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Capítulo 12: O dragão

Sofia

  Faz dois dias que Hades foi crescer e eu já não aguento tanto esperar, por quê ele tinha que crescer tão rápido? O ciclo dos dragões desenvolve em dias sendo que eles conseguem viver por milênios.

— Sofia — Daren parou em minha frente e tinha um panfleto em suas mãos.
— Vai ter um festival para saldar a boa colheita, a gente tem que ir — ele sorria animadamente.

— Claro, amigo — peguei o panfleto e sorri. — Parece ser ótimo.

— Nossa, você vai me derrubar com tanta animação.

— Eu estou muito animada — passei por ele e sentei na varanda. — Só queria ver se ele está bem.

— Como eu já disse, vocês são um do outro — pousou a mão do meu ombro. — Ele vai voltar um adulto e vai te ajudar na sua jornada.

— Ele voltando estava bom. — suspirei.

— Não se preocupe, querida — Daren beijou o topo na minha cabeça. — Vamos sair daqui a pouco.

— Certo, isso veio em boa hora, pois já sinto fome — o encarei e ele riu.

— É, eu sei — saiu andando todo feliz.

  Meia hora depois, Daren e eu estamos no festival, por onde se olha, haviam pessoas em barracas servindo algum prato que é herança de família.
  Paramos para ouvir uma história de um senhor que contava sobre seus antepassados.

— Lembro como se fosse ontem de todas às vezes que ficava doente e a minha mãe fazia essa sopa, não sei se era coisa da minha cabeça, mas me sentia melhor só de provar — ele colocava a sopa em pequenas tigelas e todos em volta pegavam um pouco.
— Não tínhamos muito, é verdade, mas o que tínhamos era o suficiente pra sermos felizes.—   continuou, ao seu lado tinha duas crianças que eu deduzi que fossem seus netos.

  Pegamos um pouco da sopa e estava ótima, agradecemos e seguimos em frente.

— Daren, cadê os outros?— perguntei, enquanto seguimos pelo local, por já estarmos alguns dias todos já nos conheciam.

— Esse passeio é só nosso — deu de ombros e foi até uma barraca com doces. — Você precisa comer um docinho.— apontou uma barraca a frente. 

— Sofia, Daren, vocês estão aqui ainda. — uma das moradoras falou sorrindo.

— Nosso dragão está fazendo a transição — expliquei.

— Ah, sim. Essas matas que temos são boas para isso. Deve ser por isso que ele escolheu aqui — a mulher nos deu o doce. — Receita de minha avó. 

  Daren e eu provamos, por um instante, pensei que estava no céu, receita de avós são abençoadas.

— Está incrível. Parabéns — Daren sorriu e eu concordei com a cabeça.

 — Sua avó sabia das coisas.— falo e a mulher ri.

— Estou lisonjeada, obrigada — nos despedimos e seguimos pela vila.

  Seguimos pelo festival cumprimentando as pessoas e provando alguma coisa, Daren não tocou em nenhum assunto relacionado a profecia ou Hades, era apenas nós dois conversando e passando uma manhã em paz, e devo admitir que me fez bem.

— Fez isso para eu me distrair, não é? — pergunto, já estávamos mais afastados e alguns minutos de silêncio.

— Eu queria uma companhia para o festival e você estava sem fazer nada, juntei o útil ao agradável — ergueu a sobrancelha. — Não tinha nenhuma motivação especial.

— Obrigada por algo que não é o que parece.

— Por nada. — nos afastamos. — Desde que conversamos com a vidente, todos andam meio calados.

— Ela acabou sendo bem certeira no que disse — afirmei. — Não me admira todos estarem assim.

— Era apenas verdades que nós não acreditávamos — concluiu ele, paramos na porta da hospedagem.

— Espero saber lidar com isso.

— Não tenho dúvidas.

— Eu encontrei um lugar que a gente precisa ir — Val aparece depois de passar a manhã toda fora.

— Onde você estava? — perguntei, tive que parar meu exercício de concentração quando ela entrou gritando.

— Comprei um negócio para a gente se equilibrar em cima do Hades — ela mostrou a sela que estava no chão.

— Minha águia de Vultor, mandou fazer isso, né? Olha o tamanho — mexi, mas não entendia muito bem como aquilo ficaria em cima de Hades.

— Está falando isso agora. Depois vai me agradecer — deu de ombros e tirou o casaco que usava. — Vem comigo.

— Pra onde? — perguntei, a seguindo para fora do quarto. 

— Um lugar aí — Val não falou mais nada até chegarmos no tal lugar.

  Era uma arena de luta que estava desativada, não havia ninguém perto e o lugar parecia abandonado há anos.

— O Daren fala para você meditar, mas nem sempre isso vai funcionar em uma luta — Val passou a mão no portão que foi abrindo lentamente.
— Precisa colocar todo esse poder em ação.

— Por quê não estou surpresa? — entrei na arena, só podia ser algo assim.

— Muito bem, Sofia de Vultor — Val ergueu sua calça até os joelhos e amarrou os cabelos em um rabo de cavalo. — Me ataque.

— Não quero — cruzei os braços. — Por quê tenho que te atacar?

— Eu sou você e você é o Zagan. Agora vem tentar acabar com a esperança dos reinos. — ela colocou as mãos na cintura, eu ri negando com cabeça.

— Vamos fazer assim, você é a Valentina e eu sou a Sofia, pode ser? — também puxei a calça até os joelhos e tentei prender o meu cabelo.

— Você nem sabe brincar — revirou os olhos. — Vamos do seu jeito — Val faz uma espera de poder com as suas mãos. — Desvia do que eu vou lançar em você. — ela se afastou e eu concordei com a cabeça.

— Pode ir.

  Val começou lançando uma de cada vez e eu desviava, até que estava indo bem, mas a medida que o tempo passava, ela começou a ir mais rápido.

— Se concentra — advertiu.
  Começaram a vir uma sequência, eu estava indo de um lado para o outro.

— Muito bem, agora me ataca.— Valentina sorri e acenou.

— Lá vai! — gritei.
  Minhas mãos acenderam com a luz branca, girei meu corpo esticando bem os braços e como um raio o poder saiu. Val desvia.

— Muito bem, agora de novo — repito o movimento e ela desvia.

— E agora?— perguntei. Val sorriu.

— Vamos treinar de uma maneira diferente — suas mãos se acenderam e ela veio correndo em minha direção.

— Aí, minha águia de Vultor! — desviei de sua primeira tentativa. — Quer me matar?— ergo a mão e tudo que ela lançava era impedido de me acertar.

— Sofia, você tem que sair da zona de conforto! — corri dela, mas a bonita pulou na minha frente. — Para de fugir!

— Você está louca?— perguntei enquanto desviava de seus poderes. — Não quero te machucar.

— Zagan não vai aliviar para você. Agora me ataca — segurou meu braço, sua mão brilha e estava indo em direção ao meu rosto.

— Você sabe que eu não controlo! — me soltei dela.

— Vai ter que controlar! — uma esfera de poder surgiu de uma de suas mãos, era bem maior que todas. Engoli em seco. — Faça alguma coisa! — Val lançou aquela de maneira brusca.

  Sem ter para onde correr, reuni forças e o pouco de concentração que me resta para impedir que fosse acertada, assim que sua esfera se aproximou de mim, a dominei, fazendo o poder que saiu das minhas mãos corrompesse o poder dela, a esfera passou de azul para branca, desse modo, a lancei contra minha adversária, que não teve como detê-la, acertando o chão em seus pés, ela caiu sentada. Também caí, sentindo minhas forças indo embora, mas respirei aliviada por não a machucar. 

— Até que enfim. — ela se levantou, limpando a roupa.

—Você só pode ter ficado louca. — também me levantei e limpei a minha calça.

— Sofia, viu como você consegue se virar? — ela deu de ombros. — Zagan não vai saber o que o atingiu!

— Você daria uma professora muito radical. — passei por ela, indo embora.

— Vai me agradecer por isso e continua treinando. — Val começou a me seguir.

—Eu sei que você está fugindo de falar sobre o que a vidente lhe disse. — cruzei os braços, Val desvia o olhar.

— Quer saber o que ela disse? — perguntou, irritada. — Que busco a aprovação da minha família e eu vou conseguir o que quando fizer as coisas por mim e por não eles.

   A olhei por alguns segundos antes de segurar sua mão.

— No fundo, eu sei o que tenho que fazer, só não faço — ela completou e encostou a cabeça no meu ombro.

— Você é Valentina Orcus, não há nada que não possa fazer — encostei o queixo no topo de sua cabeça.

— Desde quando é você que dá o apoio moral? — afastou o corpo para me olhar. — Nem parece a Sofia de Vultor que eu conheço.

— Um dia a gente cresce.

— É, a gente cresce.

— Sabia que te encontraria aqui — Nate sentou ao meu lado na fonte da praça. — Não te vi o dia inteiro.

— Estava com saudades? — perguntei, enquanto encarava seu rosto, ele sorri com a minha pergunta.

— Senti falta das nossas conversas.

— Fiquei o dia tento conversas estranhas com Daren e Valentina — o vejo rir, mas não o encaro, desviei o olhar. — A nossa pode ser normal?

— Não somos o melhor exemplo de conversas normais — Nate falou e permaneceu sereno, os últimos raios solares refletiam na água da fonte.

— Eu sei que você gosta das nossas conversas. Mesmo que sejam estranhas.

— Gosto, não posso negar — encaramos o pôr do sol e ficamos em silêncio por algum tempo. — Preciso te levar em um lugar — Nate voltou a me olhar.

— É problema? — ergo a sobrancelha.

— Não, Sofia. É algo bom — ele se levantou. — Mas você precisa vim comigo.

— Não posso dizer não para seus lindos olhos azuis — sorri e ele corou. — Que lugar é esse? — me levantei e começamos a andar.

— Você vai ver. E vai gostar também — O segui em silêncio.

— Por quê estamos deixando a vila? — olhei para trás e as pequenas casas estavam ficando distantes.
  O céu foi escurecendo enquanto nos afastamos e entramos na floresta.

— Já estamos chegando? — perguntei, ele apenas riu. — Eu vou voltar — parei de andar e cruzei os braços.

— Sofia, isso é importante — segurou as minhas mãos. — Mas você tem que ver.

— Responde quando eu falar com você — me soltei dele.

— Já estamos chegando. Acha mesmo que eu mentiria para você? — Nate passou a mão pelos cabelos voltando a andar.

— Você não faria isso, não é? —  voltei a andar.

  Encontramos uma caverna e haviam algumas luzes brancas saindo dela, olhei para Nate e o olhar dele me fez entender o que estava acontecendo.

— Ontem, enquanto eu andava pelo outro lado da vila vi algumas luzes, eu segui e encontrei o seu dragão — ele falou e nos se aproximamos da caverna. — A transição dele está no final.

— Não acredito que você achou o Hades — eu falei e o abracei apertado. — Obrigada — dei um beijo em seu rosto.

— Não precisa agradecer, Sofia — nos soltamos. — Vai ver como ele está.

  Corri para a entrada da caverna e vejo Hades, ele está grande, seu corpo brilha, seus chifres estão enormes, as garras nem se compara, porém quando ele virou o rosto e eu pode ver seus olhos, pareciam os mesmo do filhote que caiu na minha frente na floresta.

— Oi, amigo — acenei e ele balançou a cabeça. — Que bom que você está bem. Eu amo você. — sorri.
  Hades se levanta e caminha para o fim da caverna, eu saí da entrada para ele poder passar. Aos poucos, o brilho vai apagando, ele saí por completo da caverna e estamos frente à frente.

— Hades, olha pra você. É um adulto — coloquei a mão na sua cabeça e o vejo fechar os olhos. — Senti saudades — encostei a cabeça na dele e senti lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

  Nate se aproximou e ao me ver chorar, colocou a mão sob meus ombros e apoiou o queixo no topo da minha cabeça.

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