Capítulo 13 - Segundo Companheiro
olá lindxs,
ontem não consegui fazer as atts. minha família me sequestrou. hahahahaha. então a att dupla vai ficar pra hj. divertam-se.
na mídia: música Dimna Juda do grupo Waldrauz.
enjoy e te vejo por aí.
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Capítulo 13 – Segundo Companheiro
Filipe piscou os olhos. – Estou entendendo – disse em voz fraca. Por experiência pessoal, sabia que os motivos de Elazar para querer matar o Bispo deviam ser excelentes. Contudo, com a mesma certeza, não sentia a menor vontade de saber quais seriam.
Por um instante, esquecera que Elazar era louco. Os últimos toques diáfanos de devaneio sumiram de sua visão, quando ele bateu a mão na outra. – Bem! Sendo assim... o senhor tem muito a fazer e já lhe fui uma carga bastante pesada. Espero que nossos caminhos um dia se cruzem novamente.
Recuou um passo, com um aceno de despedida. Elazar hesitou, ao ver que Filipe começava a recuar. Forçou o rapaz a encontrar-lhe os olhos. — Venha comigo para Moldovan.
Filipe balançou a cabeça. – Nem pela vida de minha mãe! Mesmo que soubesse quem foi ela. Deu outro passo, lançando um olhar para as árvores.
Elazar conteve a impaciência. Aquele momento estava correndo tão mal quanto imaginou. – Preciso de sua ajuda para entrar na cidade. Você é o único que já conseguiu escapar de lá.
– Escapar? – Filipe riu, bruscamente – Eu caí em um buraco e segui meu instinto!
– Então, siga-o de volta novamente! – Exclamou Elazar, impaciente. Adiantou-se, amaldiçoando a ironia do destino que o forçava a depender daquele humano para sua salvação. Daquele humano que era seu segundo companheiro. Que nunca iria marcar, mas não podia ficar longe.
Ele sabia que o mais correto seria deixar Filipe ir. Sair de suas vidas. Não conseguiu escrever para Isaac. Nem sabia se seu ômega já tinha notado que aquele pequeno humano era o companheiro deles. A parte perdida da alma deles. Vai ver era por isso que ainda estavam vivos. Sobreviveram há dez anos de separação e esse deve ser o motivo. A solução do enigma que tanto procurou nessa última década.
– Não me quer em sua companhia para uma missão de honra senhor — disse Filipe em tom suplicante. — Não passo de um punguista, um ladrão profissional! Misturei um dia um simples roubo com questões políticas e foi isso que me trancafiou em Aosta.
Elazar o agarrou pela frente da túnica, quase o erguendo no ar. O rapaz encolheu-se, fugindo ao seu olhar, procurando esquivar-se da fúria animal que o outro sentia aumentar dentro de si. Ele precisava se acalmar. Seu companheiro exalava o cheiro acre do medo. E era o responsável por isso. Nunca se perdoaria se o machucasse.
O shifter lobo respirou fundo, obrigando a mente a permanecer racional. Lenta e dolorosamente, tentou explicar. – Durante dez anos, eu desejo voltar a Moldovan e exigir a retaliação pelo que me foi feito. Dez anos usando um nome falso e esperando ser esquecido, evitando cair no radar do Bispo, ganhando tempo, esperando um sinal da Deusa Lua de que tinha chegado o momento de meu destino. – Seus olhos procuraram os de Filipe e penetraram nas pupilas amplas e fixas, chegando à mente brilhante e engenhosa que sabia escondida atrás do medo daqueles olhos. Sorriu, um sorriso calmo e inflexível. — E aqui está você, rapaz.
Elazar soltou Filipe. – Eu? – O rapaz se compôs rapidamente, endireitando a túnica. Encarou o moreno teimosamente. – A verdade, senhor, é que converso com o Deus Único o tempo todo e, não se ofenda, mas Ele nunca o mencionou. – Filipe empinou o queixo, ao terminar de falar.
Elazar pegou sua espada do chão e a esgrimiu de um lado para outro facilmente, com apenas uma das mãos. Tornou a olhar para seu companheiro humano. – Talvez você tenha esquecido de perguntar a meu respeito.
Filipe engoliu em seco, assustado ao ver a lâmina afiada como navalha cortando o ar. Seus olhos escuros ficaram graves. – Senhor – disse – sou tão comum como a terra. Com medos comuns e esperanças comuns para mim mesmo. Existem... – Remexeu-se, por uma vez sem encontrar as palavras acertas. – Existem forças estranhas agindo em sua vida, forças mágicas que o cercam. Estão muito além da minha capacidade de entendimento, mas... – Sua voz extinguiu-se. – Elas me dão medo.
Elazar nada disse. Filipe fez uma careta. – O senhor salvou minha vida, mas a verdade é que nunca poderei retribuir-lhe. Não tenho honra, jamais a terei. – Deu de ombros.
Elazar o encarou, com expressão inflexível, e então ele prosseguiu, em tom firme. – Não acredito que me mate por eu ser simplesmente o que sou. – Respirou fundo e meneou a cabeça. – Contudo, morrer por sua espada seria melhor do que voltar para o Tártaro – acrescentou, crispando os punhos.
O shifter percebeu subitamente o quanto o rapaz parecia pequeno e indefeso; e como ele devia parecer a Filipe, um homem enorme com duas vezes o seu tamanho, armado com uma espada, que se transformou em um lobo selvagem assassino, arrastando-o para uma vingança pessoal que, provavelmente, era suicida.
– Quando eu ouvi seu nome na ponte, eu entendi quem você era. Cresci em Colina e tinha oito anos quando a cidade caiu. Já era grandinho pra lembrar muitas coisas e pequeno para esquecer a maioria delas. Mas, minha mãe, a mulher que me criou, antes de morrer pelo odioso novo Alfa da cidade, pediu que eu fugisse. – Ele riu com um falso humor. – Ela achava que por eu ser humano teriam piedade de mim. Quem sabe o Deus Único me guiasse já que a Deusa trouxe todo aquele sofrimento. – Lágrimas encheram os olhos escuros. – O Duque fez tudo para salvar a população shifter. Mas, você não estava lá.
Filipe virou as costas e caminhou devagar para a floresta. O rapaz sentia o coração apertar a cada passo. Elazar o viu afastar-se, viu o destino escapar-lhe das mãos e desaparecer sua última esperança. Sentiu a dor incapacitante de ser separado de seu companheiro mais uma vez. Os passos do rapaz apressaram-se. De repente, Elazar ergueu a mão e arremessou a espada como um dardo.
A lâmina enterrou-se em uma árvore, a dez centímetros da cabeça de Filipe. O rapaz virou metade do corpo, olhando para trás com o coração na garganta. Viu a expressão do lobo... gélida, mortal. Aquele era o rosto de um homem inteiramente obcecado.
Filipe sabia que estava agindo errado. Tornou a fitar a espada, oscilando na árvore. Sorriu da maneira mais insinuante que pôde enquanto se inclinava e recolhia um galho seco, sem afastar os olhos de Elazar. — Acho que vou juntar um pouco de lenha para o fogo...
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A noite estava calma, em torno do acampamento; as brasas não cuidadas da fogueira pulsavam vermelhas, como sóis agonizantes. Trovão relinchou e pisoteou, pastando a relva, atado à borda da clareira, com a espada embainhada de Elazar pendendo de sua sela.
Um graveto estalou na floresta escura, além do fogo. Trovão ergueu a cabeça, as orelhas espreitando o ar. Outro graveto estalou. O jovem que chamou o lobo na noite anterior surgiu cautelosamente da escuridão. Usava uma túnica e calças simples de tecido barato, com uma curta adaga à cintura. Seus cabelos louros e descobertos estavam coitados curtos como os de um soldado. Avançou para a clareira cercada de rochas, olhando para a direita e a esquerda, nervoso, mas expectante.
Tudo ali estava solitário, a não ser pelo garanhão. Ele suspirou, resignado a outra noite de solidão. Trovão relinchou baixinho, em reconhecimento. Ele deixou cair outro ramo seco no fogo e foi até o cavalo, oferecendo-lhe a palma aberta, para que farejasse e lambesse. Ficou desacostumado com os dez anos gerenciando um cassino. Muita gente, muito barulho... diferente dessa quietude.
Os olhos dele moveram-se até a espada pendendo da sela. Ficou alerta, ao ver algo enfiado abaixo do punho. Moveu-se ao longo do dorso do garanhão e recolheu a pena de sob a espada. Erguendo-a ao luar, maravilhou-se ante os sutis padrões de luz e escuridão no sentido de seu comprimento. Seus dedos traçaram delicadamente o frágil perfil da pena e ficou como que enfeitiçado, dando a impressão de que tocava parte de alguma criatura com a qual sentia um misterioso parentesco. Sorriu, um sorriso não dirigido a ninguém mais além de si mesmo.
A coisa que ele mais gostava sobre ser um shifter ave era voar. E agora ele não se lembrava de nada de sua parte animal. Por causa da maldição sua forma shifter não tinha consciência. E quando voltava a sua forma humana a cada noite, não conseguia mentalizar os voos diurnos. O movimento das correntes de ar entre as penas. A sensação de liberdade de se estar no céu tão alto. A umidade das nuvens.
Sua mente se encheu com distantes ecos de voos e alturas, ao deixar a pena voar até o chão. Estendendo o braço, desencilhou o garanhão e retirou a sela de seu lombo, com a facilidade de longa intimidade, depositando-a debaixo de uma árvore. Desatou a corda que prendia o cabresto de Trovão. O cavalo deu um breve relincho de protesto, quando ele o afastou de sua refeição.
– Oh, pssst! — murmurou o lindo homem.
Atirou a ponta das rédeas sobre a cernelha do animal. Em seguida, segurando-se a punhados da crina farta, içou-se com facilidade para o dorso do animal. Sorriu, afagando seu pescoço. – Agora, vejamos se você recorda tudo quanto aprendemos – sussurrou.
Comprimiu as pernas e ele avançou, trotando lentamente ao redor da fogueira. Então, começou a dançar. Em resposta aos meneios do peso do homem, à pressão das pernas em seus flancos, às ordens quase inaudíveis, o cavalo de combate movimentou-se segundo os belos e complexos padrões de adestramento feito por ele, através de noites intermináveis como aquela.
Enquanto circulavam pela clareira como uma só criatura, em perfeita comunhão, ele quase chegou a acreditar que estava de volta a seu lar em Colina, novamente um garoto. Se fechasse os olhos, podia ser aquele outro eu, cavalgando interminavelmente ao longo do brilhante e ensolarado vale do rio Chiaro, através das cores do dia...
– Pssst!
Ele abriu os olhos. Fez Trovão parar instintivamente, o coração batendo forte, perguntando-se se não estaria ficando louco. Não querendo acreditar que realmente ouvira outra voz humana sussurrando na noite. Vasculhou a escuridão à sua volta, sem nada enxergar.
– Pssst! Senhor! Aqui em cima!
Ele ergueu os olhos e pestanejou de espanto. Pendurado em um forte galho, logo acima de sua cabeça, estava o rapaz de feições doces que vira na noite anterior, amarrado, como valiosa peça de caça. Tinha as mãos atadas às costas e a longa corda que o mantinha suspenso passava por sua garganta, impedindo-lhe qualquer movimento. Ele parecia bastante desconfortável, mas sorriu para Isaac, esforçando-se em mostrar despreocupação.
– Lembra-se de mim?
– O que faz aí em cima? – perguntou Isaac, incrédulo. Percebeu que talvez não era o que deveria ter dito, mas já esse isolamento de tudo não estava fazendo bem para sua cabeça.
– O que faço... Ah... Bem, creio que talvez devesse perguntar, sim, de fato. . . – Os olhos do rapaz fixaram-se além dela e era visível que pensava rapidamente. – Os guardas do Bispo! Uma dúzia deles! Tivemos uma luta terrível!
Isaac ergueu uma sobrancelha, duvidando. – Por que eles não o mataram?
– Por que eles não... Oh, sim, eu mesmo lhes pedi que fizessem isso! – Filipe assentiu e piscou.
– E? — insistiu o desconhecido.
– E? — replicou ele, apaticamente.
– O que eles disseram?
— Ora, quanto a isso... – Filipe olhou na direção do céu. – Bem, preferiram deixar a honra para o Bispo!
O shifter falcão baixou o rosto, a fim de ocultar o sorriso. Reconhecia o trabalho manual de Elazar; ele devia ter amarrado o rapaz ali no alto, deixando-o indefeso, mas sem que se machucasse. Contudo, era impossível saber que motivos o levaram a fazer aquilo. Já fazia dias que não trocavam recados escritos. E, afinal, como se explicava a presença do rapaz naquele lugar?
Imaginou que o rapaz era apenas o filho de algum camponês. No entanto, ele expressava-se muito bem... como também era bom mentiroso... para ser um mero rapazinho camponês. Estaria perseguindo Elazar? Voltou a olhar para ele, indeciso.
– Por favor, senhor! — exclamou o rapaz, em tom patético. – Uma coruja gigantesca examinou-me cautelosamente, não faz um minuto...
Isaac o observou pensativamente, considerando as possibilidades e alternativas. Não... Não podia passar a noite inteira com aquele pobre coitado oscilando de uma árvore, sobre sua cabeça. Ele parecia totalmente inofensivo. De repente, o vento trouxe o cheiro do humano. Suas pupilas aumentaram escurecendo o verde de sua íris. A compreensão de quem era esse menino ali pendurado se tornou insuportável.
Pegou sua adaga. Seu companheiro... Isaac queria sentir o calor e o sabor dele. A dúvida, depois a gratidão, inundou os olhos do rapaz, quando ele ergueu o braço e libertou suas mãos. Deslizando do lombo de Trovão, Isaac cortou a corda que o amarrava à árvore.
O rapaz desemaranhou-se da corda e caiu ao chão ao lado dele, sacudindo as mãos entorpecidas.
Um lobo uivou em algum lugar, na escuridão. Isaac olhou na direção do som, o coração comprimido por súbito pesar. O lobo tornou a uivar e o shifter se virou para o rapaz, para tranquiliza-lo.
– Escute, não há nada a...
Interrompeu-se, porque a clareira estava vazia. O rapaz desapareceu. Isaac fez uma careta de desalento, crispando os punhos. Tinha esquecido, mais do que imaginava, como se portavam os seres humanos...
Elazar ficaria furioso. De repente, ele sentiu vontade de ouvir a voz do seu lobo, mesmo que alteada pela raiva, mesmo que gritando com ele... Era uma ânsia tão profunda e sem esperanças, como sua ânsia pelo sol. Meneou a cabeça e, resignado, ficou de frente para a floresta, ouvindo, esperando.
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