Capítulo 13: Espírito da águia (parte 1)
Nate
— Você primeiro — apontei para o nosso mais novo meio de transporte, o Hades. Todos insistiam nessa ideia um tanto arriscada de montar um dragão, apenas Sofia e eu ainda estávamos no chão.
— Quem olha até pensa que não está com medo — a atrevida passou a mão por seus cachos e sorriu.
— Estou sendo um cavalheiro com você!
— Flertem depois. Nós temos que ir — Valentina surgiu de cima do dragão, Sofia fez uma careta.
— Quando eu subir, você vai ver — Sofia cruza os braços, encarando sua amiga, Valentina volta para seu lugar rindo.
— Sofia, tenta fazer aquele negócio que eu te ensinei — Daren surge ao nosso lado, ainda não me acostumei com ele flutuando por aí.
— Não me sinto pronta — ela encostou em Hades.
— Nunca vai estar se não tentar — ele ergueu as sobrancelhas e Sofia revirou os olhos.
— Tudo bem — ela levanta as mãos em sinal de rendição. — Vou tentar — Sofia deu alguns passos para trás, girou o corpo e suas mãos acenderam com a luz branca, seu corpo começou a subir e parou em cima de Hades.
— Sofia! Você flutuou — Valentina falou e pulou em sua amiga, as duas riram da situação.
— Parabéns, mas tem sempre que praticar — Daren pulou e parou na frente delas para segurar nas cordas que eram as rédeas de Hades. Segurei nas escamas do dragão para subir e vejo Valentina estender a mão para que eu me apoie.
— Vem, Eros — ela diz rindo, eu reviro os olhos, mas aceito a ajuda, seguro sua mão e consigo subir.
— Obrigado — me ajeitei naquele negócio que cobria as costas do dragão. Olhei para Sofia e ela me olhava distraída, nem tinha uma expressão, quando notou apenas sorriu e desviou o olhar.
— Se todos estão prontos — Daren olhou em volta, checando que tudo estava arrumado. — Podemos ir — puxou as cordas, Hades começou a abrir as asas e levantou voo. Não posso negar que fiquei com medo no momento que senti o vento gelado batendo no meu rosto, engoli em seco sabendo que estou metros do chão, fechei os olhos, mas o medo não foi embora.
— Se incomoda que eu fique do seu lado? — eu nem notei que Sofia estava próximo de mim, abri os olhos e a vi me encarando.
— Sua companhia nunca será um incomodo — sorri, ela sorri de volta, sinto Sofia segurar a minha mão disfarçadamente e eu abaixo os ombros, aliviado. — Obrigado.
— Por nada — ela fala, desvia o olhar, seu cabelo caía por seus ombros, minha mão foi direto para tirar os cachos que insistiam em impedir a visão do seu rosto.
— Pra onde estamos indo mesmo? — perguntei, já me sentia melhor, pelo menos conseguia ficar de olhos abertos enquanto viajamos pelo ar.
— O templo Arend do Norte — pronunciou Daren, estava reto enquanto guiava o dragão.
— A Sofia precisa ter um último contato com a virtude da prudência antes de passar para a próxima virtude.
— Os monges terão muito gosto em conhecer a nossa equipe — Valentina deitou e colocou as mãos atrás da cabeça olhando para cima.
— Monges? — questionei Sofia, ainda estávamos de mãos dadas.
— Eles são os únicos que sobraram dos monges que existiam antes da guerra. — Sofia explicou.
— Tier conseguiu matar todos do templo Arend do Sul. — Daren disse.
— Haviam muitos clãs também, mas só o da minha família restou — Valentina completou.
— O mundo nunca viu uma guerra assim. É tão triste, cruel e hostil — franzi a testa enquanto falava.
— Nate, como a corte de Lup resolveu ignorar tudo isso? — Valentina se levantou. — Porque se desde o conheço tivessem ajudado, não teria chegado a esse ponto.
— Eu concordo com você, Valentina — me ajeitei para falar. — Eu fui banido por me importar e querer que alguma coisa seja feita — falei, vejo Valentina e Daren me olharem.
— Ainda bem que você deixou aqueles tóxicos. — Daren fez uma careta.
— Tem razão, Daren. Foi bem melhor assim, quando fui banido fiquei com medo, mas vejo que não passou de insegurança.
— Acho que todos nós nos sentíamos assim alguma vez na vida, eu me sinto assim quase o tempo — Sofia, que até então estava calada, se pronunciou.
— Vivemos cercados por dúvidas e inseguranças, o jeito é não deixar que isso tome sempre nosso pensamento — Daren falou, e ficamos em silêncio.
— Monge Lee — Daren fez uma reverência ao homem de altura mediana e moreno. — Como é bom revê-lo.
— Daren Wilker — o homem também fez uma reverência à Daren que sorriu. — Você permaneceu tão jovem.
— Tenho meus segredo de beleza — Daren falou o monge riu. — Monge Lee, esta é a Sofia, a criança da profecia — ela dá um passo a frente e também faz reverência ao homem, ele retribui. — Essa é Valentina Orcus e Nate Kawami. Nossos amigos e também parceiros na jornada para restaurar a magia.
Valentina e eu também fizemos reverência o monge faz o mesmo.
— São todos bem-vindos — sorriu.
— Mas acho que a Sofia precisa da última experiência com a prudência antes de passar para a próxima virtude, certo — perguntou e Sofia e Daren concordaram com a cabeça.
— Se não for incômodo, monge Lee, gostaria que me mostrasse a última experiência — Sofia falou, tímida.
— Será uma honra, Sofia, mas antes por quê não descansam um pouco? Os quartos que vão ficar já estão arrumados — monge Lee fala, animado e, saiu fazendo com que seguíssemos ele por entre as colunas de pedra.
— Ah, claro. — Daren dá de ombros e seguimos o caminho em silêncio.
Cada um de nós tinha um quarto, era pequeno e simples, pelo menos achei tudo de bom gosto.
Mais tarde, estávamos todos na mesa para jantar.
— Quero que vocês aproveitem nosso amado templo, não de preocupem, aqui é um lugar seguro. — ele falou enquanto nos encarava diante da mesa.
— Já que o senhor insiste — Sofia que estava bem próxima do monge falou e vi respirar aliviada. Ela já me falou como tudo isso faz com que sua cabeça queira explodir.
Nem posso imaginar o tanto de responsabilidades que ela carrega, como seus dias tem sido complicados, mas sempre a vejo sorrir e ser gentil.
Apesar dela ter um grande poder tem muito o que desenvolver, porém tenho certeza que não vai demorar muito para seu destino se cumprir.
Sofia
Ao amanhecer, deixei meus amigos ainda dormindo e fui encontrar o monge Lee no pátio do templo, o encontrei flutuando enquanto meditava.
Deve ter sido com ele que Daren aprendeu a fazer isso!
— Bom dia, Sofia — ele alcançou o chão. — Pronta para alguns ensinamentos sobre o templo Arend?
— Mais que pronta — coloquei as mãos na cintura, concordando com a cabeça.
— Muito bem, vamos — ele começou a se distanciar e eu o segui. — Este templo é um dos mais antigos do planeta — passamos pelo jardim e começamos a descer uma escadaria. — Há muitas eras, os primeiros deuses ergueram esses monumentos, estamos andando pela história — eu ouvia atentamente cada palavra que ele falava sobre o templo.
— Quais foram os primeiros deuses? — perguntei enquanto olhava para as pinturas dessa parte do templo.
— A deusa Yobel e seu amado Ravan — ele apontou para a estátua dos deuses que estava do outro lado, me aproximei para poder ver seus rostos.
— Eles foram os primeiros com a magia? — questionei assim que encarei o traços que as estátuas mostravam.
— A magia teve muitos pioneiros em dominá-la, mas aqueles que criaram os ensinamentos das quatros virtudes foram eles — monge Lee parou ao meu lado enquanto falava.
— Monge Lee, ninguém sabe ao certo a origem dos meus poderes, dizem que sou a nova vida de Aron isso pode ser verdade? — questionei.
— Uma coisa é certa, seus poderes veio dos deuses e é mais pura — ele se afastou e desviou o olhar. — Tão pura que é capaz de restaurar a magia.
— Isso é um não? — levantei a sobrancelha.
— É um talvez. — afirmou e eu passei a segui-lo.
— Se fosse seria algo ruim pra mim? — paramos em frente a uma pintura de três crianças.
— Os quatros reinos seriam seus, terá que abrir mão de muitas coisas — ele afastou alguns galhos das árvores que cobriam a pintura das crianças.
— Mas não pense nisso agora.
— Tem razão, apenas quero focar nas virtudes... Depois eu cuido do resto — encarei as três crianças da pinturas. — São os filhos deles?
— Sim, Leyak, Caifaz e Malphas — ele sorriu enquanto falava. — Leyak era a mais velha, dizem que era a favorita de ambos os pais, mas não creio que isso seja verdade, a jovem deusa sempre foi mais habilidosa e por isso ganhava mais elogios.
— Eles eram bem diferentes — encarei a pintura. — Nem parecem irmãos.
— A genética dos deuses não é igual a dos humanos, nem sempre os irmãos se parecem — explicou e eu acenei com a cabeça. — O próximo é Caifaz, o segundo filho.
— Ele era habilidoso também? — encarei o menino alto e branco, bem diferentes de seus irmãos que eram morenos.
— Quando tentava uma coisa era o melhor, mas estava sempre a competir com a irmã — negou com a cabeça. — Isso criava conflitos na família que deixam todos chateados.
— E o Malphas? Ele parece ser calmo — encarei o garoto um pouco menor, mais robusto e moreno que sorria para a pintura.
— Malphas era o mais alegre de seus irmãos, foi ele que fundou os templos Arend! E também o estilo de vida livre como o nosso de monges — ele caminhou e encontrei uma grande estátua de Malphas.
— Isso é incrível — sorri. — Monge Lee, sinto que durante a guerra ninguém teve tempo para se lembrar da importância da magia, daqueles que construíram coisas para que ela se mantivesse segura, acho que nesses conhecimentos tão valiosos estão se perdendo. — completei.
— É difícil fazer as pessoas se importarem com a história, saber do passado é único jeito de não cometer os mesmos erros no futuro — Monge Lee concluiu e eu concordei.
— Mas vejo você preservando a história e trabalhando para manter a cultura viva.
— Agradeço a confiança, monge Lee — sorri. — Quando vou ter a última experiência com prudência?
— Vamos subir para o ponto mais alto do templo, vou lhe mostrar a águia dourada — subimos mais escadas e vi um pequeno campo aberto com um pedestal e, nele, uma cabeça de águia feita de ouro. — Ela está aqui desde que Malphas fundou o templo. Nosso ponto de conexão com seu espírito, sua essência, é aqui que Malphas meditava e é onde vamos meditar também — ele sentou na grama, cruzou as pernas. — Só tem uma coisa, seus poderes vão ficar abalados por um tempo e você vai demorar pra utilizar eles novamente.
Seguindo o que monge Lee fazia, puxava o ar pelo nariz e soltava pela boca com muita calma, juntou as mãos e eu imitei todos seus movimentos.
Logo fechei os olhos e continuava a respirar calmamente quando sinto meu corpo leve, abro meus olhos e já não estava com monge Lee no templo Arend, o lugar que eu estava era um imenso campo aberto, com uma montanha e um rio.
Podia sentir uma paz muito grande dentro do meu peito, andei pelo campo sentindo a calmaria de um dia sem preocupações.
Uma águia veio da montanha, ela era enorme e suas penas brancas brilhavam em contraste com os raios solares, fiquei paralisada conforme ela descia pousando em minha frente.
— Olá, Sofia.
— Você pode falar comigo? — eu não conseguia me mexer, estava encantada.
— Na verdade, é você que está ouvindo meus pensamentos.
— Nossa, eu posso ler a sua mente?
— Você é mais poderosa do que pensa, Sofia.
— Bom, eu devia me acostumar com isso, mas é tudo muito inusitado — abaixei o olhar. — É claro que eu sempre soube da magia, mas aprender sobre o templo e ver você está despertando coisas novas.
— A magia na qual você teve contato é apenas uma primeira camada, igual a ponta de um iceberg.
— Pelo visto ainda terei muitas experiências dessas, não é?
— Você passará pelo o que for necessário para se tornar aquela que vai restaurar a magia.
— Coisas perigosas? Ou até mesmo ruins?
—Muito antes de Zagan surgir trazendo a guerra, a escuridão havia despertado e Aron abriu mão da sua imortalidade para aprisioná-la no tártaro, porém ela despertou.
— Escuridão? Achei que o único problema era Zagan — revirei os olhos, mas essa agora...
— Não, ela é obscura e consome tudo que estiver em seu caminho, quando se encontrar com Zagan preste atenção, pois ela deve estar com ele.
— Tem mais alguma dica? Porque vai ser muito útil.
—Tenha sempre a mente aberta, questione tudo a sua volta e não tenha medo de errar.
— Vou me lembrar disso durante a minha jornada... Como posso agradecer? — juntei as mãos, as colocando para trás.
— Você já vai fazer muito pelo mundo.
— Ainda vou lhe encontrar — me aproximei e ela ergueu a cabeça.
—Somos parte da mesma magia, estarei sempre ao seu lado.
— Obrigada — abracei a águia gigante e sinto que ela encostou a cabeça no meu ombro.
—Boa sorte, Sofia.
A águia dourada levantou voou, afastando-se e seguindo para a montanha, aos poucos, vou retornando ao mundo físico até despertar por completo.
Sinto o peso do meu corpo contra um colchão e eu estava enrolada com um cobertor de pele, me levantei assustada, o quarto era escuro e frio, as coisas tremiam um pouco, estava sozinha e com certeza não é o templo Arend.
Olhei para frente e uma bandeira com a cabeça de um tigre (símbolo de Tier) cobria a parede inteira.
O que aconteceu enquanto eu estava com a águia dourada?
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro