Aviso: Leve abuso

Ele estava à sua frente novamente. O cinto em suas mãos. Seu olhar severo apenas indicou a mesa.

Sera já sabia o que fazer, ela tirou o vestido, se deitou contra a superfície fria e mordeu os lábios quando a sua punição começou.

A dor levou sua mente para outro lugar, para olhos amarelos vibrantes e pelos de um lobo coberto de sangue.

Sera acordou ofegante, ela apertou as mãos no assento do trem e fez o possível para respirar.

"Sera? Tudo bem? O que aconteceu? Você consegue respirar?"

Ela olhou para a expressão preocupada de Kirya, aquilo era diferente. Nunca alguém havia lhe dirigido tal olhar.

Porém, seu foco durou pouco. Sua respiração e coração estavam cada vez mais acelerados e ela pensou que fosse desmaiar.

"Yuji, pegue uma garrafa d'água para ela." - Uma voz feminina disse.

Olhos azuis profundos olharam nos olhos de Sera.

"Respire fundo e solte devagar." - A mulher de cabelos negros disse.

E Sera obedeceu.

"Isso, mocinha. Continue." - A voz dela era firme e pacificadora.

E Sera o fez até seu coração e respiração se acalmarem.

A água chegou e ajudou com que ela voltasse ao seu estado normal.

"Como se sente?" - A mulher perguntou.

"Bem, obrigada..."

"Yelena Petrova, prazer. Sou da família de médicos. E qual o nome da minha nova paciente e de sua amiga?" - Ela perguntou, olhando para Kirya.

"Sera Abrams e essa é Kyria Waish, prazer em conhecê-la Yelena." Ela escreveu e sorriu ao fazê-lo com o nome da mãe.

Yelena sorriu e beijou levemente a bochecha de ambas.

"Espero encontrar minha paciente mais vezes" - ela disse, demorando um pouco mais com Sera.

E, desse modo, se foi com Yuji atrás dela, parecendo irritado.

"Como se sente, Sera?" - Kirya perguntou.

Sera sorriu e, com um aceno, confirmou que estava bem.

O tempo passou no trem, a paisagem de ar fresco ajudava Sera a pensar com clareza.

Ela estava realmente com problemas, primeiramente, ela não tinha uma loba dentro dela. Com certeza, perguntariam sobre isso.

Pelo que percebeu, as pessoas não se importavam com a sua falta de fala. O que a deixou um pouco mais aliviada. Porém, ainda havia um último problema.

Karim Ramesses ainda incomodava. Por que havia o encontrado tão cedo? O primogênito do clã que dizimou o seu e a deixou órfã de mãe. Se ele descobrisse quem Sera era, com certeza não traria algo bom.

Ela engoliu em seco ao pensar nisso, teria que tomar cuidado com ele.

"Ei, Sera!. Chegamos." - Sua nova amiga disse.

O lugar era bonito, Sera respirou fundo o ar fresco de floresta. Árvores altas fechavam a passagem, exceto por onde o trem passava.

Sera tocou levemente as folhas das árvores que entravam pela janela até o veículo parar.

" Vamos. Vou te apresentar à escola." - Kyria a arrastou para fora, sorridente.

"Espero que a diretora não me expulse ao notar que sou diferente do que ela pensa."

Descendo do trem, ela se deparou com um prédio alto repleto de Torres.

"Cada torre é um ano diferente." - Kyria explicou.

Sera observou as Torres e todas estavam apagadas. Elas continuaram até uma grande porta de madeira massiva que estava aberta.

O interior do local não era nada diferente dos outros colégios que Sera havia visto em livros. Havia escadas que levavam para diferentes torres e armários nos corredores.

Kyria apresentou os locais para Sera de maneira animada. Desde o refeitório até as salas de lazer, afinal era um colégio interno.

Porém, algo mais chamou a atenção de Sera:. Cochichos.

"Você ouviu? Nesse ano, os 4 grandes clãs vão se reunir. Dizem que tem uma maldição envolvida com a união deles."

"Que besteira."

"São só histórias."

" Nancy Rivera desapareceu, pode ser a maldição? "

" Claro que não. Todo mundo sabe que Nancy se esconde na cara de Jacob Lite. Ele ainda não chegou. Devem estar se pegando e esqueceram do tempo."

"Fiquem calmos, nada vai acontecer. Afinal. Precisam do 4°clã e ele foi todo dizimado."

Ao ouvir essa frase, o coração de Sera parou por um momento. Ela era o último momento do 4°clã, será que estava trazendo algo ruim para o lugar?

Ao notar que Sera havia parado no lugar, Kyria disse:

" Não ligue para essas besteiras que o clube de ocultismo espalha por aí. São só histórias bobas para assustar as pessoas. Todo mundo está agitado ao ver os 3 clãs juntos no mesmo lugar. Não se preocupe."

Mas aquilo não a ajudou. Histórias nunca eram apenas histórias.

A mente dela se dispersou da situação quando Kyria a levou em direção à biblioteca.

" Thomas já deve estar lá. Tenho certeza que vocês vão se dar bem. "

Do lado de fora, Nayssa estava saindo do local e um garoto esguio a seguia. Ele era muito parecido com ela, a diferença era o cabelo curto e os óculos.

"Ah, olá, Sera e Kyria". - a mulher disse com um sorriso, antes de deixá-los. "É ótimo vê-las novamente."

Kyria sorriu, um pouco envergonhada, mas logo se recompôs e disse:

"Sera, esse é meu melhor amigo e responsável pela biblioteca, Thomas Abiyoe. Thomas, essa é Sera Abrams, aluna nova."

Thomas acenou e fez alguns gestos que Sera não entendeu.

"Ele te deu as boas-vindas. Thomas é surdo e por isso usa a língua de sinais para se comunicar."

Sera sorriu, sem saber por que era reconfortante encontrar alguém diferente assim como ela.

"Obrigada, Thomas. Prazer em te conhecer. Espero que sejamos amigos."

Thomas lhe deu um sorriso gentil e pediu para que entrassem na biblioteca. O lugar era grande, repleto de livros. Como deveria ser uma biblioteca. Sera guardou na memória o caminho até o local para poder explorar mais tarde.

" Aqui." - Thomas sinalizou.

Eram papéis para entregar na diretoria. Sera sentiu enorme alívio ao ver que não perguntava nada sobre sua loba. Apenas nome, endereço e escolaridade. Claro que essa última parte era bem complicada, mas ela esperava que a diretora a ajudasse.

As meninas se despediram de Thomas e Kyria continuou mostrando tudo para Sera com sua animação típica. Até elas trombarem em alguém.

Um menino loiro as olhou com raiva.

"Waish, não olha por onde anda? Continua uma baleia desastrada como sempre." - Ele riu.

Óbvio que Kyria não gostou nem um pouco do comentário, mas não disse nada, envergonhada, prestes a chorar.

Sera se irritou com aquilo. E escreveu rapidamente no seu caderno.

" Não se deve falar com as pessoas assim. Peça desculpas." - Ela escreveu rapidamente, ajudando Kyria a se levantar.

O moço riu. Principalmente, quando seus amigos se juntaram a ele.

"A mocinha sem língua quer brigar com a gente." - Ele riu. "Por que você não fala, ein? Mudinha." - Disse, jogando o caderno de Sera no chão.

Sera se aproximou dele, impondo-se cada vez mais. Porém, o garoto não parecia intimidado.

Até que ouviu uma voz, conhecida, que desejava evitar.

"Você não pode deixar de esbarrar em ninguém, esquisita?"

Karim se pôs à frente dela e todos se afastaram, como cachorrinhos obedecendo ao dono.

Sera chegou ainda mais perto dele com uma expressão de raiva, levantou a cabeça, mostrando imposição. Não deixaria mais ninguém a humilhar.

" O que foi? Está com medo de falar?"

Sera não se mexeu, apenas o encarou sem baixar a cabeça.

Os olhos amarelos dele se fixaram nela com raiva e seus caninos ficaram à mostra. Sera sabia que deveria se afastar de Karim e não chamar a atenção dele. Agora não tinha mais como. Ela já havia se tornado o alvo dele.