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Two

- Então você é pai?

Jasper perguntou enquanto batia o pé esquerdo de forma ansiosa no chão, Henry estreitou os olhos para a óbvia animação que o Dunlop tentava segurar. Ray olhava para o Hart sem saber o que dizer, sentado no sofá com o queixo apoiado no punho, seu corpo se inclinou para frente como se procurasse uma salvação no chão. Os três estavam no apartamento que Henry e Jasper dividiam, o local ficava no centro da cidade e perto de seus respectivos empregos. Piper teve que viajar para cobrir um evento de gala e Schwoz dormia tranquilo em outro cômodo após passar horas acordado por conta de uma nova invenção.

Henry suspirou audivelmente, esfregando os olhos com as pontas dos dedos, a ansiedade cobrava um preço alto em seu corpo e mente, parecia que não dormia há dias, o que não era um exagero. Puxou uma banqueta próxima a bancada que separava a cozinha da sala, apoiou o cotovelo no granito frio e o queixo na palma da mão aberta. Finalmente assentiu à  pergunta do amigo, discorrendo sobre a teoria de Piper antes que ele surtasse completamente.

- Então não é uma certeza?

A voz de Ray veio baixa e carregada de tensão, Henry deu de ombros se sentindo exausto.

- Também não é improvável. - confessou. - Vou amanhã falar com a senhora Page para ver se ela notou algo que deixamos passar.

- Mas e se. - Jasper parou, encarando seus amigos após sua animação se extinguir. - Mas como não notamos algo assim? - resolveu mudar o rumo dos próprios pensamentos.

- Ela deve ter sido muito cuidadosa. Muito.

- É a Charlotte, se ela quer esconder algo consegue enganar a todos. - Henry declarou, sorrindo um pouco em meio ao medo. - Amanhã mesmo vou confirmar tudo e dependendo do que eu descobrir teremos que começar do zero.

A realização de que provavelmente teriam que recomeçar a investigação o fez murchar um pouco, parecia que a cada passo que dava em direção à ela, retrocedia o triplo.

- Talvez não. - Ray coçou o queixo com uma expressão pensativa. - Já descartamos muitas pessoas, talvez só tenhamos que olhar por outro ângulo em vez de começar do zero.

- Agora temos um motivo diferente. - Jasper comentou, aproximando-se do amigo para apertar seu ombro em apoio. - Nós vamos encontrá-la.

- Só espero que ela esteja bem. - o Hart murmurou, estremecendo quando uma sensação angustiante se espalhou por dentro de si.

■ ■ ■ ■ ■

Charlotte inspirou fundo, a mão esquerda lentamente massageando suas costelas, o ar saiu trêmulo de seus lábios. Os chutes do bebê estavam ficando mais fortes, em alguns momentos até a deixavam sem ar quando ele atingia um ponto sensível de seu corpo. Se apoiou na cabeceira da cama, desde a manhã quase não havia saído do quarto e quando ele chegou fez questão de nem pisar fora daquele cômodo. Fez uma careta sofrida quando sentiu outro chute.

- Te amaria mais se você parasse com isso. - murmurou impaciente, soltando o ar devagar. - Não quis dizer realmente isso, não foi sério. Espero que você não puxe o lado dramático do seu pai ou eu estarei completamente ferrada.

O som da porta sendo aberta parou sua conversa, prendeu levemente a respiração enquanto o via adentrar seu quarto com um pequeno saco de papel branco nas mãos. Permaneceu imóvel, o observando com cautela quando ele depositou o saco ao seu lado na cama.

- Não é nada que vá lhe matar. - assegurou, rindo asperamente quando a viu esticar a mão receosa. - Antes dessa criança nascer você vai continuar viva, isso é uma promessa.

- Suas promessas não valem porcaria alguma. - rebateu seca, abrindo o saco branco e encontrando um pequeno cupcake rosa embalado em um recipiente de plástico.

Retirou o doce do saco, respirando irregularmente enquanto o observava à luz da vela que estava acesa ao lado de sua cama. A lâmpada de seu quarto havia queimado e ele não fez questão alguma de trocar, o que restava a ela se acostumar com a luz dos pequenos pedaços de vela. Porém, a semi escuridão do quarto conseguia deixar tudo mais opressor.

- Feliz aniversário.

A voz áspera dele a tirou a atenção, o encarou sem demonstrar nenhuma expressão.

- Não é meu aniversário.

- Hoje é. Aproveite um pouco da minha bondade.

Mordeu a língua para não mandá-lo ir para o inferno. O viu se afastar com um sorriso estranho no rosto e só se permitiu respirar quando a porta foi fechada. Sentia as batidas de seu coração ressoarem por todo seu corpo, suas mãos tremiam levemente e se forçou a manter uma certa calma. O cupcake ainda brilhava em sua mão como uma prova de que ainda havia vida lá fora, pessoas que seguiam seus dias em uma rotina e voltavam para seus lares ao fim do expediente. Pessoas que simplesmente viviam.

Não entendia as razões que o fizeram trazer aquilo para ela, nem queria entender ou imaginar. Ele sempre vinha com algo para tentar fazê-la se sentir melhor após as ameaças, desde novos lápis de cor a doces ou pedaços de torta. Seus olhos se encheram novamente de lágrimas e Charlotte se recusou a comer o cupcake, o macarrão morno que acabara de jantar teria que ser o suficiente. Limpou as lágrimas que caíam e retornou a sua conversa.

- O mundo lá fora é tão imenso, meu amor. E barulhento também. - a movimentação calma que sentiu a fez continuar. - Oh, vou contar para você da vez que o seu tio Jasper namorou uma psicopata. - baixou a voz para que ele não escutasse da sala ou de onde quer que estivesse, ali naquele quarto pequeno eram somente ela e seu filho e ninguém mais.

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