"É tão doloroso. Não consigo encarar a manhã. Caramba, me sinto tão solitária." - :( (Sad Face), Bahari

Jimin

Ver meus pais, Jeongguk e Politéia era o que eu mais queria. Falar com Politéia acabou se tornando o que eu menos queria naquela hora. Descobrir tudo o que ela tinha feito por inveja me magoou, e provavelmente esperariam que eu fosse o tipo de pessoa que não perdoa uma coisa dessas. Mesmo assim, talvez eu esteja pensando em lhe dar outra chance, mas sem toda a confiança que ela tinha antes.

Além disso, passar frio por estar na água era uma coisa que eu nunca imaginei que fosse sentir. E também, nunca imaginei que fosse pegar um resfriado por isso. Passar uma certa parte da noite no mar em céu aberto aparentemente não é algo que faça bem a um humano, mesmo que eu não seja exatamente um.

Quando voltei para casa na noite passada, Jungkook ainda estava acordado, mas não por querer, e sim por estar preocupado comigo. Me senti mal por fazê-lo ficar acordado até tão tarde. Eu lhe contei tudo o que havia acontecido - menos a parte de que, agora, eu não tenho mais um noivo -, e assim como eu, ele ficou chocado com o que Politéia fez.

No dia seguinte, eu não estava me sentindo bem, e depois de uma "consulta" com o próprio Jungkook, constatamos que eu possivelmente peguei um resfriado, obviamente. Não que Jungkook tivesse algum recurso para uma consulta, mas como uma pessoa que já ficou doente diversas vezes, ele diz saber do que está falando.

E, agora, tem outra coisa que me preocupa imensamente: a lua cheia. Não parecia que já tinha passado tanto tempo desde que eu recebi a maldição, e percebi estar totalmente despreparado para o que pode acontecer. Ainda não estou pronto para descobrir o que a lua cheia faz comigo, e não sei se algum dia vou estar.

- Não se preocupe, Jimin, vai dar tudo certo, vou estar aqui para ajudar você - é o que Jungkook sempre diz, quando me percebe apreensivo com o assunto.

Não é como se eu pudesse não ficar apreensivo só com o que ele me fala, mas de certa forma, eu me sinto melhor em saber que ele vai estar comigo.

E depois de uns poucos dias de cama e de repouso pelo resfriado, eu finalmente estou ficando bem e começando a me sentir melhor. Essa é uma das coisas que eu menos vou sentir falta, e com certeza vou me cuidar para não acontecer de novo - apesar de ter gostado de ficar tanto tempo deitado sem precisar fazer nada, apenas comendo as sopas que o Jungoo fazia.

- Será que para que eu possa ser atingido pela lua eu tenho que olhar para ela? Ou só de a lua aparecer já me atinge? - eu questionei a mim mesmo, confuso com isso, mesmo que tenha a impressão de Taehyung já ter falado sobre isso.

- Deveríamos perguntar para o Taehyung, é o último dia antes da lua aparecer - Jungkook disse, caminhando até seu celular que estava sobre o armário, na cozinha, que é onde nós dois estamos. - Vou ligar para ele.

Ele discou um número no aparelho, esperando pouco tempo até que Tae finalmente atendesse. Eles conversaram por um tempo, sanando as dúvidas que tanto ele quanto eu tivemos. Ao fim da ligação, ele me explicou o que Taehyung havia dito.

- Ele disse que só foi afetado por ter olhado para a lua, mas disse que é quase impossível desviar da atenção, você vai sentir como se um ímã te guiasse a qualquer lugar que tenha um mísero reflexo dela. Vai ser difícil.

- Certo, isso é preocupante, porque eu já sou atraído pela lua normalmente, imagina sob um feitiço - eu não fazia ideia do que fazer, levando em conta o quanto eu estava assustado, o que não ajuda muito. - Como vamos fazer?

- Deixar a casa toda fechada, tampar qualquer cantinho existente e não deixar você sair nem por um instante.

- Okay, podemos fazer isso.

A lua cheia que eu tanto amei minha vida toda agora me assusta, eu não sei o que posso fazer para mudar alguma coisa, e não sei se no fim disso tudo eu ainda vou ser apaixonado pela lua cheia. A única coisa que eu sei é que vou me esforçar para não deixar ela ter influência sobre mim, mesmo que seja difícil.

Nós ficamos o restante daquele dia fechando a casa, tapando os mínimos buracos nas paredes e nos certificando de que nada havia passado.

No dia seguinte, eu não saí de casa por nada, nem com a súbita vontade de caminhar na praia que surgiu em mim, e Jungkook garantiu que eu ficasse em segurança. Agora, está começando a anoitecer, e com isso, meu medo vai ficando cada vez maior.

Vai ficar tudo bem, tem que ficar.

- Tudo bem por aqui? - Jungkook perguntou, aparecendo na sala, onde eu estava.

- Até agora sim - eu disse, o vendo se sentar ao meu lado no sofá.

- Ótimo. Quer assistir alguma coisa? - ele perguntou, já pegando o controle da televisão.

Eu concordei em assistir, para que assim eu consiga desviar minha atenção do que está acontecendo e do que eu estou evitando com todas as minhas forças.

O filme que Jungkook colocou parecia legal, então me concentrei em prestar atenção apenas nele. Por algum tempo, eu realmente me concentrei e consegui prestar atenção.

No entanto, em um momento estranhamente calmo, as coisas à minha volta começaram a ficar mais lentas, como se estivessem diminuindo sua velocidade natural. Jungkook dormia tranquilamente ao meu lado, e com um olhar no relógio eu soube que já havia passado da meia noite.

De alguma forma, eu senti uma atração inevitável para algum canto da casa, esse que eu ainda não sei qual é. Eu levantei do sofá, caminhando lentamente para algum lugar, que eu só descobri qual era quando cheguei lá.

Na parte dos fundos da casa há uma dispensa, onde Jungoo guarda comida, entre outras coisas. Bem no fundo do cômodo tem algumas frestas na parede feita de madeira. Como uma casa na praia, é comum que ela seja feita desse material, então nem me surpreendi com esse detalhe.

Porém, ali em específico, as frestas na parede eram grandes o suficiente para alguém conseguir ver o lado de fora, e nosso erro foi não ter conferido isso antes que fosse tarde demais.

Eu me aproximei lentamente da parede, encostando minhas mãos na superfície de madeira antes de enfim olhar através da pequena abertura, com uma certa hesitação inicialmente.

E lá estava ela, brilhante e linda, e ainda mais linda do que eu me lembrava. Mas, como o contratempo da maldição, eu estranhei não ter sentido nada de imediato, até que eu escutei a voz dela.

- Park Jimin, com essa lua cheia e durante ela, eu digo que você será mais doce do que jamais foi, mais sensível e mais manhoso, mais do que um ômega do mundo ABO. Até o fim desta noite.

Eu senti o impacto de suas palavras, tanto que senti uma enorme vontade de chorar após me afastar da parede. Eu estava lá, parado e, naquele momento, totalmente indefeso. Por mais que eu tentasse refrear os instintos da maldição, parecia tudo em vão.

Escutei a voz de Jungkook me chamando, mas era como se ele não estivesse ali de verdade. Sua voz estava abafada, como se eu estivesse debaixo da água, eu ainda estava preso naquele momento em que a maldição da Hiduna e da lua me atingiram.

- Jimin, olha para mim, por favor! - a voz estava mais nítida agora, e eu conseguia ouvir com clareza.

- Jungoo - eu chamei, minha voz saindo manhosa e embargada. Não consegui evitar abraçá-lo, era tudo o que eu precisava no momento.

- O que aconteceu? - ele perguntou, preocupado e atencioso.

- Eu não sei, eu só comecei a andar e vim para cá, quando eu vi já estava olhando para a lua.

- E qual é o efeito dela em você?

- Eu ouvi a voz de Hiduna, mas estava diferente, não sei dizer... - eu não conseguia parar de chorar, mas eu tenho certeza de que havia mais alguma coisa.

Jungkook me levou até a sala, me deixando sentado no sofá antes de ameaçar sair e me deixar ali.

- Não me deixe sozinho, por favor - eu pedi, quase sentindo ainda mais vontade de chorar.

- Eu só vou pegar um copo de água para você, tudo bem? - eu balancei a cabeça para os lados, em negação. - Tá, tudo bem, eu fico. Agora, me conta o que aconteceu.

- A voz dela estava diferente, era quase como se não estivesse falando sozinha... - eu parei para pensar, era realmente isso, ela não parecia estar falando sozinha, e se essa parte da maldição era dela e da lua... - A lua falou junto com ela, Jungoo.

- Como isso pode ser possível?

- Não faço ideia - eu me aproximei mais de Jungkook, deitando minha cabeça em seu peito.

- O que ela disse? Qual é o efeito da lua em você?

- Ela disse que vou ficar mais sensível, mais manhoso e mais doce, mais que um ômega do mundo ABO - meu choro já havia parado, mas eu ainda soluçava.

- Já li algumas histórias sobre isso, agora faz sentido você estar tão sensível - ele soltou um risinho, acariciando meus cabelos. - E, aparentemente, eu vou ter que te dar muita atenção, certo?

- Você não quer? - eu me afastei, olhando para seu rosto, já sentindo meus olhos arderem com as novas lágrimas.

- Não é isso, eu quero te dar atenção, só estava fazendo uma brincadeira. Fica calmo, tá? - eu percebi ele preocupado, e percebi que ele realmente estava falando a verdade.

Sendo assim, eu deixei Jungkook me levar até a cozinha, onde ele me deu um copo de água. Depois, ele me levou até o quarto, onde me ajudou a deitar e me cobrir. Ele nem pensou na possibilidade de me deixar sozinho, o que me deixou um tanto feliz. Mas, o que realmente estava me incomodando era a distância que ele estava impondo entre nós.

- Jungoo, por que você está tão longe?

- Você quer que eu fique mais perto? - ele pareceu surpreso, mas não tanto, levando em conta que era só o poder da lua agindo em mim.

- Deita aqui comigo, por favor - então, sem questionar, ele se aproximou de mim, tirando os chinelos de ficar em casa antes de deitar ao meu lado, por baixo das cobertas.

Eu me aproximei ainda mais, sentindo seu corpo meio tenso. Eu sei que isso entre nós não é algo normal, e eu acho que também estaria assustado, se não estivesse extremamente carente. A resistência de Jungkook, para meu lado sensível, parecia mais com uma rejeição.

- Jungoo, você não quer ficar perto de mim? - eu perguntei, lutando contra a tristeza que, de certa forma, não era minha.

- Claro que eu quero, Jiminie. É que ficar tão perto de você é novo para mim. Mas eu gosto - ele adicionou a última parte rapidamente, talvez preocupado de que alguma coisa que ele disse me magoasse de alguma forma.

Eu fiquei feliz com isso, porque prova que ele se preocupa comigo. Com isso, eu apenas apertei mais os braços ao redor de sua cintura, sentindo ele me abraçar apertado também. Nós ficamos alguns minutos em silêncio, e estava extremamente confortável e agradável.

No entanto, foi inevitável o momento em que eu comecei a pensar em meus pais. Eu sei que eles me amam, mas eu não consigo parar de imaginar se agora, por ter deixado tudo isso acontecer, eles me desprezam. Quer dizer, eu sei que minha mãe continua me amando, mas e meu pai? Ele sempre foi um pouco duro comigo, então não sei o que pensar sobre algo vindo dele.

E, além disso, ainda tem Politéia, que traiu minha confiança. Ela era minha melhor amiga, sincera e obviamente, aquela foi a última coisa que eu imaginei que viria dela. Mas, mesmo com isso, ela parecia estar arrependida, então não sei se devo ou não dar uma segunda chance a ela.

E tem Jeongguk, meu noivo. Ele pareceu ter ficado triste com a notícia do que aconteceu, e sei que ele entende que não foi culpa minha. Mas, agora, parece que tudo está diferente entre nós, e além disso, parece que não somos mas o nós que costumávamos ser.

São coisas complicadas, coisas que não tem uma solução rápida, e coisas que fazem meu coração transbordar de tristeza, o que consequentemente, faz meus olhos transbordarem em lágrimas.

- Jungoo, por que tudo tem que ser tão difícil? - eu perguntei, forçado mais o braço em volta dele, sentindo minha voz falhando.

- Eu não sei, Minnie, eu não sei. Mas você vai conseguir reverter tudo, você é forte e eu sei que consegue - ele me abraçou com mais força, acariciando meus cabelos.

Mas Jungkook está certo, eu sou forte e eu vou conseguir passar por isso, e apesar disso, eu não estou sozinho, e sei que vou ter ajuda se precisar. Minha vida não gira apenas em torno de meus pais, Politéia e Jeongguk, eu também tenho Jungkook, Taehyung e todos os amigos deles, que eu sei que vão me ajudar.

Determinado a conseguir e a confiar mais nas coisas boas que vão acontecer - nas que eu realmente espero que aconteçam -, eu tentei parar de chorar, o que claramente foi difícil. Felizmente consigo dizer que estou chorando por causa da lua. Sim, vou colocar a culpa em cima dela.

- Eu sei que eu sou forte e que eu vou conseguir passar por isso, mas só depois da influência da lua passar, porque eu não consigo parar de chorar - eu sorri entre o choro, o que fez Jungkook rir também.

Depois de finalmente conseguir parar de chorar, eu senti meus olhos começarem a pesar, indicando que eu enfim conseguiria dormir. E foi o que eu fiz, depois de agradecer a Jungoo por tudo que ele fez por mim, e claro, depois de me agarrar fortemente a si.