Capítulo 58: Espírito do tigre
Sofia
Vi o sol nascer, seus fracos raios iluminavam parcialmente meu corpo. Do alto de um penhasco, fechei os olhos, sentindo a forte ventania que tem no topo, fazendo com que, livremente, meus cabelos voassem soltos, estranhamente, eu nunca estive tão calma prestes a ter um contato com um espírito. Talvez fosse o costume, ou a promessa, que por ser último, posso finalmente viver minha vida. Embora soubesse que mesmo depois da missão minhas responsabilidades com os reinos e com a magia vão perpetuar até o resto dos meus dias, sinto que após concluir o que me foi confiado pelos deuses, serei feliz.
Meu corpo inteiro já se encontrava sob o sol quando eu abri meus olhos, olhei para baixo, podia ver o acampamento com muitas pessoas indo de um lado para o outro, Nataniel andava calmamente e, todo instante, alguém o parava para perguntar algo ou pedir orientação sobre o que fazer, ele respondia todos pacientemente.
Aris e seus amigos já estavam reunidos em volta da fogueira, que tinha se apagado na madrugada, eles comiam e conversavam. Sorri, ainda bem que eles estão juntos de novo.
Valentina escrevia debaixo de uma árvore, parecia tentar procurar as palavras, pois vez ou outra, levantava a cabeça e franzia a testa. Deve ser uma carta para alguém importante.
Daren conversava com os cavaleiros, cruzou os braços na altura do peito e encarava alguns dos homens que, por ser tão cedo, não estavam com as armaduras completas, seus rostos estavam livres. O mago parecia mais animado hoje, respirei fundo, era um alívio saber que ele estava bem.
Eram os últimos dias para a batalha final e pela primeira vez, parei para observar aqueles que estão do meu lado.
Hades veio correndo na minha direção, pousou ao meu lado e encostou sua cabeça levemente na minha mão. Eu ri, acariciei suas escamas enquanto o vi fechar os olhos.
— Está acabando, Hades, dá para acreditar nisso? Parece que foi ontem que eu te achei na floresta, me promete que vai ficar comigo para sempre?— Abaixei e abracei o que deu do rosto dele, sinto que ele ronrona. Acho que entendeu o que eu quis dizer.
Quando levantei o corpo novamente, senti que estava na hora do encontro com o último espírito para concluir meu treinamento. Olhei mais uma vez para baixo, era melhor avisar.
Flutuei até parar em cima de Hades e, com um simples comando, o dragão levantou voo e desceu, parando no meio do acampamento. Como se estivesse planejado, minha equipe se aproximou. Aris pediu licença aos amigos, Nataniel aos curandeiros, Valentina deixou a carta para depois e Daren se despediu formalmente dos cavaleiros.
— Equipe, eu vou com o Hades ter o contato com o espírito do tigre e volto em algumas horas.— Ainda estava sob meu dragão ao dizer, meus amigos se entreolharam.
— Não precisa que um de nós vá junto?— Perguntou Daren, neguei com a cabeça.
— Não é necessário, vocês sabem como é tranquilo. E devo ficar por algumas horas inconsciente, Hades vai estar ao meu lado, só fiquem no acampamento.— Expliquei, por incrível que pareça, eles entenderam.
— Boa sorte, Sofia.— Aris acenou, retribui com um sorriso.
— Obrigada, Aris.— Respondo. Ele se vai novamente.
— Toma cuidado.— Val se aproximou e segurou a minha mão, eu beijei sua cabeça.
— Vou tomar, não se preocupe.— Digo, ela assentiu e voltou para o que estava fazendo.
— Lembre-se que é o último espírito, pode ser mais complicado que os outros, respire e faça o seu melhor.— Daren também segurou a minha mão, eu sorri, e o abracei.
— Obrigada por todo seu apoio. Darei tudo de mim.— Sorri, ele também. E, lentamente, Daren me soltou do abraço e seguiu para perto dos cavaleiros.
Nataniel se aproximou com as mãos para trás, senti que meu rosto ficou corado, não importa quantas vezes já vi ele se aproximando ou caminhando em minha direção, sempre parece a primeira vez.
Quando estava perto, ele segurou a minha mão delicadamente e a beijou enquanto me encarava.
— Nem posso dizer como estou orgulhoso da mulher que se tornou diante dos meus olhos. Cumpra o seu destino, amor, vou estar aqui te esperando.— Nate sorriu, eu quase caí de cima do Hades.
— Eu que estou orgulhosa de você. Fiz o que melhor que pude e, de certo, sabe o que fiz por você.— Segurei em seu rosto, ele ficou vermelho e sorriu timidamente. Nossos rostos se aproximaram e, lentamente, nos beijamos.
— Não demora muito.— Ele sussurrou.
— Não poderia ficar muito tempo longe de você.— Sussurrei de volta.
***
O Templo Macan ficava no meio de uma tensa floresta, quando Hades pousou, eu achei que tinha ficado de noite porque era bem escuro.
Caminhei cautelosamente, adentrando por as árvores, era tão silencioso que fiquei com medo.
— É melhor irmos logo, não é, amigo?— Perguntei a Hades, ele balançou a cabeça. Acho que concordou.
Seguimos até encontrar um grandioso monumento, parei e meu dragão fez o mesmo. A construção parecia uma pirâmide, entretanto, por ser dentro de uma floresta, era menor e tinha uma escada.
— Deve ser aqui, Hades.— Encarei meu dragão, ele sentou no chão, pelo visto ele também achava isso. — Me espera aqui, tá bom?— Passei levemente os dedos por seu rosto e o vejo fechar os olhos.
Comecei a subir a escada, degrau por degrau, enquanto subia, vez ou outra, olhava para Hades que continuava no mesmo lugar que o deixei. Sorri, ele é a coisa mais fofa do mundo.
Após alguns minutos subindo, finalmente encontrei a entrada. Havia muitas plantas sob a passagem, como se há muito tempo alguém não entrasse naquele lugar. Olhei mais uma vez para Hades antes de usar meus poderes fazendo a parede se abrir.
Por dentro não era diferente do que imaginei.
Tinha tanta poeira e plantas que iam do teto ao chão que ficava difícil atravessar, fui desviando do que atrapalhava meu caminho, tossi quando uma pedra caiu no chão e fez mais poeira subir.
Me deparei com dois corredores.
Acima de um deles estava escrito: apenas quem tem o sol dentro de si pode passar.
Parei. O que será que isso quer dizer?
Por alguns instantes, cruzei os braços e permaneci encarou o corredor. Bom, se eu sou marcada com uma profecia devo ter esse passe livre, certo? O que pode acontecer se eu for lá?
Dei de ombros e segui. Já fui muito longe para desistir agora.
O corredor, por sinal, era quente e úmido. Senti minha testa molhar com esse clima, engraçado porque Tier tem uma temperatura estável.
Estava ficando cada vez mais escuro, então precisei iluminar meu caminho com pequenos fragmentos cintilantes, que saíram de minhas mãos como faíscas. Sinceramente, achei que seria mais perto, já havia perdido a conta de quantos passos eu dei desde que comecei a andar por esse corredor.
Já estava cansada quando finalmente avistei a estátua da cabeça do tigre de diamante. De pedra em pedra, eu flutuei até chegar no altar de mármore. Ajoelhei perante a estátua, fechei meus olhos e respirei fundo.
No momento em que abri meus olhos novamente, estava diante de um deserto.
Andei por entre a areia fina, uma brisa fazia alguns grãos bater em meu rosto, apertei os olhos por alguns quase me cegaram.
Uma tempestade de areia começou a se formar, como um pequeno redemoinho, pensei em fugir, porém, algo me atraía para esse fenômeno da natureza. E, sem perceber, eu caminhava em sua direção.
Subitamente, o redemoinho parou, de dentro dele, um tigre gigante surgiu, conforme ele andava, seus pelos brilhavam, recebendo a luz do sol.
Fiquei parada, não sabia o que fazer. Quando ele parou, senti sua magia aflorar na minha pele.
—Você chegou...— sua voz era serena, calma. Sorri, achei que ele seria o mais assustador, porém, é o mais bonito. — Terminou o treinamento, Sofia.
— Eu nem acredito.— Confesso, deixei de sorrir, mas ainda sentia um alívio.
— Eu compreendo, criança, sua jornada não é fácil, mas todos nós vimos como não parou de lutar. Não desista agora.
— Não vou, desistir não é uma opção. Só sinto alívio, tristeza e um pouco de felicidade.— Ri fraco, segurei meu braço. Acho que era nervoso.
—Você está quase lá. Mas preciso que seja sincera sobre si mesma agora...— ele dizia, eu assenti. — Acha que a magia é destruição?
Essa pergunta me pegou de surpresa. Embora eu amasse as coisas incríveis que posso fazer, uma parte minha achava que a magia pode ser perigosa, e não apenas para que aqueles que a possuem, mas para todos que existem.
— Já que pediu para que eu fosse sincera, devo admitir que, na minha opinião, a magia é destrutiva, perigosa e até mesmo, ruim.— Dei de ombros, ele assentiu.
— Não lhe tiro a razão para pensar isso, mas se me permite, posso lhe mostrar o real significado da magia. O que ela realmente é.
Parei por alguns instantes, creio que seja essencial para mim aprender sobre o real significado da magia, já que sou eu quem irá restaurá-la.
— Por favor, me mostre.
O espírito do tigre ergueu sua pata e a pressionou sob meu peito. Ao redor de seu toque, senti calor. Não aqueles que queimam, esse aquecia. Uma onda de luzes coloridas rodeou meu corpo, enquanto eu as olhava dançando sobre mim, o calor se espalhou, era tudo tão vivo. Eu me sentia viva, sinto meu coração pulsando, ouço ele pulsando dentro de mim. Cada fibra do meu ser reagia ao ser exposto a magia, eu sou a magia. Meu coração e minha alma são a magia. As lágrimas que derramei eram repletas de emoção, eu vi a energia, vi o mundo... vi a vida.
— A magia é como o sol brilhando dentro de você. É vida, não morte. A magia pulsa intensamente no seu coração, Sofia. Vocês são uma só.— Aos poucos, ele abaixa a pata, ainda extasiada, concordei com a cabeça. Eu nunca senti tanto assim, em todas ás vezes que tive contato, jamais tinha sido tão intenso. Podia sentir a magia vibrando dentro do meu ser, na minha alma e no meu espírito. Como se todas as peças que me ligam aos meus poderes finalmente colidissem e se conectassem umas com as outras, dando um sentido que eu jamais entendesse.
— Eu compreendo... vejo, sinto, agora eu sei.— Engoli em seco. — Obrigada por me mostrar.
— Cumpra o seu destino, criança.
O espírito do tigre se vai, seu corpo se misturou junto com a pequena tempestade de areia, diante dos meus olhos, desapareceu.
Ao voltar para o mundo físico, notei que já mais quente, levando em conta que eu cheguei de amanhã, o sol deve estar alto. Fiquei horas inconsciente. Me levantei do chão, meu corpo parecia mais forte, firme, olhei para meus pulsos, no direito estavam dois símbolos. O da águia e do urso. No esquerdo, o do lobo e do tigre. Por minhas veias, vi que levemente um brilho corria por entre elas. Sorri, agora eu vejo correndo dentro de mim.
Nós somos uma.
***
Enquanto encarava a fogueira do acampamento, Aris sentou ao meu lado no tronco caído. Eu sorri, ele também e, por alguns segundos, fiquei observando as chamas do fogo.
— Eu preciso te dizer uma coisa.— Ele finalmente falou, o encarei.
— O que foi?— Perguntei, o garoto olhou de um lado para o outro antes de começar a falar.
— Daren me disse que mesmo com tudo pronto, corremos o risco da escuridão não ir até onde precisamos que ela vá, embora seja provável que ela vá já que no grande dia, ela sairá da ilha e...— Aris começou a explicar de uma maneira atrapalhada, eu franzi a testa.
— Onde está querendo chegar?— Questionei, ele se aproximou um pouco mais.
— Eu sei de alguém que pode atrair ela, assim seria mais certo que conseguiríamos a prender, mas você não pode contar a ninguém quem vai será essa pessoa e precisa vim comigo depois que todo mundo se recolher.— Aris praticamente sussurrou, eu cruzei os braços. Isso era estranho.
— É algo tão ruim assim para você estar sussurrando?— Sussurrei de volta, ele assentiu.
— Sofia, é realmente algo sério e digamos que ele não é a pessoa favorita da equipe. Mas, preciso que venha comigo, só você pode recusar isso.— Aris explica seriamente, concordei com a cabeça.
— Meu amigo, estou no final da missão, aceito qualquer coisa para terminar isso logo, não vejo a hora de fazer o que tenho vontade quando terminar a missão!— Dei de ombros, Aris parecia confuso.
— E o que você vai fazer quando acabar com a missão?— Perguntou, eu ri.
— Falar com a minha família.— Voltei a encarar a fogueira, Aris não esperava por essa, porque ficou vermelho e continuou me olhando.
— Não sabia que essa era a sua motivação.
— Desde que descobri a verdade, é a única coisa que me importa.— Sorri, ele também.
— Então a gente se encontra mais tarde, e deixa isso só entre nós por enquanto.— O ruivo se levanta e vai embora. O que será ele está escondendo?
Algumas horas mais tarde, fiquei por alguns instantes tentando perceber se Nataniel estava realmente dormindo. Ele parecia tão em paz, me levantei lentamente, tentando não fazer barulho, ele nem se mexeu, ainda bem. Saí apressadamente da tenda e dou de cara com Aris.
— Eu ia ver se você estava vindo...— ele sussurrou, coloquei a mão sob o peito, ele me deu um susto.
— Esperei que o Nate entrasse em um sono profundo para vir, mas enfim, pra onde vamos?— Perguntei, Aris olhou de um lado para outro e começou a se afastar, saindo do acampamento. O segui.
— Olha, talvez você não entenda, e desculpa por não te contar antes...— Aris começou a falar, eu não estava entendendo nada. — Eu só queria proteger ele.
— Aris, de quem você está falando?— Questionei, ele adentrou a mata a nossa frente e parou próximo a uma árvore.
— Zagan. Ele está vivo, e está dentro de um espelho no Castelo.— ele diz, arregalei os olhos, e coloquei a mão sob a boca.
— Desculpa não ter te falado antes, mas quando eu soube que algo podia dar errado achei melhor usar todas as armas que nós temos.— Aris me encarou, eu fiquei imóvel. Não acredito que ele ainda está vivo.
— E como sabe disso?
— Eu falei com ele um pouco antes de entrar na equipe. Achei melhor deixar isso em segredo, mas agora é diferente. Ele precisa se redimir de alguma forma, talvez se nos ajudar...— Aris dizia, parecia confuso. Eu segurei seu ombro. Ser criado por monarcas não é nada fácil. Entendo o que ele sente.
— Está tudo bem. Vamos conversar com ele e dizer que ele faz parte disso tanto quanto nós! E se você pedir, acho que ele aceitaria.— Sorri, ele também.
— Só você para continuar otimista em uma hora dessas.— Ele deu de ombros. Eu ri.
— Só quero que dê tudo certo. — Avistamos Hades, mas era melhor não usar ele nessa missão.
— Me dá a mão, preciso que foque completamente no Castelo para que a gente consiga ir até lá, tá bom? — Perguntei, ele assentiu e segurou minhas mãos. — Feche os olhos.
Aris obedece, aos poucos, sinto nossos corpos perdendo a densidade, calmamente, o chão volta e abro os olhos. Aris já olhava em volta. Estávamos no Castelo e dentro de algum aposento.
— É a minha casa.— Ele sorriu, soltamos a mão e, lentamente, o garoto andou pelo cômodo rindo sozinho. Uma porta de abriu e, de lá, um homem alto e pálido surgiu.
— Lorde Aris?— Ele estava com uma vela nas mãos e de pijamas. Seu olhar parou sob mim e franziu as sobrancelhas. — Já terminou sua missão secreta no litoral?— Perguntou, Aris sorriu quando o viu. — E essa é sua namorada?— O ruivo e eu nos entreolhamos e começamos a rir.
— Belman!— Aris se aproximou e o abraçou. O homem parecia que nunca tinha recebido um abraço, pois não sabia o que fazer com suas braços. — Quanto tempo, você está ótimo. Como estão as coisas? Vejo que minha casa está no mesmo jeito que deixei. Obrigado.
— Por nada, mi lorde. Fiz meu trabalho, as coisas estão bem. E se me permite, sobre o que era a sua missão no litoral?— O homem ajeitou a postura, Aris respirou fundo.
— É sobre todos nós. Essa é Sofia de Vultor, a escolhida, somos aliados e eu faço parte de sua equipe. Ela nunca foi inimiga do reino.— Aris me apresenta, o homem se curva diante de mim.
— Alteza.— ele diz e se levantou. Eu retribui.
— Belman, ninguém pode saber que tivemos aqui, isso é muito importante.— Aris explica, Belman concorda com a cabeça. — Nós temos que ir até os aposentos do rei, onde está as minhas chaves?
— Vou pegar, senhor.— Belman se vai pelos corredores, Aris continuou olhando em volta, devia estar com muita saudade de casa. — Aqui está, mi lorde.— O homem voltou com muitas chaves presas em uma corrente. Aris as guarda no bolso.
— Muito obrigado, Belman. Quando eu voltar da missão, vamos conversar sobre um aumento de salário para você.— Aris sorriu, o homem embolsou um meio sorriso tímido.
— Não é necessário, senhor, mas eu agradeço.— Belman o fez reverência. Aris assentiu e nós saímos de seus aposentos rapidamente.
Damos de cara com um enorme corredor escuro, Aris fez uma de suas mãos acender em uma chama vermelha, que iluminou o caminho.
— Sente falta de casa, não é?— Perguntei, ele assentiu.
— Um pouco. Mas, eu sinto falta mesmo é de uma casa que eu morava com meu pai, é próxima do Castelo, amava morar lá.— Ele sorriu, eu assenti. — Mas e você? Sente falta de Vultor?
— Ás vezes sim. Crescer em Vultor não foi de todo ruim, lá existe uma montanha que sempre tem neve, eu amo aquela montanha, vivia fugindo para brincar na neve com Valentina. Ela sempre ganhava nas guerras de bola de leve..— Sorri, me lembrando das vezes em que passava horas com ela na montanha. Saudades de ser criança.
— Devia ser muito bom.— Ele sussurrou.
— Era.— Sussurrei de volta. Paramos em frente de uma grande porta. Aris pegou as chaves do bolso, desta vez, eu que iluminei nossa missão.
Rapidamente, a porta se destrancou quando Aris virou a chave, levemente, o ruivo foi abrindo a porta. Nós fomos entrando com cuidado no enorme quarto, senti um vento gelado quando meu corpo inteiro estava dentro do lugar.
— Onde está o espelho?— Sussurrei, ele apontou para o final do quarto, o espelho era quase da nossa altura. Me aproximei com cuidado, o frio aumentava a medida que eu avançava. Encarei o espelho, tinha algo de errado com ele. Era uma passagem para o mundo espiritual diferente de tudo o que eu já vi.
— Então, não vai entrar?— Perguntou o ruivo ao meu lado, assenti.
— Irei, mas não fazia ideia que tinha como trazer uma passagem para o mundo espiritual e prender em um objeto.— Lentamente, minha mão atravessou o reflexo, isso era estranho. Resolvi entrar de uma vez. Por dentro, havia uma versão ainda mais assustadora do quarto em que estávamos. Vejo Aris logo atrás e olhava em volta assim como eu. Vi uma silhueta masculina olhando uma janela, me aproximei dele. Era Zagan. Da última vez que o vi, me lembro que cravou uma espada feita de magia em meu peito, recuei dando um passo para trás. Esbarrei em Aris, que notando meu desconforto, e entrou na minha frente.
— Vossa majestade?— Questionou o ruivo, lentamente, Zagan se virou, encontrando nós dois o encarando. Ele parecia um corpo sem alma, porém, vi um pouco de luz em seus olhos. Eles não estavam vazios. Zagan demorou alguns segundos para ter uma reação. Deu um passo na nossa direção e parou novamente.
— Aris? O que faz aqui?— Perguntou, até sua voz estava diferente, mais calma. — Espera, Sofia?— ele me encarou, assenti, mas ainda estava atrás de Aris. — O que estão fazendo aqui?— Senti que não era arriscado me aproximar, então saí calmamente de trás do Aris.
— Nós viemos falar com você.— Aris sorriu, Zagan concorda com a cabeça, mas não se moveu.
— Zagan, eu estou a um passo de prender a escuridão...— Digo, ele me encarou. — Vocês dois, por anos, tiveram uma ligação e eu acredito que ainda tenham. Por isso, seria melhor que estivesse presente para que eu consiga a prender. Sei que...
— Não! Eu já fiz mal há muitas pessoas, não posso sair daqui.— ele se afastou. Aris deu alguns passos em sua direção.
— Fique calmo, majestade, isso é muito importante. Pode se redimir ajudando a aprisioná-la. Isso tudo vai acabar se sair daqui e fizer o que estamos pedindo. Por favor, venha conosco. Não precisa ser agora, depois eu voltarei aqui para buscá-lo, mas pensa que é por todas as pessoas que ainda estão vivas e vão pagar por erros de outras. Ainda existe algo que vale a pena, sempre tem.— Aris segurou os ombros de Zagan, que ouviu tudo atentamente, quando o ruivo terminou de falar, Zagan encarou o chão, pensativo. E me olhou novamente.
— Você vai dar um fim nisso, certo?— Perguntou, assenti. — Mesmo se eu passar a minha vida inteira tentando ajudar as pessoas, jamais pagaria pelos meus erros, e vocês vieram até aqui somente para falar comigo, não posso mais continuar fingindo que estou morto, preciso mostrar que estou vivo e nem que pra isso, eu deixaria de estar.— Zagan respirou profundamente após concluir seu raciocínio. Aris e eu nos entreolhamos. — Eu irei sair daqui, mas ficarei em outro lugar e não com vocês, se lembra da antiga casa de seu pai, Aris?— Questiona o garoto, ele concorda. — Vou ficar lá, quando estiver na hora, me levem ao lugar que farei de tudo para que ela fique presa novamente. Sofia, acredito que pode me tirar daqui, concluiu as virtudes, estou certo? Posso ver as marcas em seus braços.
Concordo com a cabeça. Ele é bem observador.
— Parabéns. Você tem tudo o que precisa para concluir a missão, não tenha medo de deixar seu poder sair, entendeu? Faz o que tiver que fazer, Sofia.— Continuou me encarando, assenti. E o fiz uma reverência.
— Farei tudo o que estiver em meu alcance, não se preocupe. Apenas preciso que esteja lá para atrair a escuridão.— Falo, ele concorda.
— Estarei. Lhe garanto.— Desta vez, Zagan se curva perante a mim. Nunca achei que veria isso, Aris e eu nos entreolhamos novamente, suspiramos aliviados.
O que pode dar errado?
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro