CAPÍTULO CINCO
O fato de eu ter passado despercebida pelas ruas de Londres até chegar em casa me surpreendeu. Sim, eu sei que ninguém repara em mim normalmente, mas eu estava tão alegre, praticamente saltitando, que parecia impossível alguém não me ver.
Chego em casa mais tarde do que o planejado, mas não me importo. Minha mãe já está lá, o que seria um problema se eu não estivesse tão feliz. Juro que ainda posso sentir os lábios de Dennis nos meus.
Fecho a porta cantarolando e então rodopio na sala de estar, rindo sozinha. Isso, é claro, chama atenção de minha mãe.
— Alguém está de bom humor... — ela comenta, franzindo o cenho em minha direção. Nunca, em meus dezoito anos de vida, fiz uma entrada tão animada quanto esta.
— Ah, mamá... Estou! Estou mais feliz do que nunca — comento, rodopiando mais uma vez e fazendo alguns pingos de água caírem ao chão. Ainda estou completamente encharcada, mas não consigo me importar com mais nada no momento, exceto o fato de que eu fui beijada.
Isso chama atenção de minha mãe. Ela ergue uma sobrancelha e se aproxima, segurando um pano de prato.
— O que aconteceu?
Mordo o lábio inferior, de repente indecisa se devo falar a verdade ou não. Exceto alguns delitos e uma ou outra infração legal, sempre contei tudo para minha mãe. Nada, é claro, sobre minhas paixonites, já que nunca tive uma. No entanto, estou tão extasiada que quero contar para o mundo inteiro sobre o que aconteceu. Sinto que preciso compartilhar minha felicidade!
— Eu conheci uma pessoa. — Dou um sorriso tímido, olhando, sonhadora, para o chão.
Minha mãe para no meio do caminho, meio boquiaberta. É impressão minha ou ela parece genuinamente preocupada?
— Ele é... ele é incrível — continuo, sem me importar com sua reação inesperada.
Dessa vez, eu é que me movo para perto dela. Um sorriso teima em permanecer em meu rosto. Minha mãe continua me encarando com olhos arregalados.
— E nós nos beijamos! — confidencio.
— Já chega! — ela grita.
Franzo o cenho, sem entender sua reação. Apenas observo, confusa, enquanto ela fecha os olhos com um suspiro e pressiona a ponte do nariz, como se estivesse sentindo uma terrível dor de cabeça. Ela não deveria estar feliz por mim? Por eu, finalmente, ter sido notada?
Então a questiono, fazendo estas exatas perguntas.
— Não quero mais saber de você andando com ele. — Não é a resposta que esperava.
— O quê? — Demoro alguns segundos para entender sua ordem. Estou tão estupefata que nem consigo discutir.
— Isso mesmo, Alana. Você está proibida de vê-lo novamente. Está melhor sozinha.
Não consigo acreditar! Há menos de um minuto eu estava completamente feliz. Tão cheia de alegria que sentia que poderia flutuar. E agora... Suas palavras me deixam cada vez mais confusa. E magoada.
— Estou melhor sozinha? Como pode saber disso, mamá? Aliás, como pode não saber que essa solidão é horrível? — a questiono. — Você, assim como eu, não tem mais ninguém...
Pego em sua mão, suplicando com os olhos para que ela me entenda.
— E nós estamos muito melhores assim, kóri¹! — Ela segura minhas mãos com força. — Ouça o que eu digo: esse kakó² vai te magoar. Pior: ele vai te destruir!
Não consigo acreditar no que estou ouvindo. Além disso, também não consigo entender como ela pode ter tanta certeza do que diz.
— Como você sabe? — Estou cética.
— Porque eu sei. — É a resposta que ganho. Então, me afasto, mas ela continua falando: — Porque eu passei por isso, assim como sua avó, sua bisavó e todas as outras mulheres de nossa família. Nós somos amaldiçoadas, Alana. E ele será sua perdição.
— De novo essa conversa de maldição. — Reviro os olhos, dando as costas para ela.
— Você sabe que é verdade.
— Não sei! — explodo. — Ninguém nunca me explicou o que isso significa. Tudo o que sei é que nunca consegui sequer conversar com outras pessoas, pois ninguém me nota. E então eu finalmente encontro alguém que presta atenção em mim e você quer me proibir de vê-lo? Não entende como isso é injusto?
Sinto as lágrimas queimarem meus olhos, mas me seguro para não chorar.
Mamãe solta um suspiro audível, mas permanece em silêncio. Ela realmente não se importa com a minha felicidade? Quer tanto me magoar assim?
Desisto de esperar por respostas que não vêm. Estou pronta para me retirar da sala quando sinto sua mãe segurando levemente o meu pulso.
— Alana, confie em mim, por favor. Eu só quero te proteger.
Reviro os olhos e encaro uma foto nossa, em cima da prateleira, me recusando a olhá-la novamente. A foto me deixa ainda mais melancólica, pois representa dias mais felizes, quando eu achava que poderia contar com minha mãe para qualquer coisa.
— Como posso confiar quando você não me explica nada?
— Apenas confie. E eu falei sério: você está proibida de vê-lo novamente. Prometa para mim que não irá encontrá-lo de novo.
Simplesmente bufo e começo a me afastar. Talvez ela interprete o meu silêncio como uma aceitação. Sei que irei decepcioná-la. Como ela quer que eu aceite seus termos, se não me explica o porquê dos mesmos?
Já em meu quarto, me jogo na cama e finalmente deixo as lágrimas escorrerem. Não me importo que eu esteja molhando meus lençóis e colchões, ainda encharcada por conta da chuva. Tudo o que quero é voltar no tempo. Se eu soubesse como minha mãe iria reagir às novidades, jamais teria contado sobre meu primeiro beijo.
No dia seguinte, após algumas falhas tentativas de me fazer sair do quarto, minha mãe finalmente vai trabalhar. Ela não pode se dar o luxo de ficar de olho em mim e sei que sua saída foi um tanto relutante. Se ela conhece a filha que tem, sabe que não irei cumprir suas ordens.
No entanto, como não quero parecer muito desesperada por atenção, resolvo que não há necessidade de me encontrar com Dennis hoje, muito embora estejamos trocando mensagens desde a noite anterior.
Assim que minha mãe sai, revejo minhas anotações, examino as fotos e coloco algumas ideias no papel. Aos poucos, um novo plano vai se formando em minha cabeça. Logo já tenho um primeiro esboço. Mas, para concluí-lo definitivamente serão necessárias mais algumas informações.
Então está na hora de colocar um outro plano em prática. Evitei seguir por este caminho até então, mas este é o momento perfeito. Como já tenho quase tudo pronto, só preciso, definitivamente, efetuá-lo. Por isso, começo a me preparar.
Observo, ao longe, o carro com vidros pretos do ministro Kathram estacionado. O motorista está encostado do lado de fora, fumando um cigarro e mexendo em seu celular. Os seguranças estão dentro de seus respectivos carros, parecendo entediados.
Faltam menos de três minutos, por isso começo a me mover. Levanto-me do banco que estava sentada e sigo, casualmente, até a faixa de pedestres. No outro quarteirão, a garota de cabelos rosa parou também, tomando seu sorvete de morango de sempre.
Ao mesmo tempo, as duas luzes ficam verdes, indicando que está liberado para os pedestres atravessarem. Começo a caminhar lentamente, ainda de olhos na menina. Até agora, tudo está saindo como o planejado.
Conto mentalmente nossos passos e, assim que chego no número 26, estou de frente para a garota. Mais dois passos, e então nossos ombros se chocam e o sorvete cai, assim como planejado, em cima do motorista.
— Ah, me desculpe — a menina diz, olhando, preocupada, para o terno todo manchado do motorista.
Nenhum dos dois me nota, como eu já esperava. Enquanto ela tenta, desesperadamente, limpar a sujeira, me abaixo. Em menos de dois segundos, instalo o rastreador no carro. Mesmo se eu fosse uma pessoa normal, duvido que alguém perceberia.
Deixo o motorista discutindo com a garota e caminho em passos rápidos para a outra esquina. Mal atravessei a rua e já ouço um bip vindo de meu celular.
O rastreador já está funcionando. Agora só me resta esperar.
¹filha
²canalha
Oi, pessoal!
Hoje teve capítulo duplo por conta das semanas que fiquei sem postar, pois estava viajando.
Já estamos na metade do livro! E Alana está super apaixonada, mas ainda focada em sua missão. Finalmente ela vai recuperar o tempo perdido, não é mesmo?
Espero que estejam gostando! Fico muito feliz ao ler os comentários e mais feliz ainda em respondê-los <3
Semana que vem tem mais!
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