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25 de novembro de 2020 - Dia 09 da luz

Parecia que minha vizinhança queria me enlouquecer. Ninguém tinha empatia por um pré-vestibulando naquela rua. Naquele início de tarde, quem estava perturbando meu juízo não eram as luzes da vizinha, mas sim o cachorro de algum outro vizinho que estava latindo feito um alucinado. Aguentei por longos dez minutos antes de me levantar da cadeira e ir até a janela, louco para mandar o cachorro tomar no rabo, mesmo que eu amasse animais.

Em poucos segundos encontrei o meliante. Ele era morador do prédio da frente, vizinho da maluca das luzinhas de Natal, mas ficava três andares abaixo da varanda dela. O meliante era bem bonitinho, na verdade. De longe parecia ser o famoso vira-lata caramelo, mas tinha o rabinho comprido que estava batendo com veemência, enquanto ele tinha o focinho esticado para cima, latindo feito um desesperado.

Caceta, doguinho, me ajuda a te ajudar. Xingando baixinho, ouvi uma voz desconhecida dizer:

— É um gato!

Levantei a cabeça, sobressaltado, ao perceber que a voz vinha da varanda mais próxima. A varanda do pisca-pisca. A menina que eu tinha visto poucos dias antes e que era a responsável pela decoração estava debruçada na sacada de sua varanda, olhando diretamente para mim. E o que ela tinha dito? Que era um gato? Quem era um gato? Será que ela estava falando de mim? Um pouco nervoso com toda a situação, gaguejei:

— Quê?

— É um gato — ela repetiu, apontando para algo acima da minha janela. — Tem um gatinho que mora alguns andares acima de você e toda vez que ele aparece na janela o Tobias começa a latir.

— Tobias? — Perguntei, sem entender nada do que estava acontecendo ali.

— O cãozinho — respondeu ela, dando de ombros. — Ele é muito bonzinho, mas tem muita energia e deve estar estranhando dar passeios bem mais curtos na pandemia.

— Ah — foi tudo que consegui articular.

— Eu costumava passear com ele como favor para Dona Lili — ela continuou dizendo, compartilhando informações que eu não perguntei e que nem estava entendendo muito bem. — Você sabe, antes da pandemia.

— Sei — respondi.

Continuamos nos encarando, em silêncio, por um tempo que pareceu infinito. Aquela tinha sido nossa primeira inteiração se o aceno ignorado fosse esquecido e eu estava suando um pouquinho. Estava colocando a culpa na chuva, que ao invés de refrescar totalmente estava começando a levantar o mormaço. Graças a Deus alguém teve pena do meu constrangimento e a chamou, dentro de casa. Não consegui ouvir muito bem seu nome, mas parecia algo como Luiza.

— Já vou, mãe! — Gritou a garota de volta, dando meia volta para entrar em casa.

Achei que eu estava a salvo, mas antes de passar pela porta de sua varanda, ela virou na minha direção mais uma vez. Com um novo aceno, disse:

— Tchau!

Encarei ainda em silêncio, mas fiz um esforço para conseguir levantar meu braço e acenar de volta. Pena que ela já tinha virado e sumido dentro de seu apartamento.

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