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Capítulo 11: A vidente

Sofia

— Vocês viram o Hades? — perguntei, assim que encontrei meus amigos sentados na varanda da hospedagem, já estava a noite e eles comiam o jantar trocando algumas palavras.

— Faz umas horas que o vi em uma árvore. — Val falou e parecia tentar se lembrar de mais algum detalhe.

— Ele sumiu. — falei e cruzei os braços.

— Logo ele aparece, é melhor você comer um pouco. — Daren apontou para a comida e sorriu.

— Você deve estar certo. — Segui para sentar no chão, Nate se afastou para que eu sentasse ao seu lado. — É que ele sumiu.

— Ele vai aparecer. Tenho certeza. — Nate completou e desviou o olhar para sua comida.

— Quer dizer que o Nate faz parte da equipe? — Daren perguntou, nos encarando, eu ri da expressão que ele fez.

— Sim, espero que não se incomodem. — ele levantou o olhar para meus amigos que sorriam.

— É ótimo ter você na equipe. — Val deu um soquinho no ombro de Nate que sorriu tímido.

— Obrigado, Valentina. — olhou para Daren provavelmente esperando saber o que ele achava.

— Você já faz parte da equipe pra mim. —  Daren continuou a comer, mas um sorriso brincava em seus lábios.

— Viu, Nate? — segurei seu ombro e ele me encarou. — Todos amaram que você é oficialmente da equipe.

— Ainda bem. Odeio me sentir deslocado nos lugares. — deu de ombros e continuou a comer.

— Você parece mais calma hoje, Sofia. — Val pronunciou, eu peguei um pouco da comida, mas quase não sentia fome.

— Livrar essa vila do Reino de Tier me fez ver pelo que estou realmente lutando. — comecei a comer, eles me olharam, mas permaneci olhando a comida. — Foi bom ter vindo aqui.

— Percebi que você está mais atenta com as suas responsabilidades. Espero que você continue assim. — Daren falou.

— Ah, eu estou tentando. — encarei meu amigo. — Tenho muito o que fazer se quero salvar os reinos.

— Em algumas semanas, você foi de alguém que não conseguia ficar acordada depois de usar os poderes, para alguém que expulsa os soldados de uma vila! — Val segurou minhas mãos e eu sorri.

— Sua evolução é constante, Sofia. — Nate falou, olhei para ele, mas seus olhos continuavam focados na comida.

— Obrigada. — Termino de comer, apressada. — Vou procurar Hades. — Levantei-me.

— Espera a gente terminar, vamos todos procurar por ele. — Daren se ajeitou, trocando a perna que se apoiava. — Já estou sentindo falta do filhote.

— Será que alguém levou ele? — perguntei, indo de um lado para o outro.

— Não vi ninguém estranho e Hades não é inofensivo. — Daren estava em cima de uma árvore observando tudo do alto.

— Alguém viu Hades — Nate falou, ele e Val vinham correndo, eu quase surtei quando falaram isso.

— E cadê ele?— perguntei.

— Uma moradora o viu voar para longe.— Val explicou.

— Eu sabia que alguma coisa tinha acontecido com ele — coloquei as mãos na cabeça, estava pronta para surtar.

— Sofia, ele vai voltar. — Daren desceu da árvore em um pulo.
— Ele sabe que você o ama, os dragões tem esses sentidos. — segurou meus ombros.

— É mesmo. E vocês já são um do outro, ele ama você também. — Val me abraçou.

— E nós podemos ficar aqui até ele voltar. — Nate completou e sorriu.

— Não vou sair daqui até ver ele novamente. — comuniquei, decidida.

— Já é tarde. — Daren observava o céu e franziu as sobrancelhas. — Temos que entrar.

  Seguimos de volta para a hospedagem, a noite foi complicada, não conseguia dormir e nenhum dos meus amigos também, mas ninguém disse uma palavra.
  Ao amanhecer, os encontrei na varanda tomando o café da manhã.

— Bom dia. — me sentei no chão.

— Bom dia. — eles falaram em coro.

— Você quer procurar ele? — Daren perguntou e me deu um bolinho.

— Não adianta — suspirei. — Acho que ele foi passar pelo processo de crescimento.

— Por isso estava tão agitado naquela noite. — Nate sentou ao meu lado.

— Os dragões podem levar alguns dias para alcançar a maturidade. — Val cruzou os braços.

— Não será problema, podemos ficar aqui. — Daren tocou em meu ombro. — Posso treinar com você, podemos ir na arena, vamos aproveitar todo tempo que tivermos. 

— Obrigada. — sorri e me levantei. — Eu vou em um lugar.

— Onde vai?— Nate perguntou e também se levantou.

— Vocês vão achar que é besteira — revirei os olhos e eles se entreolharam. — Mas eu quero ir em uma vidente.

— Não precisa de vidente, Sofia. Seu destino é uma profecia. Está escrito em uma pedra pelos deuses — Daren parecia indignado.

— Eu sei. Mas eu quero ver como é.

— Eu também quero — Nate anunciou e parou ao meu lado. — Desde que fui embora de Lup, meu destino tem sido incerto, quero saber o que vai acontecer. — me olhou e eu sorri.

— Ah, sabe de uma coisa?— Val falou, animada. — Vou perguntar pra ela se vou ser mestre um dia.

— Vocês estão loucos?— Daren passou por nós e rimos da cara dele.

  Alguns minutos depois, chegamos ao consultório da vidente e, para nossa surpresa, Daren também foi, segundo ele, não queria nos deixar sozinhos com a tal mentirosa.

— Bom dia, queremos uma consulta com a vidente Alin, por favor — me aproximei do recepcionista, um garoto que parecia ser um pouco mais novo que eu.

— Ah, oi — o vejo ficar vermelho apenas porque eu me aproximei. — E para os quatro? — perguntou e abaixou o olhar.

— Sim, por favor— sorri e ele fica mais envergonhado. — Vai demorar?

— Não muito, vocês podem se sentar enquanto eu aviso para a madame Alin sobre as consultas— ele falou, saindo de trás da mesa, porém esbarrou em um jarro que só não caiu porque Val o segurou. — Eu sou tão desastrado, desculpe por isso — ele ajeitou o jarro de volta na mesa.

— Não tem problema, amigo — falei e o vejo sorrir e entrar na outra sala.

— Tem alguém com uma quedinha por você, Sofia — Daren riu e piscou pra mim.

— Achei esse garoto muito oferecido — Nate deu de ombros e caminhou para os pequenos bancos de madeira.

— Achei ele uma graça — Val também se sentou. — E quando ele quase quebrou o jarro, fofo. — riu.

— O garoto apenas estava sendo gentil — falei como se fosse óbvio e me sentei ao lado de Nate, que me olhou de canto e desviou o olhar quando olhei de volta.

— De qualquer forma, isso aqui deve ser uma enganação total — Daren cruzou os braços e uma mulher parece atrás dele.

— Vejo que já tenho um primeiro paciente — ela sorri e Daren a encara.

— Ótimo, sou feliz em ser o primeiro — eles seguiram para a sala, o garoto passou por nós e acenou com a cabeça para mim e eu sorri.
  Percebo Nate franzir as sobrancelhas, mas não falo nada e ele também não.

— O que será que Daren está perguntando para a vidente? — Val corta aquele silêncio.

— Deve estar perguntando coisas bem específicas para provar se ela é boa mesmo — ri imaginando a cena.

— Isso é cara dele — Nate, por fim, falou alguma coisa, mas não fez nenhum movimento.

— Vou no banheiro — Val anunciou e afastou-se, seguindo por entre as salas.

— O que vai perguntar pra ela? — Perguntou ele, fazendo-me olhá-lo.

— Eu ainda não sei, mas nada relacionado com a profecia — respondo e ele riu. — Não quero saber o que vai acontecer em relação a isso.

— É melhor a surpresa — desviou o olhar novamente.

— E o que você vai perguntar?— mantive meu olhar sob ele, Nate volta a fitar meus olhos.

— Quero saber se um dia vou ver meu tio e minha irmã, porém não como aquele que foi banido, mas alguém que fez algo bom — Nate respira fundo, me lembro que em uma das nossas conversar ele me contou com detalhes de como foi banido.

— Nate, pelo o que já me contou da sua família, eles parecem se importar se você está bem do que com qualquer outra coisa — pousei minha mão na sua e ele a segurou gentilmente.

— Espero que um dia você possa conhecer eles. — ele entrelaçou nossos dedos. — Eu nunca apresentei uma garota pra eles antes — vejo suas bochechas ficarem vermelhas.

— Também gostaria de conhecer eles — falei e sorri, ele também. — Espero que gostem de mim.

— Tenho certeza que vão — ele colocou meu cabelo para trás. — Você é linda — senti meu rosto esquentar com a sua aproximação.

— Você é gentil.

— Estou apenas falando a verdade — ele levantou minha cabeça colocando os dedos no meu queixo e erguendo lentamente.
— E tenho dito, poder admirar seu rosto é uma dádiva — me aproximei do seu rosto e senti ele fazendo o mesmo quando alguém nos chama atenção.

— Quase que eu não achei o banheiro — Val aparece e senta ao nosso lado.
— Que foi? — perguntou, confusa.

  Nós sorrimos e ficamos em silêncio até alguém chamar atenção novamente.

— Quem é o próximo? — era madame Alin, Daren estava ao seu lado e sentou o mais rápido possível no banco.

— Eu vou — Nate se levantou e seguiu a mulher para a sala.
  Olhei para Daren e ele me olhou na mesma hora.

— Acredita que ela disse que sou descrente? Eu? Um mago! — Daren cruzou os braços.

— Foi apenas isso que ela lhe disse? — perguntei e virei meu corpo para ele.

— Falou sobre sentir falta de alguns que já foram — respondeu, azedo. 

— Parece que não gostou — sorri de lado e ele ergueu a sobrancelha.

— Não foi de todo ruim, ela falou coisas bonitas e outras que eu sentia, mas não tinha coragem de dizer — desviou o olhar enquanto falava.

— Tipo o quê? — Val perguntou.

— Sobre meus pais. — franziu a testa.
— Faz tempo que não vou ao túmulo deles.

— Faz muito tempo que eles morreram? — questionei.

— Quase dezoito anos — Daren ao falar de seus pais respirou fundo.

— Sinto muito, amigo — Val segura seu braço e ele sorri.

— Estou bem. É que desde que começamos essa jornada me sinto emotivo — passou a mão pelos cabelos, ajeitando fios que caíam por seus olhos.

— É, finalmente começou o que eu me preparei desde que tinha treze anos — Val afirmou e eu a olhei confusa.

— Treze? Você era uma criança quando lhe passaram essa missão! 

— Era mesmo. — ela riu e Daren concorda com cabeça. — Mas quando eu soube que você era a criança da profecia, me animei porque já nos conhecíamos.

— Que loucura — coloquei a mão na testa, desviando o olhar.

— Lembra que nós escolhemos ajudar você — Daren falou e sorriu.

— Sim, estamos aqui por livre e espontânea vontade — Val completou.

— Não deixa de ser assustador — abaixei os ombros.

  Nate e a vidente voltam, eles riam e deram um aperto de mão quando Nate se afastou, voltando a sentar ao meu lado.

— Que tal a senhorita? — a vidente perguntou a Val, minha amiga se levantou e seguiu com a mulher para a sala.

— Como foi? — perguntei a Nate, ele parecia feliz.

— Bem. Ela disse que vou voltar como alguém importante, mas que terei surpresas desagradáveis — se ajeitou no banco.

— Não deve ser nada muito grave — falei, tentando amenizar a situação.

— Espero que não seja com a minha família.

— Não se preocupe, amigo. Nós ajudamos você se for algum problema com eles. — Daren sorriu.

— Obrigado — Nate voltou a nos olhar com um lindo sorriso.

  Alguns minutos depois, Val retorna e é a minha vez.

— Sente-se, querida — o seu consultório era mais bonito que eu imaginava, tinha alguns cristais por toda parte e janelas grandes que deixavam o ambiente claro.
  Havia uma tigela com conchas fechadas e uma panela acesa no chão com água fervendo.

— Gostei dos seus cristais — falei, enquanto me sentava no chão com as pernas cruzadas.

— Obrigada, meu marido me deu para enfeitar o ambiente — sentou na minha frente.
— Pegue uma dessas conchas e jogue na água, verei o que tem reservado para você.

  Obedeci, a água começou a ficar escura, uma mistura de verde e preto.

— Isso nunca aconteceu antes — a vidente sussurra, olhando para as cores gritantes que saíam da panela fervendo, a concha que eu escolhi abre finalmente e dela saiu uma pérola, mas ela não é branca como as outras, mas sim escura, quase toda preta.

— Você tem uma jornada muito agitada — ela riu e tirou a pérola com uma colher a colocando em um pano para limpar. — Suas ações vão influenciar no destino do mundo. 

— Será que tem algo sobre relacionamento? — perguntei e ela ri, negando com cabeça.

— Você quer saber sobre o amor? — perguntou e eu concordei com a cabeça. — Pois bem, vejo que seu amor será inesperado, um guerreiro que surgirá enquanto luta para cumprir o seu destino.

— E como ele é? — tentei chegar perto, mas a fumaça preta e verde me fez tossir.

— Quando você encontrar ele irá saber — ela ri e eu paro, sentindo meu rosto esquentar. — Dê isso a ele no momento certo.—  ela me entregou a pérola.

— E qual será o momento certo? — encarei a pequena bolinha na minha mão e guardei no meu bolso.

— Você vai saber — sorriu. — Quer perguntar mais alguma coisa?

— Eu vou conseguir? — respirei fundo.

— Isso vai depender do seu desenvolvimento... Mas uma coisa é certa, não deixe o amor cegar você.

Foi exatamente o que mestre Naamah falou quando tive as visões!

— Obrigada pela consulta, foi esclarecedora. — me levantei. — Quanto devo pelas quatro consultas?

— Para Sofia de Vultor e sua equipe é de graça — ela também se levantou e seguimos para a saída.


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