28 capítulo
Não ta grande mas é bem importante.
Ouçam NEVER BE ALONE DO SHAWN MENDES quanto lêem o capítulo porque eu escrevi ouvindo ela e como eu sou a rainha soberana da fic apenas atrás das personagens, eu que mando.
Como sempre, revisei que nem o meu rabo.
BOA LEITURA.
Aproximadamente 24 anos atrás...
Clara se encosta na parede de qualquer estabelecimento sentindo uma terrível vertigem a atingir, resultado de dois dias sem comer. Ela apenas aperta a pequena bebê contra seus braços temendo que pudesse desmaiar e acabar a machucando. Em um único suspiro, ela se ajoelha e aperta os olhos sentindo seu estômago reclamar de fome.
Com cuidado, ela arruma a bebê de seis meses em seus braços, a olha com um pequeno sorriso vendo que ela dormia despreocupadamente com uma chupeta verde na boca. Tirando forças de onde não tinha, Clara volta a ficar de pé, arruma a bolsa com as coisas da bebê sobre seu ombro e continua a andar para chegar até uma praça onde poderia se sentar.
Quando se senta no banco da praça deserta, Lauren resmunga nos braços da mãe.
- Ciao, bella. - sussurra ao ver as orbes verdes se abrirem lentamente, se acostumando com a claridade que refletia em suas pupilas - Dormiu bem? - questiona sentindo um sorriso maior aparecer em seus lábios quando Lauren sorri deixando a chupeta cair de sua boca.
Sentindo seu peito aquecer com o sorriso da filha, Clara se inclina e encosta seus lábios nos cabelos escuros da menina.
- Mamãe vai tentar conseguir uma papinha para você. - sussurra - Estou ficando mais fraca com você mamando. - lamenta sentindo lágrimas acumularem em seus olhos.
Lauren percebe os olhos claros da mãe cheio de lágrimas, faz um bico chorão e ameaça a chorar junto com a mulher, mesmo sem saber o que estava acontecendo.
- Ei, ei. Não chore. - nega com a cabeça colocando Lauren de pé em suas pernas, arruma a roupa que usava e sente as mãozinhas gordas irem até sua clavícula.
Esboçando um sorriso caloroso, Lauren mexe as pernas fazendo Clara a ajudar dar alguns pulinhos e ri vendo o sorriso banguela da menina.
- Já disse, eu não sei onde estão esses documentos do caso! - Clara vira sua cabeça para a direita vendo uma mulher bem vestida, usando um terno feminino da cor preta, o cabelo preso em um rabo de cavalo alto, apertando um celular última geração contra sua orelha enquanto andava de maneira apressada - Passe para o seu chefe... É! É a Bullock... Diga ao seu secretário que eu não sei onde estão as merdas dos documentos! - aumenta a voz se aproximando de Clara cada vez mais, sem notar que a mulher a olhava.
- Dadada. - Lauren balbucia, em seguida, faz um barulho com a boca atraindo a atenção de Clara, mais uma vez.
- O que foi? - contrai as sobrancelhas vendo os olhinhos verdes focados em seu rosto.
Por sua vez, a mulher bem vestida passa por elas tendo sua atenção chamada pela linda menina que estava balbuciando várias coisas. Os olhos castanhos da brasileira encaram a mulher e a bebê vendo que elas estavam com roupas sujas, uma única bolsa velha e a mulher tinha uma aparência batida. Ela apoia o celular em seu ombro, apalpa seus bolsos em busca da sua carteira e retira cinquenta dólares, se aproximada das duas vendo a mais velha se encolher, apreensiva.
Sem dizer nada, ela lhe estende a nota de cinquenta dólares vendo os olhos claros da mulher saltarem do rosto. Vendo que a mulher não iria pegar, Sandra coloca a nota sobre a bolsa ao seu lado e esboça um sorriso vendo os olhinhos da bebê pararem sobre o seu rosto, soltarem um gritinho e sorrir.
- Sua filha é muito linda. - é a única coisa que ela diz antes de voltar ao seu caminho deixando Clara em êxtase vendo os cinquenta dólares.
Depois daquilo, Clara ficou naquela região por muito tempo. Havia por fim conseguido uma caixa grande onde poderia colocar panos e algumas partes do colchão que havia ganho dos outros mendigos que haviam se juntado a ela.
Clara tinha seus vinte e cinco anos. No início, o seu destino era Toronto atrás do seu marido que havia se mudado por conta do trabalho mas acabou que o ônibus na qual ela estava, a deixou depois de ter sido assaltada na rodoviária. Com o assalto, ela perdeu o horário da partida. Sem ter para onde ir, sem saber como poderia se comunicar com o homem ou menos avisar que estava vida, ela acabou indo morar na rua e assim continuou até ter a pequena Lauren.
Os meses se passavam e Clara não deixava de observar a advogada bem vestida que sempre passava por aquela praça ao anoitecer a caminho do seu apartamento. Não importava se fazia calor, chuva ou quaisquer outra coisa. Ela sempre passava por ali. Mesmo que ela não vesse Clara, ela sempre estava a observando com atenção.
Na época mais chuvosa de Miami, Clara encara sua filha que dormia no berço improvisado e pousa sua mão sobre a barriga gordinha da bebê ouvindo ela respirar rapidamente. Fazia alguns dias que Lauren havia começado a tossir e a ter febre, isso deixou Clara desesperada por não saber o que fazer. Ela não tinha dinheiro para levar sua filha a um hospital e se ela continuasse ali, provavelmente acabaria morrendo.
Só de pensar em algo acontecendo a Lauren, Clara sentia vontade de chorar.
Uma ideia, até então absurda, passa por sua cabeça fazendo com que ela contraia as sobrancelhas. Olhe para a praça encharcada pelas gotas grossas de chuva e volta a olhar Lauren.
Um choro cresce em sua garganta, seus olhos queimam indicando que logo uma cachoeira de lágrimas começariam a escorrer. Clara pega a bebê no colo e a encaixa em seu corpo, a abraçando enquanto encarava a praça.
Onde Clara estava abrigada lhe dava a visão ampla da praça. Era um beco coberto a alguns metros de distância onde ela e mais cinco moradores de rua ficavam.
- Scusi, bella. - sussurra em italiano, sua língua de origem, permitindo as lágrimas escorrerem por sua bochecha assim como a chuva caía do seu até chegar no solo.
Como ela esperava, Sandra passava pelo meio da praça com seu guarda-chuva, andando de maneira apressada e como sempre, reclamando sobre algo.
Dias se passam até que Clara toma coragem vendo que Lauren estava piorando. Troca uma refeição por um guarda-chuva e com alguns arames encontrados pelo lixo, ela o coloca na caixa onde lauren dormia enquanto a menina brincava ao seu lado com uma boneca sem cabeça.
Vendo que os arames não machucaram a pequena, Clara coloca as partes retiradas do colchão, os panos e passa a mão para ter certeza que estava confortável para Lauren ficar ali.
- Mama. - a menina de oito meses balbucia atraindo a atenção imediata.
- Mamãe? - seu coração dispara ouvindo a menina repetir a palavra de forma animada e com as bochechas rosadas devido a febre que ela tinha.
Clara engole seco sentindo novamente algumas lágrimas crescerem em seus olhos e pega Lauren nos braços, abraça a menina e sem conseguir se conter, ela se permite chorar segurando ela nos braços sabendo que não ouviria ela dizer isso novamente; não tão cedo.
Quando Lauren percebe que sua mãe estava chorando, ela começa a chorar junto por odiar ver a mais velha chorando com tamanha dor.
A noite começa a cair, a chuva começa a engrossar e Clara aperta os lábios colocando um bilhete ao lado de Lauren onde dizia seu nome, o dia que havia nascido, quantos meses tinha e o exame em que mostrava que ela era intersexual. A última coisa que Clara queria era que alguém fosse confundir a sua princesa com um menino. Ao perceber que estava perto da hora da mulher passar por ali, ela se levanta do chão, toma a caixa onde tinha a bebê em mãos e marcha para fora do beco sentindo as gotas grossas atingirem seu corpo fazendo a pele formigar pela força.
Enquanto andava, as lágrimas de Clara se misturavam com as gotas de chuva. Seus soluços se perdiam entre os barulhos da chuva batendo contra o asfalto e os trovões. Lauren dormia sem se incomodar com o barulho da chuva por já estar habituada a isso.
Se aproximando do banco, Clara aperta os lábios vendo que iria molhar a parte de baixo da caixa. Acreditando fielmente que Sandra iria a ver, ela deixa a menina sobre o banco, se senta ao lado dela e leva a mão até a bochecha da mesma.
- Scusi, bella. - sussurra novamente, coloca a cabeça debaixo do enorme guarda-chuva e deixa um beijo na bochecha de Lauren que começa a acordar sentindo os toques molhados - A mamãe te ama, muito. Espero que um dia você me perdoe, isso é para o seu bem... - sua voz é trêmula e Lauren percebe. Em segundos, o familiar bico chorão aparece em seus lábios - Scusi. - repete se levantando.
Lauren a acompanha com o olhar, estendendo os braços em sua direção. Clara nega com a cabeça e abraça o próprio corpo lhe dando as costas ouvindo o choro de Lauren chegar aos seus ouvidos, parecendo entender o que ela estava fazendo.
Clara solta um soluço alto olhando uma última vez em direção a sua filha, anda até uma árvore onde era a luz dos lampiões não chegavam, encosta a mão na casca da árvore molhada e fica com os olhos presos na caixa, sem se incomodar com a chuva gelada que a atingia.
Como previsto, Sandra pisa na calçada da praça no mesmo ritmo apressado. Seus olhos estavam presos no chão. Ao começar a se aproximar da caixa, ela para de andar ouvindo um choro de bebê alto, olha em volta e percebe uma única caixa com um guarda-chuva ali, de maneira apressada, ela se aproximando da caixa vendo Lauren agitada e chorando.
- Ei... Por que você está aqui sozinha? - sussurra com a voz calma mas sentindo seu coração acelerado. Sandra olha em volta procurando algum sinal de que havia alguém ali e Clara vai para trás da árvore com rapidez - Onde estão os seus pais? - pergunta levando as mãos para dentro da caixa e pega a menina que estava enrolada em uma manta nos braços, tomando cuidado com o guarda-chuva que segurava - Você está sozinha? - tenta fazer a bebê parar de chorar, mesmo sabendo que crianças pequenas não era o seu forte.
Sandra olha em volta mais uma vez. Seus olhos vão para os papéis dentro da caixa e pega um recortado de qualquer maneira vendo que estava escrito: "seu nome é Lauren Jauregui".
O coração da brasileira dispara percebendo o que estava acontecendo, sua respiração fica acelerada demonstrando o pânico que ela começa a sentir por ter um bebê abandonado em seus braços.
- Ok, você está quente. - consta ao encostar a mão na bochecha da bebê - Muito quente para um bebê.
Sem pensar duas vezes, ela pega os outros papéis que tinha na caixa, guarda nos bolsos do seu blazer e procura seu celular para pedir um táxi para a levar para um hospital.
Ela começa anda com rapidez para fora da praça em busca de sair do meio daquela chuva deixando o choro de Lauren ir se afastando aos poucos.
Enquanto a Clara que segurava um soluço alto vendo sua menininha sendo levada, solta um soluço alto deixando que seu choro doloroso saía em busca de fazer aquela dor em seu peito parar de doer.
Já no hospital, Sandra estava olhando para Lauren vendo alguns calombos de insetos por seu braço, olha para os olhos claros da menina que olhava a médica que a atendia com atenção que a fazia rir enquanto a examinava.
- Você a encontrou no meio de uma praça deserta? - a médica pergunta para confirmar ouvindo um chiado vindo dos pulmões da bebê.
- Sim... - afirma com a cabeça. Se sentindo em estado de choque.
Nem quando ela havia sido atacada por um presidiário psiquiátrico ela não ficou em um estado de choque tão grande.
- Acredito que ela esteja com pneumonia. - ao falar isso, a bebê tosse - Vamos fazer mais alguns exames para ver a gravidade de tudo isso.
- Tu...tudo bem. - afirma com a cabeça novamente - Eu posso arcar com tudo.
Sandra se aproxima de onde Lauren estava deitada, a bebê sorri banguela ao parar seus olhos sobre o rosto da mulher. Por uns instantes, Sandra sente vontade de chorar se perguntando quem tinha coragem de abandonar uma bebê tão linda quanto ela.
- Vamos chamar uma assistente social. - a médica fala, por fim.
Sandra fica a olhando sentindo algo em seu peito gritar de maneira desesperada. Ela fica tão hipnotizada pelos olhinhos curiosos da menina que nem ao menos percebe quando a médica sai do quarto as deixando a sós.
- Você é a Lauren? Prazer, eu sou a Sandra. - sorri docemente levando a mão até os cabelos da menina.
Ela continua a olhando sentindo que tinha uma conexão forte com aquela menina. Não sabia explicar se era pena por ter a encontrado sozinha naquela praça ou se era pelo o seu desejo incontrolável de ser mãe desde mais nova.
- Sei que isso pode ser uma atitude irresponsável e impulsiva mas... Mas eu sou irresponsável e impulsiva. - solta uma risadinha divertida fazendo Lauren rir com os olhos presos em seu rosto - Mas eu não vou te deixar sozinha... Você vai ficar segura, pequena Lauren. - fala com toda a convicção do mundo ouvindo Lauren balbuciar algo.
Dias atuais...
Lauren fica em silêncio encarando as suas mãos sentindo uma vontade incontrolável de voltar a chorar copiosamente mas engole o choro, esfrega o rosto sentindo que sua cabeça podeira explodir a qualquer instante e sente a mão de Camila acariciar suas costas.
- Eu vou conhecer os meus pais biológicos... Eu preciso saber o motivo deles terem me abandonado. - olha para Camila tentando controlar sua voz para que ela não saia trêmula - Mas eu quero que você vá comigo.
- É claro que eu vou, amor. - Camila fala rapidamente se aproximando para envolver Lauren em um abraço.
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