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10 - 5

Ele abriu os olhos e estava flutuando na escuridão.

Descobriu que podia respirar ali, de modo que aquilo só podia ser um sonho.

Saber disso o fez relaxar um pouco. Você não pode morrer em um sonho, a não ser se fosse um dos personagens de A hora do pesadelo.

Não existia nada na escuridão, mas era uma escuridão estranha, ele conseguia vê-la. Era como se ele estivesse flutuando no vácuo e vendo um enorme manto negro na sua frente.

Aquele não podia ser o fundo do lago.

" É claro que não. Você está sonhando. Acorde porra! Acorde agora mesmo! "

— Luiz!

Ele olhou para a frente e alguém surgiu da escuridão, flutuando do mesmo modo que ele flutuava.

Era uma mulher. Por um segundo ele pensou que fosse Lola, ela tinha ressurgido do mundo dos mortos e agora flutuava apodrecida no fundo do lago. Mas quando a mulher chegou mais perto ele viu que não era Lola.

Era uma mulher de beleza incomensurável, mas totalmente desconhecida. Ela estava completamente nua, e apesar de estar viva, ele percebeu que ela estava morta. Havia um rasgo em sua testa de onde escorria um filete de sangue.

— Luiz.

Ela falava, mas sua voz estava apenas em sua mente.

— Quem é você?

— Eu sou o que restou.

Ela só apontou para baixo. Luiz viu uma escuridão ainda mais opressora, e de repente começou a ser atraído por ela.

Ele entrou em pânico e tentou nadar para cima, mas foi inútil, ele desceu até o fundo. O fundo estava cheio de cadáveres que se contorciam em sua podridão. Era uma espécie de inferno.

Mãos putrefatas surgiram daquilo e agarraram o tornozelo de Luiz, que em pânico tentou nadar para cima. Ele não conseguiu. Luiz foi puxado para aquele inferno.

Agora ele estava na parte de baixo. Agora ele estava vendo o que estava sob a lama.

Escuridão. Sons estranhos.

Mas então surgiram luzes.

Luiz não tinha muita ideia do que estava vendo, sabia apenas que era uma coisa enorme, gigantesca. Algo vivo e enorme que se escondia na escuridão.

— Veja Luiz. Eu quero que veja, e se lembre quando chegar a hora.

E ele viu.

Uma enorme boca surgiu na escuridão. Luiz gritou mas então viu que não era uma boca, era apenas um portal de entrada. Ele viu uma enorme placa e leu o que estava escrito:

PRIDE OUTSTRETCHED.

(O Pride Outstretched desce até o inferno).

Luiz arregalou os olhos. Era um lugar tenebroso, era um lugar assassino.

Ele foi se aproximando da coisa, e de repente ela surgiu por entre as árvores. Centenas de janelas acesas pareciam olhos que o perscrutavam de maneira ameaçadora. De lá vinham gritos de agonia e terror. O lugar estava repleto de terror. O lugar era um círculo de horrores.

Luiz sentiu seu peito arfar. O ar lhe faltou. Sua garganta estava queimando.

Havia uma coisa ainda mais terrível lá dentro daquela coisa, mas Luiz não queria ver. Ele se recusava a ver.

A coisa sumiu de repente e ele estava flutuando no fundo do lago. Seus pulmões estavam estourando. Ele precisava desesperadamente de ar.

— Luiz!

Ele olhou para fora e viu cadáveres, centenas de cadáveres que se retorciam como se aquilo fosse uma bicheira fétida, cheia de cadáveres podres.

Luiz começou a nadar para cima e conseguiu se livrar de uma mão apodrecida.

Não havia mais como respirar e ele abriu a boca engolindo água do lago. O gosto era de ferro e sangue. O terror o envolveu, Luiz podia sentir a morte se arrastando na direção dele.

Reuniu o último resquício de força que ainda existia em si e nadou para cima conseguindo emergir.

Era bom respirar, mas havia dor, era como se seus pulmões tivessem sido invadidos por centenas de agulhas.

Ele viu o barco pouco à frente, e quase à beira da exaustão nadou até ele.

Segurou a borda, fez uma força descomunal e jogou seu corpo caindo no casco de madeira.

Ficou ali por um longo tempo. O primeiro pensamento que povoou sua mente foi:

" Não foi um pesadelo! Não foi um pesadelo! Meu Deus! Não foi um pesadelo! "

Não tinha sido. Ele estava ali, encharcado de água do lago. Ele realmente estivera lá, sabe-se Deus onde, ele vira alguma coisa, alguma coisa que não devia existir, alguma coisa terrível e bizarra.

Pride Outstretched.

A palavra rimbombava em sua mente.

(O Pride Outstretched desce até o inferno).

Depois de algum tempo ele remou até margem do lago. A maior parte da neblina já tinha se dissipado e ele conseguia ver as águas quase negras do lago.

Sim, o lago era assombrado. Ele tinha certeza.

Mas ele precisava verificar uma outra coisa. Uma coisa chamada Pride Outstretched.

Aquela foi a última vez que Luiz entrou no lago.

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