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Ele abriu os olhos e estava flutuando na escuridão.
Descobriu que podia respirar ali, de modo que aquilo só podia ser um sonho.
Saber disso o fez relaxar um pouco. Você não pode morrer em um sonho, a não ser se fosse um dos personagens de A hora do pesadelo.
Não existia nada na escuridão, mas era uma escuridão estranha, ele conseguia vê-la. Era como se ele estivesse flutuando no vácuo e vendo um enorme manto negro na sua frente.
Aquele não podia ser o fundo do lago.
" É claro que não. Você está sonhando. Acorde porra! Acorde agora mesmo! "
— Luiz!
Ele olhou para a frente e alguém surgiu da escuridão, flutuando do mesmo modo que ele flutuava.
Era uma mulher. Por um segundo ele pensou que fosse Lola, ela tinha ressurgido do mundo dos mortos e agora flutuava apodrecida no fundo do lago. Mas quando a mulher chegou mais perto ele viu que não era Lola.
Era uma mulher de beleza incomensurável, mas totalmente desconhecida. Ela estava completamente nua, e apesar de estar viva, ele percebeu que ela estava morta. Havia um rasgo em sua testa de onde escorria um filete de sangue.
— Luiz.
Ela falava, mas sua voz estava apenas em sua mente.
— Quem é você?
— Eu sou o que restou.
Ela só apontou para baixo. Luiz viu uma escuridão ainda mais opressora, e de repente começou a ser atraído por ela.
Ele entrou em pânico e tentou nadar para cima, mas foi inútil, ele desceu até o fundo. O fundo estava cheio de cadáveres que se contorciam em sua podridão. Era uma espécie de inferno.
Mãos putrefatas surgiram daquilo e agarraram o tornozelo de Luiz, que em pânico tentou nadar para cima. Ele não conseguiu. Luiz foi puxado para aquele inferno.
Agora ele estava na parte de baixo. Agora ele estava vendo o que estava sob a lama.
Escuridão. Sons estranhos.
Mas então surgiram luzes.
Luiz não tinha muita ideia do que estava vendo, sabia apenas que era uma coisa enorme, gigantesca. Algo vivo e enorme que se escondia na escuridão.
— Veja Luiz. Eu quero que veja, e se lembre quando chegar a hora.
E ele viu.
Uma enorme boca surgiu na escuridão. Luiz gritou mas então viu que não era uma boca, era apenas um portal de entrada. Ele viu uma enorme placa e leu o que estava escrito:
PRIDE OUTSTRETCHED.
(O Pride Outstretched desce até o inferno).
Luiz arregalou os olhos. Era um lugar tenebroso, era um lugar assassino.
Ele foi se aproximando da coisa, e de repente ela surgiu por entre as árvores. Centenas de janelas acesas pareciam olhos que o perscrutavam de maneira ameaçadora. De lá vinham gritos de agonia e terror. O lugar estava repleto de terror. O lugar era um círculo de horrores.
Luiz sentiu seu peito arfar. O ar lhe faltou. Sua garganta estava queimando.
Havia uma coisa ainda mais terrível lá dentro daquela coisa, mas Luiz não queria ver. Ele se recusava a ver.
A coisa sumiu de repente e ele estava flutuando no fundo do lago. Seus pulmões estavam estourando. Ele precisava desesperadamente de ar.
— Luiz!
Ele olhou para fora e viu cadáveres, centenas de cadáveres que se retorciam como se aquilo fosse uma bicheira fétida, cheia de cadáveres podres.
Luiz começou a nadar para cima e conseguiu se livrar de uma mão apodrecida.
Não havia mais como respirar e ele abriu a boca engolindo água do lago. O gosto era de ferro e sangue. O terror o envolveu, Luiz podia sentir a morte se arrastando na direção dele.
Reuniu o último resquício de força que ainda existia em si e nadou para cima conseguindo emergir.
Era bom respirar, mas havia dor, era como se seus pulmões tivessem sido invadidos por centenas de agulhas.
Ele viu o barco pouco à frente, e quase à beira da exaustão nadou até ele.
Segurou a borda, fez uma força descomunal e jogou seu corpo caindo no casco de madeira.
Ficou ali por um longo tempo. O primeiro pensamento que povoou sua mente foi:
" Não foi um pesadelo! Não foi um pesadelo! Meu Deus! Não foi um pesadelo! "
Não tinha sido. Ele estava ali, encharcado de água do lago. Ele realmente estivera lá, sabe-se Deus onde, ele vira alguma coisa, alguma coisa que não devia existir, alguma coisa terrível e bizarra.
Pride Outstretched.
A palavra rimbombava em sua mente.
(O Pride Outstretched desce até o inferno).
Depois de algum tempo ele remou até margem do lago. A maior parte da neblina já tinha se dissipado e ele conseguia ver as águas quase negras do lago.
Sim, o lago era assombrado. Ele tinha certeza.
Mas ele precisava verificar uma outra coisa. Uma coisa chamada Pride Outstretched.
Aquela foi a última vez que Luiz entrou no lago.
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