Capítulo 19: As artimanhas
Aris
— Mi lorde, não esperava vê-lo tão cedo em Tier, como foi a missão? — ouvi a voz totalmente sem emoção do meu criado, assim que entrei em meus aposentos na corte de Tier.
— Foi o que eu esperava, nem mais, nem menos — andei pelo local procurando as minhas coisas, vendo que tudo estava como eu havia deixado e, estava, Belman é o melhor nesses casos. — Posso até dizer que por algumas horas nós estávamos vencendo, mas acabei sendo lançado ao mar — revirei os olhos ao me lembrar daquela garota louca, e sua equipe de idiotas.
— O senhor está bem? — vejo que seu rosto nem se mexeu ao me perguntar. Tão expressivo.
— Estou, Belman, melhor do que se imagina — me sentei na cadeira próximo a janela, enquanto avistada a neblina que cobria a paisagem de Tier. — Me traga algo para beber, algo forte.
— Sim, senhor — ouço os passos de Belman, deixando o lugar e posso ficar sozinho.
Esses últimos dias tem sido difíceis, finalmente encontrei a Sofia e algumas horas depois eu a perco novamente, nem sei como rei Zagan irá reagir, provavelmente vai surtar, mas nem ele pôde capturar ela de primeira, quem dirá eu.
Me perco no tempo, pensando em tudo que está acontecendo, e não vejo Belman parado com a minha bebida nas mãos.
— Sua bebida, senhor — ele me entrega e eu apenas aceno com a cabeça e ele se vai.
Eu estou responsável por capturar Sofia e acabar com sua equipe, mas isso será mais difícil que eu pensava, tivemos que voltar pra casa, pois o navio não estava em condições para seguir com a busca, eles conseguiram acabar com a missão. E eu estou morrendo de raiva.
— Mi lorde, acabou de chegar um convite para o baile oferecido pelo rei Zagan, gostaria de ler? — Belman surgiu a porta com o convite nas mãos, eu neguei com a cabeça.
— Não precisa, já sei o que está escrito, é o mesmo baile de sempre — me levantei da cadeira e segui para o quarto. — Deixe na mesa para que depois eu veja — ouço ele murmurar um sim, senhor e sair do meu campo de visão.
Algumas horas mais tarde, eu chego ao hall principal do castelo onde ocorrem os bailes. Estou com roupas escuras e o brasão de Tier no peito.
— Lorde Aris, bem-vindo — um dos guardas na entrada me recepciona, aceno com a cabeça e entro no salão de baile. Ao passar pelos outros convidados, fui obrigado a parar para cumprir o meu papel como um lorde da corte.
— Mi lordes, como vão? — me aproximei de um pequeno grupo, para socializar. — Mi ladies, estão encantadoras essa noite — sorri para as esposas acompanhando seus maridos, que me retribuíram com sorrisos discretos.
— Você parece muito bem essa noite, mi lorde. Nem achamos que estaria aqui — Lorde Simon comentou, provavelmente já sabe do que aconteceu na missão.
— Não podemos deixar que problemas inoportunos estraguem momentos tão agradáveis, ainda mais quando vossa majestade, o rei, me mandou um convite. — falo e me seguro para não rir da cara de espanto que eles fizeram.
— Então, mi lorde, que bom que está de volta à Tier — foi a vez de lorde Fergus comentar, sorri de maneira falsa.
— Tem razão, mi lorde, estou tão feliz por estar de volta ao meu amado reino! Mal me aguento! — seguro o riso. O que eu tenho hoje?
— Podemos ver, lorde Aris, nos damos boas vindas — lorde Simon continuou e eu sorri fraco.
— Obrigado, senhores. Se me dão licença — os faço uma reverência sutil e vou me afastando. — Mi ladies — nem esperei uma resposta, já estava caminhando para o meu lugar de costume, esperando os dois atrasados.
Olhei em volta e nem sinal deles, como sempre cheguei primeiro, preciso deles para me distrair das chatices que são os bailes.
Não demorou muito e dois chegaram, cada um sentou de um lado e eu sorri para eles enquanto se ajeitavam nas cadeiras.
— Vermelho — Kieram me olhou e já foi pedindo ao servo que enchesse a sua taça, revirei os olhos.
— Olá, querido — Khalida piscou e ajeitou os cabelos enquanto olhava pelo lugar.
— Vocês demoraram. — falei, tentando parecer irritado, mas no fundo estava aliviado por eles estarem comigo.
— Pra que chegar tão cedo? O rei ainda não apareceu! — Kieram bebeu tudo que tinha na taça de uma vez. — Nossa, esse vinho está fraco — resmungou, enquanto olhava para taça.
— Nós precisamos chegar antes do rei, criatura — expliquei, como se fosse óbvio, ele riu.
— Bom, querido, você sabe como eu tenho que me arrumar pra não causar uma impressão ruim nessa corte — Khalida sorriu e eu sorri de volta.
— Você eu perdoo porque está linda — segurei sua mão e a beijei, ela riu baixo. — Mas você não, Kieram, e para de beber!
— Como você quer que eu fique sóbrio em uma noite de baile? — questionou, indignado. — Já estou fazendo muito por estar aqui!
— Falando nisso, qual o motivo desse baile? — Khalida perguntou.
— Não sei, ninguém sabe, deve ser alguma ideia do rei. — conclui, não dando muita importância.
— Mais trabalho pra gente? Outra missão? Ou só vai reforçar a mesma? — Kieram soltou as perguntas de uma vez, impressionante como só consegue pensar bebendo.
— Logo vamos descobrir, mas pelo jeito que as coisas estão, nem sei o que esperar — Khalida respirou fundo e eu concordei com a cabeça. Nunca se sabe quando o assunto é rei Zagan.
— Olhem, o rei! — Kieram exclamou e vejo todos se levantarem para saldar vossa majestade, o rei Zagan, inclusive nós.
Uma melodia suave percorreu pelo salão enquanto com passos firmes, porém lentos, o rei cruzava o salão até chegar em sua cadeira.
Quando o mesmo finamente chegou, todos nós abaixamos para dar nossa reverência.
— Meus súditos, podem se aconchegar, pois hoje é dia de explorar novas ideias para que os outros reinos fiquem sob nosso domínio, bem, por hora, vamos apenas aproveitar e logo revelarei o real motivo desse baile — após essas palavras, o rei é aplaudido e logo todos estão conversando, esquecendo de saber o tal motivo do baile.
— Quanto mistério, desse jeito não vou conseguir ficar sóbrio muito tempo — Kieram bebeu mais uma vez, e eu neguei com a cabeça.
— Para, isso deve ser importante, e de que reino será que o rei está falando? — Khalida questionou.
— Não faço a menos ideia — pronunciei.
Aos poucos, a comida foi servida o que facilitou para que o tempo passasse mais rápido, porém a ansiedade em saber só piorava. Comi tão rápido que nem lembro do gosto.
— Acho que agora ele vai falar — Kieram sussurrou e nós olhamos para o rei que começou a se levantar.
— Meus súditos, sei que estão se perguntando a noite inteira o motivo desse baile, nada mais simples, senhores, nós estamos avançando cada vez mais para ganhar a guerra — o rei Zagan saiu de trás da sua mesa e passou a andar calmamente por entre as outras mesas. — Faz um tempo que tomamos o Reino de Vultor, vejam em anos, isso não foi possível, mas agora temos mais chances, esses tempos são de vitória para Tier! — todos aplaudiam, o rei continuou. — É claro que tem algo no nosso caminho ou melhor alguém, uma menina que está destinada a me vencer, porém, meus súditos, assim que eu a encontrar, ela vai desejar nunca ter nascido — seus olhos ficaram mais sombrios que o de costume e ele encarou o nada com fúria em seus gestos, porém disfarçou com um sorriso cínico. — Essa garota precisa ser encontrada antes que termine o seu treinamento, sei que está seguindo a ordem das quatro virtudes para dominar os poderes mais rápido, mas eu não vou deixar isso acontecer — o rei parou de andar e apoiou o corpo em sua mesa. — Sofia tem que ser entregue ao Reino de Tier ainda viva, mas pra que eu a tenha em minhas mãos, outro reino será invadido e tomado por nós... A capital de Urs é o nosso novo alvo!
Um silêncio mortal percorreu o ambiente e todos estavam confusos e intrigados, Kieram, Khalida e eu nos olhamos.
— Não se preocupem, meus súditos, a menina não terá como escapar dessa vez, eu não vou deixar a sua presença atrapalhar os meus planos, já chega de ser ameaçado por uma criança — o rei voltou ao seu lugar, porém ainda estava em pé. — Logo vamos organizar o maior ataque desde a batalha que eu realizei contra as minhas irmãs, nesse, Urs será tomado, não terão como resistir, e mais um reino irá pertencer a nós, a grande questão é: posso contar com a minha corte para isso acontecer? — os aplausos voltaram, seguidos por assobios. Meus amigos e eu ainda estávamos confusos com essa nova ideia, faz pouco tempo que tomamos Vultor, será que é uma boa hora para tomar Urs?
Ao decorrer da noite, o rei não falou muito sobre a invasão, mas eu sinto que vossa majestade tem outros planos em mente.
Em um momento, resolvi cumprimentá-lo e diferente do que eu imaginei, rei Zagan ficou feliz quando me viu.
— Lorde Aris — ele se levantou e eu me curvei para fazer uma reverência.
— Majestade, sinto não ter vindo lhe dar graças — me levantei, eu estava com medo dele, pois falhei na missão.
— Está tudo bem, e não se preocupe sobre a missão! O nosso problema será resolvido em pouco tempo — Zagan parecia estranhamente calmo, e isso me assustava ainda mais.
— E como poderia, vossa majestade? Se a garota ainda está por aí, aprendendo a dominar seus poderes — questionei, Zagan sorriu.
— Tudo em seu tempo, excelência — voltou ao seu lugar e encarou o nada.
— Meu jovem, sente-se ao meu lado, quero lhe contar algo — o rei puxou a cadeira e eu me sentei.
— Sim, majestade, algo que quer que eu faça na invasão? — perguntei, ele concordou.
— Você já viu como ela é, também sabe quem são aqueles que estão junto com ela, quero que na invasão, você a capture — Zagan levou o garfo até a boca com muita calma. — Acabe com aqueles que estiverem em seu caminho. — me encarou sério, eu concordei com a cabeça.
— Tenho licença para acabar com a equipe dela? Posso eliminar qualquer um? — perguntei e vi um sorriso cínico surgir em seus lábios.
— Faça o que for preciso, Aris, eu conto com você, ou melhor, o reino inteiro conta com você — Zagan ergueu as sobrancelhas. — Acabe com eles.
Alguns dias depois, eu estava no campo de treinamento com Khalida e Kieram para treinar antes do ataque à Urs, nós seríamos os responsáveis por liderar os soldados bruxos da magia corrompida.
— Não quero que vocês subestimem o que podemos encontrar em Urs, seus muros são impenetráveis, porém, vossa majestade tem um plano para derrubá-los — passei por entre os soldados, que estavam perfeitamente alinhados e com uma postura impecável. — Urs será tomada e pertencerá a Tier, então, não quero que destruam tanto assim, façam como em Vultor.
— Sim, senhor — os soldados falam em conjunto e eu sorrio.
— 200 voltas percorrendo o lago, agora! — grito, eles vão marchando para realizar a minha ordem.
— Você está virando um ótimo comandante — Khalida surgiu ao meu lado, eu sorri.
— Essa invasão vai mudar o rumo da história, Kha, e se nós conseguirmos, Tier estará a um passo de vencer a guerra — a olhei, porém ela não estava feliz igual eu.
— Será que ganhar uma guerra como essa é algo bom? — questionou, mas continuava a olhar o lago.
— O que está falando? — perguntei, ela me olhou apática.
— Nada, está fazendo um bom trabalho com os soldados e sei que dessa vez ela não vai escapar — Khalida segurou meu rosto com delicadeza e sorriu vendo o bico que os meus lábios formaram com seu ato, ela foi saindo e me deixando intrigado. O Khalida quis dizer com isso?
— Estão te chamando na sala de reunião — a voz de Kieram me fez voltar a realidade. — Aris?
— Eu já vou, fique de olho neles para mim — digo e segui em direção a sala de reunião, não prestando atenção no caminho, mas algo estava me incomodando, afinal, eu nunca tinha parado para pensar o real motivo dessa guerra, desde que me entendo por gente, soube que rei Zagan liderava Tier para ser o reino mais poderoso que já existiu, porém sinto que esse não é o único motivo.
— Lorde Aris, pode entrar, vossa majestade o espera — o criado abriu a porta e eu encontrei o rei e os comandantes de batalha.
— Aris, meu jovem, venha aqui — Zagan se levantou e eu fui em sua direção, envergonhado. — Esse é o jovem prodígio no qual eu já havia falado, Aris vai liderar os soldados bruxos. — os outros comandantes me olharam intrigados e eu sorri.
— Gentileza sua, majestade, estou aqui para servir o reino. — tentei agir naturalmente, mas o nervosismo não deixava.
— Ótimo, mi lorde, tenho um trabalho para você, como sabe o dia da invasão está chegando, e sua equipe vai estar responsável por capturar a garota — rei Zagan volta a se sentar e eu também me sento, prestando atenção no que ele diz. — Vocês tem que encontrar ela antes que conclua a virtude da honestidade.
— Mas, vossa majestade, como vamos conseguir saber se ela já concluiu? — perguntei, ele sorri.
— Está muito cedo pra ela ter terminado, e temos que levar em conta o tempo que levou pra concluir a primeira virtude, não se preocupe, no dia da invasão ela ainda vai estar no treinamento — me encarou.
— Claro, majestade, vamos encontrar ela assim que invasão começar — eu não tinha certeza do que estava dizendo, mas é um problema para o futuro.
— Confio em você. E outra coisa, mate quem estiver no seu caminho, não importa quem seja — a maneira que ele me olhou fez meu corpo tremer, rei Zagan sabe como assustar alguém.
— Sim, majestade.
O dia da invasão promete muitas coisas, e eu espero cumprir com a minha missão.
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