Capítulo Único - Eclipse
Já era noite quando Solano e os meninos chegaram ao parque de diversões. O contraste com a escuridão destacava as luzes coloridas dos brinquedos que já funcionavam a todo vapor. Gritos de adrenalina vinham do "Barco Viking", do "Twister" e até da pequena montanha-russa. Entre as atrações, a multidão de pessoas caminhava pelas barracas de prêmios, comprava lanches ou aguardava sua vez na fila dos brinquedos.
Saymon e o amigo correram ansiosos para a entrada.
Solano sentia-se um pouco fracassado ao ver que até seu irmão de dez anos tinha amigos para acompanhá-lo e ele não.
— Ei, olha lá, Deivid, é a roda-gigante amaldiçoada! – Saymon apontou para o maior brinquedo do parque.
— Por que ela é amaldiçoada? – perguntou Deivid.
— Ué, você não sabia? Alguns anos atrás um menino foi encontrado morto no gramado logo atrás dela.
— Ele caiu da roda-gigante?
— Ninguém sabe. Não encontraram nenhum sinal de fratura nem nada. Que louco, né?
A música ficava cada vez mais alta conforme eles se aproximavam.
O parque ocupava todo o terreno atrás da igreja da cidade.
— E sabe o que é mais louco? – continuou Saymon. – Semana passada encontraram um cachorro morto no mesmo lugar!
— Mas cachorros não andam na roda-gigante – interveio Solano que vinha logo atrás, com as mãos nos bolsos do moletom.
— Eu sei, por isso acho que ela é amaldiçoada, de alguma forma ela faz as coisas morrerem!
— Eu é que não vou andar nesses brinquedos perigosos – falou Deivid.
— Nem eu – concluiu Saymon.
Solano revirou os olhos.
— Dois manés.
Os três entraram na fila dos ingressos enquanto Saymon não parava de tagarelar. Solano comprou bilhetes para os meninos e guardou dois no próprio bolso.
— Tá aí, agora é só tomar juízo e não atropelar ninguém no carrinho de choque.
— Valeu, melhor irmão do mundo! – disse Saymon já puxando o amiguinho para algum brinquedo não perigoso ou assombrado.
Solano observou os dois se afastarem com um sorriso melancólico no rosto. Caminhou sozinho pelo parque. Observou crianças comendo cachorro-quente, uma menina perguntou para a mãe se podia ir no carrossel. Passou por três colegas de classe, ele acenou com a cabeça para eles, mas todos fingiram que não o conheciam.
Ele se perguntou se esse comportamento era típico de quem tinha dezessete anos. Se a vida fosse um jogo, provavelmente aquela seria a fase mais difícil.
Teria sido melhor se tivesse ficado em casa jogando League of Legends e aprimorando suas habilidades com a personagem Leona, sua favorita.
Viu uma garota e um rapaz se beijando próximo da barraca de maçãs do amor. Seu olhar voltou-se para o chão imediatamente, fez o possível para que aquela visão não iniciasse qualquer fluxo de pensamentos. Ele era muito bom em ignorar algumas coisas, principalmente alguns aspectos de sua personalidade.
Quando ergueu os olhos novamente, encarou a roda-gigante. Ela girava lentamente, metade de seus assentos estava ocupado. Bem no centro da roda, como algum tipo de decoração, havia um olho gigante. Centenas de lâmpadas coloridas giravam ao redor dele, estendendo-se em vários raios que partiam do centro até a borda da roda. Chegava a ser psicodélico.
"Venha para mim" – ele quase parecia ouvir.
Solano caminhou até ela.
Não havia nada de anormal, nenhum vestígio de maldição.
Passou para o outro lado da atração, onde não havia lâmpadas coloridas. Era bastante escuro ali. Até a música parecia ficar um pouco abafada. As barras de ferro que limitavam a base do brinquedo tremiam um pouco. Olhou para o gramado no limite do terreno da igreja, acima dele os assentos da roda-gigante subiam vagarosamente.
Há uns seis ou sete anos, fora ali que o garoto tinha sido encontrado. A causa de sua morte continuava um mistério. Será que alguém além de Saymon havia ligado sua morte com a do cachorro de alguns dias atrás?
De repente, Solano começou a sentir algo no ar, como uma corrente elétrica. Os pelos de sua nuca se arrepiaram. Um vento gelado deslizou por seu rosto.
Deu um pulo quando seu celular começou a tocar.
— Oi, mãe.
— Oi, filho. Estão se divertindo no parque? Saymon está se comportando?
— Tá tudo certo. Não precisa se preocupar.
— Me avisa se acontecer alguma coisa, está bem?
— Pode deixar.
— Ei, você sabe que dia é hoje, não é?
— Dois de novembro?
— Isso, é dia das almas.
— Eu sei, mãe, é por isso que o parque está na cidade, eles sempre vêm nessa época do ano.
— Pois é, e eu esqueci de levar as flores ao túmulo da sua avó no cemitério. Queria saber se você poderia ir comigo amanhã.
— Não basta levar o Saymon?
— Queria muito que você fosse também.
— Tá bom, tá bom...
— Então tá combinado. Ah, e não voltem muito tarde hoje, ok?
— Tá booom, mãe...
— Beijo, te amo.
— Até mais tarde – e desligou o telefone.
Solano olhou mais uma vez para o gramado e para as barras de ferro trêmulas da base da roda-gigante, a sensação de antes havia desaparecido.
— Que bobagem de maldição...
Estava na hora de andar em algum brinquedo.
Na fila para o "Barco Viking", Solano ouvia os gritos das pessoas quando o brinquedo em forma de lua descia abruptamente, em um movimento de gangorra. O sentimento de solidão ainda permanecia intacto dentro dele, mas a ansiedade para pular dentro do barco conseguia amenizar os efeitos do primeiro.
Haviam outras pessoas esperando na fila, todas pareciam estar acompanhadas, menos um garoto que também observava o brinquedo, mas ao contrário de Solano, parecia apreensivo, esfregava a mão esquerda no braço direito. Parecia com medo.
Usava uma jaqueta aberta e tinha cabelos escuros, uma mecha da sua franja era totalmente branca. Mesmo contraídos, seus lábios eram cheios. Até que ele era bem boni...
O garoto olhou para Solano, que desviou o olhar para o outro lado.
"Você tem que parar de pensar essas coisas – disse uma voz apática em sua mente. – É por isso que seus colegas não falam com você!"
— Com licença.
"Ah, que merda, ele tá falando comigo agora".
Solano apenas o encarou, parecia ter esquecido de habilitar suas skills de fala.
— Será que posso ir no assento com você? – perguntou apontando para o brinquedo ao lado. – Eu tô tentando perder o medo de ir em brinquedos mais... radicais.
Sorriu e coçou a parte de trás do pescoço.
— C-claro, sem problemas – respondeu Solano.
Quando chegou a vez deles, entraram no "Barco Viking" e sentaram na ponta, o lugar que ficava mais alto quando o brinquedo ligava.
O garoto agarrou-se na barra de ferro na sua frente até as juntas de seus dedos ficarem brancas.
— Caramba, isso vai ser muito legal – ele disse quando o barco começou a se mover.
Primeiro, o balanço começou a percorrer uma curta distância, mas quando começou a ganhar embalo, as pessoas na frente deles e na outra ponta começaram a gritar.
— Minha Nossa Senhora!
E de repente eles estavam no ápice do movimento do brinquedo, suas cabeças pareciam querer tocar as nuvens, para logo em seguida descerem abruptamente em um movimento lunar.
Em uma dessas descidas, o garoto agarrou o braço de Solano e fechou os olhos. O outro, que aparentava uma calma fria até então, começou a sentir um nervosismo que nada tinha a ver com o movimento do barco viking.
Solano olhou para o garoto, que agarrava seu braço com as duas mãos, em busca de segurança. Um sorriso torto tentou aparecer em seu rosto.
Começou a desejar que aquilo nunca acabasse.
Então o movimento do brinquedo parou e o rapaz abriu os olhos.
— Caramba! Eu consegui!!!
Solano o acompanhou até a saída.
— Nem acredito, nós fomos bem na ponta, o lugar que fica mais no alto!
— É, a gente é bem foda.
— Nossa, cara, fazia muito tempo que eu não me sentia assim. Muito obrigado por ter ficado do meu lado. Foi mal caso eu tenha te apertado.
— Não foi nada – Solano sorriu.
Então deu meia-volta e começou a caminhar para algum lugar aleatório do parque.
— Ei! – Chamou o garoto atrás dele. – Posso andar com você? Vai em mais algum brinquedo?
— Hã... acho que sim... – olhou de esguelha para ele.
Os dois pareciam ter a mesma idade.
— Então... qual é o seu nome?
— Solano, e o seu?
— Luan.
Estavam se aproximando da barraquinha de algodão-doce.
— Ah, me dá só um minuto! – disse Luan se precipitando para a barraca.
Solano o observou enquanto se afastava. Pela primeira vez não se sentia sozinho naquela noite.
Seu olhar se desviou para a roda-gigante, para o olho pintado bem no centro dela.
"Imagine o que seus colegas vão pensar se te virem com ele" – disse a voz em sua mente.
Fechou os olhos enquanto tentava afastar aquele pensamento.
— E aí, Sol, quer um pouco de algodão-doce?
Quando abriu os olhos, viu Luan na sua frente, sorrindo e segurando um pedaço de nuvem branca.
— Não, valeu...
O rapaz pegou um pedaço da nuvem e colocou na boca, fez uma careta de puro júbilo.
— Puxa vida, faz muito tempo que não como algodão-doce. Tem certeza que não quer?
Contagiado pela felicidade do outro, Solano pegou um pouco e pôs na boca.
— Eu sei que é só açúcar, mas... sei lá... são as coisas simples que nos fazem felizes, não é?
Solano permaneceu em silêncio.
— Então... – continuou Luan. – Em qual brinquedo vamos agora?
— Podemos ir na roda-gigante, eu só tenho mais um bilhete.
— Bom, pelo visto é hoje que vou perder o medo de altura.
Solano sorriu.
Luan comeu todo o algodão-doce enquanto caminhavam para o brinquedo amaldiçoado.
— Meu irmão diz que existe uma maldição nessa roda-gigante.
— Ah, é?
— Sim, uma pessoa e um animal já morreram próximos dela.
— E você acredita? Nessa maldição?
— Olhei ela de perto e não vi nada diferente.
— Bom, de qualquer forma eu tenho mais medo de altura do que de maldições.
Os dois começaram a rir, como se fossem velhos amigos.
Não havia fila para entrar na roda-gigante, então eles entraram em um dos assentos gradeados. Sentaram lado a lado. Solano ouviu Luan respirar fundo, reunindo coragem.
— Ei, relaxa, ao que tudo indica a pessoa que morreu próxima desse brinquedo não foi encontrada com fraturas, então nunca houve queda aqui.
— Como você sabe?
"Meu irmão de dez anos me disse" – ele pensou em dizer, mas não parecia uma fonte muito confiável.
Com um rangido, a roda começou a girar, e os dois rapazes começaram a subir.
— É a minha primeira vez.
Solano arregalou os olhos.
— Em uma roda-gigante, digo... – continuou Luan, um pouco vermelho.
Ele segurava a barra de ferro à sua frente com muita força, enquanto Solano nem a tocava, sua face voltando a ficar serena.
A roda parou de subir, e o assento gradeado balançou um pouco.
O maxilar de Luan tremia.
— Ei, vai ficar tudo bem, nós vamos conseguir de novo – disse Solano, e pôs o braço por cima do recosto de Luan, quase tocando seus ombros.
Ele pensou um pouco, e decidiu fazer algo que sempre o acalmava:
— Já sei, vamos fazer um jogo, assim você se distrai enquanto subimos.
— Beleza.
A roda voltou a se mover.
— Vou contar três fatos sobre mim, você vai ter que descobrir qual deles é a mentira. Depois é a sua vez, ok?
— Parece legal – disse Luan, ficando menos tenso.
— Beleza... huum... eu sou viciado em jogar League of Legends. Eu acho sua mecha de cabelo branca muito estilosa. Eu tenho um irmão chamado Daniel.
— Já faz muito tempo que não jogo LoL, mas minha personagem preferida era a Diana.
— Sério? – Solano sorriu. – Que massa, podemos jogar juntos.
— Bom, levando em conta a sua empolgação em falar do jogo, e supondo que eu realmente sou estiloso, acho que seu irmão não se chama Daniel.
Solano soltou uma gargalhada.
— Você é muito bom, agora é sua vez.
Eles estavam chegando ao topo, atrás de Luan, no horizonte noturno, a lua lançou sua luz cálida em seu rosto realmente bonito.
— Deixa eu ver... eu odeio tomar choque por eletricidade...
Parecia muito pensativo.
— O que mais? Eu preciso voltar para casa antes da meia-noite, igual a Cinderela, e eu sou gay.
O coração de Solano palpitou com a última frase, ficou imóvel.
— Ah, espera, tinha que ter uma mentira, não é?
"Será que seus colegas podem ver vocês daqui de cima?" – Perguntou o olho gigante na sua mente.
Solano tirou o braço de cima dos ombros do outro garoto.
— Ei, Luan, você não é tão bom nesse jogo quanto eu pensava, mas veja só, nós conseguimos – apontou para frente, por entre as grades do assento, a cidade se estendia luminosa pelo horizonte. – Estamos no topo da roda-gigante.
— É verdade! E eu nem notei! Que foda!
Seus olhos escuros brilhavam, absorvendo toda a paisagem.
— E eu nem estou mais com medo, graças a você! – as estrelas cintilaram atrás dele quando sorriu gentilmente.
Solano tocou sua mão.
— Eu estava me sentindo muito sozinho até você aparecer.
— Eu entendo, também estava sozinho...
Seus rostos estavam muito próximos.
— Posso te bei...?
Antes que pudesse concluir a pergunta, Luan se aproximou um pouco mais. Seus lábios se tocaram suavemente, sentiram-se mutuamente, e não se importavam com quem quer que estivesse olhando.
"Eu espero que eles consigam nos ver mesmo, seu otário" – respondeu em pensamento para o Olho.
Seus lábios se separaram quando começaram a descer.
— Luan, eu nunca te vi na escola onde estudo, e eu queria continuar... hã... mantendo contato.
O outro menino lhe lançou um olhar melancólico.
— Eu não tenho redes sociais.
— E seu número de celular?
Ele meneou a cabeça.
Agora eles estavam cada vez mais próximos do chão. Praticamente na base da roda-gigante. Solano começou a sentir a tensão e a ouvir as barras de ferro vibrantes no local onde as mortes ocorreram.
— Olha, Deivid, foi ali que encontraram o cachorro morto semana passada – ouviu a voz de Saymon.
Solano tocou Luan.
— Ei, aquele é o meu irmão. Ele está mostrando o lugar onde encontraram os corpos para o amigo dele.
Luan se levantou do assento, seus olhos se arregalaram quando viu os dois meninos na parte de trás da roda-gigante.
— Ah, não. Conheço essa vibração.
— O quê?
— Saymon, é o seu irmão, olha lá – No gramado, Deivid apontou para onde Solano estava, aproximando-se da base.
— EI! – Luan gritou para eles – NÃO! NÃO TOQUEM NAS BARRAS DE FERRO!
— O que está acontecendo? – Solano não estava entendendo nada.
Luan puxou Solano para fora da cabine gradeada.
— Está vendo aquelas barras de ferro que estão tremendo?
— Sim.
— Não é nenhuma maldição!
O badalo do relógio da igreja tocou. A meia-noite havia chegado.
— Que droga, eu já tenho que ir...
— Por quê?
— Escuta! Não deixa os meninos tocarem nas barras de ferro, é ela que está causando as mortes. Alguma falha no brinquedo está transferindo a eletricidade para aquelas barras!
— O quê?!
— Agora eu tenho que ir! Obrigado por tudo, Sol, algum dia a gente se vê!
E saiu correndo por entre as pessoas e brinquedos, na direção da igreja e do som do relógio que insistia.
— MANO! MANO! – A voz chorosa de Saymon atrás dele o despertou. – O DEIVID ESTÁ CAÍDO LÁ ATRÁS, A MALDIÇÃO PEGOU ELE!
— Não...
O resto daquela noite se transformou em um pesadelo. Quando Solano e Saymon encontraram Deivid, ele estava caído no gramado, inconsciente, seu coração quase parando.
Houve uma mobilização em todo o parque de diversões e ninguém mais andou nos brinquedos naquela noite. A ambulância chegou rapidamente e levou Deivid e os meninos para o hospital.
Por sorte, conseguiram reanimar Deivid. A corrente elétrica, por algum motivo, não havia sido tão forte daquela vez. Mas ele precisaria ficar mais alguns dias no hospital, para prevenir possíveis sequelas.
Solano passou o resto da noite pedindo desculpas para sua mãe e a de Deivid, sentia-se responsável pelo que tinha acontecido.
Os pais de Deivid ainda decidiriam se processariam o parque.
De qualquer forma, a roda-gigante havia sido interditada.
No dia seguinte, a visita ao cemitério foi rápida.
Depois de deixar as flores no túmulo da avó, Solano acompanhou sua mãe pelo caminho de volta enquanto Saymon ficava bisbilhotando todos os túmulos e capelas pelo caminho, perguntando se a mãe conhecia aquelas pessoas mortas.
— Olha, mãe, você conhece esse aqui? Se chama Daniel – perguntou Saymon alegremente enquanto apontava a foto de um homem louro em cima de um túmulo.
Solano revirou os olhos.
Saymon correu até uma pequena capela e olhou pelo vidro da janela.
— Olha, mãe, esse aqui eu conheço!
— Tá bom, filho – disse a mãe deles, enquanto atendia o celular que começara a tocar.
— Mano, vem aqui ver, é esse aqui!
— O quê, Say?
— Foi esse menino que encontraram morto há uns anos na roda-gigante...
Solano aproximou-se da capela pequena e fez duas conchas com as mãos para espiar pelo vidro.
Ali dentro, entre flores murchas e velas derretidas, uma foto já manchada pelo sol mostrava um jovem de cabelos completamente pretos, seus lábios cheios mostravam um sorriso perfeito.
Um soluço percorreu o corpo de Solano.
O nome embaixo da foto era o mesmo que o do menino que havia beijado.
Luan.
Saymon perdeu o interesse e correu para a mãe que já estava perto do portão do cemitério.
— Viu, filho, o Deivid vai ficar bem, a mãe dele me disse no telefone que ele só vai ficar com uma mancha branca no cabelo.
Solano permaneceu ali, olhando para a capela.
Olhando para um menino que morrera sozinho e que não recebera ajuda a tempo.
Mal podia esperar pelo próximo dia das almas.
2820 Palavras
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