Capítulo 1 - Valperga
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Olá meus lindxs,
Espero que gostem da história. Na mídia o grupo Sowulo com a música: Ginnugagap. vou montar uma play list no Spotfy.
Bjokas.
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Capítulo 1 – Valperga
Vestindo um terno impecável, nas primeiras horas da manhã, ele olhava através da parede de vidro que ia do chão ao teto. Observava a consequência de um mundo onde uma não existência sua respirava. O Hotel Cassino Night Howling. Bellini, o grande empresário, próspero e rico olhava tristemente as pessoas recolhendo-se depois de uma noite de diversão, flertes, perdas e ganhos. Um mundo que ele não conhecia.
A cidade flutuante de Valperga era um dos distritos de diversão. Um dos poucos permitidos no atual governo teocrático europeu. Sim. Quem diria que a Europa se unificaria sob uma bandeira religiosa. Mas, depois da revolução de 2640 a tecnologia cobrando seu preço no solo terrestre, as cidades flutuantes foram uma solução bem-vinda. Era isso ou viver no solo contaminado pela radiação das armas de guerra usadas inconsequentemente. Só os muito pobres e os exiliados viviam no chão.
E essa tecnologia salvadora estava nas mãos dos líderes da Igreja Redentorista Unitária. E só quem "voluntariamente" se converteu foi convidado a viver nas cidades flutuantes. Um grande senso foi feito e a população sobrevivente da IV Grande Guerra Mundial foi distribuída nas várias cidades existentes. Cada país tinha um número limitado de cidades e elas se dividiam em distritos: diversão, religioso, prisional, residencial, comercial.
As cidades residenciais, prisionais e religiosas eram fixas em um lugar quase que cem por cento do tempo. E as cidades de diversão e comercial tinham permissão para navegar dentro de um calendário rígido. Quando as cidades caminhantes chegavam em uma cidade fixa uma ponte era estendida ligando os dois distritos e assim os moradores usufruíam por alguns dias de compras ou diversões. As rotas eram divulgadas em um sistema integrado e as pessoas podiam viajar de uma cidade fixa para outra nesses distritos caminhantes.
A população shifter foi a quem mais sofreu durante os conflitos do pós-guerra. Soldados estimados por sua resistência, capacidade de cura e vida longa. Essas características num mundo onde poucos humanos sobreviveram geraram medo e como uma reação o poder em ascensão implantou um chip nos shifters para controle e, claro, mais da metade dos paranormais existentes foram exterminados, acusados de traição. Sem seus líderes e alfas os clãs firmaram tratados degradantes. E o que restou de uma gente orgulhosa, integrada com a natureza foram escravos, miseráveis que vagavam pelo chão ou guardas pessoais dos governantes-sacerdotes.
Bellini deu as costas para o sol que infiltrava pelas grandes janelas. Ele sentia falta do céu estrelado e da lua majestosa, principalmente da cheia. Seus olhos derramavam uma angústia muda, onde as lágrimas já tinham secado há uma década enquanto olhava o grande falcão com a cabeça coberta, dormindo em seu poleiro perto de sua mesa. Era um escritório luxuoso e o animal emplumado dava um toque excêntrico na decoração sofisticada.
Belllini sentou diante de sua mesa e ligou seu sistema interligado acessando o mapa de navegação da cidade. A próxima parada será a cidade flutuante de Tanzi. Ela ficava bem perto... perto demais. Seus olhos vagaram pelo tampo escuro até notar um envelope branco com a caligrafia inesquecível. Abriu de qualquer jeito e leu o bilhete: "Estamos indo para casa?" Elazar levou o pequeno pedaço de papel até o rosto e respirou fundo, sugando o perfume, o cheiro da saudade.
Elazar Bellini abriu o mapa do chão ao lado do mapa de navegação da cidade de Valperga. A silhueta da bota apareceu. Por dois milênios e meio aquele solo foi conhecido como Itália. Agora era a região sobre jurisdição da cidade-Estado de Moldovan e seu governante-sacerdote o Bispo de Moldovan. A cidade-Estado era responsável por duas cidades cassino, três cidades comerciais, uma cidade prisão e inúmeras cidades residenciais e pequenas cidades religiosas.
Somente em duas ocasiões a cidade-prisão de Aosta caminhava em direção a Moldovan. Em duas datas onde as execuções eram feitas em praça pública e assistidas pelo Bispo em pessoa. No meio do Outono e no meio da Primavera. As antigas datas em que os shifters e humanos pagãos comemoravam Samhain (o dia dos ancestrais) e Beltane (o dia da fertilidade). Filhos da puta. A demonização de dias sagrados do povo subjugado sempre foi uma prática comum desde tempos antigos. Mas, esse conhecimento não fez com que Bellini se sentisse melhor.
Mais duas semanas e seria Samhain. Ele poderia ter sua vingança. Ele esticou o braço tirando o capuz do falcão. Os olhos do animal não tinham mais a inteligência de outrora. Aquele brilho de consciência que diferenciava um shifter de um animal comum. Depois de dez anos ele era um selvagem. Mesmo assim, a ave passou do poleiro para a mão de seu "dono" com delicadeza. Fitas de identificação pendiam presas às pernas. A maciez das penas tocava os dedos de Elazar Bellini enquanto acariciava o peito do animal. Seu transe foi quebrado quando a porta do escritório abriu de maneira brusca dando passagem para a pequena figura do prefeito. Sua secretária atrás com uma cara de desespero e de desculpas.
– Desculpe, Sr. Smith. O prefeito não esperou que eu o anunciasse. – A mulher magra e elegantemente vestida num tailleur azul marinho que realçava seus cabelos loiros e olhos azuis-bebê. – Os documentos que pediu para essa reunião. – Ela deixou alguns papeis na mesa.
Elazar Bellini atendia por John Smith. Mantendo sua identidade verdadeira na sombra. Poucos sabiam seu nome ou sua natureza shifter lobo. – Tudo bem, Greta. Obrigado.
Enquanto a porta era fechada o prefeito de Valperga, Iakos Tetzel, se jogava no sofá de couro e abria os braços no encosto. – Percebeu que já li e assinei seu contrato de venda do Hotel Cassino Night Howling. – Apesar de menor que Bellini o homem tinha o tamanho de seu orgulho. Já que Bellini tinha seus um metro e noventa, pele morena e olhos castanhos que cintilavam em dourado quando seu lobo aprisionado conseguia vir até a superfície de sua personalidade humana.
– Nem adiante brilhar esses olhos amaldiçoados para cima de mim, Bellini. – Sim, esse humano inconveniente sabia de sua condição não humana. Mostrou-se um bom amigo e queria recompensa-lo depois de dez anos de lealdade.
– Minha única condição é sempre ter um quarto reservado para mim. Com uma jaula de ferro fundido. – Elazar não teve tempo para continuar. Iakos levantou a mão.
– Nem quero saber de suas perversões. Sou um redentorista praticante. Só não sou fanático e acredito que o dinheiro não tem religião, ou cor, ou orientação sexual. – Sim... o prefeito era um comerciante. Apesar de agora exercitar o poder. – Está tudo certinho na papelada. Pode verificar. A suíte que ocupa hoje com o senhor Jeremy Smithson continuará a mesma. Permanecerá trancada, sem limpeza ou entrada de pessoas não autorizadas por você, ou pelo senhor Smithson ou por mim.
Bellini passou os olhos nas clausulas balançando a cabeça em concordância. Puxou uma caneta do porta-treco e assinou ao lado da caligrafia torta do prefeito. Greta assinou como testemunha. Agora era só lavrar no cartório e teria validade legal. Ele e seu sócio passavam a propriedade do hotel para as mãos do prefeito. Já que era seu último mandato e assim assegurava um aliado valioso se seu plano desse certo.
– Bellini, meu amigo. Ele sabe do seu plano? – O olhar do prefeito passou rapidamente pelo falcão. Ele já tinha sido atacado pela ave ao chegar perto demais do empresário moreno.
– Não. E nem vai saber até a hora que ele for mandado de volta pra cá. – O outrora Alfa da Matilha Bellini levantou-se colocando o animal em seu lugar e cobrindo a cabeça com o capuz preto. – Cuide dele, Iakos. Eu só posso confiar em você a partir do momento em que descermos pro chão. – Suspirando, pois, respirar tornara-se doloroso ele virou para as grandes janelas. – O plano dando certo ou errado, ele deverá ser mandado de volta a Valperga.
Tetzel também se colocou em pé e postou-se ao lado do amigo realçando suas diferenças corporais. Um alto, forte e determinado. Outro baixinho, magro e agitado. – Ele vai me matar quando se der conta de que eu sabia desse plano idiota o tempo todo. Você sabe disso, certo?
Uma grande mão morena pousou no ombro do pequeno homem. – Ele vai. Mas, depois vai ficar grato por tudo o que fez por nós nesses anos de exilio. Aí ele chamara você de amigo.
– Você diz que ele era um bom estrategista de guerra. E ele consideraria esse seu plano uma bosta. – Iakos virou para o amigo que olhava para o horizonte. – Ele nunca gostou muito de mim. Mas, Portia pediu para convida-los para o almoço e jantar. Ela tinha esperança de que aceitassem o convite de serem padrinhos de nosso primeiro filho.
– Você nunca aprende, não é? Não entramos numa igreja há mais de dez anos. Ainda mais em uma Redentorista. – Elazar virou para sua mesa e seu olhar caiu no porta-retratos onde ele beijava outro homem. Os dois de terno. Era a primeira vez que usava roupas tão chiques. Aquele dia tinha sido o dia mais feliz de sua vida. – Isaac adorava crianças. Eu sei que ele adoraria ser padrinho de seu filho ou filha Iakos. E ele ama Portia como a uma irmã.
– Deve ser difícil ficar longe de quem se ama. Eu não consigo nem imaginar uma situação como essa.
– Nos escrevemos. Mandamos vídeos pelos dispositivos móveis.
– Sim. Falo da falta de contato físico. Carinho. Beijo. Sexo.
Outro suspiro. Outro nó na garganta. Naquele dia. Naquela festa. Ah... como ele queria ver a lua novamente. Luna, a Deusa adorada pelos lobos. Ele daria tudo para ver sua face pálida. Receber sua luz fria. E fazer o juramento do modo correto.
– Bem, vou para a prefeitura. Os negócios da municipalidade não vão se resolver sozinhos. Até mais tarde, meu amigo. Portia mandou dizer que fará seu prato favorito.
Bellini sorriu. – Diga a ela que estarei lá.
A porta se fechou e o lobo sentou e puxou um pedaço de papel. Escreveu um bilhete, colocou em um envelope e deixou embaixo do retrato. Imediatamente sua memória voltou para a festa daquela noite. Onde Isaac estava em seus braços. E o futuro parecia brilhante.
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