Capítulo 36: Sonhos realistas
Sofia
Acordei me sentindo leve, em paz. Estava próxima de uma caverna. Algumas folhas no meu rosto, passei a mão, tirando elas e acabei me levantando.
Olhei em volta, mas não havia ninguém, e não parecia nada com Lup. Comecei a andar pelo local até que ouvi a voz de alguém dentro da caverna, meu corpo inteiro arrepiou, pois essa voz era conhecida, porém, por alguma razão, eu não a ouvia mais. Quando tentei me aproximar, duas crianças saíram de dentro da caverna, um menino e uma menina. O menino era mais alto, moreno e cabelos escuros, já a menina era ruiva, mais baixa, porém, encorpada. Os dois não me viram, o que foi no mínimo estranho, já que eu estava praticamente na frente deles.
Os dois estavam com alguns pedras roxas em suas mãos. Resolvi segui-los e encontrei um casal deitado na grama, havia um menininho bem menor que as outras crianças, ele era mais moreno que o outro, parecia ter no máximo três anos. Já que não me viam, pensei em me aproximar um pouco. Segui com cautela, as crianças corriam até eles, deixando as pedras roxas de lado, a menina segurou na mão do caçula, ele sorriu e caminhou, chegando perto do mais velho, os três deram as mãos e brincaram de ciranda. Sorri, era uma família muito bonita.
Até mesmo os adultos não me viram, olhei para o casal, a mulher era linda, por alguma razão, me lembrei da rainha Kali. Mas quando olhei o homem de perto pude identificar, era Aron. Estava mais novo, feições coradas e abraçado com sua mulher, os dois se olhavam com ternura, sorri ainda mais. Sua vida foi feliz depois que venceu a escuridão, espero viver em paz também.
Senti que precisava me aproximar mais e, por fim, estava ao lado deles.
Em um momento, as duas crianças mais velhas pularam em Aron, o fazendo cair no chão, ele riu e tentava segurar os dois, eu ri na hora que ele pegou o mais velho, colocando embaixo do braço e a menina em seus ombros. A mulher segurou o menor em seu colo, ele grudou no pescoço dela, ela o abraçou apertado e se aproximou de Aron, os dois se beijaram.
— Que lindo — falei em voz alta, mas me calei no mesmo instante. Aron deve ter escutado, pois se virou, mas não podia me ver, então logo desistiu.
— Querido, tenho que te contar algo... — a mulher diz, as crianças já estavam brincando um pouco mais longe. Ele a puxa para deitar em seu peito.
— O que houve? — Aron pergunta. Ela sorri.
— Devemos mudar para o andar superior quando voltarmos para o castelo.
— Achei que gostasse do segundo andar, não é o mais bonito?
— Sim, mas vamos precisar de mais espaço — ela riu, ele franziu as sobrancelhas.
— Espera... — eles se sentaram. — Nós...
— Vamos ter outro filho — ela diz rindo, ele também começou a rir. Eles seguraram nas mãos um do outro e se levantaram.
— Vamos ter outro filho, meu amor, eu estou tão feliz, eu... — Aron começou a chorar, sua mulher o abraçou.
— Sim, meu amor, eu nem me aguento de tanta felicidade. Eu amo você e a nossa família é a única coisa que importa — ela segurou no rosto dele e ele em sua cintura, de uma vez, eles se beijaram.
— Tenho você e nossos filhos, o que mais poderia me fazer feliz? Já tenho tudo. Eu te amo, Kya, meu coração é seu até o fim dos tempos. — ela chorou e eles se abraçaram. Devo admitir que também estava emocionada. É um dos melhores sonhos que já tive.
Aos poucos, a visão deles nesse lugar sumiu. Antes que eu percebesse, o cenário era outro, olhei para o céu que estava nublado, bem diferente do céu azul em que tinha acabado de ver. Olhei para frente e encontrei várias pessoas vestindo preto da cabeça aos pés.
Caminhei para perto deles e vi Aron, ele estava abatido, parecia que não dormia há dias, seus olhos vermelhos, como se tivesse chorado muito. Logo, notei as crianças ao seu lado, mas desta vez o mais velho dos meninos segurava um bebê no colo. A menina segurava na mão do garotinho de três anos, que estava com a cabeça baixa e apoiado na irmã. Todos eles com expressão tão tristes e abatidas. Acho que já sei o que aconteceu...
Um cortejo fúnebre soou alto, me fazendo olhar rápido. Um grande caixão carregado por seis homem veio calmamente e eles o colocaram em cima de uma pedra de mármore na frente de Aron. Assim que os homens se afastaram do caixão, Aron se aproximou e se abaixou no caixão abraçando o que pode dele. Ele chorou um pouco e beijou uma rosa branca, a colocando em cima do caixão. Olhou para as crianças e elas se aproximam. Ele se abaixou, as abraçou e sussurrou algo, acho que foi amo vocês pra sempre.
Limpei as lágrimas que nem percebi que estavam ali e me aproximei mais. Ficando ao lado de Aron, encarei o bebê que agora estava em seu colo, sorri, era Kali recém nascida. Desviei o olhar para um ancião que começou a dizer algumas palavras.
— Eis nossa rainha Kya, a quem amamos e perdemos, sempre sentiremos sua falta, e que os deuses a recebam em seu reino, agradecemos hoje e sempre — o homem falou em um idioma nativo das antigas vilas de Vultor, mas eu sei traduzir graças as aulas que tive na infância. Após isso, todos ficaram em silêncio por um tempo, até que os homens começaram a levar o caixão novamente. Aron se abaixou e segurou seus filhos.
— Ouçam, ela não está mais aqui, mas eu estou. Isso não será fácil, um dia irei até mesmo decepcionar vocês, porém, eu peço que me ajudem. Vocês são tudo o que eu sou e tudo o que eu tenho. Amo vocês o máximo que um ser humano pode amar. — ele beijou o rosto de cada um e os abraçou.
Me afastei um pouco, suas últimas palavras foram exatamente o que Kali me dissera quando eu era criança. Senti tontura e tudo começou a ficar escuro.
Quando abri meus olhos, lembrei que estava tentando voltar ao passado com o meu treinamento e mestre Deimos estava ao meu lado, garantindo minha segurança.
— Sofia, como foi? Você chorou em alguns momentos, está tudo bem? — ele perguntou, me cobrindo com uma manta.
— É possível amar alguém, mas não gostar dessa pessoa? — questionei, ele assentiu. — Eu amo uma pessoa, acredito que pode passar décadas e não poderia deixar de amá-la, mas ela me machucou com tamanha mentira que nem consigo a olhar nos olhos. Eu odeio isso, o pior é que não sei mais quem ela é, entende? Achava que sabia, porém eu nunca soube.
— Antes de descobrir a mentira, você sentia que o amor que ela tinha por você era verdadeiro?
Nesse instante, lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto, abaixei a cabeça, apoiando-a nas minhas mãos.
— Sim, eu sei que era verdadeiro, aquela burra estragou tudo! Eu confiava nela com a minha vida, eu amava mais do que tudo, mas ela estragou nossa relação.
— Ela te amou do jeito errado, acontece com muitas pessoas. — ele colocou a mão sob minha cabeça, amistoso.
— Sinto falta dela — falei, aos prantos. — Mas não consigo estar no mesmo ambiente que ela.
— Ás vezes, temos que calar a voz do nosso coração por um tempo, um dia, quando estiver mais forte, pode falar com ela novamente.
— Talvez tenha razão — limpei as lágrimas, me sentindo melhor. — Obrigada, mestre.
— Não tem problema, vamos parar por hoje. — ele se levantou, e estendeu a mão para mim. — Amanhã nós continuamos.
— Tudo bem, acho que preciso recuperar as forças depois de tantas viagens no tempo. — segurei sua mão, saindo do chão.
— Vá curtir a cidade com seus amigos. — fez um gesto com a mão para que eu fosse embora, eu ri, e o entreguei sua manta, correndo do templo em seguida.
Encontrei o castelo e vi a silhueta de Nataniel, ele conversava com Hades, parecia dar uma bronca nele, o dragão escondia seu rosto entre as patas, vê se não é a coisa mais fofa do mundo!
Me aproximei deles e, nesse momento, Hades ignorou a bronca e correu na minha direção, pulando e me derrubando.
— Oh, meu lindinho, Nate está brigando com você? — perguntei, ele piscou, acho que entendeu.
— Sofia, esse dragão me deixa de cabelo branco! — reclamou Nataniel, parando ao nosso lado, Hades saiu de cima de mim e foi se esconder atrás de uma árvore, eu estava quase morrendo de tanta fofura.
— Meu bem, seja o que for, ele não fez de propósito — me levantei, limpando as roupas. — Olha pra ele, é uma criança.
— Ele destruiu as lâmpadas da praça, correu atrás dos gatos e quebrou a asa da estátua da fonte — Nataniel contou, negando com a cabeça, eu segurei o riso, Hades deve estar na fase que as crianças passam de serem arteiras. — Fala com ele.
— Vou falar, mas é normal ele estar assim, temos que levar ele pra voar um pouco, talvez esteja entediado. — coloquei a mão no queixo, pensativa. Nataniel concordou com a cabeça.
— Ah, podemos ir até praia, ele vai gostar — sugeriu, assenti.
— Sabe o que seria bom? Levar toda a equipe para praia! E vamos levar sua família! — falei, ele parecia pensar sobre isso, depois sorriu, concordando. Enquanto isso, Hades subia em uma árvore, quando fui mandar ele descer, mais uma lâmpada quebrou, troquei olhares com o meu dragão e corremos antes que Nataniel começasse o falatório.
***
— Ah, é uma ótima ideia, Lup tem praias lindas, vocês vão gostar. — contou Saleos, entretido em seus documentos, ao seu lado estava James, seu assistente pessoal.
— Mas queremos que também vá. — digo.
— Tio, não pode recusar um convite da Sofia, ela vai ficar chateada — falou Nataniel, apelão. — E nós pensamos que poderia ser bom já que vou partir com a equipe, e a Dália vai voltar para Urs em alguns dias, não sei quando nós três vamos estar juntos de novo.
— Se me permite, mi lorde — James endireitou-se para falar. — Acredito que o senhor Nataniel tem razão, descanse com sua família, eu cuido de tudo.
— Se é assim, eu vou, James, mande que arrumem mantimentos, vamos ao amanhecer, tem um barco que nos leva até nossa antiga casa no norte.
— Vou contar pra Dália, obrigado, tio. — Nataniel sorriu, saindo da sala, eu o segui.
Algumas horas passaram até eu encontrar Daren e Valentina, céus, esses dois não param quietos.
— Eu pegar um bronze e ficar mais gato do que já sou — pronunciou o mago, exibido.
— Para de ser bobo, notei que Hades anda arteiro, pode ser bom levar ele pra voar em outros lugares. — falou Val, entrando nos aposentos.
No fim, todos estavam animados para ir. Ao amanhecer, entramos no barco, o sol começava a surgir e primeiros raios refletiam na água, subi até o teto da embarcação, onde Hades estava. Sentei perto dele, apoiando as costas na lateral de sua barriga, ele se remexeu, e fechou os olhos.
— Você está aí — escutei a voz de Dália, ela sorriu, todo mundo estava com cara de sono e resmungão, mas ela continuava linda. — A vista é bonita, não é? — sentou ao meu lado, encarando a água, concordei com a cabeça.
— É o reino mais bonito que eu já vi — falei, ela assentiu. — É uma pena que não posso ficar muito.
— Você pode voltar para nos visitar quando quiser — explicou.
— Obrigada, espero voltar logo, tenho muito o que fazer mesmo depois que a missão acabar. — contei, ela concorda com a cabeça.
— Entendo, mas lembre que sempre vai ter um lugar em Lup, quer café? Acho que meu tio está fazendo, estou sentindo o cheiro — ela olhou para trás, confusa.
— Não, obrigada, vou ficar com Hades.
Ela sorriu e desceu as escadas, me deixando sozinha. Mestre Deimos me disse que as viagens no tempo podem sugar a energia de uma pessoa, preciso agradecê-lo pela folga no meio do treinamento, já estava exausta e nem via direito meus companheiros. Fechei os olhos quando os raios atingiram meu rosto.
— Sofia? — ouvi a voz de Nataniel, senti suas mãos nos meus ombros. Abri os olhos e estava mais quente do que antes, fora que o sol iluminava o céu por completo, eu dormi pelo visto.
— Minha águia de Vultor! Eu só fechei os olhos por um instante.
— Está tudo bem, querida, seu treinamento anda pesado, não é? Nunca te vi tão distante.
— Sim, desculpa, não queria me distanciar de você. — segurei seu rosto, ele encarou meus lábios antes de me beijar.
— Eu compreendo — ele passou os braços ao redor nas minhas pernas e me levantou, fazendo com que eu segurasse seu pescoço. — Nós já chegamos, quer que eu te carregue até a casa?
— Quero. — deitei a cabeça sob seu peito.
— Vamos, Hades. — chamou o dragão, que saiu da posição que estava, voando do barco.
Quando chegamos, vi que era uma bela construção típica das casas antigas de Lup, feita de madeira e toda térrea. Nataniel me colocou no chão e vi Daren e Valentina discutindo sobre alguma coisa enquanto os empregados que Saleos resolver trazer tentavam decidir qual dos dois estava certo. A família de Nataniel já deveria estar dentro da casa.
— Ei, amiga, vamos logo na praia! — a loira correu na minha direção, Daren também veio.
— Eu não sei, acho que preciso dormir mais — falei, Daren negou com a cabeça.
— Já sei, ela está com vergonha por não saber nem boiar na água! — gargalhou, mas que idoita!
— É lógico que eu sei nadar seu, palhaço! — cruzei os braços. — Sou melhor nadadora que você!
— Que papo furado! Tá com medo!
— Ah, é? Vamos na praia agora pra você ver!
Não demorou muito para encontrássemos a praia, Daren e Valentina apostaram uma corrida até a água, e eu juro que eles pularam juntos, então não houve ganhador.
— Olhem, eu sou o rei dessa pedra — o mago subiu em uma rocha, colocando as mãos na cintura. Valentina subiu também, impedindo-o de se exibir. — Meu pai, essa garota não me deixa quieto! Desgruda, carrapato! — reclamou, ela tentou o derrubar na água, mas ele a segurou e os dois caíram juntos. Nataniel riu e eu também, subi na rocha e assim que os dois voltaram para a superfície, me joguei na direção deles, nós três afundamos juntos.
— Oh, menina! — Daren reclamou, entretanto, vimos uma sombra cada vez mais perto, olhamos para cima e Nataniel também se jogou na nossa direção, então nós quatro afundamos juntos. Voltei a superfície e os vi brincar de jogar água uns nos outros, tinha esquecido como é de fato estar perto deles, não importa onde estou, eles são a minha casa.
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