Disse que me esperava na festa.

As coisas dentro da minha cabeça tinham se colocado no lugar. Estava mais leve, me sentia bem. Eu e Zayn, talvez fôssemos quase bons amigos agora. E eu estava pronta para me divertir na festa, e começar a escolher a minha roupa!