V - ENTRE TEIAS
— É uma questão de tempo, Noelle. Sabe como ele trabalha.
— Não importa o que Gilbert faça, desde que não atrapalhe os negócios de Zayne. Eu só preciso vigiá-lo e, então, informar Zayne, nada a mais ou a menos, Erick.
Erick olhou para ela de soslaio, estava linda com a cor do vestido azul acinzentado a combinar com os olhos, suas curvas suaves realçadas pelo tecido leve. Tinha ficado nervoso desde que a vislumbrou entrando no salão de baile, seu coração batia de uma forma que o incomodava bastante. Ele era um espião, afinal. Nunca cedeu para as emoções, mas não rejeitava o que sentia por Noelle. Ele caminhava ao lado dela pelos cantos do salão.
— E se Zayne pedir por algo mais? Você faria?
— Já conversamos sobre isso... — retrucou irritada, parando para observá-lo. — Eu faria, Erick.
Erick bufou, frustrado, colocando as mãos nos bolsos e parando ao lado dela.
— Não entendo por que você continua com ele, Noelle. Não é como se você estivesse presa, não é?
— Erick, já chega!
Ele se assustou com o seu tom severo, mas logo deu lugar à irritação. Erick Dexter foi quem descobriu Noelle, estava numa missão para investigar sobre o pai dela, e eventualmente, chegou até ela, logo se apaixonando por aquela mulher decidida e, ao mesmo tempo, delicada.
— Zayne me criou, Erick, e eu devo muito a ele — afirmou firmemente. — Já descobriu algo?
— 14 letras diferentes de 14 pessoas — abaixou a cabeça, ponderando o que deveria dizer a seguir. Balançou a cabeça, frustrado por não conseguir pensar em nada. — Isso não faz sentido, olha para essa lista bizarra de convidados. Claramente, isso não é apenas uma festa para o senhor Keen.
— Não é uma festa, mas um jogo. Talvez... nós subestimamos Loyd Keen — disse sem perceber o sorriso leve e malicioso que se formou.
Erick criou um monstro, ele sabia disso. Em pouco tempo, Noelle se sobressaiu como uma das melhores espiãs da organização. Ainda assim, se preocupava com ela.
— Isso é perigoso, Noelle.
— É sempre. Mas nós temos a vantagem; nosso trunfo é que sabemos mais do que eles.
Certamente, enquanto cada um só tinha a perspectiva subjetiva da situação, Noelle e Erick eram os únicos que sabiam a total extensão dessa teia.
Eles se aproximaram de uma das sacadas, fechando-a para manter privacidade.
— Aqui — Noelle estendeu um papel.
Ele passou rapidamente os olhos: continha informações sobre os turnos dos empregados que iam e vinham para repor as bebidas e aperitivos, e uma pequena planta de alguns dos corredores da mansão.
— Como foi?
Noelle fitou-o com um olhar perdido e, então, virou-se para se apoiar no muro, olhando para a lua desfocada que acabara de surgir.
— Não consegui ir muito longe, fui logo abordada por um dos empregados. Fingi que procurava o banheiro.
— Típico.
— Sim... — um sorriso nervoso surgiu em seu rosto.
— O que há, Noelle? — Erick pousou sua mão sobre a dela. — Está tudo bem?
— É só... — respirou fundo, virando-se para ele — é estranho. Não há sequer retratos pela mansão, e os empregados por todo lado... — aumentou o tom de voz, irritada. — Eu perguntei a alguns sobre o anfitrião, mas se limitam a dizer que ele virá em breve, todos repetem a mesma coisa como uma vitrola.
— Descansa, se eles dizem isso então deve ser.
Ele abraçou-a suavemente, fazendo-a afogar a cabeça no ombro dele, sentia-se bem com Erick, aquecida e protegida, longe das preocupações que martelavam sua cabeça desde o momento que recebeu aquele convite. Ela não queria estar nessa festa, mas deveria estar, e seu único refúgio nessa tormenta era a companhia de Erick. Ela levantou a cabeça para olhá-lo, percorrendo o olhar até seus lábios finos e beijando-o, suavemente no início, mas se intensificando à medida que Erick correspondia. Por um breve momento, o burburinho das conversa, a música, e as vozes de sua cabeça se silenciaram.
Noelle saiu primeiro da sacada, Erick ficou, dizendo que ia acender um cigarro. Ela saiu com um sorriso bobo, e não notou a pessoa ao seu lado.
— Você deveria ser mais discreta.
Noelle virou-se em alerta e se deparou com o chefe.
— Zayne! Eu...eu-
— Está tudo bem, querida — ele sorriu. — Eu já aprovei o rapaz, sejam felizes. — Caminhou lentamente até chegar bem perto dela. — Mas espero que isso não te distraia.
— Não irá, esteja descansado.
— Sim, eu confio em você. Se você achar que não dá conta de uma tarefa, então recusa-a. — Passou a mão pelo rosto de Noelle, colocando uma de suas mexas soltas atrás da orelha. — Seu bem-estar é mais importante, entendido?
— Sim, eu enten-
O baque de uma porta se fechando alarmou todos os convidados; mesmo não sendo tão estrondoso, a tensão que sentiam fez parecer que foi um som ensurdecedor. O medo é, de fato, um elemento mágico capaz de criar ilusões fantásticas em corações receosos. Até mesmo para o homem que acabara de entrar por aquela porta. Ele questionou o motivo de a fecharem.
— Todos os convidados já chegaram — explicou um dos empregados.
O recém-chegado não insistiu no assunto, e logo observou o salão. Todos olhavam para ele, alguns rapidamente disfarçaram, desviando o olhar, outros se pouparam do trabalho.
— Eis a minha entrada triunfal! — bradou o homem, estendendo teatralmente os braços.
Uma onda de murmúrios se alastrou pelo salão, questionavam a identidade do homem, se ele seria o Loyd Keen, porque se fosse, estava bem desleixado. O homem tinha uns cabelos loiros cortados na altura do queixo e o terno desabotoado.
— Conhece-o? — indagou Zayne.
— Infelizmente, sim. Henry Caldwell, um investigador particular e... um lunático.
Henry Caldwell, o último convidado, era a única pessoa, além dos espiões que sabia a extensão daquela teia. E por isso não deixava de sorrir, sorriu, gargalhou, divertiu-se imenso com a situação.
— Ah, Loyd! Você tem um bom gosto — disse para si mesmo, ainda sorrindo. — Obrigado por me convidar para tal espetáculo.
Após dizer isso, outro som emergiu naquele salão, mas vinha de um ponto mais distante. O relógio de uma torre badalou anunciando as 19h, uma hora se passara desde que a festa começou. Um outro homem então apareceu na plataforma que se erguia alto no salão, com o acesso pelo lado de fora. Lá do alto, o homem conseguia uma visão ampla do lugar, e após confirmar que recebia a devida atenção, ajeitou o colarinho para fazer o anúncio de que dariam início às danças.
Todos, sem exceção, ficaram indignados. Não era o anfitrião a anunciar, mas um mero empregado. Era um ultraje!
— Basta! Vou-me embora — pronunciou Charles Barton, furioso.
— Calma, irmão. Vamos esperar mais um pouco, tudo bem? — Emma segurou-o pelo braço.
Charles demorou se acalmar, mas as palavras mansas de sua irmã surtiram efeito. Desde que percebeu a presença de August Faulkner, Charles queria sair dali, não se interessava por Loyd Keen ou quem quer que seja, não se envolvia com nada em que August estivesse no meio.
— Ele está por aí, levando a vida como se nada tivesse acontecido.
— Calma, Charles.
— Ele matou Lenore, Emma — seus olhos estavam marejados.
— Charles, fale baixo — sussurrou, olhando em volta para ver se ninguém estava a espreitar. — Você não pode constatar algo assim sem provas, Charles, e já foi provada a inocência de August, foi um acidente.
— Não foi, Emma. Você não viu a expressão dele no funeral, ele sorria— Charles apertou os punhos. — Ele matou Lenore, Emma, ele matou minha filha.
Mais uma aulinha hoje, que tal?
Pois então, o anfitrião era o responsável em interagir, receber e garantir que os convidadso estejam bem acomodados, então a falta do anfitrião aqui, pelos padrões da época era realmente um ultraje.
Além disso, a dança era e importante, tendo um padrão definido, principalmente a primeira dança.
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