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7 - 1

Gabriel acendeu um cigarro e levou o cinzeiro para a mesa que estava perto da janela. Os papéis sobre o caso da morte do vigia noturno estavam sobre a mesa junto com outros casos de pessoas que tinham morrido no hotel Pride Outstretched. Três daqueles casos mais recentes tinham acontecido sob sua jurisdição, e a única coisa que ele conseguiu fazer foi arquivar a coisa toda. Era o que geralmente se fazia com as coisas que não se tinha explicação. Você simplesmente arquivava e esquecia.

Não fazia o menor sentido. As mortes no Pride Outstretched não faziam o menor sentido, e a morte daquele vigia naquele elevador, menos ainda. Era algo impossível, algo que desafiava a inteligência de qualquer um. E a coisa toda de fato estava desafiando a mente de Gabriel. Ele ficava acordado até tarde, fumava demais e consumia quantidades imensas de café, tentando, de alguma maneira, chegar a algum lugar, mas não havia para onde ir naquilo. Todos os caminhos possíveis davam em lugar algum.

Não era todo dia que alguém era triturado daquela forma. E triturado era a palavra correta, não existia exagero nenhum aqui. O cara tinha sido triturado. Aquilo lá no elevador não passava de um monte de carne triturada. Existiam fotos para provar aquilo, e elas o incomodavam, ele não queria olhar para elas.

Mas como? E por quem?

(FANTASMA).

Sua pele se arrepiava toda. A possibilidade de haver algo mais naquela coisa, algo que fugia da naturalidade da coisa, o apavoravam, o fazia se sentir incapaz.

Àquelas alturas das coisas as teorias possíveis que Gabriel tinha construído já tinham sido derrubadas, todas elas. Não passavam de lixo, ele era um inútil, que não conseguia resolver aquela merda ali.

A primeira delas baseava-se no fato do cara ser um traste, com um passado de pedofilia, e para Gabriel, uma vez pedófilo sempre pedófilo. A teoria de Gabriel era vingança. Alguém, um pai de alguma vítima possivelmente, entrara no hotel e eliminara o cara no elevador. A arma do crime poderia ser um facão. Mas Gabriel sabia que não era um facão. Aqueles não eram ferimentos de alguém que tinha sido morto a golpes de facão. Eram ferimentos de uma pessoa que tinha sido passado por uma máquina de moer carne. Ele se lembrava de quando era criança e morava em um sítio. Seu pai tinha comprado uma nova máquina de moer capim, e de alguma forma Gabriel achava interessante a maneira que o capim entrava inteiro de um lado e saía completamente moído do outro lado.

O corpo do vigia no elevador estava daquela maneira, como se tivesse passado em uma máquina de moer capim. Era medonho e bizarro, mas era verdade. A terrível constatação da verdade.

Algo que não corroborava com sua teoria era o fato do sistema de câmeras do Pride Outstretched não ter gravado absolutamente nada. Se tivesse entrado alguém ali, ele teria sido filmado pelo sistema, não havia como escapar. Ao menos o hotel era um lugar seguro, pelo menos em teoria. Mas não tinha nada nas câmeras, ele assistira horas e horas de gravação e nada.

Algo estranho, mas, em se tratando daquele hotel, Gabriel diria que era algo comum. O hotel colecionava mortes, era uma coisa que ele sabia, as pessoas diziam que o Pride Outstretched era assombrado, e Gabriel estava propenso a acreditar, ele vinha acompanhando alguns casos naquele hotel desde 1998, e todos eles tinham sido arquivados sem uma solução aparente, sem nenhum tipo de explicação que fosse no mínimo convincente. Ele não podia colocar a palavra fantasma em um inquérito policial, ao menos não podia fazer isso sem ser taxado de louco.

Em 1998 um cozinheiro tinha cozinhado a própria cara. O homem simplesmente mergulhou o rosto em uma panela de água fervente e ficou lá até morrer. A única coisa que Gabriel conseguiu colocar no boletim de ocorrência foi suicídio, mas quem era capaz de se suicidar daquela maneira? Era uma coisa bizarra demais. Sem falar que era terrível. Talvez ele pretendesse servir a própria cara no jantar no restaurante do hotel.

No início de 1999 um homem foi encontrado morto no campo de golfe. Ele estava literamente enterrado no chão até o pescoço, a boca e os olhos abertos numa terrível expressão de pânico e havia uma bola de golfe em sua boca. Uma expressão que às vezes apavorava as noites de sono de Gabriel.

As investigações duraram quase o ano inteiro, e no final a única coisa que Gabriel pôde fazer foi arquivar o caso. Assassinato? Não existia marca alguma no corpo. E quem poderia literalmente ter fincado um homem de um metro e setenta no chão, como se ele fosse uma estaca?

Em dezembro daquele mesmo ano, Antônio, o zelador do hotel, encontrou Priscila da Silva de 19 anos morta dentro de uma das imensas máquinas de lavar na lavanderia do hotel, e mais uma vez não houve qualquer explicação. A impressão que dava era que a mulher resolveu lavar a roupa, mas se esqueceu de sair de dentro dela. Seria até engraçado se não fosse trágico.

E agora havia a morte daquele vigia. Não somente uma morte, mas uma morte bizarra.

(Um monte de carne picada misturada com farrapos de pano e sangue).

O que acontecia naquele lugar? As pessoas simplesmente morriam, sem nenhuma explicação aparente. Parecia que elas resolviam morrer. Gabriel fez uma pesquisa naqueles dias que ficou ali no hotel, e descobriu um rastro de sangue considerável na história do hotel.

O hotel parecia uma cripta. Um lugar para sepultar os mortos.

Mas havia explicação para a morte? Existia algum propósito nas coisas horríveis que aconteciam no mundo? E coisas horríveis aconteciam o tempo todo, era como se o mundo fosse feito de coisas horríveis.

Esperança de mudança? Gabriel tinha parado de acreditar naquilo quando a única coisa que importava em sua vida, a única mulher que ele fora capaz de amar, fora arrancada dele da forma mais terrível que poderia existir. De uma forma que levara consigo parte de sua própria alma.

Ele devia saber que existia algo errado, porque coisas perfeitas não existiam, e Kelly era perfeita.  Kelly era a coisa mais perfeita que existia no mundo todo. Na verdade, naquela época Kelly era o mundo, o seu mundo.

O ano era 1990 e ele era apenas um garoto de 20 anos achando que já sabia tudo o que existia para saber na vida, pensando que era um homem, alguém que poderia dominar as coisas e enfrentar qualquer desafio sem fazer muito esforço.

Ele fazia planos, ele tinha expectativas e só existia um futuro ao lado de sua amada.

Kelly tinha apenas 18 anos, uma adolescente que ele conheceu na escola onde fazia estágio como professor de português, e alguém por quem foi impossível não se apaixonar.

Ele devia saber que existia algo errado na época, mas a paixão é uma coisa que pode cegar um homem a ponto dele não ver mais o que acontece ao seu redor, na realidade.

Gabriel começou a fazer um jogo perigoso com uma garota de apenas 18 anos que era tão linda que não devia ser real. Ele sabia que se fosse descoberto poderia perder o emprego, poderia se complicar muito, se complicar de verdade, mas estava apaixonado e disposto a viver aquela paixão.

Quando Kelly disse que queria fugir com ele para viverem seu amor, ele não pensou duas vezes. Agiu como o idiota irresponsável que seu pai sempre dizia que ele era, pegou algumas roupas e enfiou no Chevette 83 que tinha comprado alguns meses antes, largou o estágio que o com certeza teria mudado o rumo de sua vida e fugiu com a garota.

Na época ele não mediu as consequências, não parou para pensar nenhum pouco no que estava fazendo.

O pai de Kelly colocou a polícia atrás deles no mesmo dia em que fugiram. Eles tinha a descrição e a placa do carro. Gabriel não foi muito longe. De qualquer jeito não conseguiria ir muito longe naquilo. Ele achava que se a coisa não tivesse acabado da maneira que acabou, aquilo não iria durar muito tempo. Kelly era apenas uma garota, quase uma criança e o que ela queria de fato era apenas curtir, viver a vida de maneira perigosa, como a maioria dos jovens na idade dela gostavam de fazer.

Gabriel dirigiu quase 350 quilômetros naquele dia, indo para o estado de Minas Gerais. A intenção deles era cruzar o estado e chegar até Brasília, longe o suficiente de Pindamonhangaba, um lugar onde poderiam viver com tranquilidade.

Gabriel estava exausto. Eles precisavam parar e descansar, comer alguma coisa e quem sabe transar, uma coisa que ainda não tinham feito.

Ele parou o carro em um motel barato de beira de estrada. Kelly ficou no carro, mas o atendente, um cara gordo de  uns trinta anos, não quis saber o que ele estava fazendo com uma garota naquele fim de mundo.

Gabriel perguntou se havia algum lugar onde podiam comer alguma coisa e o cara gordo disse que o único lugar que vendia alguma coisa de comer era a loja de conveniência do posto que ficava do outro lado da rua.

Eles foram até lá e descobriram que a loja só vendia salgadinhos. Era estranho jantar Cheetos e Doritos, mas era o que tinha, salgadinho e cerveja gelada.

O quarto de motel tinha uma cama velha, uma TV e um sofá, além de um banheiro pequeno.

Kelly foi tomar um banho e saiu do banheiro usando apenas um top e calcinha, e aquela foi a visão que ficou marcada em sua memória. A maneira que ela sempre aparecia em seus sonhos. Naquele momento Gabriel teve a certeza de que amava aquela garota e que enfrentaria o mundo por ela.

Gabriel ficou olhando para ela, os olhos brilhavam de desejo.

— O que está olhando, professor?

Gabriel sorriu. Se aproximou dela e a pegou pela cintura. Ele já experimentava uma ereção, mas achava que podia gozar somente com o cheiro que ela exalava. Era o melhor cheiro que ele havia sentido na vida.

Kelly olhou para ele, seus olhos azuis brilhavam. Os dois se beijaram, Kelly o ajudou a se livrar da camisa e colocou a mão em seu pênis por cima da calça.

Gabriel apenas tirou a calcinha dela e tocou seu sexo. Kelly gemeu e sorriu de maneira sexy.

Ele a colocou na cama e se livrou da calça. Era o momento que ambos queriam, que ambos tinham esperado por meses, e não fazia o menor sentido esperarem mais tempo.

Gabriel se livrou da cueca, os dois se atracaram aos beijos e então ele a penetrou, e nada mais existia no mundo. A única coisa que importava estava ali, naquele quarto barato de motel.

A coisa foi intensa, Gabriel não sabia quanto tempo durou. Ela era virgem e ele tomou cuidado com ela, fez devagar mas intensamente, e foi maravilhoso, a coisa mais deliciosa que ambos tinham experimentado até então, e não era somente por causa do sexo, era porque havia amor. Eles se amavam, ambos sabiam que tinham nascido um para o outro, e aquilo tornava a coisa especial.

Quando acabou, os dois ficaram largados na cama em silêncio fitando o teto.

Então Gabriel se levantou.

— Vou tomar um banho pra gente comer.

— Me dê um cigarro.

— Os meus acabaram.

— Que merda. Vou ali no posto comprar.

— Mas primeiro vista uma roupa.

— Vou só de calcinha.

— Ficou louca?!

Kelly sorriu e começou a vestir a calça. Soprou um beijo e saiu.

Gabriel pegou umas roupas em sua mochila e foi para o banheiro.

Não se lembrava muito bem, mas achava que tinha ficado uns vinte minutos lá. Estava cansado, apesar de estar feliz, tinha certeza absoluta de que amava Kelly e sabia que ela também o amava.

Quando Gabriel saiu do banheiro Kelly ainda não tinha voltado e ele estranhou. O posto ficava do outro lado da rua. Uma corrida de não mais que trinta segundos.

Gabriel franziu o cenho e foi quando ouviu as sirenes.

Isso chamou sua atenção, porque a essas alturas ele sabia que os pais de Kelly já tinham acionado a polícia. Se fossem pegos ele tomaria cadeia na certa. Sem chance para explicações.

Gabriel abriu a pequena cortina do vitro e viu uma movimentação estranha lá fora, na estrada, exatamente na frente do motel.

Ele abriu a porta e saiu na varanda. Deu de cara com o rapaz que os tinha atendido na recepção horas antes.

— Olá.

— E aí, cara?

— O que acontece lá?

— Com certeza um acidente. Essa estrada é perigosa.

O cara seguiu seu caminho e Gabriel sentiu uma pontada de preocupação.

Ele saiu caminhando pelo estacionamento de cascalho, indo em direção à estrada.

Kelly ainda não tinha voltado, e o posto era apenas do outro lado da estrada. Tinha que atravessar a estrada.

Gabriel sentiu seu coração palpitar sem entender porquê. Ele chegou na estrada e viu que o trânsito estava parado. Viu um caminhão baú branco, parado onde estava um aglomerado de pessoas. Era um caminhão de papel higiênico.

Gebriel apressou o passo se aproximando das pessoas. Viu o rastro dos pneus do caminhão gravados no asfalto, indicando que o motorista tinha tentado freiar. Um pânico inexplicável tomando conta de si.

Viu um sapato feminino no asfalto e uma mancha escura que o encheu de pavor. Abriu caminho entre as pessoas e então o mundo começou a ruir.

O caminhão estava parado a uns três metros de distância, atrás dele havia o corpo de uma garota. Ela estava caída numa poça de sangue (havia muito sangue), os olhos abertos numa expressão de pânico. Gabriel percebeu que a cabeça dela estava estourada. Havia marcas dos pneus ali, por onde as rodas passaram. Partes do cérebro dela estavam espalhados pelo asfalto.

Gabriel desabou de joelhos no asfalto. Uma parte dele tentava convencer a si mesmo de que aquela pessoa morta caída ali não era Kelly.

" Não é ela! Não é ela!"

Mas era. Kelly estava morta. Apesar dos olhos abertos ela estava morta. Seu cérebro estava espalhado no asfalto como pasta de amendoim.

Ela parecia estranhamente viva. A impressão que ele tinha era que tudo aquilo era uma pegadinha. Ela iria se levantar e começar a rir, mas não se levantou. Não se levantou porque estava morta, e aquela era a realidade nua e crua, a realidade que a maioria das pessoas não gostava de encarar.

Gabriel tentou fugir, mas não foi capaz. Ficou ali até a chegada da polícia, Kelly foi colocada dentro de uma mortalha e depois enfiada dentro do carro do IML. Ele pegou as coisas no motel e voltou para a casa, e passou um dia inteiro dormindo e tomando vinho.

Na semana seguinte Gabriel foi trabalhar e descobriu que havia perdido o emprego. A polícia o pegou quando ele estava saindo da escola. Gabriel foi levado para prestar depoimento e ele descobriu que havia uma acusação de sequestro e outra de homicídio contra ele.

Mas ele era um réu primário e acabou se safando da coisa. Foi na própria  delegacia que ele viu o cartaz anunciando o concurso para a polícia.

Gabriel decidiu entrar nessa. A essas alturas ele já tinha abandonado a faculdade. Ele fazia as coisas meio por impulso, nada mais parecia ter qualquer sentido. Gabriel passou no concurso e fez um curso para PM. Era bom, a rotina puxada e a disciplina militar o ajudavam a esquecer de tudo o que tinha acontecido. Gabriel se trancou dentro de si mesmo, num lugar onde quase não havia lembrança de Kelly.

Gabriel começou a trabalhar na polícia em junho de 1991, em 1993 fez curso para delagado e em janeiro de 1994 saiu das ruas e foi para a polícia civil onde era delegado até hoje. O salário era a melhor e a exposição dos perigos da rua não existia.

Depois de Kelly, ele nunca mais conseguiu ter um relacionamento. Ainda hoje os sonhos o atormentavam. Ele sonhava com ela, Kelly estava lá, morta apesar de estar viva, uma viva morta. O cérebro espalhado pelo asfalto.

— Por que não me protegeu Gabriel? Por que você não me amou?

Ele caia no chão de joelhos como fizera naquele dia e chorava em pânico, repetindo vezes sem conta que a amava, mas aquilo não era o suficiente, não para aliviar a culpa que ele sentia. Não havia um único momento em que não conseguisse se culpar pela morta de única pessoa que fora capaz de amar na vida. Se não tivesse concordado com aquela loucura, talvez ela estivesse viva. Com certeza não estaria com ele, mas estaria viva.

Gabriel se chafurdava no trabalho para esquecer, ele fumava seis carteiras de cigarros por dia e bebia muito vinho. Era uma rotina que ele odiava mas que achava necessário, achava que não teria forças para enfrentar a coisa sem aquilo.

Lidar com a morte, era o que todos queriam aprender. Uma maneira de entender porquê ela existia, porque fazia parte da existência. Viver era nada mais do que caminhar em direção à morte, dia após dia, passo por passo. Uma lenta caminhada em direção ao final.

E agora ele estava ali, lidando mais uma vez com a morte, dentro de um enorme hotel de luxo. A morte dentro de uma panela, a morte no interior de uma máquina de lavar roupa, ou a morte através de um assassinato no campo de golfe, como no livro de Agatha Crhistie, que era sua autora favorita.

A morte tinha seus caminhos, mas dentro do hotel Pride Outstretched ela parecia ter uma avenida toda.

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