Capítulo único
Existem pessoas de todos os tipos e elas se diferem pelas virtudes e pelos defeitos que tem. Em suas vidas, os erros, desencontros e os mal entendidos tem tanta, ou até maior importância do que aqueles raros momentos em que tudo parece que está dando certo.
Sobre Maria? Ela também era uma pessoa comum, de erros e acertos, mesmo vivendo em um cenário que todos iriam descrever como perfeito.
Em sua família, cujo nome tinha peso, ela era a filha única e o centro dos mimos dos seus pais, mesmo que, assim como muitas outras crianças que cresceram rodeadas de tudo o que queriam, ainda lhe faltava o que ela realmente precisava: afeto, amor presente ao invés de amor através de presentes.
Maria estava completando 15 anos e esse era o momento perfeito para que todos mostrassem o quanto a amavam, com presentes e uma festa inesquecível. Afinal, os quinze anos de uma garota não é uma idade qualquer.
Tudo estava corrido dentro de sua bela casa. Pessoas arrumando isso ou aquilo, comidas sendo carregadas para lá e para cá. E a atenção que ela estava recebendo? Era o suficiente para encher seu peito de satisfação. Isso se não houvesse um pequeno detalhe, como sempre há em momentos assim.
Ela, ironicamente, gostava de um dos filhos do seu jardineiro, outra pessoa também simples e comum como qualquer outra, mas dono de uma beleza suficiente para chamar a atenção de uma menina que está aprendendo a suspirar por alguém e um sorriso, ora largo, ora contido, capaz de convidar a mesma menina a sorrir também. E, não menos ironicamente, o destino queria brincar e resolveu que ele não lhe daria um presente.
Maria estava com raiva. Aquele era o primeiro aniversário dela, depois de conhecê-lo, mas o rapaz, mesmo depois de ter sido sempre tão gentil e sempre respondido com animação aos seus flertes inexperientes, havia simplesmente ignorado tal data.
Saindo do seu quarto, ela foi até o jardim e se sentou em um banco que havia lá.
Não demorou muito para que o rapaz passasse, carregando equipamentos para que seu pai usasse em algum lugar pelo jardim
Como em todas as outras vezes, ele parou e sorriu para ela, com uma saudação simples, feita pelo singelo ato de mexer sua cabeça.
Ela retribui o gesto.
- Parabéns pelo seu aniversário, senhorita. - Outro sorriso, contido, tímido e, embora só aquela visão já fosse algo a se considerar um presente, ainda não era o suficiente.
- Obrigada. Você poderia colher algumas flores para que eu possa colocá-las em meu quarto?
- Sim, mas provavelmente você já deve ter ganhado uma boa quantidade delas hoje, não? Vi alguns entregadores carregando buquês para dentro da casa.
- Sim, mas eu quero destas, que cresceram neste lugar, exatamente como eu.
- Entendo, é uma forma bem poética de pensar. - comentou, fazendo com que a menina se sentisse orgulhosa pela desculpa rápida que conseguiu. - Mas, quais flores você quer?
A menina sorriu novamente, satisfeita por tudo estar seguindo seu plano.
- Você que escolhe. Escolha flores que te façam lembrar de mim.
- Tem uma que seria perfeita, então. Espere um pouco que eu já volto.
Feito. Agora ela iria ganhar flores do cara do qual gostava e ele ainda iria se lembrar dela sempre que as visse por aí.
Alguns minutos se passaram, até que ela viu o rapaz se aproximar novamente. Em suas mãos, um pequeno buquê de tulipas vermelhas.
A menina começou a pensar em quê aquelas flores se pareciam com ela ou o fizessem se lembrar dela.
Não viu nada de extraordinário ali. Poucas pétalas, sempre curvadas para dentro, como se tímidas, um caule longo e comum, algumas folhas que também não se destacavam.
Tulipas também pareciam ser envoltas de uma certa elegância, mas elegância não era algo que deveria ser a primeira lembrança de alguém sobre uma menina que acabara de completar quinze anos. A faziam se sentir velha e discreta.
Era isso, tulipas para ela se pareciam com senhoras ricas que, ao contrário das outras flores, que estão na "flor da juventude", não podem exibir vestidos rodados e cheios de detalhes chamativos.
O rapaz lhe entregou as flores. Ela forçou um sorriso para retribuir o que ele esboçava e saiu.
De toda forma, ela colocou as flores perto do espelho, em seu quarto, afinal eram o presente que a pessoa que ela gostava lhe dera.
Se passariam dias, que juntos, formaram semanas e meses e, por fim, anos.
Maria se formou e começou sua faculdade. O rapaz também se formou, mas optou por trabalhar e ajudar sua família nas despesas. Como seu pai já estava quase se aposentando, acabou sendo contratado para trabalhar na casa de Maria e logo assumiu a responsabilidade pelo mesmo jardim que seu pai cuidara.
Dias, semanas, meses se passaram novamente e Maria conheceu um rapaz na faculdade. Inteligente, de beleza comum e coração sonhador.
Foi com esse rapaz que Maria se casou, quando, desta vez, os meses se juntaram e se tornaram anos.
Seu pai faleceu pouco depois e sua mãe, não querendo ficar sozinha em uma casa tão grande, os convenceu a morar com ela. Naquele ponto, com a idade já chegando, ela queria finalmente dedicar mais tempo para sua filha, mesmo que agora ela não fosse mais a criança que precisava de cuidados de antes.
O rapaz se casou e se tornou pai de uma pequena e brincalhona menina, que era a alegria de sua casa, com seus lindos e brilhantes olhos castanhos claro, iguais os da mãe e cabelos escuros, quase negros, contrastando com a pele clara, iguais aos do pai.
Quando os anos se juntaram, já haviam se passado décadas.
Maria, antes menina, hoje se tornou uma senhora. Uma senhora comemorando 45 anos de casada.
Seus filhos, três no total, já estavam todos crescidos. Já tinha um tempo que o jardineiro estava aposentado.
Nesse dia especial, o marido de Maria lhe trouxe flores e, adivinha? Eram tulipas vermelhas.
Então ele disse que era a flor perfeita para representar os sentimentos dele por ela, já que tulipas vermelhas significavam amor eterno.
Maria recebeu as flores com um sorriso sincero, afinal, o sentimento era mútuo. Aquele era o homem com quem tinha vivido pela maior parte da sua vida e, sim, ela amava aquele homem que tinha se tornado seu marido, companheiro e pai de seus filhos.
As flores, que no passado foram mal interpretadas, hoje pareciam fazer sentido e Maria entendeu mais sobre o amor naquele dia, mesmo que já estivesse vivido tanto e tantas coisas.
Essa é a história de dois jovens comuns e de um amor eterno. De dois jovens que se apaixonaram, se casaram e formaram suas famílias. Que sempre estiveram do lado um do outro, se preocupando quando algum não estava bem, sorrindo quando o outro estava feliz.
A história de um amor que foi eterno, só não foi eterno do jeito que quem a ouve de início imaginou que seria.
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