Capítulo 9 - Confrontos
Olá lindxs,
Voltei da praia com a bateria recarregada. então, antes do final de semana terminar mais um capítulo pra vcs.
na mídia Hagalaz' Runedance com a música Frigga's web
Enjoy.
até a próxima att.
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Capítulo 9 – Confrontos
Elazar permaneceu como uma estátua de pedra, bloqueando a entrada do pátio, enquanto o jovem ladrão passava correndo ao seu lado e saía para a estrada. Então, gritou abruptamente. – Olhe para mim, Marcus!
O atual Alfa da matilha Bellini deixou de olhar o rapazinho que fugia e tomou a fixar-se em Elazar. O ódio queimava como gelo em suas pupilas... um ódio quase tão gélido quanto o que Elazar sentia por ele.
O antigo Alfa fitou o homem que roubara a vida que era sua por direito, que ajudara a destruir tudo quanto já tivera qualquer significado para ele... Marcus, o sádico, fanfarrão, covarde; o prestimoso capanga do Bispo. E pensar que cresceram juntos. Eram como irmãos. Ele nunca imaginou que seu primo nutria tanta inveja e ódio.
– Prometi à Deusa Lua que meu rosto seria a última coisa que você veria. – Entretanto, quando ele ergueu sua besta, um guarda levantou-se atrás de uma mesa derrubada, fez pontaria com sua própria arma e disparou. Elazar captou o movimento pelo canto do olho e, virando-se, atirou quase simultaneamente. A flecha do guarda sibilou junto dele, a centímetros de seu rosto. Seu disparo, entretanto, não errou o alvo. O homem desmoronou atrás da mesa, com um grito.
Elazar se virou, buscando o primo... e viu-se face a face com outro guarda, um homem que reconheceu. O outro ergueu a espada, mas tornou a baixá-la quando seus olhos se encontraram, o rosto mostrando incerteza e profundo arrependimento.
– Capitão – murmurou para Elazar – Eu...
A pesada bota de traiçoeiro capitão caiu violentamente nas costas do guarda, empurrando-o para diante e empalando-o na espada de seu antigo comandante. Marcus saltou de lado, rugindo a seus homens que atacassem. Como se fossem um só... Todos obedeceram.
Elazar lutou com a furiosa intensidade de alguém obcecado, como se aquela luta fosse o único motivo para o qual tinha vivido. No entanto, apesar de seus reflexos de um shifter lobo alfa, era apenas um, desmontando em um salto, tirou sua capa assumindo sua forma animal, enfrentando mais de doze.
Os guardas também se transformaram e atacavam duramente por todos os lados, cortando qualquer retirada e empurrando-o, através da massa de aldeões em fuga, na direção do fogo. Elazar eliminou outro homem e desta vez, um que não conhecia. Garras e presas a mostra. Sangue e ossos quebrados. Apesar de ser maior e mais forte o cansaço aumentava e seu corpo doía pelas centenas de golpes que levava, mas sua perícia nunca falhou. Ele ganhou terreno lentamente e, de um em um, eram menos os atacantes que o cercavam.
Marcus, no entanto, era um homem igualmente obcecado. Seu oponente natural voltara e libertara o prisioneiro, cuja vida valia mais para o Bispo do que a sua própria. Elazar voltara, a fim de reclamar tudo o que era seu por direito. E o ódio de Marcus duplicava-se com seu medo secreto. Abriu caminho a cotoveladas por entre a multidão tomada de pânico, quando Elazar foi forçado a recuar até a borda do braseiro, agora quase sem chamas.
Ele ergueu os olhos e viu Marcus avançando, com o homicídio nos olhos. Matou outro homem quase instintivamente, atirando-o na direção ao primo, mudou de forma em um salto. Elazar continuou o arco de seu movimento visando a jugular de Marcus. Mas, no último instante mudou o golpe e acertou o rosto do seu oponente com as garras. O rosto de Marcus contorceu-se de fúria, ao perceber que Elazar fizera aquilo intencionalmente.
Elazar arreganhou os dentes em um gesto aberto de desafio. Mudando de forma de forma extraordinariamente rápida, como só um alfa bem treinado é capaz, esticou o braço para trás, pegou uma acha de lenha que ardia no braseiro e a atirou ao rosto de Marcus que também mudou e pulou de lado, perdendo o equilíbrio e caindo no braseiro. Os guardas correram em sua ajuda, levantando-o dali e o envolvendo em sua capa. Aproveitando aquele momento de confusão, Elazar começou a abrir caminho em direção à saída.
Do lado de fora, na estrada, Filipe afastou-se da parede da casa mais próxima e obrigou os pés entorpecidos a se moverem, tropeçando por causa do susto e da exaustão. Olhou para trás, para a taberna, ainda mal acreditando no que acabara de acontecer e viu que não havia guardas à vista. Dobrando a esquina às cegas, ele foi ao encontro dos cavalos arreados que os guardas haviam escondido na estrebaria ao lado da taberna. Parou de supetão, firmando os pés com um esforço de vontade; tivera a súbita inspiração de que um daqueles cavalos provavelmente aumentaria em um por cento suas agora incertas chances de fuga.
Entretanto, ele jamais montara um cavalo na vida. Cavalos aterrorizavam-no. Tão maciços mesmo comparados a um homem grande e robusto, aqueles animais pareciam pairar acima dele como montanhas. Em circunstâncias normais, ele nem mesmo consideraria tal insanidade, mas no momento, dificilmente elas seriam normais. Filipe desatou as rédeas do cavalo mais próximo, com mãos nervosas. Firmando-se na sela, tentou enfiar o pé no estribo.
O animal pressentiu seu nervosismo e levantando as orelhas, afastou-se dele. – Vamos, cavalinho – tentou tranquilizar o animal, sem muita convicção. – Bom cavalinho... O cavalo recuou de repente e disparou pela estrada abaixo.
Tenso, Filipe olhou na direção da taberna. Os brados e gritos, uivos e tinidos, disseram-lhe que a luta continuava. Sozinho, Elazar dava conta de toda a companhia de guardas.
Por um fugaz instante, ocorreu-lhe que deveria voltar e ajudar o homem que salvara sua vida pela segunda vez. Com a mesma rapidez, percebeu que a ideia não era apenas suicida, mas totalmente absurda. O cara era um shifter alfa, pelo amor do Deus Único. Libertou as rédeas do cavalo seguinte e enfiou o pé no estribo. Segurou-se à sela e procurou içar o corpo, sem ver que a correia da cilha estava frouxa. A sela escorregou pela traseira do cavalo e caiu ao chão, em cima dele. Praguejando de frustração e humilhação, Filipe correu para o animal seguinte.
No pátio da taberna, Elazar, já mudado e com sua espada na mão arrancou o braço armado de mais um homem, viu o sangue jorrar e a espada do outro voar pelos ares. Seu corpo acusava a dor dos muitos golpes, mordidas e cortes de garras recebidos, mas nenhum deles era sério. Sua rapidez de reflexos diminuía, mas somente dois guardas e poucos metros o separavam do portão de saída do pátio. Intensificou o ataque, com revigorada determinação, ganhando caminho centímetro a centímetro para a liberdade.
Marcus continuava vivo, porém ele conseguira o que tinha vindo fazer, a coisa realmente vital... salvara o jovem ladrão.
Elazar derrubou um último guarda com um tição chamejante e correu a toda velocidade para fora do pátio. Olhando para o fim da rua, quando um cavalo sem cavaleiro passou por ele a meio galope, viu, com incrédula consternação, que Filipe Touret continuava à vista. O rapaz se achava em meio a um bando inquieto de cavalos, tentando inutilmente agarrar um após outro. O jovem humano ergueu os olhos quando Elazar surgiu à vista e agora foi ele quem ficou consternado. Dando meia-volta, começou a correr.
Praguejando furiosamente para si mesmo, Elazar correu para seu garanhão e saltou para a sela. O falcão, esperando sobre um muro de pedra, abriu as asas e elevou-se no ar. Agitando as rédeas, o shifter galopou rua abaixo, atrás do rapaz. À sua retaguarda, um dos guardas deu um toque de aviso em uma corneta. Elazar olhou para diante, de boca apertada, sabendo o que aquilo significava. – "Esse maldito idiota"! – Pensou, olhando o rapaz que corria diretamente para outra armadilha.
A muralha da cidade estava cada vez mais próxima diante deles. O alto portão de madeira estava aberto, no fim da rua, mas o guarda ali estacionado ouvira a corneta soar. Enquanto Elazar olhava, ele começou a empurrar o portão, a fim de fechá-lo.
O garanhão do antigo capitão da guarda aproximava-se rapidamente de Filipe. O rapaz olhou para trás enquanto corria, com uma mistura de pânico e terror no rosto. Algo o atraía naquele homem misterioso. – Não! Não! Não! – Gritou ele.
Atrás deles, Elazar ouvia o galope de mais cavalos em perseguição. Olhou por sobre o ombro e viu que Dubois e outro guarda vinham chegando rapidamente. Tornou a olhar para frente, no tempo exato de ver o pesado portão ser fechado com ruído. Inclinando-se na sela, estirou o braço e agarrou Filipe, erguendo-o no ar.
O corpo miúdo e rijo do pequeno ladrão mal lhe pesava no braço e ele o abraçou de encontro ao peito como faria com uma sacola de mantimentos, enquanto fincava as esporas nos flancos do garanhão. Os fortes músculos do cavalo negro retesaram-se quando ele se preparou e deu um salto em pleno ar. A montaria passou por cima do portão como se tivesse asas e caiu com impacto do outro lado. O guarda do portão arremetera contra eles no instante em que passavam voando a seu lado, mas Elezar atingiu-lhe o rosto com um soco.
Ele olhou para trás, firmando o corpo pequeno e resmunguento de Filipe com a mão. Seus dois perseguidores saltaram o portão com menos graça. Ele pegou a funda que pendia da sela e enfiou-lhe uma pedra. Girando-a acima da cabeça, deixou a pedra voar e ela atingiu o cavaleiro ao lado de Dubois, na cabeça, derrubando-o ao chão. Contudo a desajeitada carga que era o humano entravava a velocidade do garanhão e Dubois estava cada vez mais próximo.
Elazar olhou para o céu. O falcão voava em círculos nas alturas azuis acima dele, sua silhueta assemelhando-se a um arco retesado. – Hoi! – Gritou. – O falcão grasnou e mergulhou em queda livre, fendendo o ar, seus esporões cintilando como facas, em direção a Dubois. O guarda levantou o braço, com um berro. Então, seu cavalo empinou-se e ele escorregou da sela, caindo pesadamente, escarrapachado no chão.
Elazar prosseguiu em seu galope, sem olhar para trás, quando o falcão pairou triunfalmente sobre sua cabeça.
De pé na rua lamacenta diante da taberna, Marcus Bellini apertava os olhos, por sob as sobrancelhas chamuscadas, enquanto Elazar e o ladrão desapareciam na floresta. Seu rosto escurecido pela fumaça parecia petrificado. Virando-se, olhou para os homens que lhe restavam, todos eles cuidando dos ferimentos recebidos. Nenhum ousou encará-lo. – "Elazar voltou pelo ladrãozinho. Por que?" – Esse pensamento martelava em sua cabeça.
O falcão circulou preguiçosamente nas cálidas correntes ascendentes de ar que se erguiam com a muralha da montanha. As compridas e sensíveis penas primárias das extremidades das asas e do amplo leque de sua causa alargavam-se, torciam-se ou estreitavam-se, como se fossem manipuladas com a delicada precisão de dedos em uma mão.
Muito abaixo, o homem de negro seguia lentamente em seu cavalo, através das cores vermelhas, marrons e laranjas da floresta outonal, seguindo o espinhaço da montanha. Equilibrando-se na garupa estava a figura franzina de um segundo cavaleiro, cujas vestes andrajosas de aldeão camuflavam-se perfeitamente com o solo da floresta. O falcão estudou os dois cavaleiros por longo tempo, através de seus inexpressivos olhos dourados. Por fim, manobrando as asas, intensificando sua resistência, começou a descer mais e mais, até empoleirar-se no punho enluvado de Elazar.
Então agitou as asas uma vez, olhando para ele. Elazaer sorriu levemente, em reconhecimento. Por sobre o ombro largo de Elazar, Filipe espiou para a ave, grato por alguma coisa que lhe distraísse a mente daquela viagem a cavalo. Agora que sua vida não corria o perigo imediato de terminar, pela primeira vez em dias, vira-se com tempo de sobra para refletir sobre sua nova situação. Infelizmente só conseguia ser capaz de pensar no quanto ainda odiava cavalos.
Cochilara de exaustão e acordara sobressaltado a tarde toda, sempre que cada solavanco inesperado sobre o chão irregular o assustava, enquanto o estômago vazio suportava um mal-estar provocado pelo movimento, algo que ele nunca antes experimentara. Decidiu que, nesse ano, desistiria de cavalos como promessa de Quaresma.
Estudou a ave de rapina, admirando o sutil matizado de castanho e diva nas penas lisas e uniformes do dorso, o peito macio, em listras cor de canela, e a cauda raiada de negro. Apesar das circunstâncias, estava impressionado com a beleza do falcão e por sua feroz lealdade ao dono. Elazar não usava quaisquer peias ou correias para mantê-lo sempre atento ao seu comando. O falcão ia e vinha sempre que queria, e sempre voltando ao braço do dono.
– Esta é uma ave realmente admirável senhor – disse, procurando manter conversa, pela primeira vez depois horas. Elazar era um homem de poucas falas, e em sua sisuda presença, Filipe agira obedientemente da mesma forma. – Eu juraria que ela voou para aqueles homens por vontade própria!
Elazar virou o rosto para trás, a fim de fitá-lo. – Temos viajado algum tempo juntos. Acho que ele sente uma certa... – ele vacilou – ... lealdade por mim. – Não passou despercebido ao rapaz a correção de gênero feita pelo shifter.
O falcão experimentou sobre Filipe um olho semelhante a uma conta e sibilou desafiadoramente, batendo as asas. De repente, ele percebeu que a ave não era, em absoluto, propriedade daquele homem... que os dois viajavam como iguais. E que ele não era, em definitivo, uma adição bem-vinda ao relacionamento de ambos, pelo menos no tocante à ave. E quanto a Elazar? Será que o falcão era um shifter também? Por que então a criatura não mudava para a forma humana? O homem que se trajava como se estivesse de luto e que lutava como um anjo da morte, evidentemente tinha algum rancor em relação à Guarda do Bispo.
Entretanto, isto não alterava o fato de que arriscara a vida duas vezes para salvar a de um absoluto estranho, caçado por eles. Da primeira vez, poderia ter sido uma feliz coincidência, mas coincidências não costumavam repetir-se. Era quase como se o homem o estivesse seguindo...
Filipe pigarreou. – Se... não se incomoda, senhor, talvez pudesse explicar-me certa lealdade que parece ter por mim. – Elazar não respondeu desta vez e nem olhou para trás. O rapaz prosseguiu, ansiando por uma resposta que, de repente, era muito importante para ele. – Acontece apenas que o senhor salvou minha vida duas vezes e... bem, eu não sou ninguém! – Percebendo como aquilo soava, acrescentou. – Claro, sou alguém, naturalmente...
Elazar prosseguiu em silêncio por outro longo momento, refletindo cuidadosamente. Meditava na verdade e no motivo por que necessitava daquela notável massa de contradições, colada à garupa de sua montaria. Avaliava o que vira até agora sobre o potencial de Filipe Touret, contra a possibilidade de contar-lhe essa verdade.
As palavras brotaram dentro dele, a súbita, terrível necessidade de partilhar seu fardo com alguém... Mas não agora. Ainda não. Forçou-se a recordar que o rapaz era apenas um ladrão comum, um mentiroso de língua rápida, sem honra e, provavelmente, também sem futuro. Já vira gente demais, assim, para saber que não devia confiar em nenhuma, mesmo com semelhante índole.
Fechou a boca e meditou por um momento mais, recordando o primeiro encontro dos dois. Sorriu para si mesmo, sem que Fillipe visse. – Estive pensando no que você me disse outro dia, lá na ponte.
– Ah! — Exclamou Filipe. – Compreendo. – Houve um instante de silêncio, – e o que foi que eu disse?
– Que eu estaria precisando de um bom homem para vigiar minhas costas. Sentiu que o rapaz se empertigava atrás dele, subitamente surpreso e orgulhoso.
– A gente faz o que pode – murmurou Filipe, com aceitável imitação de modéstia. Após outro momento, perguntou, com desinteresse. – Por acaso foi você que deu de presente aquele feio talho no rosto do Capitão Marcus? – Elazar girou na sela e olhou para trás, curioso. – Ele estava pedindo. Se quer saber minha opinião.
Os olhos de Elazar ficaram gélidos, quando pensou no quanto mais Marcus Bellini merecia. Contudo, notando a expressão do rapaz, apenas assentiu gravemente, um guerreiro reconhecendo os méritos de outro. Tornou a olhar para diante, a fim de esconder o sorriso que, de repente, suavizava a linha dura e comprimida de sua boca.
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