Capítulo 53: À procura de héstia
Aris
Assim que toquei na maçaneta da porta para sair do quarto pela manhã, vejo Sofia.
— Bom dia, mi lorde. — Ela sorri, toda animada.
— Bom dia, alteza. Qual o motivo de toda sua animação? — Passei por ela, seguindo o corredor. A vejo me seguir, muito empolgada, estou até estranhando essa felicidade toda.
— É que o dia está lindo. Ah, outra coisa, soube que você e Nataniel realizaram uma missão no litoral. — Sofia parou na minha frente, reviro os olhos, sei onde está querendo chegar.
— Ele te contou como eu arrasei com a serpente do mar? — Perguntei e cruzo os braços. Ela riu.
— Ah, é. Você me deixou impressionada, Aris. — Bateu palmas, eu ri. Não sei porque, mas ela parece diferente hoje. Mais bonita. Aris, para com essas ideias.
— Tá me ouvindo? — A vejo balançar a mão na frente do meu rosto.
— O que foi? — Desvio o olhar, indo para o pátio em passos apressados. Sofia me segue.
— Eu disse que vou te levar em um lugar, e nem adianta dizer que está ocupado, tem que vir comigo. — Sofia parou na minha frente novamente. Até mesmo tinha um olhar pretensioso, sabia que não teria como escapar.
— Acho que não tem outro jeito, não é? — Dei de ombros, ela sorriu, colocando a mão sob a boca, contendo uma risada. — Você tá me assustando.
— Para de ser pessimista, Aris. — Advertiu. — Vamos sair em uma hora. — A garota saiu pelos corredores, pisando apenas nos pisos escuros e desviando dos brancos. Neguei com a cabeça.
Era só o que me faltava.
O que essa garota tem? Deve ser problema, eles só me procuram para isso.
Uma hora depois, ela me esperava na entrada do mosteiro.
— Você ainda não me contou para onde estamos indo. — Falei, ajeitando a capa escura, estava começando a chover.
— Ah, mas é uma surpresa! —Sofia termina de arrumar seu cabelo, o colocando para trás. — Confia em mim. Agora me dá a mão. — Estendeu sua mão, eu a segurei um pouco tímido. Vejo que luzes cintilantes rodeiam nossos corpos, fechei os olhos, pois sabia que era mais uma das coisas peculiares que Sofia vive fazendo. — Pronto, pode abrir os olhos. — Me soltou.
Vi casas feitas de madeira, Sofia seguiu em direção a maior das casas, grandes árvores com folhas extensas faziam o lugar ter sombra. Subimos os degraus, Sofia tocou o sino, que ficava pendurado na porta. Eu não estava entendendo nada.
— Que lugar é esse? — Perguntei, olho para a Sofia, ela sorria.
— Eles cuidam de feridos afetados pela guerra. — Explicou. Uma senhora abriu a porta e sorriu quando nos vê. — Olá, voltei como havia prometido, e esse é Aris, quem lhe falei. — Me apresentou, segurando o meu braço, sorri.
— Olá, entrem. Eles estão esperando. — A senhora nos deu passagem e seguiu, adentrando a casa. Olhei para Sofia mais confuso que antes.
A garota nem se importou, apenas tirou os sapatos e entrou na casa. Fiz o mesmo.
O lugar tinha muitos curandeiros ajudando diversos feridos afetados pela guerra, mantive a cabeça baixa.
— Esse é o quarto deles. — A senhora parou e deixou Sofia e eu sozinhos na frente de uma porta transparente. Vi que duas pessoas estavam tentando se levantar do chão.
— De quem? Sofia, o que tá acontecendo? — Perguntei. Ela deu de ombros.
— Entra, eles estão ansiosos para ver você. — Me empurrou na direção do quarto. Algo me fez perceber finalmente o que estava acontecendo. — Vou esperar lá fora. — Segurei a porta e a empurrei. Por alguns instantes, senti uma emoção tão forte que quase não conseguia me mover. Ao terminar de abrir, eles estavam me encarando, eu ri de nervoso os vendo de pé. Vivos. Sinto lágrimas pesadas escorrendo pelo meu rosto, vejo que os dois também estão chorando.
— Aris, fala alguma coisa... — Kieram é o primeiro a se aproximar, encarei o chão.
— Você está bem? — Questionou Khalida, também se aproximando. Fui na direção deles, não dizia nada, não conseguia. Os abraço de uma vez, sinto que as lágrimas aumentam, não me importei em estar sendo tão fraco, tão vulnerável na frente deles.
— Eu achei... — tento, mas era difícil falar chorando. — Que vocês estavam mortos, eu fiquei tão mal, só pensava que tinha sido minha culpa. — Falo entre soluços, eles estão chorando também.
— Está tudo bem agora. — Ouço a voz de Khalida, sorri fraco.
— Isso, o trio está junto novamente. — Kieram completou, concordo com a cabeça.
Alguns minutos depois, quando paramos de chorar, eles me contaram que foram salvos por pescadores e levados para essas instalações. Do contrário, seus corpos teriam se perdido no litoral. Foi assustador pensar que isso poderia ter acontecido com eles.
— Quer dizer que você faz parte da equipe dela? Quem diria. — Kieram diz, impressionado. Assenti.
— E como foi? Decidiu que era melhor ser aliado dela? — Khalida riu, neguei com a cabeça.
— Na verdade, eu sou descente de um Deus e está no meu destino ajudar Sofia a trazer a antiga magia de volta. — Expliquem, eles me encaram, chocados. — E não se preocupem, eu fui achado por um mestre, ele me ajudou, depois encontrei Sofia. Mas eu não quero falar disso.
— Vamos falar disso sim! — Kieram sentou ao meu lado. — Já se beijaram? — Me cutucou.
— O que? — Franzi as sobrancelhas.
— Nós achamos que vocês... Ah, Aris, do nada ela aparece aqui procurando a gente, dizendo que está feliz por nos encontrar, que vocês são amigos agora! — Ele dá de ombros enquanto falava, olhei para Khalida, que concordava com a cabeça.
— Nós achamos que vocês estavam juntos. — Khalida sorri empolgada, apertando suas mãos.
— Não! Mas que ideia é essa? Sofia e eu somos só amigos, nem sentimos isso. — Me levanto, a janela do quarto era de frente para um jardim. Vi Sofia conversando com alguns dos curandeiros.
— Ah, desculpe. Mas é um pouco difícil não achar isso, sempre achei que você sentia alguma coisa. — Kieram fala, reviro os olhos.
— Eu também. Porém, vocês poderiam ficar juntos... — Khalida também se levanta, eu ri.
— Não podemos. Ela tem alguém. — Voltei ao meu lugar. É bom acabar com essa ideia deles de uma vez.
— Quem? O mago? — Perguntou Kieram. Neguei com a cabeça.
— O Nataniel. Eles estão juntos há meses pelo o que entendi. — Expliquei, eles se olham e depois me encaram.
— É compreensivo, ele é lindo. E muito atraente também. — Khalida disse, menos animada que antes. — Lembro que fiquei com dó de machucar ele quando os encontramos da primeira vez.
— Ah, verdade. E como eles te aceitaram na equipe? Nós fizemos coisas ruins para eles. — Questionou Kieram, se ajeitando em seu lugar.
— Até que foi fácil. Sofia mostrou que confiava muito em mim, aos poucos, todos começaram a confiar também. O último foi o Nataniel, realizamos uma missão no litoral. — Conto, vivi algumas pequenas aventuras nesses dias. A equipe deles é bem animada.
— Então você estava bem, tinha até feito amigos. Eu falei que ele estava bem! — Kieram bagunçou meus cabelos enquanto falava.
— Ah, ele sabe se virar, é um adulto agora. — Khalida piscou. Não acredito que senti saudades deles.
As horas com os dois passaram tão rápido que nem notei, Sofia abriu a porta para me chamar de tão distraído que fiquei.
— Desculpa atrapalhar vocês. Mas, Aris, a gente tem que voltar. — Ela sorriu, os dois idiotas começam a se olhar e depois rir. — Está tudo bem?
— Está! — Me levanto rápido antes que eles falem alguma coisa. — Tenho que ir, mas volto assim que puder, melhorem para que possam vir comigo. — Os abraço, eles retribuíram. Me afasto, indo para a porta. — Eu prometo que volto. O mais rápido possível.
— Vamos ficar esperando, Aris. — Khalida sorriu. — Bom te ver, Sofia. — Ela acenou, Sofia acenou de volta.
— É sempre bom ver a Sofia. — Kieram continuou. — Até mais, voltem com cuidado. — Sorriu. Céus, que constrangedor. Sofia riu.
— É sempre bom ver vocês. Vamos, Aris? — Perguntou, assenti. E deixamos o quarto.
Já estávamos do lado de fora quando eu consegui falar novamente.
— Não acredito que você encontrou eles. — Digo, ela sorriu, tímida. Caminhávamos, nos afastando das casas de madeira.
— Você estava muito mal por não saber deles, achei que podia ajudar. — Explicou, paramos sob a sombra de uma grande árvore.
— Eu nem sei o dizer. Obrigado. — Me aproximei, ela não recua, abraço seu corpo com tanto tímido, Sofia retribuiu.
— Por nada. Eles estão bem, agora sabe disso, não se preocupe. — Ela falava enquanto me abraçava.
— Obrigado, você tem a minha eterna gratidão. — Me afastei um pouco, seu rosto está muito próximo do meu. Sofia estava sorrindo gentilmente, por alguma razão, minha garganta ficou seca, meu coração acelerou. Tentei falar alguma coisa, mas nada saiu.
— Aris? O que você tem? Está ficando muito vermelho. — Sofia me encara, ainda me segurando. Eu me afasto antes que faço alguma besteira.
— Nada. Eu estou bem, só vamos voltar, por favor. — Voltei a andar o mais rápido possível, ela me segue.
— Por que você sempre faz isso? — Perguntou, parei de andar. Viro meu corpo, a encontrando de braços cruzados.
— O que? — Também cruzei os braços. Sinceramente, não sabia mais onde essa conversa iria chegar.
— Do nada você surta e saí correndo como se eu fosse umas das criaturas do submundo! — Explicou, e descruza os braços. Sofia estava séria, eu respiro fundo.
Faz tempo que eu tento lidar com sentimentos por ela. Eu não posso dizer, seria complicado. Mas, agora sinto que não tenho saída.
— Eu não sabia que fazia isso, desculpa. — Encaro o chão, isso era horrível. Tenho que sair dessa situação. — E não é você. Eu sou estranho, tá bom? Ainda não percebeu?
— Não, eu esqueço que você é estranho. — Sofia me encara, e volta a andar. — Por que você foge assim?
— É complicado, podemos falar sobre outra coisa? — Peço, ela se dá por vencida, e estende a mão para mim. A seguro, só queria sair dessa situação.
Quando nossos corpos já estavam perto do mosteiro, Sofia soltou a minha mão e começou a subir o monte. O silêncio estava constrangedor. Eu queria conversar, mas sabia que ela perguntaria o motivo de eu fugir dela, é melhor ficar assim. Porém, não podia deixar a situação como estava.
— Desculpe. — Segurei seu braço, mesmo resistente, a garota me encara. — Não quero que fique algo estranho entre a gente. Sinto muito, eu sou um tolo, você sabe disso. — Aos poucos, Sofia suaviza seu rosto, deixando transparecer alívio. Talvez não quisesse estar brigada comigo.
— Você não é tolo. — Ela diz, parece mais calma. — Eu não entendo porque quando estamos conversando você foge como se eu fosse te matar.
— Eu não quis que pensasse algo assim. Não fujo de você, tu é ótima. Tudo o que você faz também é ótimo. Mas, quando estamos próximos, eu sinto que é melhor ficar longe. — Lembro que ainda estou segurando seu braço, soltei e dei alguns passos para trás, recuando de toda a aproximação. Diferente do que eu pensava, Sofia se aproxima de mim.
— Você quer ser meu amigo, mas tem que fugir quando estou perto? Isso é estranho, e confuso. — Sentou em umas das grandes pedras, encarando a vista que tínhamos do monte.
— Se eu pudesse te contar e ter a certeza que não ficaria algo estranho entre gente, contaria agora mesmo. — Me sentei ao seu lado. Sofia vira o corpo na minha direção. Pensei em correr, mas não fiz isso. Respirei fundo e permaneci parado.
— Você está ficando vermelho de novo. — Ela diz apontando para o meu rosto. Coloquei a mão sob meus olhos, que vergonha. Ouço Sofia rir. — Tudo bem, não diga nada... — Ela segurou minhas mãos, as tirando dos meus olhos, levantei o rosto, ela sorria gentilmente. Mas, quando que não a vi sendo gentil? Tem momentos da vida que não importa o que temos que fazer, não tem escapatória. E foi isso que aconteceu.
Eu segurei seu rosto, ela não entendeu, mas o momento me deu uma coragem tão grande que só lembro de estar com meus lábios sob os lábios dela.
Sofia se afasta, assustada. Até mesmo levantou da pedra e começou a negar com a cabeça.
— Desculpa. — Tentei me aproximar, mas ela recusou que eu chegasse perto. — Sofia, eu sinto muito, eu...
— Para, por favor! — Diante dos meus olhos, ela desapareceu.
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