VI - CADA PASSO IMPORTA
Os convidados foram guiados pelos empregados até o pátio de dança ao fundo do salão, e enquanto os pares eram organizados, a orquestra se ajeitava ainda mais ao fundo. Um homem, que supuseram ser o maestro indicava aos músicos suas respectivas posições: os instrumentos de cordas primeiro à esquerda do maestro, com os violinos à frente e violoncelos logo atrás, os contrabaixos se posicionaram à extrema direita. Na seção de madeiras, já à esquerda do maestro, se posicionaram as flautas, clarinetes, oboé e fagote; estavam próximos dos trompetes, trombones e a tuba, da seção dos metais. Por fim, foi vez da seção de percussão, com os tímpanos e pratos. O maestro se apresentou como Michael Williams Blythe, e logo começou a recitar o repertório que tinha preparado, sendo a primeira dança uma quadrilha composta por Johann Strauss II.
Os convidados então se organizaram no centro do pátio em dois grupos de quatro pares. Num dos grupos estava Basil com a esposa, Alea Edwards, Charles Barton com a irmã, Zayne que havia convidado Margot e Noelle com Erick. O outro era composto por Matthew e Julian com suas esposas, e Randell e Lydia, faltando apenas um par para completar o grupo, surgindo então Carol Jewell, a ex-mulher de Arlen; ele considerou convidá-la para essa dança, mas acabou por perder a chance quando viu Liam se aproximar primeiro, e para surpresa de Arlen, Carol aceitou, fazendo-o se perguntar sobre a relação entre eles.
Liam era uma presença estranha que surgiu depois que se separaram, levando-o a pensar que talvez o divórcio pedido por Carol fosse por Liam, que ela estivesse apaixonada por ele e o sentimento fosse recíproco; mas logo descartou essa hipótese, pois, se esse fosse o caso, Carol não teria passado pela inconveniência angustiante tentando uma carreira como escritora sendo uma mulher divorciada.
As primeiras notas começaram a soar, todos os olhares focavam nos primeiros passos que foram dados, inicialmente lentos, seguidos de rodopios e sorrisos discretos. Ethan aproveitou o momento para abordar um dos empregados que passava para renovar o estoque de comidas e bebidas.
— Onde fica o banheiro?
— É naquela porta, senhor — apontou para uma porta dupla sutil perto da entrada.
— É mesmo? Venha comigo.
— Senhor?
Ethan olhou o empregado, um rapaz bastante jovem, com os cabelos cuidadosamente penteados para trás. Com um semblante áspero, Ethan se aproximou do homem.
— Jovem, tenho uma Colt aqui comigo que não me importaria de usar, então se quiser ter sua cabeça intacta, é melhor me acompanhar.
— Sim, senhor.
As pernas do empregado começaram a tremer e suas mãos a suar, forçou-se a acompanhar Ethan sorrateiramente até o banheiro sem mostrar sinais de nervosismos; foi treinado para isso, manter sempre a postura e satisfazer os convidados.
As portas duplas do banheiro davam para um corredor não muito largo e bem decorado com algumas flores e lenços perfumados para os visitantes, havia um espelho que cobria toda a parede do fundo, à esquerda uma porta indicando o banheiro feminino, e à direita, uma porta para o masculino, por onde passaram os dois homens.
O jovem permaneceu imóvel observando Ethan lavar o rosto.
— Jovem, venha aqui — disse para o homem que logo se aproximou, receoso — eu não vou te machucar desde que você faça algo para mim, pode ser? — após ele assentir com a cabeça, Ethan tirou uma fotografia de um bolso interno do fraque que usava. — Vê este homem? Você oferecerá para ele uma bebida com um toque especial, o que me diz?
— Senhor... é veneno? Eu não posso fazer isso — retorquiu com a voz trêmula, recebendo um golpe rápido no estômago, fazendo-o cair de joelhos, tentando recuperar o ar.
— Não estrague minha noite, fedelho! Você faz isso ou acabo contigo aqui mesmo — pousou uma mão no ombro do jovem e esboçou um sorriso sarcástico. — Estou de bom humor hoje, então façamos assim, te dou 5 xelins depois que você completar o serviço, que tal?
— Senhor, eu...
Ethan apertou o ombro do jovem, fazendo-o soltar um gemido.
— Qual o seu nome?
— É... é Ca-casimir, senhor.
— Casimir, por enquanto, eu estou pedindo. Seria sábio da sua parte aceitar antes que eu deixe de pedir — Ethan entregou-o um pacote. — O que você vai fazer é simples, apenas despeje o conteúdo desse saquinho na bebida e dê para o homem dessa foto. Entendido?
— Entendido — consentiu, retendo as lágrimas que ameaçavam surgir.
— Bom rapaz, agora lave o rosto e se ajeite, tente não levantar suspeitas. Estarei de olho em você, Casimir.
Ethan saiu primeiro e percebeu que a música havia mudado de tema há pouco, a dança agora estava no auge, então ninguém tinha percebido sua atividade. Nem mesmo Henry, que parecia intrigado com cada pessoa naquele salão, divertia-se analisando o caos silencioso que oscilava entre os passos da dança.
Num outro canto, Arlen conseguira se aproximar de August Faulkner, ouvia-o atentamente a falar sobre sua irmã, a mãe de Samantha, que falecera pouco antes do pai de Samantha se casar com a mãe de Arlen, August contou sobre como era uma mulher espirituosa e bela, era nítido o apreço que tinha pela irmã e pela sobrinha.
— É uma pena que não a viram crescer — confortou Arlen. — Se me permite perguntar, por que deixaram de visitá-la?
— O segundo casamento não foi bem aceito, digamos.
A resposta ríspida de August atiçou Arlen, havia algo mais por trás, e iria encontrar uma forma de August cuspir toda a verdade, mas não agora, ainda não era o momento certo.
— Compreendo. Soube que também perdeu a esposa recentemente, senhor Faulkner. Perder a sobrinha e esposa em tão pouco intervalo de tempo, deve ser difícil.
— É sim... — suspirou — é um pouco, mais c'est la vie.
James Hooker, que passava perto da mesa de Arlen, percebeu um par de olhos extra neles. Dion Byrd perscrutava August com um ar resoluto.
— Se não me engano, senhor Byrd, aqueles são o tio de sua falecida esposa e o irmão dela.
— Está bem-informado, Hooker.
— E por que não se junta a eles?
— Por que eu deveria?
A resposta de Dion desorientou James, que anotou mentalmente para perguntar Randell sobre o assunto mais tarde, e ao lembrar do colega de trabalho, voltou o olhar para a dança que avançava para a última parte. Lydia e Randell não tiravam os olhos um do outro, James gostava dessa comunhão entre eles, até certo ponto, era bom para o trabalho; o típico romance entre o médico e a enfermeira, seria cômico se não fosse trágico, pesou James, e mais uma vez notou um par de olhos extras, o lunático que chegou por último olhava fascinado para Lydia.
— Essa festa é bem inusitada, sinceramente — comentou para Dion.
— Eu que o diga — respondeu, desviando um pouco olhar para Ethan que voltava do banheiro e enviava um sinal para Dion indicando que havia executado o plano.
Estava feito, agora era só esperar.
Desculpem a demora, mas já aviso que o próximo capítulo vai demorar também porque não estou conseguindo pensar num título 🤡
Além disso, poucos personagens aqui foram inspirados de algum outro lugar. Temos James Hooker, inspirado em James Hook (capitão gancho), Erick Dexter foi inspirado na marca de ferramentas Dexter (me inspirei numa parafusadeira, por que não?), e um outro personagem que ainda está por vir, que me inspirei em William Shakespeare, vocês perceberão logo quem é. O resto são todos da cachola.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro