Você vai pagar
Na Universidade Federal do Rio de Janeiro, muitos alunos vagam para lá e para cá em grupos e panelas, conversas e risadas, casais e amigos. Um desses casais é Ulisses e Lillian que passam por Rafaela Lopes e recebem um olhar de ódio da garota.
- Nossa, o que foi isso? O que você fez Ulisses? - Lillian lança um olhar cínico e malicioso para o namorado que responde com uma de suas características risadas.
- Nada, Lily. Mal posso esperar para te mostrar minha clínica.
- Onde é? - Lillian se anima e envolve o braço do namorado conforme caminham.
- Em um lugar chique, é claro. - Ulisses sorri. - No Leblon, aonde mais?
- Pode me levar lá hoje?
- Quando quiser! - ele lhe dá um beijo rápido e nota que Amanda vem na direção deles, mas Ulisses finge que não a vê. - Todo mundo vai na festa da Amanda? - fala de forma audível.
- Posso saber o que estão falando sobre minha festa? - a moça aborda o casal.
- Eu só queria saber se você vai convidar todos os seus amigos pretos e fedidos para sua festinha?
- Não fale assim, petit. - diz Lillian com cinismo que poderia escorrer pelos cantos da boca.
- Tenho certeza que você eu não vou convidar. - diz Amanda para Ulisses.
- Ah, mas eu quero estar lá. Eu quero que essas pessoas sintam o cheiro do meu perfume importado. Quem sabe até não tem uma mulherzinha fedida e carente pra eu...
- Você é nojento! - Amanda o interrompe e brada.
- Nem liga, Amanda. Ele só está brincando. - Lillian tenta apaziguar.
- Não se brinca com o sentimento dos outros, muito menos com sua posição social ou sua cor!
- Minha amiga, me diga quando foi que os pobres e os pretos começaram a ter sentimentos? Eu é que não vou tratar eles e suas bocas podres.
Amanda o encara com tamanha raiva que Lillian teme que a moça agarre o pescoço de Ulisses com as pequenas mãos e o enforque até a morte.
- Com licença. - ao invés disso e para alívio da namorada, Amanda apenas se retira e ouve a risada histérica de Ulisses de longe.
Cândido Lopes digita algo no computador sentado atrás de sua escrivaninha quando sua filha adentra o escritório. Em uma pequena estante, há um único certificado brilhante em prata no centro de vários porta-retratos da família Lopes que diz "Doutor Cândido Lopes, Presidente do Conselho Estadual".
- Com licença, pai. - pede Rafaela.
- Oi, querida. Entre, sente-se. - ele aponta para a cadeira em frente a ele, e a moça obedece.
- Eu sei que sou adulta e preciso cuidar da minha própria vida. Você não tem nada a ver com meus problemas e nas confusões em que me meto...
- Você é minha filha e pode me contar qualquer coisa. O que houve? - o Dr. Cândido a interrompe.
- O senhor conhece o filho do Dr. Roberto Medeiros?
Julie entrega uma cerveja a um cliente quando Amanda chega no bar para sua alegria. Elas são amigas de infância e não se veem a algum tempo.
- Oi, Amanda! Quanto tempo. Como você está? - ela abraça a amiga de longa data.
- Oi, querida! Sim, muito tempo. Eu vou me graduar em algumas semanas. Você quer ir na minha festa de formatura?
Julie vai até o balcão de olhos arregalados que Amanda não consegue ver. A garota teme a mera ideia de estar no meio de gente pomposa e rica.
- Desculpe, não posso. Eu só... não posso me dar ao luxo de me divertir ultimamente. Eu preciso ajudar meus pais com o bar. Não se preocupe comigo.
- Tudo bem, não se preocupe. Eu vou sentir sua falta lá. Mas me conta, ainda apaixonada por aquele carinha e nada?
Julie expira com força e reclama.
- Sim, nem me fale. Ele está morando com um garoto agora, e ele está meio que... desaparecido. Está surtado por causa disso. E você? Tudo bem na sua faculdade chique?
- Não tem nada de chique na Universidade Federal, Julie. Você sabe que poderia tentar o vestibular de novo.
- Eu já tentei várias vezes. Acho que só não tenho o que é preciso, então o jeito é buscar uma bolsa em alguma outra faculdade. Nem todo mundo teve uma educação privilegiada como você, sabe...
Amanda abaixa os olhos e assente.
- Falando nisso, um amigo meu está passando por uns perrengues. Ele não tem dinheiro e precisa de um emprego em qualquer lugar. Estava pensando se não tem um lugar para ele aqui no bar?
- Ah, minha nossa... - Julie se compadece e leva a mão ao peito. - Eu sinto muito mas nós não conseguimos pagar mais um funcionário.
Julie dá uma olhada em Rita, a outra atendente e sua única ajudante que serve uma mesa e conversa alegremente com os clientes, e tem uma lembrança súbita.
- Jefferson estava procurando por alguém para ajudá-lo na banquinha.
- Que ótimo! É aqui perto, não é?
- Sim, no final da rua.
- Vou avisar o Cláudio, muito obrigada.
- Imagina.
- Só mais uma coisa, eu vou dar uma grande festa depois da formatura. Nessa você vem? Tem bastante tempo para se organizar.
Mais uma vez, o medo da ideia faz o coração de Julie acelerar.
- Você lida com gente da alta sociedade. Eu nem tenho roupa para isso.
- Ah, vamos, eu não ligo para isso na minha casa! Se anima, querida. Sair da rotina faz bem.
A garota toma algum tempo para pensar e pode sentir a expectativa de Amanda em cima dela.
- Está bem, eu vou.
- Isso aí, garota! A gente se fala. - Amanda dá um leve apertãozinho na mão de Julie e deixa o bar com uma última piscadela.
Julie suspira e já começa a repassar mentalmente todas as roupas de seu armário. Ela pode sentir o pânico crescer, mas apesar disso, ela se sente feliz por, pelo menos um momento, escapar de tudo aquilo que a cansa tanto.
Ulisses e Cláudio estão na aula de Atendimento Prático, e Ulisses parece entediado.
- Queria ir embora.
Cláudio está tratando um paciente e responde sem olhar para o outro:
- Você não parece gostar de estar aqui. Tem certeza de que quer ser um cirurgião?
- Eu posso ser o que eu quiser. - ele se espreguiça e observa a delicadeza com a qual Cláudio observa os dentes do paciente, e sente-se enojado. Não consegue conter a expressão e o olhar de cima a baixo quando Cláudio libera o homem.
Ao mesmo tempo que o homem que Cláudio atendia deixa a clínica da Universidade, o professor Emerson chega com um novo paciente que usa uma camiseta branca muito suja e furada, e calças de moletom igualmente sujas.
- Pedro tem um sangramento grave na gengiva onde os dentes da frente estão faltando. Cuide disso, Ulisses.
O paciente deita na cadeira e Ulisses sente-se aflito. Ele começa a examinar a boca do homem com hesitação e, por sorte, os outros não conseguem ver sua face desgostosa por baixo da máscara.
- Então, cara... - ele diz para Cláudio. - tenho uma piada. Escuta só, Deus e o Diabo estavam fazendo uma aposta...
Pedro, o paciente, se retrai pois Ulisses o machuca no momento de distração.
- Medeiros! Nós estamos em uma clínica.
O professor Emerson o repreende antes de deixar os três sozinhos. O paciente tenta falar algo, e Ulisses puxa as luvas com impaciência e tira a máscara.
- O que é?
- Não me sinto bem. - diz Pedro.
- Bem, velhinho, por que não foi procurar um médico?
- Pra quê isso, Ulisses? - diz Cláudio em choque e puxa o outro para longe do paciente. Ulisses se permite ser afastado e resmunga algo que Cláudio não compreende.
- O que você está sentindo? - o dentista prontamente se preocupa com Pedro.
- Filho, eu tenho pressão alta.
- Então, respire bem fundo e eu vou te levar até o meu professor, está bem? - Cláudio o tranquiliza.
- Não acredito nisso. - Ulisses revira os olhos e contrai o lábio superior com nojo.
Os olhos de Pedro se enchem de lágrimas pela vergonha.
- É porque eu sou pobre, não é, garoto? Tudo o que eu queria era ter os meus dentes de volta.
Ulisses o olha da cabeça aos pés com desprezo.
- Eu sou pedreiro, rapaz. Por isso minhas roupas sujas. Eu quebrei meus dentes da frente em uma queda depois de trabalhar por quase doze horas seguidas.
- Eu não tenho nada a ver com isso. - interrompe Ulisses.
Cláudio gentilmente orienta Pedro para fora da clínica e não permite que a discussão continue, com o risco de que Ulisses profira piores humilhações ao pobre pedreiro.
Mas o rapaz arrogante somente suspira aliviado e volta a organizar seus instrumentos. Cláudio retorna e o encara por longos segundos.
- Eu deveria te dar um soco na cara agora mesmo. - Cláudio sussurra e recebe um riso alto de Ulisses.
- Cuidado com essas ameaças. Meu pai pode não permitir que você tire seu registro. Você me entendeu?
Ambos respiram pesado e encaram um ao outro com uma energia agressiva e perigosa que flutua ao redor da sala.
O celular de Julie toca enquanto ela serve uma mesa, ela se desculpa com o cliente e vai atender. Na tela do telefone, pisca escrito "BANCO".
- Ai meu Deus! Rita, Rita, vem aqui!
Julie larga a bandeja na mesa, não sem receber um olhar desconcertado do cliente, e puxa Rita que serve outra mesa próxima.
- Atende essa aqui.
Rita quase cai quando é puxada e fala algo muito rápido que Julie não dá atenção conforme se afasta.
- Alô? - atende ansiosa.
- Gostaria de falar com Juliana Silva. - fala a voz do gerente.
- É ela...
- Desculpe, Sra. Juliana, mas o seu financiamento não foi aceito pelo nosso banco.
Julie sente-se tonta e seus olhos enturvam pelas lágrimas que brotam. Tudo gira, o gerente continua a dizer algo mas ela não mais escuta. Ela desliga antes que ele possa terminar de falar e se apoia no balcão. Rita vê que algo não está certo e se apressa com as pernas muito curtas mas velozes até lá.
- O que aconteceu? Quem era? O que houve? - fala muito rápido.
Julie sempre achou que Rita parece uma formiga, se formigas falassem. Baixinha, curta, veloz, trabalhadeira. Mas no momento, não consegue apreciar como a colega de trabalho é gentil e até engraçada, e apenas explode em prantos.
Jefferson tem a mão enfaixada por um pano branco que ele tenta esconder as manchas vermelhas para os clientes. De manhã, quando foi abrir a banquinha, tomado pela ansiedade e raiva por Allan não ter aparecido, se cortou na porta de ferro. A dor o incomoda mas não o bastante para que ele largue a banca aberta e vá procurar uma farmácia ou um médico, o que seria adequado.
Um homem baixo e rechonchudo se aproxima e ele volta para o mundo real e para suas obrigações.
- Posso ajudar?
- Oi, meu nome é Cláudio. Sou um amigo da Amanda.
- Amanda...? - Jefferson não tem certeza de quem o estranho está falando.
- Amanda Campos. Amiga de Julie.
- Ah, sim, é claro. A dentista.
- É ela... - Cláudio ri baixinho.
- Então, o que posso fazer por você?
- Amanda me disse que você está procurando por um ajudante. Eu estou procurando por um emprego, então talvez a gente possa se ajudar.
- Isso é ótimo! - Jefferson nem mesmo questiona ou se preocupa em fazer mais perguntas. Isso é tudo o que ele precisava.
Eles se encaram sem saber como prosseguir e riem depois de um tempo.
- Bem, quando pode começar? - Jefferson pergunta animado, mesmo que a imagem de Allan ainda queime o córtex de seu cérebro.
- Amanhã.
- Certo, mas qual é sua agenda? Você estuda com a Amanda, certo? Aposto que a faculdade ocupa bastante seu tempo.
- É verdade, mas eu vou me formar semana que vem, então estarei mais livre. Mas nessa semana eu posso trabalhar das duas às seis, só não as terças e quintas pois tenho laboratório depois da aula.
- Perfeito, eu espero por você amanhã. Aqui está meu telefone. - Jefferson anota o número em um papel e entrega a Cláudio.
- Valeu! - ele sorri e dá um aceno tímido antes de ir.
Ulisses e Lillian chegam ao décimo quinto andar do prédio luxuoso onde, muito em breve, Ulisses exercerá sua profissão.
- Feche os olhos, Lily. - pede o rapaz quando eles saem do elevador.
Ela obedece e Ulisses a guia por poucos passos até a porta da clínica, e a abre. Ele carrega a namorada para dentro pelo braço e tranca a porta.
- Pode abrir os olhos agora.
- Uau, isso é incrível! - ela exclama com a voz aguda. - É mais bonita do que a do seu pai.
- Eu aposto que aquele idiota do Cláudio nunca viu algo assim de perto. Tecnologia de ponta e mármore de primeira classe é o que eu tenho aqui.
- Esquece ele.
Ulisses se aproxima dela e coloca uma mecha de seus cabelos ruivos atrás da orelha.
- Chamar aquele perdedor de "doutor" não vai rolar. Ele nem deveria estar na festa de formatura.
- Está bem, Ulisses. Eu já entendi. - Lillian se afasta com impaciência. - Mas ele vai estar lá. Supera.
Ela está prestes a ir embora quando tem o braço segurado por ele.
- Está bem, está bem! Vamos falar sobre coisas boas...
Lillian sorri de canto com olhos maliciosos.
- Vamos inaugurar?
Ulisses a ergue pelas pernas e a prensa contra um armário com beijos ferozes. Lillian tem os dedos cravados nas costas dele e uma das mãos perdida no meio de seus cabelos loiros.
Os pais de Julie entram no quarto para se deparar com a filha deitada, com o rosto vermelho e inchado por um choro incessante.
- Oh, minha garotinha, não chore. - diz Mário, o pai de Julie. - Por quê ela está chorando? - ele sussurra para Clarice.
- Shhh. - emite a mãe e senta ao lado da filha da cama.
- Vai me dizer que me avisou? - Julie fala por entre soluços e o nariz entupido.
- É claro que não! Você pensa tão pouco de mim? Eu sou sua mãe, estou aqui por você.
- Era tudo o que eu tinha, minha última esperança. - ela se senta.
- Julie, você é tão nova, não fique assim. Você pode tentar o vestibular de novo, e tem outras faculdades. Além disso, eu tenho certeza que você não deve precisar de um diploma para jogar vôlei na Seleção.
- Mas isso me daria uma moral, uma formatura.
Mário senta-se com as duas.
- Eu e sua mãe não temos formação e temos moral!
- Mário... - Clarice repreende.
- Que é?
- Eu estou bem, só quero ficar sozinha, por favor. - diz Julie.
- Tem certeza? - pergunta Clarice.
- Sim! Por favor... - Julie ergue a voz por um instante mas logo se acalma. Ela sabe que seus pais não têm culpa e fazem o melhor para criá-la bem mesmo diante das condições humildes em que vivem.
Jefferson está sentado na cama que divide com Allan e encara o celular por horas.
- Cara, não faz isso comigo.
Ele se levanta e passeia ao redor da cama em um vai e vem infinito. As caixas como seus pertences ainda estão no canto do quarto. Ele vai até lá e se ajoelha em frente a uma delas. Jefferson retira objeto por objeto até encontrar o álbum de fotos com a capa de couro. Novamente como se estivesse memorizado, ele abre direto na foto com o rapaz na praia, e sua mente é devorada por lembranças.
- Jeff... - o menino, que é um pouco mais novo do que na foto, o chama enquanto Jefferson bate o pé para fora do quarto do irmão.
- Não vem com "Jeff". Não mexa mais nas minhas coisas. Me entendeu? Nunca mais!
Ele entra em seu quarto e bate a porta na cara do irmão.
- Eu aposto que você seria mais feliz se eu nunca tivesse nascido. Se um dia eu morrer, aí você vai ser feliz!
- Para de ser um bebê! - Jefferson grita de dentro do quarto.
Jefferson fecha os olhos e acaricia o rosto do irmão ao seu lado na foto, e lágrimas molham o plástico que a protege.
A família Medeiros está jantando e Cátia entrega muitos presentes para Iris. A mesa da segunda sala do gigantesco apartamento está repleta de pacotes e Iris os abre um por um. Ela pega um frasco de perfume e o cheira.
- É bom? É de alta qualidade? - questiona Ulisses.
- É claro, meu filho. Você acha que traria uma fraude para sua irmã? - diz Cátia.
- Tenho certeza que não, mas as vezes o vendedor não é honesto.
- Não se preocupe, mano. É ótimo. E mesmo que fosse falso, ainda cheira maravilhosamente bem. Obrigada, mãe. - Iris dá um abraço caloroso na mãe.
Uma jovem paciente na clínica do Dr. Mário conversa com Martha, a recepcionista.
- Eu estou atônita. O doutor foi dado como desaparecido, você sabia?
Muitos bairros de distância dali, o grito horrorizado de um homem ecoa pelas ruas escuras e perigosas. As pessoas nas casas o ouvem, mas não ousam espiar pelas janelas, muito menos abrir as portas para ver o que pode estar acontecendo. Gritos assim são comuns próximos às bocas de fumo e favelas.
Um cachorro salsicha caminha corajosamente, sem ideia dos horrores que a noite traz. Sua única preocupação é o alimento que carrega na boca, que encontrou próximo a entrada do mato alto de um terreno baldio. O cãozinho começa a cavar para enterrar o resto de sua comida que deixará para depois. Quando julga que o buraco está grande o bastante, ele larga a refeição sem saber que se deliciou, e mais tarde se deliciará de novo, com uma mão humana.
Dentro de uma das casas da redondeza, o noticiário revela as últimas novidades. Um homem de cabelos desgrenhados e barba volumosa lê um jornal e escuta as notícias simultaneamente na televisão.
No jornal, o título enorme da manchete diz "O MANÍACO DA MARCA ESTÁ DE VOLTA", enquanto Cássio, o repórter da noite fala ao microfone:
- Medo é o que todos estão sentindo. Já faz quatro anos desde a última vez que ele atacou na região. Em 2013, os crimes horríveis começaram e revelarão esse assassino desumano que foi nomeado de Maníaco da Marca. Agora, desde o mês passado os crimes não param. Ele não deixa nenhuma pista e deforma suas vítimas para dificultar o trabalho da polícia em reconhecê-las.
Um minúsculo sorriso, sádico e vil brota nos lábios finos por trás da barba e a imagem de Cássio reflete nos olhos castanhos brilhantes que assistem ao noticiário.
- O nome é devido ao fato de que esse monstro marca suas vítimas com ferro quente na forma do símbolo da Odontologia. Uma ironia cruel, já que o maníaco ataca apenas estudantes e profissionais da área de odontologia.
Um Allan de 6 anos de idade está no banco de trás de um carro. Seu pai está dirigindo, e em uma curva acentuada uma carreta liga os faróis frontais no máximo atrás deles. O pai de Allan olha pelo retrovisor, e se apavora quando vê o caminhão acelera em cima do veículo. Ela os encurrala e força contra a beira da estrada.
Allan não compreende o que se passa e tem os olhinhos arregalados de pavor. Seu pai tenta lutar contra a carreta, e sua mãe se vira para trás e o olha.
- Não se preocupe, meu bebê. A mamãe está aqui. - a mulher tenta manter a voz calma para a criança, mas o medo é excruciante.
O pai perde o controle do carro e derrapa até bater de lado em uma árvore. Allan se esforça com suas mãozinhas pequenas para abrir a porta e consegue sair. Ele está tonto e consegue apenas observar seus pais inconscientes. Para ele, parece que estão somente adormecidos.
A carreta retorna e parte para cima do carro, empurrando-o até que ele caia penhasco abaixo.
- Pai!
Allan vê um clarão e ouve o estrondo da explosão do carro. Ele grita e chora alto como o verdadeiro bebê que é, diante de uma vida que nunca mais será a mesma
Allan abre os olhos na escuridão e respira com força. Não consegue ver nada além de poucas sombras negras.
- Socorro! Tem alguém aí? - grita.
Ele tenta levantar mas leva a mão à cabeça de dor.
- Olá! - chama com embargo, e ouve um som seco. Ele se assusta e se arrasta depressa para longe da onde vem o som. Sente as pernas e as mãos arderem pela aspereza do chão.
O som se trata de uma porta que é destrancada e se abre, permitindo que apenas um pouco de luz ilumine o lugar. Uma grande sombra atravessa a luz e a porta, e logo a fecha, trazendo de volta o escuro.
A sombra caminha em lentidão para Allan. Ele tenta se afastar até se encontrar preso contra uma parede gelada e úmida, e o corpo grande pairar sobre ele.
- Não, não, por favor, não.
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