Capítulo 39: Olhos da noite
Nataniel
Dália, Daren, Valentina e eu voltávamos de uma festa no centro, todos nós estávamos alterados, mas não ao ponto de dar vexame, rimos de algo que eu não lembrava, observei eles, era bom ter momentos assim, sei que cheguei ao reino preocupado com o que poderia acontecer, porém, as coisas estão indo tão bem que as preocupações sumiram. Minha garota está cada vez mais forte, confio tanto nela que poderia fechar os olhos próximo de um penhasco, por falar nela, embora a convidamos para ir na festa, ela preferiu ficar com Hades, para que ele possa voar um pouco, é uma pena, queria que ela estivesse com a gente.
— Vocês nem beberam — falou minha irmã, ela foi quem mais bebeu, mas parecia a mais sóbria.— Achei que fossem passar mal, fracos.
— Você que é boca de litrão. — gargalhou Daren, ela colocou a mão no rosto.
— Verdade, irmã, você deixou os caras lá no chinelo — pronunciei, ela riu.
— Deixa ela em paz, vocês são dois chatos — reclamou Valentina, Daren passou por ela, fazendo seus cabelos bagunçarem e cair sob seu rosto. — Volta aqui, peste. — correu atrás dele, furiosa.
— Nem acredito que vou embora amanhã, e quando voltar, vocês já vão ter partido — ela disse, chateada. — Passou tão rápido, sabe, esses dias.
— É, o tempo passa rápido quando não queremos que ele passe — respondi.
— Quando terminar a missão, venha nos visitar, sempre vamos ser uma família e aqui é sua casa.
— Está parecendo o tio.
— Tenho que parecer, você só escute ele — sorriu. — Irmão, em Tier, procure por feiticeiros, eles podem ter respostas sobre o que acontece com você, lá vai ser mais fácil, tome cuidado e não se separa da equipe.
— Obrigado, e foi bom passar esse tempo com você, parecíamos crianças de novo.
— Parece que o tempo não passou — falou, concordei com a cabeça.
Enquanto via Daren e Valentina implicando um com outro na frente, senti que estávamos sendo observados, olhei para trás e Hades correu na minha direção, arregalei os olhos, se ele está sozinho, onde a Sofia está?
— Hades! — gritei, colocando a mão sob a cabeça dele. — O que... — os dois que estavam na frente também se aproximaram, tensos.
— Merda, tô sentindo que a Sofia está com problemas — Valentina disse. — Ela não deixaria o Hades sozinho.
— Tudo bem, nós vamos procurá-la — pronunciou o mago. — Hades, nos leve para o lugar que a viu pela última vez. — o dragão virou-se, indo na direção contrária na qual estávamos, o seguimos, cruzamos a cidade e paramos um pouco antes de adentrar a floresta, Hades sentou no chão, mostrando que esse era o lugar.
— Vou ver por onde ela foi — Dália colocou a mão no solo e lentamente, surgiram pegadas. — Ela entrou na floresta, não faz muito tempo.
— Espero que ela esteja bem. — sussurrei, sendo o primeiro a correr para dentro da floresta, os outros me seguiram, eu rezava para que ela estive apenas tendo algum contato com os espíritos, essas loucuras que ela faz todo dia, corremos mais um pouco, até que ouvimos um barulho por entre as árvores, do lado esquerdo, um ser feito de fumaça preta nos atacou, derrubando todos nós no chão, ele parecia um cachorro, mas tinha chifres, ele rosnou, impedindo nossa passagem. Valentina e Daren entraram na minha frente, suas mãos brilharem e os dois começaram a lançar seus poderes em forma de esferas na direção do cachorro, ele fugia, pulando pelas árvores.
— Continuem o caminho! — a loira gritou, fazendo o cachorro se afastar. Continuamos correndo pela floresta, assim, o que pareciam pássaros também feito de fumaça, avançaram contra nós, desviei, deslizando pelo chão. Vi minha irmã lidar com eles, os explodindo um por um, sabia que teria que me preocupar, então continuei o caminho, adentrando a floresta, os galhos ficaram cada vez maiores, impedindo que eu corresse.
"Cedric"
Parei, essa voz de novo, a mesma que ouvi no templo Arend, virei-me, acreditando que poderia trás de mim. Entretanto, não havia ninguém, ótimo, a loucura de Sofia deve ter me afetado. Neguei a cabeça, ignorando essa voz e continuei, porém, na minha frente, surgiu a silhueta de um homem, ele era alto, quase o dobro do meu tamanho, tão parrudo que parecia aqueles antigos lutadores da coroa, franzi a testa, ele é um espírito? Seus olhos queimavam em chamas vermelhas e areia preta caía de seu corpo. Dei um passo para trás, ele me seguiu, também dando um passo para frente. Droga...
Sem que eu percebesse, ele juntou suas mãos, as erguendo e tentando me acertar, desviei por pouco, em seguida, o tal espírito tentou me acertar novamente, abaixei, e três árvores foram quebradas com a força de seu braço.
"Preciso cumprir as ordens dele, preciso acabar com você." A voz agonizante dele me fez engolir em seco, era estranho, mas quando ele falou, tive um déjà vu, como se tivesse revivendo esse momento, nisso, da direção na qual eu estava, uma rajada de luzes azuis atravessou o ser, olhei para trás e vi Daren, ele correu até mim.
— Nataniel! — ele abaixou, tentando me segurar. — Você está bem?
— Acho que sim...— sussurrei. — Tem algo errado, acho que estamos presos nessa floresta.
— Sim, tem razão, fomos atraídos para esse labirinto — damos as mãos e ele me ajudou a levantar. — Querem nos afastar da Sofia.
— Pelos céus, temos que encontrá-la, e se...
— Não pensa besteira, vamos dar um jeito, precisamos... — ele foi interrompido por Valentina e Dália, correndo na nossa direção.
— Nataniel — minha irmã me abraçou, assustada. — Eu vi que estava com problemas, o que era aquilo? Ainda bem que Daren chegou para te ajudar...
— Eu estou bem, irmã, temos que ficar juntos, seja lá o que está nos prendendo aqui, quer nos separar. — segurei sua mão, ela assentiu, deve ter entendido a gravidade do problema.
— Dália, você consegue rastrear a Sofia de novo? Se estamos em uma prisão espiritual, apenas ela pode nos tirar daqui. — pronunciou Valentina, minha irmã concordou com a cabeça, ela colocou a mão no chão e, lentamente, algumas marcadas começaram a surgir, desta vez, não eram pegadas.
— Não podemos nos separar, mesmo que tenham ameaças, precisamos continuar juntos — avisou o mago, concordamos. Apressamos o passo, seguindo as marcas pelo chão, entretanto, uma nuvem de insetos nos atacaram, Daren ergueu os braços, fazendo luzes azuis acertarem eles enquanto corríamos pela floresta, o mago lançou algumas esferas antes de correr também, nos deparamos com uma ribanceira, nos entreolhamos.
— O rastro acaba aqui — Dália colocou a mão no solo, mas desta vez, não conseguiu ver nada. — Não sinto mais ela.
— Eu sabia que devia ter ficado com ela! Será que ela está bem? SERÁ QUE ELA MORREU? — Valentina começou a andar de um lado para o outro, desesperada. Daren segurou seus ombros, tentando acalmá-la, em vão.
— VOCÊ ACHA QUE ELA IA MORRER ASSIM? PENSA DIREITO!
— Gente, vamos ter nos separar — falei, eles me olharam. — Dália e eu vamos descer o rio lá embaixo e vocês atravessam ele, seguindo reto, se ela aparecer, vai dar um jeito, estamos falando da Sofia, confiem nela.
— Tudo bem, nós vamos nos ver de novo, sei disso. — Valentina, a mais desesperada, respirou fundo e segurou o braço de Daren, o puxando para descer a ribanceira, segurei a mão da minha irmã e descemos, começando a descer o rio.
— Você conseguiu fazer eles se acalmarem...
— Os dois estavam nervosos, quando alguém surta, precisa que outra pessoa diga que tudo vai dar certo, aprendi isso com eles. — expliquei, poderia fingir que não, mas estava surtando, talvez mais que eles. Ela me olhou por alguns instantes, depois voltou para o caminho, ficamos em silêncio, porém, senti a terra tremer, nos entreolhamos e cada um caiu para um lado, eu fui direto para o rio, ela caiu no chão, nisso, um bicho que parecia uma cobra cega saiu de dentro do chão, ela berrou, fazendo as coisas continuarem a tremer, tentei nadar de volta, mas a correnteza me puxava para abaixo, vi a tal cobra cega enfiar a cabeça na terra novamente, Dália colocou as mãos no chão, ouço um grito, era o ser que nos atacou, provavelmente, minha irmã o feriu em seu esconderijo subterrâneo.
— Nataniel, cuidado! — gritou Dália, olhei para trás e a correnteza me envolveu em um redemoinho, continuei nadando até alcançar uma rocha, segurei em alguns galhos enquanto ganhava impulso para subir na rocha, consegui e pulei dela para terra, Dália correu para me encontrar.
— Obrigada, irmã — tossi, ela negou com a cabeça.
— Você se machucou?
— Não, estou bem, vem — segurei sua mão novamente, correndo pelo caminho do rio novamente, mas antes que pudéssemos respirar, vi aquele parrudo, o que falou comigo, desta vez, ele tinha uma espada verde em mãos, merda!
"Você não vai escapar, Cedric."
De uma vez, ele avançou com aquela espada flamejante em nossa direção, empurrei Dália para lado, sentindo a lâmina entrar no meu peito. Como já esperava, não tive reações, era magia corrompida, coloquei a mão sob a espada, e a virei, jogando-a no rosto dele, nisso, corri, segurando a mão da minha irmã e fugindo dele.
— COMO VOCÊ FEZ AQUILO?
— É aquele lance que eu te falei, sou imune contra essas criaturas, ainda não sei explicar.
— Céus... — ela colocou a mão na testa, pasma.
— Relaxa, irmã — ri, ela me olhou.
— Espero que descubra o que é isso, porque não sei se quero você entrando na frente de bichos assim!
— Vou descobrir — falei, não queria ter feito isso na frente dela, mas infelizmente, ela teve que ver essa cena. Continuamos correndo, até que um bando de macacos também feitos de fumaça preta nos cercou, paramos, Dália lançou seus poderes neles, em explosões, eles recuaram, porém, mais um tremor acometeu, fazendo com que caíssemos, nisso, a terra debaixo de nós abriu, engolindo minha irmã.
— Dália! — gritei, tentando alcançá-la, mas a terra fechou, levando a minha irmã. Droga, droga, droga! Olhei para os lados, então uma figura surgiu, caminhando lentamente na minha direção, um homem, desta vez, não era um ser feito de fumaça como os outros, parecia ser humano. — É você quem está fazendo isso? — perguntei, por alguma razão, sentia que esse desgraçado estava por trás disso. — Cadê eles? Você os pegou? Se foi você, considere-se morto! — berrei.
— Você cria uma barreira em volta dela... — ele respondeu. Franzi a testa, confuso. — Você impedi que nossos planos sejam executados. — a voz dele parecia acompanhada de outra pessoa, como se ele estivesse possuído, era só o que faltava.
— Vê se me erra, nojento! Cadê eles? Se machucar eles, eu vou matar você!
Nisso, a terra começou a tremer novamente, tentei me segurar, mas acabei caindo, fumaça começou a cobrir minha visão, me levantei às pressas, correndo da fumaça, entretanto, senti um soco na cara, quase caí de novo, coloquei a mão no rosto, porém, um chute na perna me fez cair com as mãos no chão, recebi outro chute, desta vez, meu corpo estava completamente na terra. Esperei que aquele desgraçado se aproximasse novamente, então segurei sua perna, o derrubando no chão também, desviei de suas tentativas de alcançar meus braços, subi em cima dele, socando seu rosto diversas vezes, depois me levantei, o segurando pelo pescoço, o arrastando pelo chão.
— Onde eles estão? Me responde! — gritei, prendendo ele em uma árvore, vi que ele usava uma máscara, tentei tirá-la, ele percebeu, e chutou minha barriga, depois me empurrou, conseguindo escapar.
— Eu não vou dizer nada para você — berrou, as vozes pareciam se misturar, parecia um homem e uma mulher falando juntos. — Você só atrapalha!
— Nataniel? — ouvi alguém me chamar, olhei de relance, era Valentina, ela veio correndo, e parou ao meu lado. — Eu me perdi do Daren...
— Tudo bem, esse puto aqui sabe onde eles estão — contei, assim ela o prendeu na árvore, usando seus poderes como correntes nos braços e pernas dele.
— Fala logo antes que quebre seus ossos! — ela esbravejou, irritada, pior que eu sei que ela faria isso e muito mais.
— Os outros devem estar mortos, mas acredito que vocês deviam estar preocupados com a Sofia, ou acham que ela sumiria atoa? — gargalhou. Valentina e eu trocamos olhares. Novamente, criaturas de fumaça surgiram, impedindo que pudéssemos ver, nisso, o desgraçado conseguiu uma brecha, soltando-se das correntes.
— Vai atrás dele, não podemos deixar ele fugir — a loira gritou, assenti, seguindo o nojento por entre árvores, céus, espero que ele esteja falando da boca pra fora, continuei correndo atrás dele, vi que Valentina deu um fim nas criaturas e conseguiu me acompanhar. Percebi que o desgraçado entrou em uma caverna, parei, ela também.
— Pode ser uma emboscada —falei, ela concorda com a cabeça. — Mas não temos outra pista.
— Nós vamos entrar — ela afirmou, depois suas mãos brilharam, vi que as luzes formaram uma espada azul e cinza, me entregou. — Desculpe não poder fazer uma melhor, ainda estou aprendendo, use-a com cuidado, não pode ir sem uma arma.
— Obrigado, Orcus. — sorri, ela também.
— Enfia na cara dele! — mandou, gargalhei.
Nós dois corremos até a entrada, aparentemente, estava vazia, entramos e não vimos ninguém, demos mais um passo, então caímos, a queda parecia não ter fim e gritávamos desesperados, finalmente vi o fundo, parecia um lago. Fomos de uma vez para a água. Alcançamos a superfície quase sem ar, tossimos e seguramos um no outro, não era um lago como eu pensei, devia ter um rio subterrâneo.
— Você está bem? — Perguntou, eu assenti.
— E você se machucou? — questionei, ela negou com a cabeça. Saímos da água e olhamos em volta, havia algumas tochas, iluminando o lugar, pedras e rochas estavam reviradas e quebradas, parecia um lugar feito há pouco tempo.
— Mas que merda — reclamou ela. — Espero que eles estejam aqui.
— Também espero...
Começamos a andar pelo único caminho que havia naquele lugar estranho, conforme avançávamos, o breu tomou conta, Valentina iluminou o caminho, espalhando pequenos fragmentos de luzes pelo chão.
— Eu sabia que estava tudo muito calmo — comentou.
— Deixamos a guarda abaixar, foi isso — falei, ela concorda. Então, do fim desse túnel, ouvimos um grito, nos entreolhamos e corremos para aquela direção, quando finalmente chegamos no final, Sofia estava presa no teto, enrolada por correntes, seus olhos estavam fechados, em volta, Daren estava preso na parede, também enrolado por correntes e do outro lado estava minha irmã presa por correntes no chão.
— Agora vai começar o espetáculo! — aquele desgraçado gritou, mas eu não consegui vê-lo, ótimo, como vamos tirá-los daqui???
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