Sofia

— Devíamos ter vindo pra essa cidade antes. — Daren falou enquanto seus olhos corriam pelo local, Hades estava em seus braços.

— Está tudo tão bonito — pronunciei, encarando a festa que estava acontecendo por nossa chegada. — Obrigada, foi tão gentil.

—O melhor para grã-duquesa Sofia de Vultor. — A garota curvou-se, tímida. — Não fiquem acanhados, estou à disposição.

— Não precisamos de muita cerimônia, apenas um lugar para passar a noite. — Nataniel se pronunciou, assim como Daren ele admirava o lugar.
  Haviam lanternas penduradas em todos os lados, com flores e bandeiras com a cabeça da águia (símbolo de Vultor).

— Como organizaram tudo isso tão rápido? — Val questionou. A garota virou-se para ela, sorridente.

— Com magia. — Explicou. — Você deve entender disso, bem mais que eu já que viaja junto com a Sofia.

— Um pouco, minha dinastia é de magos. —  A loira estreitou os olhos, apática.

— Você é do clã-Orcus? — A garota pergunta e Val concorda com a cabeça.

— Ele é o único que sobrou, os outros já se foram por causa da guerra.

— Seu clã? — Val questionou, fazendo-a concordar com a cabeça.
— Sinto muito.

— Tudo bem, já faz muito tempo.

  A conversa encerrou ali e continuamos o caminho pela cidade.

  Paramos para sentar em uma mesa grande onde pessoas estavam a me esperar sorridentes.

— Sofia, é uma honra ter você aqui! — O representante se levanta e me abraça.
— Espero que vocês tenha uma ótima estadia.

— Obrigada, tudo está ótimo.

— O melhor para os honrados heróis. — Fez um movimento e os empregados começaram a servir a comida.

  Olhei em volta e todas aquelas pessoas usavam o brasão de Vultor, sorri me lembrando de casa.

  Algumas conversas paralelas seguiram enquanto deleitavamos da hospitalidade dos anfitriões.

— Por que está tão quieta? — um voz me fez voltar a realidade, era Nate, sentado ao meu lado, eu nem tinha visto que ele trocou de lugar com Daren.

— É necessário eu ficar falando o tempo todo? — perguntei. Ele sorriu.

— Quando você está muito quieta é ainda mais difícil te decifrar...

—Não acredito que ainda está tentando —  apoiei minha cabeça em minha mão. — O que já descobriu?

— Não muito, porém isso está prestes a mudar. Já que essa é apenas a primeira noite que estou junto de vocês. — Nate inclinou seu rosto em direção ao meu rosto.

— Se conseguirmos salvar seu amigo, o que vai fazer? — perguntei, engolindo em seco, o vejo respirar fundo.

— Ainda não sei, mas quando eu descobrir você vai ser a primeira a saber. — Nate sorriu e colocou uma mecha do meu cabelo para trás, senti um arrepio quando ele fez isso.

— O que você escolher, eu vou apoiar. — sorri e ele riu. — O que foi?

— Você é uma graça, Sofia. — falou e também apoiou a cabeça na mão.

— Obrigada, e olha que eu nem tento. — Pisquei e Nate ficou levemente corado.

— Quando estou perto de você me sinto sem jeito... — ele se afastou e desviou o olhar. — Não sei muito bem o que fazer.

— Você está indo bem, Nate, aquela impressão ruim que tive no início até já passou... — Brinquei e toquei em seu braço, ele voltou a me olhar.
— Eu também não sei como agir quando estou com você.

— Parece que estamos na mesma situação. — Vejo ele sorrir, imitando o diálogo que tivemos quando nos conhecemos.

— Espero que dessa vez as coisas não sejam um problema para você.

— Não mais. — Nate segurou meu rosto e se aproximou, porém Hades pulou no meu colo fazendo com que nos afastassemos no susto.

— Aí, Hades! — O segurei, ele estava estranhamente agitado. — Para de pular, criatura! — tentei fazer parar, mas não funcionava.

— Ele parece querer te avisar alguma coisa.— Nataniel o segura, mas também não funciona.

— Hades, se acalma. — o segurei novamente.

— Já está tarde. — Daren aparece do nada perto de nós. — Alguém viu a Valentina? — perguntou, olhando em volta.

— Ela estava com a garota de mais cedo. — Nataniel explicou.

— Deixa a Val se divertir, Daren. — Me levantei com o afobado do Hades se mexendo. — Para, Hades!

— Eu só perguntei. — Revirou os olhos.
— Deixa eu segurar ele. — Daren pegou Hades no colo.

— Vê se você consegue acalmar ele. Daren, você é o enfermeiro da equipe. — Sorri um pouco exagerada e Daren riu.

— Ótimo, sou ama de dragão. — Negou com a cabeça, deixando o lugar.

— Coloca ele pra dormir também! — Gritei para ele e o vi fazer uma careta.

— Vou cobrar, não sou seu empregado! — Gritou de volta.

  Voltei para o meu lugar ao lado de Nataniel enquanto rimos da ama de Hades, quando alguns moradores se aproximaram, me fazendo muitas perguntas, os respondi pacientemente, entendo as dúvidas deles. Alguns minutos depois, encontro minha amiga caminhando na nossa direção.

— Cadê o Daren e o Hades? — Val questionou, parando do nosso lado.

— Hades parece que está possuído e Daren foi dar umas ervas pra ele. — Contei.

— Hades está crescendo, isso não é nada fácil, pra ninguém. — A loira deu de ombros.

— Você está tão feliz, vi que conversou com aquela garota, não foi? — Perguntei, sorrindo.

— Sim, ela é uma boa pessoa.

— Ah, existem muitas pessoas boas como ela, não acha, Nataniel? — Virei para o homem entediado ao meu lado, ele riu, concordando com a cabeça.

— Com certeza. — Levantou-se, bocejando. — Boa noite, senhoritas. Não fiquem fofocando até tarde.

— Oh, para de graça, Kawami. — Valentina o repreendeu. Ele sorriu, nos deixando.

  Mais tarde, quando aparentemente todos dormiam, fui até a janela e respirei fundo.

  Alguma coisa não me deixava dormir e eu nem conseguia fechar os olhos.

— Quando pretendia me contar? — A loira estressadinha me perguntou.

— Do que está falando?

— Que não está dormindo. — Ela parou do meu lado.

— Eu durmo, mas às vezes demora um pouco.

— Você está bem? — ela segurou as minhas mãos. Eu sorri.

— Estou, não quero que se preocupe tanto comigo que esqueça de si mesma.

— Mas eu não faço isso, fora que estou em missão, é meu dever te acompanhar. — Ela explicou, apática.

— É, mas você se cobra muito, pode relaxar um pouco e aquela garota parecia gostar de você...

— Então é disso que se trata, romance? Ah, Sofia, não somos mais crianças. — Gargalhou, eu neguei com a cabeça.

— Para de rir, idiota. Só estou dizendo que você pode ser feliz de outras formas, existem outras coisas além de treinar e estudar. — Falei, quase batendo nela. Essa petulância me irrita.

— Não é apenas isso. Meu clã me escolheu para te acompanhar na sua jornada e eu não posso falhar... É um negócio de família.— Cruzou os braços.

— As responsabilidades que nossa família impõe nem sempre são saudáveis — A encarei e ela nem se mexeu. — Pelo menos você teve escolha?

— Tive, eu disse que aceitava e prometi fazer um bom trabalho, é algo importante. — finalmente Val me olhou.

— Você me tirou de Vultor no meio de um ataque de Tier. Você é muito habilidosa. — falo e ela sorri envergonhada. — E ainda vai ser mestre.

— Já que insiste, vossa alteza. — Ms abraçou. — Por quê é tão bom conversar com você? — Questionou quando nos afastamos.

— Porque eu sei exatamente o que você precisa ouvir. — Digo. — Anos de convivência dá nisso.

— Eu amo você, chata. — Ela disse, deixando a janela.

— Te amo, irritante.

  Depois de muito andar, nós finalmente chegamos a tal vila.

— Isso não é bom. — Daren falou e nós paramos quando vimos o que ele queria dizer. — Tem bandeiras com a cabeça de um tigre, ou seja, Tier já dominou essa área.

— É melhor não dar alarde. — Val cruzou os braços. — Vamos entrar na surdina.

— Tem uma entrada pelo outro lado, temos que ir pela mata. — Nate completou, todos concordaram com a cabeça e o seguimos em silêncio.

  Com muito cuidado, atravessamos a mata até alcançar a vila, nos escondemos atrás das pequenas casas.

— Qual o plano agora? — Daren perguntou, Hades voou do colo dele e parou no chão ao meu lado.

— O Nate solta o garoto e a gente expulsa esses soldados daqui. — falei.

— Sofia, vai com o Nate, Daren e eu cuidamos dos soldados. — Val levanta a parte de sua capa e cobre seu rosto, deixando apenas seus olhos a mostra.

— É, nenhum da equipe pode ficar sozinho. — Daren também levantou a capa e cobriu o rosto deixando seus olhos a mostra. — E cubram esses rostos.

  Nate riu e também cobriu o rosto, fiz o mesmo. Hades voo parando em cima de uma casa.

— Estão prontos? — Nataniel perguntou e nos concordamos e saímos de trás da casa.

  Daren e Val vão para um lado e nós para outro.

— Onde acha que está seu amigo? — Perguntei e do nada Nate me puxa para um beco, ele parece preocupado, fico em silêncio até ele me explicar o que está acontecendo.

—Desculpe te puxar dessa maneira, mas tem um dos homens que me ameaçou parado bem próximo de nós. — Ele apontou discretamente e segui seu olhar e vi o tal homem. — Vamos seguí-lo.

— Não tem problema. — Dei de ombros, o vejo erguer a sobrancelha.

— Não gostou? Posso ser mais carinhoso da próxima vez... — Cruzou os braços se encostado na parede. Sei que estava sorrindo, ele é o tipo de pessoa que sorri com os olhos.

— Acha que vai ter uma próxima? Porque eu não sei — ri e ele negou com a cabeça.

— Como se não estivesse óbvio. — Ouço ele murmurar, mas prestei atenção no homem e vi que ele saiu de onde estava.

— Vamos flertar depois, o homem já está indo — Apontei, ele concorda e saímos do beco.

  O homem caminhou até uma casa simples, bateu na porta em sequência, paramos quando ele entrou na casa.

— É a casa do Hue. Ele fez até a família do garoto de refém. — Nate completou e desviou o olhar.

— Nós vamos tirar eles em segurança — segurei sua mão em um momento repentino. — Eu prometo.

— Quando você fala, eu acredito. — nos aproximamos lentamente da casa, Nate foi pelos fundos, eu fui pela frente.

  Bati na porta e o homem que seguimos apareceu.

— Quem é você? E o que quer? — ele perguntou, me olhando de cima à baixo.

— Eu vim em nome de um amigo. — Olhei discretamente para dentro da casa e vejo Nate conseguir entrar sem ninguém perceber, o homem entra na minha frente. — Hue mora aqui?

— Quem é esse seu amigo? — cruzou os braços e me encarou.

— Ah, é um conhecido seu. — consegui olhar dentro da casa novamente e vi Nate passando e tentando tirar o menino e a família pela janela. — O nome dele é Nate!

— Você é a tal criança da profecia? — riu.

— Posso saber qual é a graça? — agora eu cruzei os braços e franzi a sobrancelha.

— Pensei que a criança seria diferente... Mais alta — ele mediou meu tamanho comparando com o dele.
— Sem querer ofender.

— Não ofendeu. — abaixei os ombros.
— Até porque não sou eu que faço um garoto de recém para ganhar dinheiro. — soltei e vejo seu semblante mudar, sorrio.

— O que você realmente quer? Sinceramente, não acho que seja a criança.

— Azar o seu — desviei o olhar para dentro na casa e vi que ainda faltava duas pessoas para sair além de Nate. — Como saberia quem é você? Ou Hue? Ou até mesmo Nate?

— Faz sentido... — ele coçou a cabeça.
— Cadê o garoto? — olhou em volta.

— Resolvendo alguns problemas. — me afasto um pouco. — Como vai ser? Vai me entregar ao Reino de Tier?

— Vou — colocou as mãos na cintura, porém um barulho na janela faz ele olhar para trás e vê Nate saindo. — Garoto, eu sabia que estava por perto.— grita, ele tenta correr, porém eu o impeço erguendo a minha mão em sua direção e fazendo ele voar longe.

  Nate consegue, por fim, deixar a casa com as pessoas, o menino vem até próximo de mim com certa cautela.

— Você é a Sofia? — perguntou, mantendo uma certa distância.

— Sim. E você é o Hue? — abaixei para ficar em sua altura, ele sorri.

— Sou... Obrigado. — beijou meu rosto e saiu correndo para junto de sua família.

  Vejo Nate se aproximar, ele já não cobria o rosto, seu semblante está mais calmo.

— Você tinha razão. — falou e colocou as mãos no bolso. — Ainda bem que sempre acreditei em você.

— Não fale assim. Você se pôs a ajudar esse garoto e sua família, quem é o herói agora? — perguntei e o vejo rir.

  Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, gritaria e algumas pessoas voando chamam nossa atenção, seguimos correndo para a confusão e vejo Daren e Val usando seus poderes contra os soldados de Tier como se fosse muito divertido.

  Tento chamar atenção deles, mas nem me notaram, Hades pousa no meu ombro.

— Atenção soldados de Tier! — Gritei e faço todos olharem para mim, a confusão parou. — A criança da profecia mandou vocês saírem daqui o mais rápido possível.

  Os soldados se olharam e riram.

  Por quê ninguém acredita que eu sou a escolhida dessa bagaça?

  Dou Hades para Nate segurar, as minhas mãos se juntaram e conforme eu as separava, a esfera se formava e fica cada vez maior.
  No momento que a solto, todos os soldados se assustam e vão se afastando, Val e Daren correm atrás deles, continuando a lançar seus poderes e em sequência, vão deixando aquela pequena vila.

  Tivemos que ajudar em algumas coisas, pois Tier já havia tomado parte de seus recursos, mas no geral nada muito preocupante.

— Acabei de consertar uma parte do muro — Daren surgiu ao nosso lado. — Agora está mais protegido.

— A escola também já está arrumada. — Val falou, assim que se juntou a nós.
— Engraçado como é primeira coisa  que fizeram foi tirar a educação das pessoas.

— É com a educação que combate as injustiças. — suspirei.
— Nate e eu já ajudamos com casa de auxílio medicinal.

— Havia muita gente precisando de ajuda, os soldados de Tier são uns bárbaros. — Nate completou meu pensamento.

— Estou exausto. — Daren se encostou em Val e ela o apoiou. — Temos que passar a noite aqui.

— Conheço uma hospedagem muita boa. — Nate se pronunciou.

— Ótimo. Vamos para essa hospedagem. — Val seguiu com Daren pelo caminho que Nate explicou, enquanto os dois estavam mais na frente, Nate e eu estávamos mais afastados.

— O que vai fazer agora? — perguntei e ele sorriu.

— Quero que me aceitem na equipe, acho que posso ajudar. — Falou, tímido. Eu sorri.

— Bem-vindo a equipe.

— Obrigado...