Capítulo 6 - De volta ao chão
Olá meus lindxs,
Att adiantada de novo. não se acostumem. rsrs. é que vou viajar semana que vem. aí já tô adiantando.
Na mídia: Brunnuh Ville. música: the last of his name.
Att na segunda. acho eu.
bjokas
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Capítulo 6 – De volta ao chão
Isaac quase não usava o escritório do gerente do cassino. O escritório de Elazar. Sentir o perfume dele era reconfortante e desesperador ao mesmo tempo. Os novos administradores já estavam agindo com plenos poderes e funções. Ele só estava usando o aposento para uma última reunião.
Estava tudo pronto. E mesmo que ele estivesse ansioso para rever sua cidade natal. Seu coração pesava em deixar esse lugar que aprendera a amar nos 10 anos que seguiram seu autoexílio.
Recolhia as coisas que Elazar não teve tempo de pegar durante o dia. O porta-retratos ainda estava lá. Isaac o pegou. As pontas dos dedos passando pelo rosto ao lado do seu na foto. Sentia falta do toque, do calor, dos beijos, do cheiro... Virou o objeto nas mãos, destravou a tampa e retirou a fotografia. O contraste perfeito entre eles. Um loiro o outro moreno. A pele clara na escura. Olhos verdes nos castanhos. O dia e a noite.
Guardou a foto no bolso do paletó azul-escuro feito sob medida. Junto com a carta que recebera há dois dias e que já estava se desfazendo de tantas vezes que a relera. Sentou-se na grande cadeira de couro sentindo o perfume dele. Encolheu as pernas no assento, parecendo uma bolinha. Sentindo os braços imaginários o segurar apertado.
A porta abriu com um estrondo e Isaac se endireitou com um pulo para ver seu assistente ou melhor ex-assistente entrar tempestivamente pela sala. O rapaz aparentava ter seus vinte e seis anos, vestia calça de couro preta cheia de correntes, uma blusa arrastão deixando a mostra piercings nos mamilos. Cabelos escuros espetados e delineador nos olhos.
– Jeremy Smithson, você ia embora sem se despedir de mim? – O rapaz colocou as mãos na cintura. O semblante devastado de indignação e tristeza.
– Eu não queria uma despedida chorosa, mas acho que não consegui ser bem-sucedido. – Sorriu sem graça.
O mais jovem cruzou a sala deu a volta na mesa e agachou diante da grande cadeira onde Isaac olhava a aproximação com uma certa expectativa. – Jerry, você foi mais que um pai pra mim. Me salvou da fome, da prostituição, das drogas. De mim mesmo. Deu uma casa e um futuro pra mim. Em que universo você acha que poderia ir embora sem falar comigo?
– Chris... – Chamar o nome e abrir os braços foi o suficiente para a rebeldia no olhar do rapaz de transformar em saudade e um choro sentido e soluçante ser desencadeados nos braços protetores de seu pai adotivo.
Sim. Christian sabia o nome verdadeiro e a condição shifter de seu pai. Mas, se recusou desde o primeiro minuto a chama-lo de Isaac. Sua explicação era que se ele nunca se acostumasse com o nome não iria traí-lo inconscientemente. Então, desde que o resgatou das ruas aos 16 anos Chris o chamava de Jeremy.
– Chris, – repetiu Isaac afastando um pouco o outro para encarar seus olhos. – Agora, você já é um homem. Estou deixando a gerência da boate aos seus cuidados. Já tem seu apartamento, aqui no hotel. É sua casa. E Iakos me prometeu que o ajudaria em qualquer dúvida operacional que tivesse.
– Pai, vou sentir tanto a sua falta. – O mais novo enxugava os olhos com as mãos. – Minhas lembranças da vida sem vocês nela é um borrão de sombra e dor.
– Não vai mais ser assim, Chris. Você amadureceu. Eu confio em você.
Aquelas palavras fizeram o peito do rapaz se expandir e um sorriso apareceu deixando as feições mais suaves.
– Eu espero voltar em breve. Mas, eu e .... John precisamos resolver coisas que ficaram mal-acabadas a quase uma década. – Isaac via o jovem balançar a cabeça concordando.
– Eu entendo, mas isso não faz a despedida ser mais fácil. E Iakos pode ser um pé no saco às vezes.
A porta abre novamente dando passagem para o prefeito. – O que meu nome imaculado faz nos lábios desse jovem rebelde. – O homem sorria ao falar mostrando certa intimidade com os homens ali abraçados. – Sai dessa, Chris. É hora de cair fora do ninho. – Ao falar essa frase olhou para Isaac e caiu na gargalhada.
O shifter falcão só levantou as sobrancelhas. Chris sacudiu a cabeça abrindo mais o sorriso. Os três homens espalharam-se nos sofás e poltrona. O prefeito virou-se para Isaac. – Você está muito elegante pra quem vai pro chão.
– Quando for buscar minhas coisas e trancar o apartamento colocarei roupas mais adequadas à minha posição no chão. Já terá alguém nos esperando pra esse começo de jornada.
– Eu não consigo entender essa fixação dele pra voltar pro chão. Na verdade, eu não consigo encontrar lógica em pensamentos de vingança depois de dez anos. Vocês saíram do radar do Bispo, por que se colocar em perigo?
– É uma coisa de shifter. Humanos não entenderão nunca o relacionamento entre companheiros. A menos que esse humano seja um. A implicação em ser companheiro não pode ser explicada como um simples casamento humano. É maior, mais complexo. Meu companheiro carrega a outra metade da minha alma. Meu coração. É mais essencial para mim do que o ar. – Isaac respirou fundo tentando se livrar do nó surgindo na garganta. – Viver sem seu companheiro é como viver uma meia vida. E a nossa situação... é só uma forma de garantir isso.
– Como pode ser pior? Vocês pelo menos estão vivos. Não seria mais terrível se um dos dois estivesse morto? – Chris não conseguia entender. Não queria perder seus pais adotivos. Ele estava com medo.
O shifter tirou a fotografia do bolso encarando por alguns segundos. – Sentir seu cheiro e não ser capaz de toca-lo. Olhar em seus olhos e não ser reconhecido. Até a opção de suicídio foi tirada de mim, pois eu levaria para o outro mundo a culpa de ter enlouquecido meu companheiro. – Ele soltou o ar pelo nariz num ruído de resignação irônica. – Seria melhor que ele tivesse nos matado.
Pelo olhar dos outros dois Isaac Salieri sabia eles podiam até entender intelectualmente a questão, mas ainda não entendiam na pele, na vivência. – Vocês podem me deixar a sós, ainda preciso recolher os poucos pertences pessoais por aqui e deixar tudo pronto para o próximo ocupante.
Após a porta fechada e o silêncio caiu como um manto de ansiedade. Isaac retirou a carta de Elazar do bolso. Já estava toda marcada de tanto dobrar e desdobrar nesses dois dias.
Isaac,
Amor, eu sei o quanto relutante você está em voltar à Colina ou enfrentar nosso inimigo. Nesses dez anos eu pesquisei, li e entrevistei: maldições, grimórios, magos e alquimistas. Tudo o que foi dentro do meu alcance. Para quebrar esse feitiço que nos prende, nos mantêm apartados.
Só vejo uma solução. Matar aquele filho da puta. Mas, antes de realizar esse assassinato eu queria tirar uma última dúvida. A única pessoa presente naqueles dias e com conhecimento o suficiente para ter ajudado aquele crápula. Quero falar com o monge Damastor Menjou. E se ele não souber como anular esse sortilégio saberei que o caminho escolhido por mim foi, realmente, o último recurso.
Aconteça o que acontecer saiba que meu amor por você não diminuiu em nenhum grama nesses dez anos. Sua presença, mesmo inconsciente, seu cheiro, suas palavras rabiscadas em um bilhete, mantiveram minha sanidade.
Se o pior acontecer, espero que a Deusa Luna nos conceda uma outra vida. E que possamos nos encontrar e nos reconhecer. Não aguentaria mais uma vida sem você.
Pra sempre seu,
Elazar Bellini.
Dobrando o bilhete pela milésima vez, respirou fundo, pegou as poucas quinquilharias que queria guardar e saiu do escritório da gerência do Hotel e Cassino Night Howling. Encaminhou-se para a cobertura. Para a suíte presidencial.
Entrou no aposento e acendeu as luzes. A fera de pelagem negra e olhos amarelos rosnou e se debateu em sua jaula. – Sshh. Em uma hora estaremos nos campos e você poderá correr, meu amigo. – O toque de Isaac parecia acalmar o animal selvagem. – Vou acabar de arrumar as nossas coisas e partimos. Certo?
Com uma roupa que estaria mais adequada a um camponês o shifter falcão pegou a sacola de couro com alça, uma espada quase do seu tamanho e, com ajuda dos carregadores do hotel, empurrou a gaiola com o lobo negro dentro. Iakos veio dizer as últimas palavras, que Valperga sempre seria um refúgio para qualquer um deles. A ponte, raramente usada, baixou até o solo. E foi retraída logo que homem e animal tocaram os pés na terra. A cidade cassino já estava acoplada com a cidade comercial de Tanzi.
Dois cavaleiros aproximaram-se trazendo um cavalo seguro pelas rédeas. – Salve, Duque Salieri. – Um deles disse.
– Duque? – Isaac ficou confuso por um momento.
– Eu sinto muito, senhor. – O homem no outro cavalo respondeu.
– Ah! – A chama do entendimento brilhou nos olhos verdes de Isaac. – Ele soltou o lobo enjaulado que rosnou para os dois estranhos. Ficando entre aquele que era seu e uma potencial ameaça. O recém-nomeado Duque caiu de joelhos abraçando o pescoço peludo e o molhando de lágrimas. O lobo era agora toda a família que lhe restara.
Nervoso por tantos anos preso num espaço mínimo, o animal se desvencilhou das mãos que o agarravam e saiu correndo pelos campos. Enfiando-se no pequeno bosque próximo.
– Senhor, é seguro deixa-lo sozinho? Ele tornou-se selvagem em sua forma animal. Poderia machucar alguém. – Um dos homens externou sua preocupação. Afinal, sua família morava em uma cabana perto dali.
– Eu também já sou selvagem em minha forma shifter. E nunca fiz mal a ninguém. Ele também não fará. Mesmo que sua consciência humana esteja dormente, ele ainda aceita alguns poucos comandos meus. – Com isso Isaac deu um forte assobio. Foi o tempo de subir na sela do cavalo e o lobo surgiu da mata com um coelho na boca. – Agora, vamos. Tenho alguns túmulos para visitar. Suponho que estão aqui perto.
– Sim, Duque. Assim que vocês fugiram o castelo da Colina foi atacado pela guarda episcopal. Recuamos para baixo de Tanzi, que sempre foi um aliado. Bem... era o que pensávamos. As execuções aconteceram um ano depois. Marcus... o próprio Alfa... ele...
– Já entendi. Expliquem a Elazar tudo isso amanhã de manhã. Agora vamos. Antes que chegue a aurora.
Partiram em um silêncio carregado. Com um enorme lobo atrás deles. Isaac teria muito a escutar e lágrimas para enxugar. Ele achava que estava seco. Os dois primeiros anos de exílio o tinham quase morto de desespero. Um shifter sem seu companheiro já seria uma tragédia. Um ômega era mil vezes pior.
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