Transe
Depois do almoço e depois de ter lido um livro sobre criaturas fantasmagóricas, a diretora Minerva me chamou. Quando fui até a sala dela, já estavam os Marotos. Todos estavam com pequenos sorrisos estampados no rosto, algum tipo de felicidade encobrida por Minerva não deixar demonstrar.
A diretora está sentada em sua mesa, com os braços cruzados. Ela me olha e suspira como se estivesse tirando um grande peso de suas costas.
E talvez estivesse mesmo. Talvez fomos tão insuportável no passado que, agora, seria muito para ela. Ou não.
Minerva se estica levemente para pegar o objeto dentro de uma das gavetas. O vira-tempo brilhante estava em suas mãos. Deixo o ar sair de meus pulmões e minha cabeça começa a doer. Finalmente voltarei para casa.
Para o meu lar.
Vou poder conhecer os meus pais, a minha família. Vou ter, pela primeira vez, uma família.
Nos aproximamos e Tia Minnie coloca o vira-tempo em nós quatro, a cordinha fez um grande círculo.
ㅡ Façam uma boa viagem. ㅡ foi tudo o que a diretora disse antes do mundo girar aos meus pés. Sinto a vibração, a tensão e vejo tudo voltar rapidamente.
Então sinto um aperto no meu coração. Não consegui dizer adeus para ninguém do futuro. Nem um único abraço, nada.
Bem, mas verei eles depois.
A Sala Comunal está escura e sombria, exatamente do mesmo jeito de quando saímos. James, Sirius e Remo olham ao redor. Parecia que passamos anos fora.
Escutamos passos na escada.
ㅡ Está tudo bem? Eu escutei um barulho. ㅡ a voz aguda e trêmula de Pedro se fez presente.
Eu nem lembrava dele. Sinto pena disso.
Olho para os garotos e sinto novamente uma pontada na cabeça. O quarto escuro passa pela minha mente, onde Sirius gritava e eu chorava e tinha duas crianças e um cachorro. O sonho com Christian também passa pela minha cabeça, ele dizendo que preciso acordar e lutar.
Acordar e lutar.
O que isso significa?
Lembro-me dos olhos dele: vazios. Os mesmos que o de Sirius.
James me olha, seus olhos estão vazios também. Assim como os de Remo. Como não havia percebido isso antes?
Minha visão começa a ficar turva e caio de joelho no chão. Nenhum dos garotos se mexe. Eles parecem falar algo com Pedro, depois os quatro sobem. Eu tento falar que não estou bem, tento contar o que sinto, mas não consigo. É como se alguém tivesse me sufocando.
ㅡ Eles não vão te escutar. ㅡ alguém fala. A voz não me é estranha, mas está mais grossa do que o normal. É a voz de James.
Viro o rosto para a lareira e vejo uma sombra lá. Conforme o fogo vai mexendo consigo ver que é James, com os braços cruzados.
ㅡ Eu esperei tanto por isso, Marina. ㅡ ele continua. Não faço ideia do que fazer, apenas permaneço ajoelhada no chão ㅡ Sabe, se levantar seria uma boa ideia.
Com a fala dele, não sinto mais a fraqueza em meus ossos. Meio grogue, me levanto. Ele dá um passo em minha direção, mas então para. A lareira ilumina melhor o rosto dele e consigo ver uma rala barba presente em seu rosto. Ele está mais alto, mais encorpado, com um aspecto mais velho.
ㅡ Eu sou James, Marina, o seu irmão. E não se preocupe, irei explicar tudo. ㅡ ele começa ㅡ Bem, por onde devo começar? Ah, é, você deveria se olhar no espelho.
Então James estrala os dedos e um grande espelho aparece no meio da sala. Ando devagar até ele. Vejo o meu reflexo, está normal.
ㅡ Está normal mesmo? Olhe atentamente.
Me assusto com o que ele me diz, é quase como se pudesse ler minha mente.
Olho para o meu reflexo mais atentamente, e é aí que vejo as coisas. Meu rosto está mais fino, o nariz mais largo. Os olhos estão os mesmos, mas uma leve faixa preta contorna eles, é como se eu não tivesse dormido há dias. Meu corpo está diferente também. Os seis estão maiores e sinto dores onde não tinha antes: nas costas e nos joelhos. Meu cabelo está mais liso, como se eu tivesse jogado uma bomba de hidratação.
Eu estava mais linda. E mais dolorida também.
ㅡ O que aconteceu comigo? ㅡ minha voz finalmente sai em um sussurro.
ㅡ Ora, essa é você. O tempo todo você era assim.
Eu fico confusa. Tenho certeza que isso é um sonho.
ㅡ Não é um sonho, Marina. Tudo isso aqui, inclusive eu, são coisas da sua mente. ㅡ acho que ele definitivamente consegue ler mentes ㅡ Tudo o que você viveu até agora, a sua aventura com o vira-tempo e com Sirius, tudo, foi apenas uma lembrança.
Congelo. O que isso quer dizer?
ㅡ Quer dizer que isso de fato aconteceu, tudo. Mas faz anos, você não tem mais catorze anos. ㅡ ele se aproxima mais de mim, até parar ao meu lado. Vejo ele pelo reflexo do meu espelho ㅡ Olhe para mim, como estou mais velho. Ninguém tem mais catorze anos.
ㅡ James tem razão. ㅡ outra voz se faz presente no meio das sombras. Régulus Black está parado ali, no canto, e anda até onde estou ㅡ Mas vamos te explicar melhor.
ㅡ Isso que você acabou de vivenciar já aconteceu. Há anos atrás. ㅡ começou James ㅡ Depois desse ano aqui, que foi tecnicamente o quarto ano para os Marotos, você acabou se tornando muito amiga do Régulus. No quinto ano, vocês eram inseparáveis. Eram a dupla mais incrível de Hogwarts. Então, nas férias entre o sexto e sétimo ano, muita coisa aconteceu. Você passou uma semana na casa dos Black, e Voldemort também estava lá. Sua mente foi corrompida, Marina.
James dá uma pausa e eu respiro fundo. A verdade é que não estou entendendo nada.
ㅡ Você e o meu irmão ㅡ começou Régulus ㅡ, entraram em um relacionamento sério, mesmo com a nossa proximidade. Sirius sempre foi muito carinhoso com você, por isso ele te impedia de sair comigo. E estava certo. Desde quando você entrou em Hogwarts, um plano de te colocar no lado negro se tornou real.
"Então, quando Hogwarts acabou e você e Sirius se casaram, Voldemort começou a ir atrás da profecia. A verdade é que a profecia aconteceria com o filho do casal Potter, então eles protegeram a casa. Mas como você confiava em mim, acabou revelando quem que estava com o acesso. Pedro. Mas eu não sei o resto da história, porque morri no meio disso. Depois que você revelou que era Pedro o encarregado, Voldemort não viu outra alternativa senão matá-la. Mas ele não a matou. Não. Fez muito pior: te torturou tanto com a Maldição Cruciatus que te fez entrar em transe.
E é exatamente isso que você está agora. Em um estado de transe. Mas, bem, continuando a história: quando te vi naquele estado, eu soube que estava fazendo a coisa errada. Sirius me fez prometer proteger os seus filhos, e foi isso que fiz: fui atrás das Horcruxes de Voldemort, para destruí-lo de uma vez. Eu acabei morrendo no meio disso, por causa do Medalhão de Salazar."
Silêncio. Era exatamente isso que eu senti.
Bem, então tudo isso que vivi agora, todo esse ano com o vira-tempo: era tudo uma lembrança. Algo que realmente aconteceu, mas há anos.
ㅡ E, sem Régulus e você no caminho, Voldemort foi atrás de mim e de Lily. E de Harry Potter, meu filho. Eu também estou morto, Marina. ㅡ diz James.
Eu não sinto nada. Eu deveria ficar triste, quero ficar triste, mas é como se eu já soubesse disso.
ㅡ Bem, resumindo: esse ano aconteceu, mas agora é só uma lembrança. Depois de você ter entrado no transe, você ficou presa na sua lembrança mais feliz, que é essa. Por isso que as vezes você via coisas diferentes: o quarto escuro foi onde você foi torturada. Sirius gritando foi quando viu o que Pedro tinha feito e que tinha traído a todos. Você chorando foi quando percebeu que não deveria ter contado para Régulus, mas você não tinha como saber. As crianças são realmente os seus filhos. E o cachorro é Loke, um cachorro que Sirius comprou depois que você entrou no transe. É como se o seu corpo externo estivesse tentando comunicar com o interno.
ㅡ Há quanto tempo estou presa nessa lembrança? ㅡ pergunto.
Eu já entendi. Vejo e revejo essa lembrança o tempo todo porque estou presa aqui. Tanto James quanto Régulus são fruto da minha imaginação também, mas é a minha consciência tentando fazer com que eu acorde. Foi o que Christian disse: acorde e lute.
ㅡ 13 anos.
Quase caio novamente.
Estou desacordada, presa nessa lembrança há 13 anos?
ㅡ Por que não acordei antes?
ㅡ Porque, depois de você ter contado para Régulus, o Ministério decidiu que foi uma traição. Então você ficou presa em Azkaban durante esses anos. Sirius, todo esse tempo, tentou provar a sua inocência. Você não tinha forças para acordar por causa dos Dementadores em Azkaban, eles sugavam toda a sua energia.
ㅡ Entao agora eu não estou mais em Azkaban? É por isso que estou acordando? ㅡ pergunto.
ㅡ Isso. ㅡ Régulus responde ㅡ Sirius conseguiu provar a sua inocência e você está livre. Agora sim você vai acordar dessa lembrança.
Minha mente parecia um turbilhão de sentimentos e ideias.
ㅡ Voldemort voltou, Marina. Você precisa acabar com ele.
Minha visão se torna turva novamente e uma forte dor me invade. Os dois homens somem da Sala e não consigo me mexer.
Fecho os olhos com força.
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