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Carlos estava em sua pequena sala na ala leste do hotel, no andar térreo. Uma sala do tamanho de um pequeno banheiro. Todos os vigias do Pride Outstretched tinham uma salinha como aquela em suas respectivas alas.


O cubículo tinha espaço para uma mesa, uma cadeira confortável, uma TV 14 polegadas, um computador e três monitores que mostravam imagens de todas as câmeras instaladas na ala leste do Pride Outstretched.


Havia uma máquina de café no corredor e Carlos podia se servir à vontade.


Ele entrava no trabalho às sete da noite, e trazia apenas alguns lanche. Às oito um jantar era servido na cozinha do hotel, e os funcionários o chamavam de jantar do último turno. Depois disso cozinheiras, camareiras e faxineiras iam embora e apenas os vigias ficavam. Durante a temporada de verão a coisa mudava, não existia o serviço de vigia noturno porque o hotel estava lotado de hóspedes. Os vigias eram transferidos para a portaria principal.


Durante o inverno era a mesma coisa. Entre as duas temporadas quando o hotel não recebia hóspedes, o quadro de funcionários era reduzido a 2 equipes de faxineiros e faxineiras, 2 equipes de camareiras, 2 equipes de jardineiros e funcionários da manutenção e 2 equipes do pessoal da segurança, cerca de 90 pessoas. Em épocas de temporadas quando a lotação do hotel batia 100%, o quadro de funcionários podia chegar a 300 pessoas.


Carlos tinha alguns amigos do turno da noite mas eram poucos, ele andava transando com uma faxineira que trabalhava até as oito da noite. A maioria das vezes a coisa tinha acontecido no almoxarifado do hotel que ficava no porão.


Michele tinha 29 anos, 18 a menos que ele, era feia, mas trepava como ninguém. Carlos não via aquilo como um relacionamento embora achasse que Michele estivesse apaixonada. Ele não estava pronto para um relacionamento naquela altura da vida. Não depois do que acontecera com Amanda. Ele achava que não era mais capaz de amar. Amara apenas uma vez na vida e aquela pessoa tinha sido Amanda, e a coisa aconteceu em um momento em que ele achou que a vida estivesse lhe dando uma segunda chance, mas o que a vida realmente lhe estava dando era um chute daqueles no traseiro.


Carlos dos Santos tinha 48 anos e morava sozinho em sua pequena casa em Pindamonhangaba, a 40 quilômetros do Pride Outstretched. A coisa mais preciosa que ele tinha era seu Chevrolet opala ano 79, que tinha um motor 6 cilindros 4.1 litros e que bebia barris de gasolina por quilômetro.


Ele tinha orgulho do opala. Sentia orgulho quando as pessoas paravam e diziam: que belo carro meu chapa! Sentia orgulho da maneira como cuidava do carro, que agora tinha placas pretas. Desde 98 Carlos entrou para o fã clube do opala e participava periodicamente de encontros e exposições. O opala era realmente um grande carro e Carlos cuidava dele como alguém da família. Cuidava dele do jeito que nunca tinha cuidado da filha.


De vez em quando o pensamento o atingia como um dardo e ele não se sentia bem. Achava que Já tinha superado a coisa mas na realidade aquilo se arrastava como uma mancha em sua vida.


Não havia como deixar de lado as coisas que ele fizera, e de que ele passara 5 anos de sua vida preso por conta daquilo. Ele não podia negar que era um monstro, um monstro que ferira profundamente um ser que necessitava de sua proteção. Ele abandonara sua filha e ainda a ferira da pior maneira que um pai podia ferir um filho. Era uma coisa para a qual não havia perdão, uma coisa que ele levaria para o túmulo como uma maldição.


Mas a desgraça tinha começado muito antes daquilo. Ele tinha 31 anos quando a coisa começou, mas a coisa que se tornaria uma mancha em seu destino, uma mancha que ele jamais conseguiria apagar, tinha começado em 1969.


Em junho de 1969, Carlos estuprou sua prima, Michele. E passou dois anos na feben, tendo a bunda arrombada pelos outros garotos.


Talvez a coisa toda tenha começado em 66, quando ele começou a sentir uma espécie de atração absurda pela prima.


Mas em 69, Carlos foi às vias de fato. Seus tios precisaram sair às pressas e deixaram a garota aos cuidados de Carlos que era vizinho.


Uma ideia macabra se apossou dele. Carlos resolveu amarrar e amordaçar Michele. Disse a ela que era apenas uma brincadeira.


Ainda hoje se lembrava da sensação, como se a coisa tivesse acontecido ontem.


Se lembrava daquele pensamento tomando conta de si, e do prazer maravilhoso que a coisa lhe proporcionava.


Michele estava chorando e tentando se soltar. Carlos passou a agredi-la e descobriu que aquilo causava mais prazer.


Carlos estremecia, mas sabia que depois daquilo iria precisar matar a garota. Ele podia fazer aquilo. Podia sufoca-la. Era só lhe tapar o nariz e segurar até ela morrer.


Ele não contava que seu tio fosse voltar mais cedo para a casa, mas foi o que aconteceu. Seu tio chegou e o pegou estuprando a filha. Sorrateiramente foi até o quintal e pegou um pedaço de caibro.


Carlos não se lembrava do que o atingiu na cabeça, ele não se lembrava da surra que tomou, e muito menos como fora parar no hospital. Tudo foi uma grande escuridão.


Quando acordou descobriu que tinha sido operado por causa de um traumatismo craniano e uma lesão no lóbulo frontal. Suas duas pernas e um dos braços estavam quebrados em diversas partes, e seu baco estava perfurado.


Carlos passou quase um ano se recuperando, cagando e mijando em uma bolsa e depois foi condenado a passar dois anos na feben por estupro e tentativa de homicídio. Seus pais não fizeram nada para que aquilo não acontecesse. Ele ficou quase um ano no hospital e seus pais não o visitaram.


Na Febem, Carlos apanhava e quando aquilo acontecia, se lembrava do que fizera à prima.


Carlos saiu da Febem em 1971, e seus pais não o receberam em casa. Seu pai disse que seu filho havia morrido. Sua mãe não disse nada, apenas chorava.


Ele se viu na rua.


Não sabia se houvera arrependimento, raiva ou remorso, sabia apenas que ele destruira a própria vida.


Na rua Carlos começou a fazer a única coisa que podia: lutar pela sobrevivência. E foi lutando por aquela sobrevivência que em dezembro de 1972 ele conseguiu arranjar um emprego como entregador de mercearia.


Sr. Clóvis, português, dono da mercearia Pão nosso, estava precisando de entregadores por um salário de 50 cruzeiros semanais. Era muito mais do que ele precisava.


E foi exatamente na mercearia do Sr. Clóvis que Carlos conheceu Amanda e a chance de recomeçar na vida. Ele achava que podia, ninguém sabia de seu passado e ninguém precisava saber.


Amanda trabalhava como caixa na mercearia do Sr. Clóvis e era a coisa mais linda que existia no mundo. Tinha 19 anos, loira, os olhos tão azuis quanto o céu, e o que ele mais admirava nela, aquele sorriso lindo e contagiante.


Carlos se apaixonou por ela desde a primeira vez que a viu. Era o que as pessoas chamavam de amor à primeira vista. Seus olhos se cruzaram, ela esboçou aquele sorriso que era o mais lindo do mundo e ele a amou.


Levou um certo tempo para ele ter coragem e pidí-la em namoro, o que só aconteceu em janeiro de 73. Mas ainda em dezembro ele a convidou para ir ao cinema e ela aceitou.


Carlos agora morava em um quartinho nos fundos da mercearia. O português sabia que ele morava pelas ruas e lhe ofereceu o quarto e algumas roupas.


Ele levou Amanda ao cinema uma semana antes do natal depois saíram para passear pelas apinhadas avenidas de São Paulo e Amanda perguntou se ele iria passar o natal com sua família. A pergunta o deixou sem jeito, agora ele não tinha uma família, ele estava por conta. Mas Amanda não fez mais nenhuma pergunta embaraçosa o que o deixou feliz.


Eles começaram a namorar no dia 10 de janeiro de 1973 e Carlos começou a se convencer que sua vida estava mudando, que ele podia realmente esquecer o passado e recomeçar. Ele estava realmente apaixonado por Amanda, e ela por ele, e Carlos achava que apesar do passado ainda podia ser feliz, e foi naquilo que ele se agarrou.


Os dois se casaram um ano depois, em fevereiro de 1975, e apenas a família dela compareceu ao casamento. Carlos visitou sua família na zona sul da cidade. Disse que agora tinha uma noiva, um trabalho e que agora estava realmente mudando de vida. Sua mãe chegou a lhe dar um abraço, ele deixou o convite do casamento e foi embora, mas ninguém apareceu. Sr. Clóvis e sua família estiveram lá, mas seu pai e sua mãe não.


Mas Carlos estava feliz, pois apesar da agruras do passado estava realizando o grande sonho de todo homem, se casar com a mulher que amava, e ele amava Amanda mais do que tudo na vida.


Sr. Clóvis alugou uma casa com dois quartos para ele e foi onde eles foram morar. Agora ele não era mais um marginal largado na rua. Tinha uma casa decente, mesmo que alugada, e uma mulher que amava.


Ana nasceu em setembro de 1977 e foi como se ele tivesse renascido, como se finalmente seu passado tivesse sido sepultado.


O que estava acontecendo era como um sonho do qual ele não queria acordar jamais. Carlos nunca pensou que pudesse haver tanta felicidade no mundo. E talvez de fato não existisse. Carlos estava dormindo e sonhando, e de repente a vida o estava forçando a acordar e encarar a realidade nua e crua, a realidade de que a vida na verdade é um mar de Rosas, mas rosas tem espinhos, e os espinhos causam dor.


Carlos estava bem. Agora ele era o dono do armazém Pai Nosso. Sr. Clóvis não tinha herdeiros e quando ele morreu deixou os bens para Carlos, que incluía o armazém, uma casa, um carro e algum dinheiro.


Não tinha como Carlos achar que a vida não estava sorrindo para ele.


Mas ela não estava, e a vida lhe mostraria aquilo da pior maneira.


Amanda vinha sentindo fortes dores de cabeça a vários meses, e quando ela desmaiou no armazém, Carlos achou que era a hora de procurar o médico. Exames foram feitos, chapas de raio x foram tiradas e no dia 12 de maio de 1980, uma semana depois de Carlos ter completado 28 anos, eles recebem um diagnóstico destruidor: Amanda estava com câncer no cérebro. Um caroço do tamanho de um limão pequeno, em uma região complicada de se operar.


Carlos sentiu o que era ruir. Ele sentiu seu próprio corpo desmoronar.


Durante três anos ele viu Amanda definhar. Ele assistiu impotente o final de sua amada, o final da chance que a vida lhe tinha dado, ou da chance que ele achou que a vida tinha dado.


Para tentar suportar o sofrimento Carlos passou a beber, e já no final de 1981 era um alcoólatra, que estava perdendo o controle de toda a situação, que estava perdendo as coisas que havia conquistado. O armazém estava atolado em dividas, ele tiveram que vender o carro e hipotecária a casa para pagar o tratamento de Amanda, um tratamento inútil para algo que não havia salvação.


Em 82 Amanda se tornou agressiva e já não podia cuidar de Ana. Carlos teve que contratar uma enfermeira e uma babá. Ele saia do trabalho e ia para o bar, e voltava altas horas da noite completamente bêbado só para não ver o sofrimento da mulher que amava.


Amanda morreu em 17 de abril de 1983 e a mãe de Carlos foi ao enterro e conheceu a neta. Ele a abraçou a chorou.


Em 1983 foi também o ano que ele perdeu a casa por não pagar a hipoteca, o ano em que precisou vender o armazém. Com o dinheiro comprou um barraco na Consolação e um Fusca velho. O Fusca virou seu sustento, com ele Carlos passou a catar reciclagem. Era a única coisa que tinha para sustentar a filha. Ele se desentendeu com a família de Amanda que queria lhe tirar a filha. A mãe dela afirmou que ele não tinha condições de criar a criança e ele a mandou ir dar a buceta em outro lugar.


Os abusos começaram em 1985. Ele estava completamente bêbado, como sempre.


Houvera muitas vezes, havia toque. Ele tocava nela e pedia para ela o tocar. E ela fazia.


Ninguém sabia. Ana se tornou fechada e arredia, trancafiada em seu próprio mundo. Mas ninguém sabia o que acontecia durante as noites, quase todos os dias.


Tudo veio à tona somente alguns anos depois, somente em 1991.


Em 1990 a coisa tinha evoluído de novo e dessa vez havia penetração.


Em 1991 Ana estava na escola quando passou mal e desmaiou. A garota foi levada para o hospital e os médicos constataram a gravidez.


Estava feito, a merda tinha sido jogada no ventilador e se espalhou para todos os lados.


A polícia apareceu na casa de Carlos e leu seus direitos. Ele foi preso em flagrante por estupro de vulnerável, foi julgado e condenado a 12 anos de prisão.


Seu passado batia à porta e cobrava seu preço, e dessa vez o preço era alto demais e ele não podia pagar.


Ana foi tirada dele e foi morar com a vó materna. Na cadeia, Carlos começou a ser alvo de uma coisa que já havia conhecido na Febem. Ele tentou se matar duas vezes e na terceira os juízes acharam que ele deveria ser mandado para um manicômio judicial.


Carlos passou por seções incontáveis de terapia e desistiu da ideia de se matar. Ele era um lixo da pior espécie e um lixo como ele não merecia nem mesmo morrer.


Ele saiu da cela acolchoada e foi posto em um quarto comum com dois meses no quarto comum começou a trabalhar como jardineiro na instituição e então o médico psiquiatra achou que era a hora dele sair dali e voltar para a vida em sociedade.


O doutor Cândido tinha uma chácara em Pindamonhangaba, no interior e ofereceu trabalho a Carlos, que não pensou duas vezes.


Carlos deixou o hospício em março de 1996 e pela segunda vez tentava aproveitar a chance que a cruel vida estava lhe dando.



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