9- My Sorrow
"Eu te odeio, eu te amo, eu odeio te amar." - I Hate U I Love U, Gnash & Olivia O'Brien
Jimin
O dia amanheceu tão calmo quanto o dia após uma tempestade. O sol raiava lá fora, o som das ondas quebrando na praia estava calmo, e não era possível ouvir o som do vento, por não estar tão forte.
Eu estava deitado, enrolando para não ter que levantar agora. Eu lembrava do que havia acontecido noite passada, quando eu estava sob a influência de Hiduna e da lua, e eu tenho plena consciência de quem está deitado comigo, abaixo de mim.
Eu estava praticamente deitado em cima dele; minha cabeça está sobre seu peito, enquanto uma de minhas pernas está sobre as suas, com um de meus braços passando sobre sua barriga. Ele também me abraçava levemente, com um dos braços abaixo de mim. Talvez o real motivo para que eu não levante seja exatamente pela forma em que estamos.
Eu levantei minha cabeça, com a intenção de olhar para Jungkook. Ele estava dormindo serenamente, de forma tranquila, não consegui evitar de ficar mais um instante olhando para ele.
Eu queria que nós tivéssemos essa paz toda por mais tempo, mas percebi não ser possível quando percebi Jungkook se mexendo lentamente, até enfim abrir os olhos. Em um primeiro momento, ele parece ter ficado um tanto desnorteado, mas depois olhou para mim, ficando um momento em silêncio.
- Jimin? Está acordado a muito tempo? - ele perguntou, a voz rouca pelo sono. Eu apenas movi a cabeça negativamente. - Hum, okay. Por que ainda não levantou? - eu sei que ele perguntou isso por eu ainda estar sobre si, e o pior é que nem eu sei a resposta.
- Não sei - eu disse, respondendo sinceramente.
Ele ficou me olhando por mais alguns instantes, não ousamos mover um músculo. Mas então, quando ele desviou o olhar e começou a me soltar, eu soube que deveria soltá-lo também.
Depois de o liberar de meu abraço, eu me sentei na cama, olhando em volta e o vendo se levantar. Estávamos no quarto de Jungkook, e esse é um detalhe que eu não havia percebido na noite passada.
- Por que estamos no seu quarto? - eu perguntei, confuso.
- Você não queria ficar sozinho por nenhum momento ontem, então tive que dormir com você - ele respondeu, mas parecia meio estranho.
- Desculpa por isso - minha voz baixou de tom com meu pedido.
- Não tem problema. Er... Vou fazer o café da manhã - e assim, ele saiu do quarto, sem ao menos olhar para mim de novo.
Eu sei que a situação de ontem foi estranha, e de certa forma até um tanto íntima, mas não entendo o porquê de Jungoo estar tão estranho, ele nunca ficou assim comigo.
Sem saber muito bem o que fazer, eu decidi me arrumar. Eu troquei de roupa e escovei os dentes, sempre com cuidado para não me molhar tanto, seguindo o caminho até a cozinha logo depois.
Recentemente eu descobri que se eu me molhar e me secar antes de me transformar, a cauda não aparece, então eu sempre escovo os dentes com uma toalha por perto.
Jungkook estava na cozinha, já de roupa trocada e fazendo o café. Ele ainda não havia me notado ali, então decidi puxar uma cadeira para me sentar, fazendo um pouco de barulho propositalmente. E eu sei que ele ouviu, e sei que me notou ali, mas aparentemente, preferiu continuar o que estava fazendo, sem ao menos se virar para me olhar.
- Por que você está estranho? - eu perguntei, querendo entender o que estava acontecendo.
- Não é nada - ele simplesmente respondeu, indiferente à minha pergunta.
Ele continuou concentrado no que estava fazendo, ainda sem me dirigir um olhar. Essa situação toda me deixava chateado, eu não conseguia entender o porquê de Jungoo estar assim, nós não fizemos nada que pudesse deixá-lo assim.
Eu entendo que a proximidade em que vivemos por algumas horas era muita, e entendo que ele não deve estar acostumado e talvez esteja um tanto envergonhado, mas eu não vejo motivo para me evitar a esse ponto.
Talvez eu ainda esteja um tanto sensível, como um sentimento pós efeito da lua, mas foi inevitável a minha vontade de sair dali, e eu não reprimi essa vontade. Sem pensar duas vezes, eu me levantei, fazendo mais barulho que o necessário, não de propósito dessa vez. Eu saí da casa de Jungkook, indo em direção à praia. Eu sei que o Jeon me viu sair da casa, e tenho quase certeza de que ele não vai ao menos tentar vir atrás de mim, o que sinceramente, não ligo muito no momento. Minha real vontade é a de ficar sozinho, e é isso que eu vou fazer.
Ao que enfim cheguei na praia, eu não parei de correr, até que enfim senti a água salgada em meus pés. Eu diminuí a velocidade dos passos, pelo peso da água que já estava em meu joelho. Sentindo a tão familiar formigação nas pernas, eu me joguei de vez na água, nadando o quanto podia para o mais longe possível. Eu não fazia ideia de para onde ir, só sei que precisava ficar sozinho, em algum lugar silencioso.
Eu não fui muito longe, no entanto, a voz de Jungkook me chamando me mostrou que na verdade eu estava bem perto. Sua voz estava abafada por causa de toda a água entre nós, mas eu ainda conseguia ouvi-lo.
Jungkook não seria ingênuo ao nível de vir atrás de mim, seria? Eu posso ter ficado pouco tempo com ele, mas ainda sim já sabia algumas coisas sobre si, coisas como sobre o que ele gosta, o que não gosta e sobre o que tem medo e o que não tem, e dentre essas coisas, está sua confissão para mim de que, na verdade, não sabe nadar, e por esse motivo eu acredito que ele não vá fazer a burrada de vir atrás de mim.
Mas talvez eu esteja um pouco precipitado quanto às coisas que eu acredito, e percebi isso no exato momento em que decidi olhar para trás. Ali de onde eu estava, mesmo que um tanto longe, eu conseguia ver que havia alguém dentro da água, e lá no fundo eu sabia quem era.
Ele parecia ainda estar no raso, mas conforme o tempo ia passando, ele ia andando mais, e talvez já estivesse a uma boa distância da terra. Eu não poderia deixá-lo ali e assim, ele com certeza se afogaria. Deixando todo o meu ressentimento para trás, eu nadei até onde Jungkook está, pensando unicamente em salvar a vida do meu amigo.
Jungkook é realmente muito importante para mim, e eu faria o que está ao meu alcance para não deixar que nada de ruim aconteça com ele.
Chegando onde eu tinha visto Jungoo, de alguma forma ele não estava mais ali, o que me deixou em pânico. Eu não vi ele saindo dali, como isso pode ter acontecido? Eu emergi para tentar ver alguma coisa, olhei para todos os lados e não vi nada. Eu estava verdadeiramente preocupado, e não sei o que vou fazer se alguma coisa acontecer com Jungoo.
Eu já estava começando a desistir, lágrimas já rolavam pelo meu rosto, e eu já estava começando a pensar o pior. No entanto, eu vi quando Jungkook apareceu minimamente na superfície, e afundou de novo, e ele estava onde realmente não conseguiria ficar, porque é um local verdadeiramente fundo. Eu voltei a mergulhar, não tirando os olhos de Jungkook por nem um instante. Eu não o perdi de vista, e consegui chegar até ele.
Jungkook me viu, mesmo que estivesse um pouco fraco para conseguir manter os olhos abertos, mas ele conseguiu. Ele já tinha afundado uma quantidade razoavelmente grande, então devo dizer que estava um tanto escuro.
Eu segurei Jungkook, o puxando para cima, tentando ir o mais rápido que conseguia. Quando chegamos à superfície, Jungkook respirou fundo, tossindo algumas vezes. Era visível o seu cansaço, então eu decidi levá-lo até aquela parte da praia que ele gosta de ir, que é praticamente abandonada. Seguir por esse caminho tem suas vantagens; é mais perto, então ele vai poder se recuperar um pouco. E além disso, é afastado o bastante para ninguém me ver.
- Jimin, por favor, me desculpa por ter tratado você daquele jeito, eu não estava sabendo lidar com tudo o que havia acontecido antes, mas não deveria ter descontado em você, me desculpa - foi a primeira coisa que ele disse, depois que eu o coloquei sobre uma das várias pedras que existem ali.
- Eu entendo que é coisa demais, está tudo bem, Jungoo - eu tentei tranquilizá-lo, porque realmente estava tudo bem, eu não poderia culpá-lo pela reação que teve. - Por que veio atrás de mim? Você sabe que não conseguiria ir muito longe.
- Eu sei, mas eu precisava tentar - ele se aproximou mais de mim, sentando bem na borda da pedra mais baixa, o que fez com que eu ficasse entre suas pernas. - Eu não poderia deixar você ir, principalmente sabendo que a culpa é minha.
Ele estava muito perto, e o que me assustou foi que eu não tive forças o suficiente para me afastar, e eu nem queria isso. Se eu não me afastasse, iria acontecer alguma coisa? Se ele perceber a proximidade em que estamos agora, ele vai se afastar? Ou eu mesmo vou conseguir forças para isso? São perguntas em que eu não tenho resposta, e o que eu posso fazer é deixar as coisas acontecerem naturalmente.
Agora, estávamos extremamente perto, eu conseguia sentir a respiração de Jungoo bater em meu rosto, conseguia sentir seus lábios lindamente delineados rasparem de leve nos meus. Entretanto, um beijo não foi exatamente o que aconteceu, já que Jungkook pareceu perceber o que estava prestes a fazer e se afastou.
- Me desculpa, eu não posso fazer isso - ele disse, passando uma mão na testa.
- Por que não? - eu não conseguia entender, e não via exatamente um motivo para não fazer isso, aliás, é o que eu percebi querer.
- Você tem um noivo, Ji, não podemos fazer isso - a percepção do novo apelido quase me fez sorrir, se não fosse pela outra coisa que ele disse na frase. Bom, eu sabia que deveria ter contado antes.
- Não, Jungoo, eu não estou mais noivo. Gguk e eu concordamos em não continuar o noivado até minha maldição acabar - eu expliquei, preferindo não contar a parte de que talvez ele seja a pessoa que eu estou procurando.
- Quando isso aconteceu?
- Quando eu conversei com ele, no dia em que decidi conversar com meus pais.
- E por que não me disse antes? - ele não está magoado por isso, consigo ver, é mais uma curiosidade.
- Não estava pronto para contar ainda - de certa forma, não é mentira, eu realmente não estava pronto para contar sobre o fim do meu noivado. - Jungoo, eu quero beijar você - eu disse, sem ao menos pensar antes, o que fez com que eu me arrependesse de ter dito no exato instante em que as palavras deixaram minha boca.
Mas eu não precisei de uma palavra de Jungkook para saber que ele também queria isso. Ele só precisou olhar em meus olhos para ter a confirmação de que eu estava falando sério, e em seguida, ele enfim me beijou, lento e totalmente despretensioso.
Essa sensação, de certa forma, era nova para mim. Eu já havia beijado antes, claro, mas todas elas foram debaixo da água, e fazer isso aqui fora, é realmente diferente, e muito melhor. Além disso, beijar Jungkook é extremamente bom.
Eu segurei em sua nuca, tendo ele segurando na minha também. Eu queria conseguir ficar mais perto dele, e queria poder não soltar mais, não parar mais de beijá-lo.
No entanto, era necessário que parássemos, porque mesmo que eu consiga ficar um bom tempo sem respirar, Jungoo não consegue, e além disso, ele ainda precisa descansar. E claro, nós dois precisamos comer alguma coisa. Então, eu desgrudei nossos lábios, o vendo respirar mais rápido que o normal, mas não muito.
- Eu tenho uma dúvida - ele disse, tirando minha atenção do beijo que acabamos de dar segundos antes.
- Pode perguntar - eu disse, com o tom de voz calmo.
- Sua maldição é para que você encontre o amor da sua vida, não é? - eu assenti, sem entender exatamente onde ele pretende chegar com essa pergunta. - E há a possibilidade de você estar começando a se apaixonar por mim? - talvez agora eu esteja começando a entender, mas sem querer tirar conclusões precipitadas, eu apenas balancei a cabeça, concordando. Pude ver quando um pequeno sorriso surgiu em seus lábios. - E há a possibilidade de eu ser a pessoa que é o amor da sua vida? - essa pergunta foi feita com mais cautela, eu conseguia sentir isso. Mesmo que eu não tenha lhe contado esse detalhe, Jungkook acabou percebendo.
- Eu ainda não sei, mas há uma pequena possibilidade - eu respondi sinceramente. - Então seriam você e Jeongguk, provavelmente.
- Estranhamente, faz um pouco de sentido - nós dois rimos, porque realmente fazia um pouco de sentido.
Depois disso, eu decidi contar sobre o restante da conversa que tive com Jeongguk, e realmente foi o que eu fiz, contei tudo o que meu ex-noivo havia me dito.
- Seus olhos estavam brilhando, quando você me ajudou, debaixo da água - ele disse, me ajudando a sair da água. - Eles estavam verdes.
- Verdes? - eu estranhei essa constatação, porque isso não era normal. - Eles brilharem é normal, já que é por causa da visão noturna. Mas estarem verdes? Isso não é normal, os de todo mundo são azuis, menos os da...
- Hiduna - Jungkook completou, tendo a mesma constatação que eu. - Deve ser pelo fato de que a maldição é dela - eu concordei com ele, já que era a possibilidade mais lógica.
Quando eu enfim sequei, tendo de volta as minhas pernas, nós dois caminhamos rumo à casa dele, sem deixar que o assunto ou qualquer coisa que tenha acontecido nas últimas horas abalassem a amizade que nós temos, e nem nada que sentimos um pelo outro.
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