Capítulo 17: De volta
Sofia
— Como você fez aquilo? — Daren perguntou, enquanto viajamos pelo ar com Hades.
Assim que eu voltei ao estado normal, saímos o mais depressa possível, não esperando uma reação de nossos inimigos, sorri quando me lembrei que joguei Aris no mar.
— Pensei em como tirar vocês daquela confusão — me ajeitei na cela de Hades. — Mas e o templo Arend e o monge Lee? — ao perguntar isso, meus amigos se entreolharam.
— Temos que conversar — Val me encarou e pousou a mão sob meu ombro. — O monge Lee não sobreviveu ao ataque.
— Não sabemos quem o matou — Nate completou. — Já encontramos ele morto.
— Não — coloquei a mão sob a boca e senti lágrimas escorrendo pelo meu rosto. — E como eu não vi? — me afastei deles, indo para a outra ponta na cela.
Parece que todos que estão perto de mim correm perigo, eu sou ruim até para aqueles que gosto...
— Você estava no mundo espiritual, não tinha como ver — Daren falou e flutuou até próximo onde eu estava.
— Isso foi minha culpa. Eu devia ter feito alguma coisa — segurei
os joelhos enquanto escondia meu rosto.
— Nada disso é sua culpa — senti Val também se aproximar. — Você está tentado salvar os reinos, isso não é nada fácil.
— A propósito, não tínhamos como saber que aqueles loucos estavam atrás da gente... Pegou todo mundo de surpresa — Nate, que estava quieto, resolveu se pronunciar, levantei a cabeça e olhei em sua direção.
— O Nate tem razão, ninguém sabia de nada — o mago ergueu os braços e eu o abracei. — Senti sua falta — continuou.
— Eu achei que vocês tinham morrido — afundei ainda mais o rosto na curva do ombro de Daren, enquanto sentia sua blusa ficar molhada devido minhas lágrimas.
— Estamos bem, Sofia — o moreno falou, enquanto suas mãos passavam pelos meus cachos.
— Nós que estávamos morrendo de preocupação com você — Val se aproximou e entrando no abraço. — Achei que tinham machucado você.
— Eu estou bem — encarei Nate que nos olhava sorrindo. — Vem cá — ergo a mão pra ele, o mesmo se aproximou tímido e completou o abraço em grupo.
Alguns minutos seguiram até o mago cortar o silêncio.
— O Reino de Urs já está próximo, podíamos parar um pouco — Daren anunciou, já voamos em Hades por muito tempo.
— Acho ótimo — Val se aproximou do mago, tocando em seu ombro. — Tem uma clareira bem abaixo.
Daren fez Hades pousar, começamos a arrumar o acampamento e acender uma fogueira. Nate estava calado, realizava suas tarefas perfeitamente, mas parecia alheio a tudo é a todos a sua volta.
Em um momento, ele se afastou do acampamento, indo para um rio próximo.
— Vai atrás dele, Sofia — Daren, que juntava os galhos para a fogueira, me encarou. — Ele ficou muito preocupado com você.
— É mesmo. Ele se culpou por terem levado você — Val, que colocava uma cobertura na tenda, falou.
Me levantei, limpando a calça pois Hades estava com a cabeça, ou melhor, o que coube dela no meu colo.
Segui o caminho até encontrar ele sentado em uma grande pedra, Nate notou a minha presença, mas nada disse, apenas observou enquanto eu sentava ao seu lado. Encarei seu rosto, mas ele encarou o rio.
— Você está bem? — cortei o silêncio, perguntando o que aquele homem que era incapaz de disfarçar o que sente estava passando.
— Não — sussurrou — Achei que você tinha morrido, que machucaram você, eu me senti tão impotente — enquanto ele falava, sua voz saiu embargada, segurei seu rosto com as duas mãos.
— Eu estou bem, não me aconteceu nada — falei, vejo seus olhos ficarem úmidos. — Achei que você tinha morrido e foi horrível, mas algo dentro de mim não quis acreditar.
— Será que você sentiu que eu estava pensando em você? — Nate perguntou e sorriu. — Porque eu pensei quase o tempo todo.
— Estamos na mesma — sorri. — Porque você sempre estava em meus pensamentos — apoie a cabeça em seu ombro.
— Senti sua falta — Nate passou os braços ao redor do meu corpo. — Que bom que voltou.
— Também senti sua falta — sussurrei, passei os braços por seu pescoço e sinto ele apertar meu corpo contra o dele.
— Tenho que te contar uma coisa — nos afastamos e ele respirou fundo. — Aconteceu no templo Arend.
— O quê? — perguntei, assustada. — Te machucaram?
— Não, quer dizer sim, mas não foi só isso, eu sou imune a magia corrompida — ele falou e sorriu, sem graça.
— Imune a magia corrompida? — franzi a sobrancelha. — Você tem poderes também?
— Eu não sei, apenas a magia corrompida não pegou em mim, acho que atravessou pelo o meu corpo, sei lá — deu de ombros, após me revelar sua mais nova habilidade, Nate relaxou o corpo, deixando seus ombros abaixarem.
— E você está bem mesmo? Apenas passou pelo seu corpo e você não sentiu nada? — segurei seu braço e o vi levar o olhar.
— Nunca me senti tão vivo — ele riu. — Agora sei como vocês se sentem.
— É bem louco, né? — também ri.
— Uma sensação complemente diferente — fiz um gesto de explosão com as mãos.
— Eu queria saber o que é isso — Nate desceu da pedra e estendeu a mão para mim. — É um poder? Eu nasci com isso? São tantas perguntas.
— Eu entendo, podemos ir com você pra descobrir, em Urs tem muitos mestres da magia — também desci e começamos a deixar as margens do rio.
— Acho que minha irmã ainda está em Urs — ele franziu as sobrancelhas. — Você pode conhecer ela.
— Hum, vou conhecer alguém da sua família — parei em sua frente. — Posso esperar que ela goste de mim?
— Você é a criança da profecia, ou as pessoas de amam ou querem te matar — Nate diz sério e eu ri.
— Não posso negar, espero que ela não tente me matar, sinceramente acho que ela vai me amar — sorri convicta e ele revira os olhos.
— Talvez, vocês são parecidas — deu de ombros e seguimos o caminho para voltar ao nossos amigos. — Mas eu nem sei se vamos encontrar com ela e não quero atrapalhar sua jornada.
— Se quiser encontrar ela, basta dizer que vamos — falei, mas ele não me olhou, apenas sorriu fraco.
— Eu sei.
Nate
Chegamos ao poderoso Reino de Urs, a paisagem é árida e o tempo seco, diferente do Reino de Lup com todos aqueles rios cortando as ruas.
As pessoas eram parecidas, não todas iguais, mas o jeito delas de falar e de se vestir.
As vestes eram coloridas e um único pano, como uma túnica curta.
As árvores não tinham tantas folhas e eram diferentes, pois as raízes eram enormes, alguns pequenos lagartos subiam pelos galhos, eles eram da cor do tronco.
Por todos lados, as pessoas mostravam suas artes, sejam pinturas, artesanatos ou culinária, Sofia parava o tempo todo para perguntar alguma coisa, eu fazia o mesmo, ambos encantados com o que estávamos vendo.
— A gente tem que ir, fofos — Valentina apareceu ao nosso lado, comendo uma coisa com carne seca. Sofia e eu compramos aquelas túnicas, era bom me divertir com ela, até gostávamos das mesmas cores.
— Val, temos um problema — Sofia fez mistério ao falar e a loira franziu as sobrancelhas.
— Aquele ruivo está aqui? — ela olhou em volta, deixando de comer.
— Eles não tem túnica azul — Sofia mostrou as duas túnicas que o vendedor ofereceu pra nós. Uma amarela e outra verde.
— Sério? Não tem túnica azul, Sofia? Como vamos sobreviver sem elas? — a loira deu de ombros e terminou de comer. A cacheada riu.
— A verde vai combinar com o Daren — peguei a túnica, olhando em volta. — Por falar nisso, cadê ele?
— Ele foi em algum lugar, acho que estava resolvendo onde vamos ficar enquanto estivermos em Urs — Valentina completou e apoiou na banca de roupas. — Tem vermelha, moço? — perguntou ao vendedor, que assentiu e a entregou. — Nossa, perfeita — sorriu.
— Não gosto quando ele some do nada — Sofia pagou o vendedor e começamos a nós afastar.
— Parece que ele tem segredos da gente.
— Acho que ele só está tentando cuidar da equipe — falei, porém sou interrompido pelo mago, que pousa na nossa frente.
— O lugar que pensei pra gente não tem vagas — Daren falou sério e encarou Valentina. — Só tem um lugar seguro que nos receberia sem preocupações.
— Daren, tudo menos isso — a loira negou com a cabeça, mas o mago ergueu as sobrancelhas.
— Que lugar é esse? — Sofia entrou na frente dos dois e cruzou os braços.
— A mansão Orcus — o mago deu de ombros, Sofia se virou para Valentina.
— A casa da sua família? — perguntou e a loira assentiu, revirando os olhos, a cacheada sorriu.
— Por quê não quer ir pra casa da sua família? — perguntei, senti que precisava interagir.
— Cada minuto naquele lugar é horrível, mas posso fingir por um tempo — fez uma careta e começou a andar, deixando nós três para trás.
— Só uma noite — ouvi a voz do mago e seguimos para encontrar Hades.
A mansão Orcus ficava no leste de Urs, que era menos árido que o resto do reino, quando Hades pousou em frente a grande casa que mais parecia um castelo pequeno, vimos poeira subir.
Seguimos em silêncio, até a entrada que eram dois portões de ferro que foram abrindo conforme passávamos, de cima, vi alguém usando magia para fechar os portões, olhei em volta, admirando o jardim com plantas tão diferentes e coloridas, uma estátua de um homem ficava bem no meio da entrada.
— O bom filho à casa torna — uma mulher alta e loira saiu da mansão cercada de duas crianças igualmente loiras, que correram assim que nos viram.
— Irmã — a menina gritou e pulou em Valentina, seguida do menino que abraçou suas pernas.
— Como vocês cresceram — a loira abaixou na altura das crianças e as abraçou de uma vez. — Que saudades.
— Essa é a Sofia? — o menino sussurrou, porém não foi nada discreto.
— É sim e não aponta — Valentina segurou as crianças pelas mãos e fez um gesto com a cabeça para que a seguíssemos. — Mãe — parou em frente a mulher e abaixou a cabeça.
— Filha — elas se abraçaram e a mulher passou a nos encarar.
— Então cá estão os heróis — ela sorriu de maneira amigável. — Daren Wilker, quanto tempo.
— Senhora Orcus — o mago a fez uma reverência sutil. — Espero que não se incomode de passarmos em sua casa — continuou.
— Todo nosso clã está feliz por vocês estarem aqui, mago Wilker — fez uma reverência a Daren. — Sofia, é bom conhecer você.
— Igualmente, senhora Orcus, obrigada pela hospitalidade — a cacheada sorriu e a mulher suspirou ao ver o jeito meigo dela.
— E quem é esse rapaz tão bonito? — a loira me olhou de cima à baixo.
— Nataniel Kawami, a seu dispor, madame — falei e ela riu.
— Vamos entrando, queridos, devem estar cansados de viajar tanto — a senhora Orcus virou-se, entrando na casa e as crianças puxavam Valentina para entrar também.
A mansão parecia ainda maior por dentro, duas escadas que começavam no hall e se encontravam no topo, no teto, um lustre feito de palha dourada.
Ao redor, quadros com cores vivas e formas retorcidas preenchiam o lugar que era claro e arejado.
Algumas pessoas surgiram, descendo a escada, um homem loiro e uma mulher morena segurando um bebê.
— Não acredito no que estou vendo — o homem falou ao descer as escadas, se aproximando de Valentina. — A escolhida para a grande missão resolveu fazer uma visita?
— É bom te ver, Vlad, meu irmão — eles se abraçaram.
— Você nem chegou a ver o nascimento do meu filho — Vlad parecia chateado e a loira segurou suas mãos.
— Sinto muito, irmão, mas você recebeu o presente que eu enviei? A pulseira com a proteção? — ela perguntou e ele assentiu.
— E quem são seus amigos? — Vlad perguntou, olhando para Daren, Sofia e eu.
— Os heróis que vão parar a guerra — uma das crianças falou, segurando a mão de Sofia, ela sorriu.
— Bem-vindos, é uma honra recebê-los, preciso ir a joalheria, mais tarde volto, fiquem à volta — Vlad se despediu e saiu pela porta.
— Bom, vou acomodar vocês, vamos subir — a senhora Orcus começou a subir a escada e nós a seguimos.
Eles parecem ser boas pessoas, mas por quê a Valentina não queria vir pra cá?
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