Capítulo 22 - Ciúme
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bjokas.
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Capítulo 22 – Ciúme
Marcus Bellini conduziu seus homens através da abadia em ruínas, guiados pela luz de tochas. Giggio não voltou e, seguindo sua pista, eles tinham chegado àquele lugar. O capitão permaneceu junto a ponte levadiça, enquanto seus guardas vistoriavam o interior do mosteiro. Estava sujo e cansado, com um humor que a cada momento ficava mais negro.
Não havia sinal de seu segundo em comando e dos homens que o acompanhavam, nenhum indício de que houvessem abandonado aquelas paragens... mas alguém se fora dali. Ele se virou, quando um guarda cruzou a arruinada ponte levadiça, trazendo notícias. – Tudo vazio, senhor, mas encontramos isto.
O guarda mostrou uma pena de falcão, manchada de sangue seco. Por entre os olhos semicerrados, Marcus examinou-a à luz da tocha. Um lento e feio sorriso formou-se em sua boca. Todas as suas perguntas tinham sido respondidas. Levantou o rosto e fitou a construção, cujas ruínas haviam abrigado o ômega amaldiçoado, o amor secreto do Bispo – e seu inimigo. Ergueu a mão, apontando para elas. – Queimem tudo! – ordenou.
Montados em seus cavalos, internaram-se novamente na noite. O alfa Marcus olhou para trás, com sombria satisfação, contemplando as chamas que consumiam as ruínas, como os fogos do inferno que logo consumiriam Elazar.
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Ao amanhecer do novo dia, Elazar chegou ao acampamento montado em seu cavalo, de olhos postos no alto, vasculhando o céu. O falcão pairava nas alturas, no ar dourado das primeiras luzes da manhã, acima de uma montanha coroada de neve. A ave baixou em círculos quando o viu e empoleirou-se no galho inferior de um carvalho próximo. Ele desviou os olhos, sem sorrir.
No chão, Filipe dormia tão profundamente como uma criança, aninhado junto à fogueira apagada do acampamento e segurando a espada embainhada entre os braços, apertando-a como se fosse uma amante. O shifter lobo ficou mais desanimado ainda, ao contemplar o rapaz.
Chegou até junto dele e puxou-lhe a espada dos braços. O rapaz despertou sobressaltado e engatinhou aos pés de Elazar, com expressão culpada. Segurava a coberta em volta do corpo, tiritante, esfregando os olhos como se ainda estivesse exausto.
O Alfa o fitou com frieza, depois olhou para o pico da montanha, cintilando com a neve recém-caída. Se viajasse o dia inteiro, poderia chegar a Moldovan no dia seguinte... – Todas as estradas deste lado do vale são impossíveis – disse. – O único caminho aberto para a cidade será pela montanha. Fará um frio intenso... Há neve acima dos limites da vegetação.
Esperou que o rosto do rapaz o traísse. Esperou que ele iniciasse alguma desculpa, que se recusasse, que montasse em seu cavalo e fosse embora, levando consigo a carga indesejada de sua jovem vida. Entretanto o outro não fez nada disso, limitando-se a fitá-lo com ar incerto. Elazar deu meia-volta e caminhou para seu cavalo.
Filipe continuou parado onde estava, chutando as brasas mortas do fogo. – Eles o matarão! E matarão Isaac também! – exclamou, quase enfurecido. – Não conseguirão chegar a cem metros do Bispo!
Elazar prendeu a espada na sela e tornou a montar no garanhão. Olhou em silêncio para Filipe, com ar impassível, e depois espetou os calcanhares na barriga do animal. Ele sentia o cheiro de Isaac sobre Filipe. Eles não tinham tido nada íntimo demais. Só que Elazar percebeu que o ômega esfregou todo seu maldito cheiro em Filipe, o marcando de certa maneira. Do jeito em que ele próprio já foi marcado um dia.
– Deveria ouvir-me! – gritou Filipe, correndo para seu cavalo. – Não tenho que ir junto, bem sabe! Ainda sou jovem! Tenho esperanças! – Emparelhou com Elazar uns quatrocentos metros além e seguiram lado a lado.
Seu companheiro o ignorou pelo restante da manhã, enquanto os cavalos abriam caminho firmemente, subindo para a passagem no alto das montanhas. As árvores começavam a escassear, e pouco depois os cavaleiros seguiam ao longo dos terrenos cobertos de neve.
O sol brilhava, fazendo a montanha cintilar como prata acima deles e levando Elazar, involuntariamente, a pensar em Colina. As propriedades ancestrais de sua família jaziam pacificamente nas montanhas, a cinco dias de jornada para oeste... agora além de seu alcance para sempre. Ele apressou Trovão, impaciente.
Elazar olhou para Filipe pela primeira vez durante horas, ao perceber que ele tornara a bocejar. Aliás, passara a manhã inteira bocejando, embora procurasse disfarçar. – Que noite! – suspirou o humano para si mesmo.
Elazar franziu o cenho, com inquieta curiosidade. – Que... noite?
– Hmm? – Sobressaltado, Filipe olhou para ele. – Oh, Alfa, nada aconteceu que eu não pudesse controlar... – Sorriu prazerosamente, aconchegando mais a coberta contra os ombros. Depois, tornou a olhar para diante. Elazar o estudou com ar desconfiado, mas elevou os olhos subitamente, ao ouvir o falcão grasnar nas alturas.
A ave não o procurara por toda a manhã, como se houvesse sentido seu estado de ânimo, porém agora começava a voar para baixo em círculos, de maneira que ele ergueu o braço, expectante. No entanto foi para o braço de Filipe que o falcão voou, nele empoleirando-se.
Elazar fitou o rapaz com incredulidade, quando ele acolheu o falcão, com uma exclamação de surpresa. Filipe ergueu os olhos, mostrando um ar de culpa no rosto que o frio avermelhara. Sorriu fracamente e se virou para a ave. – Lindo pássaro...bom falcãozinho... – Sacudiu o braço, sussurrando – Muito bem, agora vá para seu companheiro! – O falcão aferrou as garras nas dobras de sua manga, mas ele tornou a sacudir o braço, insistindo – Vá, Lorde falcão!
Não obstante, a ave permaneceu firmemente empoleirada no braço dele, baixando a cabeça para fitá-lo quase com satisfação. Filipe remexeu-se na sela, inquieto, sob o olhar inquisitivo de Elazar. – Fale-me a respeito – disse, enquanto prosseguiam. Tentando controlar o ciúme e o desejo de estar com seus companheiros em seus braços.
– Como, Alfa? – perguntou Filipe, preocupado.
– Quero saber como foi esta última noite, rapaz! – Elazar forçou as palavras a saírem, sentindo uma emoção quase esquecida enovelar-se em seu peito como uma serpente.
– O que há para contar? – replicou Filipe nervosamente, olhando para o falcão. – Agora vá! Vá, vá, vá...! – A ave não se mexeu. – Nós... tropeçamos em alguns problemas, quando íamos para uma estalagem, e...
– Você levou Isaac a uma estalagem? – perguntou Navarre, com o cenho ainda mais franzido.
– Voe para seu companheiro... voe para quem você ama! – insistiu Filipe, sentindo crescer a inquietação. A ave aferrou-se a ele como carrapicho. O rapaz tornou a olhar para Elazar, e seu rosto, agora, estava mais vermelho pelo constrangimento do que pelo frio. – Bem, compreenda, primeiro fomos para aquele estábulo...
– Estábulo? – cortou o Alfa, soltando a palavra em um só jato. – O que fizeram no estábulo?
– Trocamos de roupas e...
– Vocês trocaram de roupas no estábulo?
– Bem, não juntos, é da...
– Quer dizer que o deixou sozinho?
– Nunca! – ofegou Phillipe.
– Então, trocaram de roupas juntos!
– Não!
– Não minta para mim, rapaz! – Elazar fez o garanhão parar bruscamente e puxou sua espada. O falcão deu um grasnido agudo e voou do braço de Filipe para o dele. O shifter lobo fitou a ave e sentiu que a onda de furioso ciúme abandonava sua mente. Baixou a espada, em um gesto lento.
Duvidar do rapaz seria duvidar de Isaac. Naqueles dez últimos anos, jamais olhara para outro homem com qualquer espécie de desejo, até esse momento que o desejo por Filipe ficava cada dia mais forte. No fundo do coração, sabia que com Isaac acontecia o mesmo.
Filipe suspirou. – Ele é o homem mais maravilhoso que já existiu, senhor – disse calmo, – e posso afirmar que já tive minhas fantasias. No entanto a verdade é que... Bem, tudo quanto ele fez foi falar a seu respeito.
Filipe tentou desviar o olhar, mas Elazar continuava a encará-lo, enquanto embainhava a espada. Deixou a mão pousando na empunhadura. – Conte-me o que ele disse. Tudo o que ele disse. E fique avisado, rapaz, eu saberei se as palavras são ou não de Isaac!
Fez o cavalo tocar em frente de novo, e Filipe o seguiu, ligeiramente atrás, apenas fora do alcance de sua visão. Bellini o ouviu engolir em seco, como se tivesse as palavras presas na garganta.
– Ele primeiro... ficou triste – disse Filipe, desajeitadamente. – Falou sobre o dia em que sentiram a conexão de companheiros. Ele... o amaldiçoou.
Elazar piscou, como se alguém o tivesse esbofeteado. Seu coração afundou como uma pedra.
– Então me pediu para dizer-lhe... – Filipe interrompeu-se novamente. – Para dizer que nunca o amou.
A voz do rapaz estava tensa. Elazar Bellini fitou o falcão. A ave também o fitou, com olhos amarelos, inumanos. Ele fechou os olhos, procurando conter o sofrimento.
– Foi então quando ele recordou um... um gesto seu... sua maneira de correr-lhe os dedos por trás da orelha... desenhando a linha do queixo... Elazar abriu os olhos para a visão, sentiu-os queimando com as lágrimas não derramadas. – Tocando-lhe os lábios... – prosseguiu Filipe, com tal intensidade de ternura, lembrando o toque de Isaac e desejando o mesmo toque de Elazar naquele momento – e seus olhos brilharam. Não, ele brilhou, todo ele, enquanto recordava... "provocando um sorriso... depois cobrindo-o com um beijo".
Elazar tornou a fitar o falcão. A ave se virou para o vento, perscrutando o céu por sinais desconhecidos a um homem, enquanto ele lhe perscrutava os olhos, buscando coisas que Isaac jamais compreenderia. No entanto sempre o falcão sentia uma atração irresistível por ele, da mesma forma como o lobo era atraído por Isaac. E agora ambos sentiam a mesma atração por Filipe.
Elazar olhou para Filipe e seu sorriso era cheio de tristeza. Seus próprios eus selvagens, de animais incompletos, não sentiam atração por outros da mesma espécie, mas somente pela forma humana de seus companheiros, que não poderia consolá-los.
– Sabia que falcões... e lobos... quando se acasalam é para a vida inteira?
– Não, não sabia – disse Filipe, com os olhos toldados pela percepção daquilo. Mais do que nunca se sentia como uma terceira roda ali.
– O Bispo de Moldovan nem isso nos permitiu, rapaz – disse o Alfa, em tom fatigado. – Nem mesmo isso!
Elazar se virou para diante outra vez e instigou o cavalo de repente. Seu rosto endureceu-se.
Sentado em uma carroça puxada por uma mula, Damastor bloqueava a passagem mais adiante. Tinha os olhos límpidos e estava absolutamente sóbrio. – Ainda planejando matar Sua Excelência Reverendíssima?
A mão de Bellini tornou a pousar no punho da espada. – A você é que eu deveria matar, velho – disse ele. – E matarei, se continuar a seguir-me.
O monge ergueu a cabeça. – Pois então, siga-me. Para Moldovan. Onde dentro de dois dias poderá enfrentar o Bispo na catedral, com Isaac a seu lado, e ver a alma daquele degenerado arder nas chamas do inferno.
Após falar, Damastor Menjou manobrou sua carroça, virando-a na direção da subida. A mão de Elazar pressionou o punho da espada. Não queria ouvir, não permitiria que aquele velho ensandecido pela culpa aliviasse a própria alma adiando sua angústia e a de Isaac por mais um dia que fosse. Sem contar com Filipe que teria que viver com a culpa de se doar mais para um companheiro do que para o outro. – Estarei em Moldovan amanhã – disse ele, em voz tão cortante quanto o vento. – De um modo ou de outro, isto finalmente terá que acabar!
Damastor se voltou para Filipe, com ar implorante. – Diga a ele que está errado! Diga-lhe que me dê uma chance!
Bellini olhou fixamente para Filipe. O rapaz olhou para o chão e pigarreou para clarear a garganta. – Mais um dia, menos um dia... que diferença faz? Por que não dar uma chance ao monge? — murmurou.
Elazar sentiu que o último resquício de calor se congelara em seu íntimo. – Você também! – exclamou, aborrecido.
Filipe o fitou, magoado, sustentando o olhar com ar suplicante, porém não falou mais nada, como se já soubesse que seria inútil. O vento gelado assobiou através da neve, enrodilhando-se em torno deles como uma chibatada.
– Pois então, fique aqui – disse Elazar, afinal. – Com o velho. Bebam... e iludam-se com sonhos, um ao outro!
Filipe balançou a cabeça. – Eu vou com o senhor. Você e Isaac são meus companheiros e meu coração dói só de pensar em deixá-los.
– Não – disse Elazar. Percebeu que o rapaz se retesava, com obstinado desafio. – Eu renuncio aos laços de companheiro com você Filipe Touret. E haverá muita gente à minha frente, para que também tenha que vigiar as costas! – Manobrou o cavalo, a fim de não ver a surpresa e mágoa que se estendia sobre o rosto de Filipe, e esporeou o animal para que continuasse subindo a montanha.
Filipe permaneceu imóvel sobre a montaria, fitando a neve, com os lábios contraídos. As mãos crispadas e lágrimas teimosas presas nos cílios.
– Você fez a coisa honesta, ladrãozinho – disse o monge, em voz calma. – Falou a verdade.
– Eu devia ter imaginado... – Filipe ergueu os olhos desanimados, tiritando quando o vento sacudiu sua coberta esvoaçante. – Cada momento feliz de minha vida foi resultante de uma mentira.
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Elazar seguiu em frente sozinho, uma figura negra e ereta, perdida em uma imensidão de branco. Estava satisfeito por ficar só, aliviado por haver-se livrado do último obstáculo entre ele e seu destino... a última pessoa que poderia ser destruída por ele.
Perdera todo o controle sobre a própria vida, mas a morte, pelo menos, seria sua escolha pessoal.
O falcão aninhou-se mais debaixo de sua capa. Beliscou irritadamente a mão de Bellini, por causa do frio e pela insistência dele em levá-lo através de toda aquela friagem. Ele fitou a ave com súbita afeição e tristeza. Pelo menos este seria o último sofrimento que lhe infligiria.
Jamais haveria outro inverno de noites gélidas e sem seu abraço quente para Isaac, outra primavera sem o toque do sol ou um outono sem a cor das folhas mudando... Haveria um fim para aquilo, de um modo ou de outro. Suas vidas eram uma, e quando morressem juntos, talvez a Deusa, em Seu Amor, finalmente lhes dê paz ou, no mínimo, esquecimento.
Ele só tinha um lamento, um somente... Deixar Filipe para trás. Não ter provado seus lábios e seu sabor. Ter negligenciado suas necessidades físicas, emocionais e abandona-lo. Só esse arrependimento Elazar levaria para o túmulo. O de negar Filipe. De afastar Isaac dele. Ele sentia tanta dor por dentro que estava difícil de respirar. A decisão foi tomada e ele precisava seguir em frente antes que desmoronasse.
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