Capítulo 7 -
Olá lindxs,
Mais uma att super corrida no meio de tantos afazeres familiares e tal.
Na mídia o grupo Seeda com a música Brother of Chinggis Khan.
Até a próxima att. quem sabe segunda ou terça.
Bjokas.
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Capítulo 7 – Encontro
Filipe molhou o rosto com a água gelada do rio, ofegando com o frio, ao esfregar a pele com as mãos. Viu sua imagem refletida para melhor, no cintilante espelho da água. O rosto limpo lhe sorriu, sob uma massa confusa de cabelos castanho-escuro – "De fato, um rosto simpático". – Pensou. Um pouco magro, naturalmente..., mas então, considerando a maneira de sua recente fuga do Tártaro de Aosta, ele supôs que deveria ser grato por não se ter superalimentado nas últimas semanas.
Passou pelo rosto barbado a mão ainda coberta por machucaduras púrpuro-esverdeadas. Então, começou a imaginar que, na verdade, tinha feições bastante sensíveis e refinadas, convinham ao rosto do filho de um nobre, roubado ao nascer por inimigos traiçoeiros e criado por humildes camponeses como se fosse da família. Seu pai, o Duque, não podia imaginar que o filho há muito perdido ainda vivesse e, portanto, jamais se preocupara em procurá-lo. Contudo, algum dia eles se encontrariam e o pai reconheceria o filho instantaneamente, devido à incrível semelhança entre ambos...
Os sonhadores e escuros olhos do jovem arregalaram-se quando um súbito ruído acima e atrás dele, o assustou, trazendo-o de volta à realidade. Filipe girou em torno, agarrando a camisa enquanto olhava para a encosta da colina. Muito acima, dois cavaleiros com os inconfundíveis uniformes vermelhos da Guarda do Bispo desciam a colina em direção à margem do riacho.
Ele tomou uma profunda respiração e saltou para a água.
Giggio e um outro lobo desceram para o rio em seus cavalos, através da relva alta e madura. O tenente batia nos juncos à beira da água com a parte plana da espada. Havia percorrido os campos adjacentes com olhos cansados e crescente frustração. – Eu poderia jurar que vi alguém...!
Descansou na sela, soltando as rédeas, e embainhou a espada. O segundo guarda remexia-se na sela, inquieto, sem encontrar uma área macia. – Até quando vamos continuar, senhor?
Seu cavalo moveu-se para diante e começou a pastar ao lado do de Giggio, arrancando tufos de relva tenra na beira d'água. – Até que o Alfa Marcus se dê por satisfeito... E isso vai acontecer quando o Bispo se der por satisfeito – replicou o shifter com raiva. Quando que seu alfa se tornou o capacho de um humano?
Suas vozes quase inaudíveis chegavam fracamente até Filipe, que estava de costas abaixo da superfície da água, entre os arbustos. A pouca profundidade, ele respirava pelo talo oco de um junco e via a espuma expelida pela boca dos cavalos que pastavam, descendo preguiçosamente até seu rosto. – "Por que eu, Senhor? " – Pensou ele.
Então o junco foi puxado repentina e abruptamente de seus dentes. Um cavalo o abocanhara, juntamente com um punhado de relva. Subitamente sem respiração, o pequeno ladrão mal conteve o arquejo de choque que o teria afogado. Agarrou-se aos arbustos, frenético, procurando deter sua angustiosa necessidade de saltar e encher os pulmões de ar.
– A cabeça de Marcus Bellini está na balança – trovejou o segundo em comando, pouco mais acima, – e ele sabe disso.
– "Vão embora! Vão embora! " – Gritou a mente de Filipe. A qualquer minuto seus pulmões explodiriam... a qualquer segundo...
O cavalo de Giggio tornou a enfiar o focinho na água, roçando as ervas. Imediatamente, um jato violento de água estourou na cara do animal e ele recuou bruscamente, com um grunhido de espanto, quase atirando o shifter lobo no rio.
Giggio puxou as rédeas freneticamente, mal conseguindo evitar uma queda. Ao conseguir controlar a montaria, ele se virou para a margem do rio e, diante de seus olhos admirados, surgiu repentinamente a figura também admirada de Filipe Touret, o Rato. O tenente ficou olhando para ele, com a raiva e o reconhecimento transparecendo em suas feições.
– Sinto muito – gaguejou Filipe, de maneira não muito racional. – A culpa foi toda minha. Vamos, deixe-me acalmar seu cavalo... Tomado de medo, ele tropeçou para a margem.
– É ele! – gritou o segundo guarda.
– Não, não é! – Guinchou o ladrãozinho.
Giggio já tinha a espada na mão. – Agarre-o!
Virando-se para tornar a mergulhar no rio, Filipe viu que o outro guarda já estava à sua frente, cortando-lhe o caminho e impelindo-o de voltar à margem. Esforçou-se para escalar o barranco, mas Giggio avançou para ele, com a espada cintilando mortalmente na mão.
Gritou histericamente, ao ver a lâmina que descia para cortá-lo em dois. No entanto, em vez disto, foi a parte chata da espada que caiu com força em seus fundilhos, jogando-o escarrapachado no chão. O humano rolou de costas e olhou para cima, incrédulo.
O rosto do shifter sorria selvagemente acima dele, fazendo-o compreender que aquilo era uma brincadeira. Lobos gostavam de caçar. Levantando-se com esforço, Filipe disparou para o alto do barranco, correndo como nunca havia corrido. Acima dele ficava a ponte. Se, ao menos, conseguisse alcançá-la...
Os dois cavaleiros o seguiram em trote tranquilo, deixando-o desgastar-se na corrida. Suas risadas o alcançavam como chicotadas. Quando já pensava que a subida era interminável, Touret chegou finalmente ao alto do barranco.
Ofegando por ar, precipitou-se para a ponte e começou a cruzá-la, em rápida corrida. As tábuas planas do piso permitiam-lhe desenvolver toda velocidade, porém atrás dele ouvia o chocalhar das patas dos cavalos, batendo na madeira.
Enquanto corria, olhou inutilmente para trás. Seu pé pisou em uma tábua solta e ele foi atirado para diante, caindo com terrível impacto sobre as seguintes. A queda sobre a madeira dura arrancou-lhe o resto de ar que tinha nos pulmões. Ficou caído e imóvel por um longo momento, paralisado pela certeza da morte iminente. Contudo nenhuma espada se abateu sobre ele, nenhum ofuscante segundo de dor encerrou o seu terror. Um sinistro silêncio pairou sobre ele e à sua volta e, por fim, Filipe ousou erguer a cabeça.
Seu queixo caiu. Sua cabeça estava entre os cascos ferrados de aço e as musculosas patas dianteiras de um enorme cavalo de combate. As patas mudavam de posição ligeiramente; anéis de vapor, expelidos pelas narinas do grande animal, enovelavam-se no ar gelado. Olhos escuros reviraram-se para baixo e o fitaram, de sua cabeça belamente formada, com suspeita quase humana. Aquele cavalo era o animal mais magnífico que ele já vira. Então, viu também a perna vestida de negro de um cavaleiro, pressionando o flanco do animal.
Ele arrastou-se lentamente e saltou ereto, quando o feroz falcão de olhos dourados, descansando no braço enluvado do cavaleiro, grasniu subitamente. A ave sibilou para ele, agitando as asas. O Rato caiu de joelhos, boquiaberto, espiando para o homem que controlava o falcão e o cavalo ao mesmo tempo. A sinistra e encapuzada figura, vestida inteiramente de negro, só podia ser o Quinto Cavaleiro do Apocalipse.
Sua capa negra era forrada de um vivo vermelho e parecia um vislumbre do inferno, quando ele se virou na sela e baixou os olhos para o ladrão. Empunhava uma grande e reluzente espada na mão livre, e os olhos de um castanho dourado, brilhando em seu rosto na penumbra, eram tão distantes e ameaçadores como a cara da Morte. Filipe desviou os olhos da figura silenciosa e olhou para trás, por sobre o ombro.
Os dois guardas permaneciam imóveis em seus cavalos, momentaneamente envolvidos pelo mesmo medo. As montarias pisoteavam e recuavam nervosamente, como se também pressentissem a aura de perigo que pairava em torno do homem de negro.
Por fim, Giggio encorajou-se e disse – Saia da ponte!
O estranho não respondeu, sentado imóvel em seu cavalo. O vento que começava a soprar sibilou inquietamente entre as árvores.
– O homem é um prisioneiro fugitivo – anunciou o tenente, alterando a voz. – Queremos capturá-lo.
– Com que autoridade? – perguntou afinal o estranho.
– De Sua Excelência Reverendíssima, o Bispo de Moldovan. – Filipe notou a fugaz e involuntária torção na boca do estranho, que poderia ter sido um sorriso. Então, o cavalo de combate precipitou-se para frente e o falcão elevou-se no ar, entre guinchos estridentes. Touret saltou de lado, escapando por pouco de ser atropelado.
O segundo guarda disparou ao encontro do homem de negro, com a espada erguida. O cavalo do estranho empinou-se, com toda a fúria e esplendor de uma besta mitológica. Um golpe letal da espada do homem de negro passou rente ás costelas do guarda, derrubando-o pelo flanco de sua montaria e por cima da borda da ponte. Seu grito ecoou, quando ele voou em direção ao o rio mais abaixo.
Antes que o guarda se chocasse contra a água, o estranho se virara para Giggio e o arrancava de cima de seu cavalo, com um rápido movimento. O tenente caiu encolhido sobre as tábuas da ponte; tentou erguer-se, mas o estranho já estava sobre ele, com a ponta da espada espetando-lhe a garganta. Giggio engoliu em seco, fitando a face da Morte com olhos arregalados.
O homem de negro puxou o capuz para trás. O rosto do lobo ficou ainda mais pálido, ao reconhecer quem estava acima dele. – Volte para Marcus – disse o estranho. – Diga a ele que Elazar voltou!
Giggio assentiu, mudo de pavor. Levantou-se e correu por onde tinha vindo. O homem chamado Elazar ficou olhando, enquanto ele montava em seu cavalo e galopava no crepúsculo. Por fim, o estranho se virou e tornou a montar em seu cavalo. O falcão desceu das alturas aniladas do céu em um voo espiralado e voltou a pousar em seu pulso. O homem ficou imóvel por um instante, olhando para Filipe com curiosidade. Este continuava onde ele o deixara, com os joelhos bambos de medo.
O cavaleiro instigou o cavalo para diante e aproximou-se da pequena figura que esperava em silêncio. O humano despertou parcialmente do entorpecimento e conseguiu erguer-se até ficar quase de pé.
– Magnífico, senhor! – bradou. – Uma exibição maravilhosa! Como o senhor mesmo poderia ver, eu estava no processo de atraí-los para a ponte, no momento de sua chegada, e...
Elazar conteve o cavalo com as rédeas, fitando o pequeno ladrão com um sorriso enigmático. – Um prisioneiro fugitivo de Moldovan? – Exclamou, quase para si mesmo. – Não do Tártaro de Aosta.
– Por que não do Tártaro? – perguntou Filipe.
– Jamais alguém fugiu de lá!
O homem disse estas palavras como se soubesse que aquilo seria impossível. Filipe Touret ergueu as sobrancelhas, considerando a possibilidade de que realmente houvesse praticado uma façanha notável. No entanto, apenas encolheu os ombros, demasiado cavalheiro para vangloriar-se de seus feitos.
Sobre a sela, Elazar inclinou-se para diante, olhando o humano pensativamente. Então, de súbito, tornou a olhar para cima, na direção oeste, onde o sol desaparecia atrás das montanhas. Seu rosto ficou severo e tenso. Incitando a montaria com as esporas, ele começou a cruzar a ponte, passando ao lado de Filipe em silêncio, como se ele houvesse deixado de existir.
Sobressaltado, o rapaz estendeu o braço, mas sem ousar tocar o outro homem. – Senhor! Espere... – Elazar nem mesmo baixou os olhos e Touret trotou atrás dele, gritando. – Escute! Na verdade, eu estava pensando em arranjar um companheiro de viagem... – Não obteve resposta e gritou ainda mais alto, desesperado. – Há mais guardas por aí! O senhor precisará de um bom homem para vigiar suas costas!
Filipe agora corria, mas o estranho seguiu em frente, embrenhando-se na escuridão, sem olhar para trás. Ele parou de correr, deixando as mãos caírem ao longo do corpo. Baixou os olhos para si mesmo. – Oh, cale a boca, Rato! – Murmurou.
Deu meia-volta e retornou à ponte, tentando ignorar a dor inominável que enchia seu peito de repente. Como se uma parte do seu coração tivesse sido arrancada. Espiou para baixo, pela borda das tábuas do piso e viu o corpo do guarda morto, boiando entre os juncos. Sacudiu a cabeça, pesaroso. – Você nem chegava aos pés dele, meu amigo. Nunca teve uma chance...
Olhou para trás, na direção tomada pelo estranho, com um breve sorriso de gratidão, desapontamento... e saudade. Em seguida, terminou de cruzar a ponte e aproximou-se do cavalo que pertencera ao guarda, a fim de surripiar a bolsa presa à sela. – É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um homem rico entrar no Reino dos Céus. – Tornou a olhar para o cadáver e gritou. – Não mencione isto a Ele quando chegar lá! – Então, recomeçou a caminhar.
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