Capítulo 30: Se não agora, quando?
Sofia
— Podemos conversar? — perguntei a Daren, nós estávamos em nossa casa em Urs, tínhamos acabado de chegar do Castelo depois de uma reunião com o primeiro ministro, aparentemente, tudo está bem e Urs irá permanecer sendo um poderoso reino que é.
— Sobre o que? — ele sentou ao meu lado.
— Enquanto eu estava tendo a experiência com o espírito do urso, tive acesso algumas lembranças — mexi nos cabelos, ele franziu as sobrancelhas. — Uma delas foi com você, e eu era criança.
— Pensei que esse dia não chegaria. — abaixou os ombros.
— Por que você foi embora? — perguntei.
— Kali descobriu que fui ao seus pais, ela não queria que eu continuasse tão próximo de você, então me despedi e fui embora. — Daren me encarou.
— Que horrível, eu sentia sua falta — segurei sua mão. — E eu não me lembrei de você por anos.
— Você era pequena, não nos víamos muito, está tudo bem. — sorriu, ele entrelaçou nossas mãos.
— Quero que seja sincero, tá bom? — me levantei, ele também.
— Tem mais alguma coisa pra me contar? Daren, eu quero que me conte tudo.
— Kali tem algumas cartas dos seus pais. — falou de uma vez.
— Com ela me entendo depois. — pensei que ia revirar Vultor até encontrar essas cartas. — Mais alguma coisa?
— Tem algo que quero te dar — ele flutuou até seu armário e de lá tirou uma caixa. — Não era pra ser agora, mas você quer sinceridade, então toma — parou na minha frente, me entregando a caixa.
— O que é isso? — balancei a caixa, ele começou a abrir.
— Aí, tô nervoso, vou abrir logo — terminou de abrir e vi uma medalha dourada, uma flor de lótus estava gravada no meio e uma pedra vermelha brilhava no centro.
— Daren, mas por que? Isso deve ter sido caro. — tirei a medalha da caixa com todo cuidado, Daren sorria.
— É a medalha dos heróis. O último a usar foi Aron, agora é sua — ele tirou a medalha das minhas mãos, colocando no meu pescoço. — É pra você usar com orgulho, já viu o que fez? Você merece essa medalha. — me abraçou apertado.
— Eu nem sei o que dizer, obrigada, ela é incrível. — a segurei, admirada.
— Deixa de modéstia. Agora vamos respirar um pouco, estamos vencendo — Daren me puxou para sair da casa, pelas ruas, as pessoas celebravam Tier ter perdido. Música e dança por todos os lados, bandeiras com o símbolo do urso eram balançadas por pessoas de todas as idades, sorri ao ver essa alegria. Alguns moradores me reverenciavam enquanto eu andava pelo reino. Encontrei Valentina com seus irmãos, Vladmir e Helena. Ela estava com seu sobrinho no colo enquanto mostrava pra ele a bandeira que Helena balançava na frente do bebê.
O mestre Naamah distribuía bolinhos para as pessoas, ele sorria gentilmente enquanto fazia isso. Clairo estava ao seu lado distribuindo bandeiras, as crianças estavam correndo em volta deles.
Avistei Nate com sua irmã, os dois estavam embaixo de uma grande tenda enfeitada, havia algumas mesas com cadeiras, eu já tinha perdido de vista o mago, então resolvi fazer companhia a eles.
— Sofia — Dália sorriu assim que cheguei, ainda bem que ela parou de ser tão formal comigo.
— Dália — sorri de volta e me sentei ao lado de Nate. — Como vocês estão?
— Bem — Dália deu de ombros. Sinto Nate passar o braço ao redor da minha cadeira.
— Me sinto melhor agora que você chegou — ele sussurrou perto do meu ouvido. Eu sorri.
— Sinto o mesmo por estar com você. — sussurrei de volta. Ele riu baixo.
— Por que estão cochichando? — Dália nos encarou, confusa.
— Essa festa está incrível, não é, irmã? — Nate mudou o assunto, sua irmã sorriu, concordando com a cabeça.
— Nunca vi Urs com tanta festa, e estou aqui há dois anos. — seus olhos não pararam, parecia encantada com tudo a sua volta.
— Gosto desse reino, é tão colorido — falei, sinto que ele me encara. — Dália, nos vamos para Lup depois daqui, quer vir com a gente?
— Nossa, eu sabia que vocês iam porque meu irmão me contou, mas não sabia que queria me convidar para ir — sorriu tímida, ajeitando seus cabelos escuros.
— Você me ajudou muito na invasão, e nem posso agradecer, mas se fosse com a gente seria bom, assim poderia rever seu tio — digo, animada. Ela olha para Nate e depois volta sua atenção para mim.
— Seria ótimo, obrigada, e vai ser bom para tio ter nós dois em casa. — juntou as mãos enquanto sorria, eu ri. Todos os Kawami são fofos?
— O tio vai ficar feliz por ter nós dois em casa, faz anos que não ficamos os três juntos. — Nate, que estava calado, se pronunciou.
— Mas será que eu posso estar com a corte?
— Você agora é um herói de guerra, ninguém pode dizer o contrário. — digo, ele sorri.
— Até parece que alguém vai dizer alguma coisa pra você, irmão, você faz parte da equipe da Sofia, ninguém vai arriscar ter problemas com ela. — Dália explica de maneira óbvia.
— Faz meses que não vejo o tio, estou com tantas saudades, sinto falta de Lup. — Nate parecia perdido em lembranças. Sorri, mas desviei o olhar quando notei alguém escondido nos observando.
— Vocês me dão licença por um minuto? — me levantei, Nate segurou minha mão, me olhando como se perguntasse se estou bem. Sorri, ele pareceu entender e segui para a pessoa na qual eu reconheci, ou achei que tinha reconhecido.
A pessoa se virou, tentando se esconder e disfarçar, mas eu o impedi.
— Com licença, senhor — parei em sua frente. — Nós conhecemos?
— Não, é impressão sua, senhorita. — ele tentou desviar, mas o impedi novamente.
— Aris? — acabei perguntando de uma vez. Ele parou, levantou a cabeça, revelando que era quem eu achava. — Ainda está aqui?
— Aconteceu um problema, vai me entregar para o primeiro ministro? — cruzou os braços.
— Não, Aris, para de tentar adivinhar o que eu vou fazer! Já falei que não sou igual vocês. — revirei os olhos.
— Desculpa pensar essas coisas, mas nós somos inimigos, não é? — ele parecia realmente confuso sobre o que pensar sobre mim.
— Não precisamos ser, eu não faço questão de ter inimigos, nós até, de vez em quando, parecemos amigos. — sorri. Aris começou a se afastar, notei que alguém se aproximava.
— Eu vou indo, meus amigos precisam de mim. — ele colocou a capa, puxando-a ainda mais, se escondendo.
— Eles gostam de você de verdade, eu senti isso no mundo espiritual.
— Agora, só tenho eles. — disse e começou a andar para longe, observei ele indo embora. Até que voltei aos meus amigos, dessa vez, todos estavam presentes. Sorri vendo como conversavam e riam, por um segundo, senti a paz que tanto me falaram, entretanto, as coisas ainda não estavam totalmente resolvidas. Zagan ainda é o rei de Tier, os reinos ainda estão em guerra, e não terminei meu treinamento. A paz que procuro está longe.
Aris
Após essa conversa no mínimo estranha com Sofia, voltei com as ervas que o curandeiro havia pedido para sempre colocarmos no ferimento de Kieram.
Quando entrei na casa, vi Khalida ao seu lado, segurando sua mão enquanto o curandeiro fazia o ferimento de Kieram brilhar.
Deixei as ervas na mesa e tentei não sair, mas ver meu amigo daquele jeito é ruim, acabei deixando a casa.
Apoie na árvore ao lado e respirei fundo, a poeira do lugar me incomodava muito, só queria ir embora. Por que esse reino tem tanta poeira? Desviei desses pensamentos, engolindo em seco.
Lembrei da conversa com Sofia, ela parecia quer ser minha amiga, mas não podemos ser amigos. A carta que meu pai deixou está viva na minha memória.
Memórias de Aris
Fazia alguns anos que eu não ia na minha antiga casa, aproveitei que estavam limpando e resolvi passar por lá.
As coisas estavam iguais como meu pai havia deixando. Até me perdi entre as lembranças.
Segui para o escritório e encontrei uma mulher limpando as janelas.
— Lorde Aris — ela me faz uma reverência. — Gostaria de ficar sozinho?
— Sim, pode voltar a limpar depois? — perguntei, entrando no escritório.
— Com licença, senhor. — recolheu suas coisas e saiu.
Passei a reler algumas cartas e documentos, descobri que meu pai cuidava da parte burocrática de Tier, nem entendia o que estava lendo até que tirando algumas velharias das gavetas encontrei uma carta do meu pai para mim.
Para meu filho.
Aris,
Você me enche de orgulho, pois está crescendo e se tornando um bom homem. Na verdade, tem algo que quero que você faça.
Como sabe, a garota com a profecia irá surgir, tentando impedir Tier de ser o grande reino que realmente é. Portanto, meu filho, tenho algo muito importante para lhe pedir. Uma missão, quero que a capture, impeça ela de destruir tudo o que já construímos, mas não deixe se levar por sentimentos que podem afetar você. A vida é cheia de surpresas, porém eu sei que você não irá me desapontar.
Caso eu não tenha falado isso por esses dias, eu te amo. Pra sempre.
Seu pai,
Lucius Scorpin.
Depois que li não sabia o que pensar. Muito emocionado por ler essa carta, meu pai havia morrido há alguns anos e eu fugia de assuntos relacionados à ele. Um erro terrível, meu pai é uma parte de quem eu sou. Não posso esquecer ele. Nunca.
Voltei aos meus aposentos na corte meio atordoado. O que pensar depois de ler algo assim? Minha cabeça estava dando voltas e eu não sabia como reagir. Tudo parecia uma verdadeira bagunça.
Momento atual
— Aris? — voltei a realidade quando Khalida me chamou. — Ele acordou! — sorriu e me abraçou.
— Sério? Isso é ótimo. — seguimos para dentro da casa e vimos Kieram fazendo o curandeiro rir. Ele me viu e acenou.
— Ei, amigo — ele tentou se ajeitar ,mas quase não se moveu. Me aproximei e segurei em seu ombro.
— Ainda bem que está vivo, eu estou feliz por isso, e não nos assuste assim de novo. — engulo em seco. Mas todos notaram minha tentativa falha de não chorar.
— Eu acabei estragando a missão, desculpa, sei como isso é importante pra você.
— Você é mais importante, Kieram — Khalida segurou sua mão. — Nós não poderíamos concluir a missão sem você.
— Khalida tem razão, tenho a missão, mas nós somos família. — sorri. Eles também.
— Nós temos que sair desse reino, aqui não estamos seguros. — mais uma vez, ele tentou se levantar.
— Na verdade, ninguém vai nos denunciar, nossa participação na invasão foi pouca, não precisam se preocupar. — falei, mas acho que não foi uma boa ideia.
— Aris, Sofia ainda está por aqui e se reconhecer a gente? Nos denunciar para o primeiro ministro e sermos prisioneiros? — Khalida questionou.
— Isso não vai acontecer, ela não faria isso, só temos que ir embora logo — expliquei. Eles se olharam.
— Como pode ter certeza? — perguntou Kieram.
— Sei que ela não faria isso, mas você precisa melhorar e eu vou dar um jeito pra gente sair daqui.
Alguns dias depois, consegui comprar cavalos, e meu amigo já estava melhor para aguentar a viagem de volta pra casa. Assim seguimos para Tier.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro