✿*:・Capítulo V
— Estou com certo receio de perguntar, mas aonde vai com isso? — Menas encarava com desgosto.
— Pegar de volta o que me pertence — Lilith amarrou fitas no pulso, para ter certeza que suas luvas não iriam cair ao sacudir o novo bastão que havia encomendado.
Era repugnante ter que usar luvas agora até mesmo dentro de sua casa, porém sentiria mais repulsa se visse o tempo tempo todo as marcas incuráveis de queimadura em suas mãos, ninguém poderia ver isso.
Vendo que após uma semana da visita de sua tia ainda não tinha recebido nenhuma resposta do imperador, decidiu agir por conta própria e retribuir o estresse que passou.
— Onde está Dana? Não quero ir sozinha — tendo deixado todo seu trabalho de hoje nas mãos de Menas, não poderia carrega-lá por aí como havia feito da última vez.
— Ela sequer atingiu a maioridade, não pense em estragar sua imagem antes de debutar.
— Oh, não se preocupe, essa função eu deixo em suas mãos — terminando de amarrar as fitas, testou sacudir o bastão no ar — Espere, qual a idade de vocês?
— Tenho vinte e Dana dezessete — suspirou.
— É mais nova do que eu!? — se espantou — "Com quantos anos essa garota começou a trabalhar em Colaines?"
— E mais útil, sem ofensas — Lilith torceu o rosto em uma careta, se perguntando por que continuava a ouvir de forma passiva as alfinetadas de Menas.
Após a chegada de uma Dana completamente aflita por ser requisitada, a carruagem partiu em direção ao condado de Marshall, não seria uma viagem longa já que os dois territórios faziam fronteira um com o outro, mas toda saída era um incômodo, o terreno de Colaines não possuía minas atoa, a quantidade de serras e pedregulhos tornava impossível se locomover de forma confortável.
Porém isso não incomodava mais Lilith, que aproveitou da companhia de Dana para se queixar de seus problemas, era agonizante para alguém que gostava de falar como ela, não ter ninguém para ouví-la, para não surtar só poderia contar com as duas serventes que se aproximaram de forma repentina.
— Volto logo, não saia da carruagem se não quiser morrer para esses abutres — aterrorizou a jovem, que apenas acenou repetidas vezes com aflição.
Lilith respirou fundo, evitando prestar atenção no suor que acumulava em suas mãos — "Ei, espírito obsessor que está morando em minha mente, trate de pagar a hospedagem não me deixando ouvir o estrume deles."
Não obtendo resposta, estralou a língua com insatisfação, antes de andar em direção a porta principal da casa Marshall.
— Lady Lilith, não esperávamos sua visita, poderia... — o mordomo tentou recebê-la na entrada, porém a garota deixou que seu ombro esbarrasse nele, empurrado para o lado, enquanto seguia o caminho como se não tivesse lhe visto.
— Senhorita, senhorita Lilith. Onde está meu tio? — perguntou ainda andando, abrindo as portas de qualquer cômodo que encontrava perto de si, fazendo com que o mordomo e os outros serventes perto começassem a entrar em pânico.
— E-espere, senhorita, não pode sair abrindo as portas desse jeito...
— Onde aquele sangue suga maldito está!? — e empurrou mais uma porta, o bastão que sendo segurado por sua outra mão.
— O c-conde não está em casa, s-saiu para a corte cedo da manhã — assim que viu Lilith focando seus olhos na escada, o mordomo correu para a sua frente, a impedindo de subir — senhorita eu lhe imploro, deixe-nos avisar a condessa, volte outro dia — e tentou sorrir, parecendo mais uma careta.
— Oh? Então minha tia está em casa? — tentou avançar para a escada, mas homem continuou lhe barrando, um olhar de desespero aumentando conforme a raiva ia ficando mais clara no rosto de Lilith, até que ela estalou a língua e virou as costas, fazendo o mordomo suspirar de alívio.
Alívio esse que não durou muito, já que logo em seguida um quadro que valia dezenas de moedas de ouro foi destruído com apenas um acerto do bastão decorado de Lilith.
Nossa senhorita tinha consciência, ela não era tão baixa ao nível de acertar uma pessoa com um bastão sem motivos.
— S-SENHORITA! — ele tentou se aproximar para impedi-la, mas recuou no momento em que um jarro único de colecionador foi estraçalhado contra o chão.
O mordomo estava pálido, enquanto os outros serventes já haviam se escondido em uma distância segura apenas para acompanhar a cena. Se Lilith não iria conseguir seu selo de volta, ao menos faria questão de causar danos o suficiente para gastarem o que roubaram de sua herança para concertar.
Estátuas, pinturas, jarros, móveis, qualquer coisa que estivesse ao seu alcance, estava indo de encontro com o bastão decorado de rosas, ninguém ousava se aproximar por dois motivos, 1: provavelmente seriam acertados, 2: ela pertência a nobreza. Tudo o que lhes restavam era assistir e prever qual seria a reação dos moradores da casa.
Mas essa resposta não demorou muito, já que com os sons estrondosos que Lilith estava causando com sua destruição, uma hora seriam ouvidos.
— Lily, o que pensa que está fazendo? Perdeu o juízo!? — do topo da escada, um garoto a repreendeu. Cabelos tão escuros quanto os dela, entretanto seus olhos eram acinzentados iguais ao da condessa, uma feição pálida e doente.
Porém Lilith sequer se deu o trabalho de virar, destruindo outra obra de arte de peso histórico.
— LILIT-cof, cof — o garoto tossiu, se apoiando no corrimão, só então fazendo-a virar para si.
— O tio não havia saído para a corte? Por que está aqui ao invés de Davi? — abaixou o bastão, andando em sua direção com cautela para que os serventes não se aproximassem achando que faria outra loucura.
— Eu sou o Davi, seus olhos estão mal? Veio até aqui destruir nossa casa, perdeu seus limites? — Davi se esforçou para manter o corpo reto, visivelmente fraco, apenas para encará-la de frente. Fazer essa ação de alguma forma sempre o deixou um pouco desconfortável, afinal, sua prima era alta o suficiente para ficar par a par com seus olhos.
Lilith arqueou as sobrancelhas, se questionando: Ao invés dela, Levi havia perdido o juízo? Seus dois primos sempre foram parecidos ao ponto de serem confundidos com gêmeos, mas quem convivia com eles a um certo nível era impossível não discernir.
— Limites? Desde quando tive? — aproveitando a proximidade, Lilith se esquivou de Davi, como agora não tinha ninguém em sua frente para impedi-la, começou a se dirigir para o primeiro andar.
Sem hesitar bateu com o bastão em qualquer coisa que via, uma excitação tomando seu corpo, a adrenalina fazendo seus dedos formigarem. Apesar de não querer que aquele sentimento de raiva sumisse, não podia negar o alívio que essa destruição trazia ao seu coração, quem a via sorrindo nesse momento, de fato, concluiria que era histérica.
Quebrando a maçaneta de um cômodo, ignorando as repreensões do primo, Lilith começou a abrir as gavetas e a remexer em tudo o que via no escritório, deixando o rastro de como um furacão houvesse passado naquele lugar.
Seus batimentos acelerando pela raiva amarga e a frustração de não encontrar o que queria, até que seus olhos pararam em uma pequena caixa com o brasão dos Marshall gravado, dois cavalos dourados em meio a flores. Não pensou duas vezes em colocar aquilo no bolso de seu vestido, em meio às inúmeras camadas de tecidos ao ouvir a voz de sua tia se aproximando.
Mas algo que não conseguiu fugir da atenção de seus olhos, foi o documento largado sobre a mesa que dizia: Acordo de compra e venda de pedras mágicas. Sem um motivo certo, Lilith hesitou um pouco, por que seu tio se envolveria em uma fantasia tão absurda quanto a magia? Foram os gritos de sua tia pelo corredor que a trouxeram de volta a situação em que estava: precisava sair de lá logo.
Arrastando o bastão no chão, Lilith andou novamente para perto da escada, onde encontrou Matilde interrogando seu filho para saber o que ocorria, mas ao enxergar sua sobrinha um misto de surpresa e indignação tomou seu rosto.
— Não bastava me expulsar aos gritos, agora invade minha casa e destrói tudo o que vê pela frente? Está louca, LOUCA! Alguém precisa por juízo em sua cabeça — Matilde fez menção de ir em sua direção, os punhos fechados de ira.
— Pois faça isso e eu a deixo sem cabeça — balançou o bastão no ar, acertando com força o suficiente na parede para fazer sua tia recuar.
Não tinha mais porque ficar ali, não havia encontrado seu selo, mas com certeza levou o dos Marshall no lugar, não era uma troca justa? Lilith também não queria arriscar ficar muito tempo com sua tia, não poderia prever como iria reagir as suas palavras de menosprezo.
— Saiba que eu irei chamar os sacerdotes para lhe buscar, não deixarei que saia impune dessa sua crise de loucuraAAA — sua fala foi interrompida pelo seu próprio grito, assim que Lilith acertou a decoração de gesso do início do corrimão ao seu lado — S-sua...!
Esbarrando em sua tia para passar e lançando um olhar de julgamento para Davi, Lilith desceu as escadas parcialmente satisfeita, mas parou antes de alcançar a porta de saída, se deparando com duas pessoas.
— O que ela está fazendo aqui?
🥀"Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou."🥀
– Heráclito
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✿*:・RECADINHO DA AUTORA・:*✿
Por que Lily fica corrigindo quem a chama de lady ao invés de senhorita? Temos explicação para isso!
Os servos e as classes mais baixas chamavam comumente aqueles com titulo de marquês de “Vossa excelência”. Além do uso formal de seu título, esse casal poderia ser chamado de Senhor e Senhora. Os filhos de um marquês eram chamados de Sir e Lady também.
Antes como o seu pai ainda era vivo, se referiam a ela como "Lady Lilith", porém apesar de não ter sido reconhecida oficialmente pelo imperador, é um fato que Lilith é a herdeira legítima do marquesado Colaines, sendo agora considerada uma marquesa.
Como ainda é solteira, não pode ser referida como senhora, e sim senhorita, considerando o tempo que ficou reclusa após a morte do seu pai todo o império já está ciente do falecimento do marquês, logo, quem ainda insiste em chamá-la de lady, está dizendo abertamente que não a reconhece como marquesa.
É quase como se você visse um doutor com o diploma de doutorado e ainda assim o chamasse de estagiário...
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