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Luiz Sanches tinha uma leve suspeita de que o lago de sua casa era assombrado, mas ele estava longe de ter medo de assombrações. Na verdade fazia um bom tempo que ele não sentia medo, sentira muito quando era criança, vivenciara uma época de leve receio naquela coisa com Lola, mas agora não sentia nada. Não conseguia sentir nem mesmo tédio da vida que levava. Ele era rico, um milionário, podia dizer. Tinha uma casa na praia, um apartamento na cidade, e uma mansão em um bairro nobre, mas preferia viver ali, na velha cabana do lago onde ele passara sua infância e presenciara a estranha morte de seu pai, que deveria tê-lo assombrado por muito mais tempo, mas isso não aconteceu, talvez pelo fato dele não ter entendido direito os acontecimentos que levaram à morte de seu pai.

Sim, ele tinha uma vida pacata. Nada de luxo. Luiz Sanches se tornara um dos escritores de maior sucesso no país, mas vivia como um homem comum.

Ele levava jeito, desde criança. Aos oito anos começou a escrever seus primeiros contos e sua primeira leitora era sua mãe, que lia com entusiasmo cada linha do ele escrevia e não achava nada de errado o fato de um garoto de oito anos escrever histórias de terror. Luiz se lembrava de como havia um brilho de satisfação nos olhos da mãe enquanto ela lia as histórias escritas a lápis em folhas de caderno.

— Muito bom Lu. Esse ficou fascinante.

Era o que ela dizia, e aquilo era a motivação de Luiz, o motivo pelo qual ele pegava o lápis e o caderno, sentava-se e deixava a imaginação correr solta. E ele fazia aquilo com a forte expectativa de que a mãe pudesse ler com aquele brilho fascinante nos olhos.

Não era assim com seu pai. Seu pai não achava fascinante.

— Uma bobagem, isso sim.

Era o que ele sempre dizia. Ele também dizia que garotos não deviam ficar perdendo tempo com aquele monte de lixo, garotos tinham que trabalhar na enxada para aprenderem a serem homens e não maricas.

Luiz sentia que precisava proteger suas histórias do pai, porque se ele as encontrasse não hesitaria em rasga-las, por isso ele as mantinha trancadas em uma caixa que por sua vez ficava embaixo da cama.

Ele achava que se não fosse pela mãe, ela nunca teria se tornado um escritor.

Ele tinha dez anos quando seu pai morreu no lago, sob circunstâncias que ele não conseguia entender até hoje, e depois daquilo a vida se tornou difícil. Sua mãe era bibliotecária, e às vezes fazia algum bico de faxineira, tudo para complementar a renda da casa.

Quando Luiz completou quinze anos o velho Eurípedes da Graça, dono do único posto de gasolina da cidade, que funcionava como oficina mecânica também, disse a ele que ele podia trabalhar lá meio período e desmontar carburadores e limpar cabeçotes a 30 cruzeiros por semana. Luiz conseguiu comprar um quixute e uma calça de tergal azul trabalhando lá.

Sua mãe adoeceu em 1988, quando ele tinha 18 anos e fazia planos para fazer faculdade, Luiz queria cursar letras na universidade de São Paulo, e quando soube da doença da mãe, que ela dizia que não era câncer mas ele sabia que era, ele quis interromper seus planos para cuidar dela, mas dona Maiara jurou de pés juntos que ele apanharia se não mostrasse a ela o diploma.

— Mas mãe, quem vai cuidar da senhora?! Posso ficar e arranjar um emprego.

— Nada disso. Você vai. Vou ligar para Maria e ela vem cuidar de mim. Você vem aos finais de semana.

Ela ligou, e tia Maria veio. Tia Maria era a irmã caçula de sua mãe, tinha 28 anos na época. Em 1989 Luiz se envolveu com sua tia numa transa rápida de uma noite.

Ele tinha vindo de São Paulo para passar o final de semana. Sua tia estava no alpendre usando apenas um top e um shortinho. Ela tomava cerveja enquanto fumava um cigarro. Era uma noite bastante quente. Ela o convidou para tomar a cerveja. Sua mãe não gostava que ele bebesse mas como ela já estava dormindo ele sentou-se e tomou. Os dois ficaram ali conversando e sua tia disse que a mãe dele tinha câncer.

— Eu sei.

Ela o fitou surpresa.

— Desde quando?

— Desde sempre.

Luiz não se lembrava quando a conversa evoluiu para um ritmo mais quente mas eles acabaram no sofá da sala. Luiz não se orgulhava daquilo mas perdeu a virgindade com sua tia no sofá da sala.

Mas depois não houve mais nada além daquilo. Eles não tocaram mais no assunto e não repetiram. Mas Maria sempre sorria e piscava para ele.

Luiz achava que poderia ter transado com a tia mais vezes mas aquilo nunca aconteceu. Mais tarde ele soube que ela tinha de casado e que estava grávida.

Sua mãe morreu em 1991 e por conta de dois meses ele não conseguiu mostrar o diploma a ela.

Em finais 1990 ele tinha mandado um de seus primeiros livros para uma editora de São Paulo e foi somente no início de 92 que  recebeu uma resposta. O editor estava interessado em publicar Caminho sangrento que ele tinha escrito em um caderno em 84, aos 14 anos.

Ele mal podia acreditar. Com a morte de sua mãe ele se viu sozinho e meio perdido no meio daquela cidade grande. Pensou em voltar para a cabana no lago, mas ali as chances de emprego eram maiores.

Ainda em Fevereiro daquele ano ele participou de uma reunião com a editora e saiu de lá com um contrato de publicação.

Nada de dinheiro por enquanto, apenas uma publicação em pequena tiragem com direito a divulgação e lançamento.

Não foram muitas pessoas no lançamento de seu livro, mas ele estava contente mesmo assim. Ficou surpreso com o aparecimento de sua tia que fez questão de comprar um livro. Ela não foi sozinha, Luiz conheceu o marido dela e também seu filho. Luiz sentiu-se estranho, ele achava que era uma pequena pontada de ciúmes que logo passou. Maria perguntou se ele estava bem, lhe entregou a chave da cabana no lago e lhe deu um beijo. Luiz apertou a mão do marido dela e eles se foram.

Luiz vendeu pouco mais de quinhentos cruzeiros em livros em 1992. Lembrava-se de ter sobrado uma caixa cheia de exemplares que ele levou para a casa e armazenou em um canto.

Fazia quase um ano que ele estava trabalhando numa escola. Ele dava aulas noturnas de português para a turma do nono ano. Com o salário ele conseguia pagar o aluguel de um apartamento, comprar comida e roupas.

Depois do trabalho ele geralmente escrevia até uma hora da madrugada e depois ia dormir. Acordava por volta do meio dia, ia se exercitar um pouco no parque do Ibirapuera, depois voltava para a casa e escrevia mais.

Às vezes ele vendia algum livro. Ele tinha feito amigos na faculdade e nas folgas eles se encontravam e tomavam uma cerveja em algum bar. De vez em quando aparecia uma garota e ele transava, às vezes a garota era alguma aluna dele. A garota ia embora no dia seguinte e a vida seguia seu curso.

Foi em meados de 1993 que ele viu uma oportunidade de ouro surgir e agarrou ela com unhas e dentes.

Ele estava na escola quando recebeu uma carta de uma das maiores editoras da América latina. O editor tinha achado o seu livro em algum sebo da vida, o comprou. Gostou e queria publicar uma tiragem inicial de 100 mil cópias.

O lançamento aconteceu na bienal de 1994 e foi um grande sucesso. Naquele mesmo ano o editor exigiu outro livro, e livros era uma coisa que Luiz tinha guardado.

No final de 1994 Luiz Sanches publicou seu segundo livro, A sombra da morte, e a segunda edição de Caminhos de sangue já tinha vendido mais de 700 mil cópias.

Ele começou a dar entrevistas em eventos literários, e recebeu seu primeiro cheque e ficou perplexo ao ver que era um cheque de 20 mil reais.

No verão de 1995 ele visitou o túmulo de sua mãe e levou o diploma que tinha prometido mostrar a ela. Depois ele pegou o carro que tinha comprado, um Volkswagen pointer zero quilômetro e dirigiu até Santa Luzia, a cidade onde tinha vivido sua infância.

Voltar à cabana depois de todos aqueles anos foi estranho.

O lugar estava abandonado mas ainda lhe evocava lembranças estranhas, e a principal delas estava ligada à morte de seu pai, que ele tinha presenciado em 1980 aos dez anos.

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