Capítulo 1
A torre de vigia na praia da Ilha do Escorpião mal cabia uma pessoa, Lorenzo e Katrina não se importavam com o pouco espaço. O ar quente entrava pela janela quadrada de observação, e ao escorarem suas costas nas paredes de pedra frias controlavam a temperatura de seus corpos para não desidratarem. Lorenzo mantinha-se ereto, com as mãos nos bolsos da bermuda preta, as sobrancelhas negras espessas erguidas sobre os olhos atentos ao oscilar lento da Lagoa dos Patos à espera da embarcação agendada para hoje. Katrina, um pouco entediada pela demora, escorou a cabeça no ombro dele, os longos cabelos negros faziam cócegas ao dançarem pelo cotovelo de Lorenzo, o que lhe causava risos de tempos em tempos.
O amigo levava sua obrigação no turno de vigia a sério, desde quando se tornou também um escorpião como o irmão, há seis meses, surpreendendo seus pais. Já Katrina não devia estar ali, seus afazeres eram dentro do castelo, mas gostavam de terem um ao outro e, assim, se deixavam ficar horas em um silêncio acolhedor ou entre conversas intermináveis. Ela não se lembrava de momentos na infância em que não fora desse jeito: Lorenzo, Bruno e ela.
— Olha, Lo! — Ela apontou para um ponto na água. — São eles?
Lorenzo retirou o binóculo do bolso, arrumou o foco e sorriu largamente acenando em positivo para a sua parceira de vigia. Katrina deu-lhe um beijo estralado na bochecha e, saltitando, ela desceu as escadas caracóis. Tirou as sandálias ao alcançar a areia morna e branca, ergueu um pouco o vestido amarelo claro de algodão com alcinhas e caminhou pela água calma. Enquanto fingia estar ali por acaso e não em espera por duas horas em uma torre apertada que a equipe de Bruno retornasse de sua missão de quatro dias na cidade.
A água estava agradavelmente refrescante nesse final de tarde. O barquinho à motor crescia ao se aproximar como uma bala cortando a lagoa. Quatro silhuetas de calças brim e casacos negros de couro formavam uma fila ao equilibrarem o balanço do barco. Por fim o motor foi desligado, um dos garotos pulou na água puxando o veículo até a areia.
Os quatro Escorpiões retiraram suas mochilas e armas do barco e as jogaram sobre os ombros. Acenaram para Lorenzo ainda na torre. Os dois mais velhos se afastaram distraídos enquanto mantinham uma conversa sobre alguma aposta que um deles ganhara. Katrina conhecia todos, afinal, eram menos de trezentos Escorpiões no castelo e cento e poucas Viúvas, no entanto nunca falara com os dois mais velhos, já por volta dos trinta anos. Bruno retirara o casaco e o trazia sobre o ombro juntamente com a mochila, deixando seus bíceps avantajados à mostra na regata preta, os cabelos negros curtos pareciam um pouco arrepiados pelo vento da viagem. Abriu um sorriso largo ao ver Katrina andar em sua direção com as sandálias penduradas entre seus dedos da mão.
— Como foi a missão? — ela indagou com tranquilidade, como se por dentro não estivesse sedenta por todos os detalhes. Quando seria ela e Lorenzo ao acompanhá-lo em uma caçada fora da ilha? Era Viúva-Negra há um ano e até agora só tivera uma missão com as outras Viúvas, e não foi nada como ela esperava.
— Novamente tudo sob controle. — Bruno piscou os longos cílios, implicante, não lhe daria detalhes, pelo menos não ali onde alguém pudesse ouvir. Afinal, não era de bom tom conversar sobre as missões com quem não era de sua equipe. Ele abriu os braços à espera dos seus e ela se aninhou ali alguns segundos, aliviada por ele estar de volta.
— E o meu abraço? — O último Escorpião os alcançou após amarrar o barco junto aos outros enfileirados na margem.
— Oi, Júlio. — Katrina acenou educada ao se soltar de Bruno e se manter a alguns passos do garoto com os cabelos negros caídos sobre os olhos orientais característico da família Sato, que suspirou derrotado ao fechar os braços quando não lhe foi dado o que pediu, mais uma vez.
— Você devia fazer parte de nossa equipe. Seria perfeito! Vou falar com meu pai — Júlio comentou, como sempre fazia quando a reencontrava depois de uma missão e tentava ganhar uma maior simpatia dela, quando o trio iniciou o caminho em direção a vila. Bruno acenou em acordo. Katrina sentiu o peito se aquecer, era tudo o que queria. Mas sabia que Bruno pedira o mesmo para o comandante Sato, e até agora só recebera negativas. Havia outras mais experientes em serem sedutoramente assassinas e que não precisavam da permissão Real para se ausentarem.
— Logo serei líder de equipe, e então você e Lorenzo estarão sempre comigo. — Bruno passou o braço sobre o ombro de Katrina a confortando.
— Sou três meses mais velho, provavelmente eu que serei o líder — Júlio constatou naturalmente, não para se vangloriar, apenas por parecer o mais óbvio. Bruno lhe deu um cascudo implicante. — Ei! Respeite os mais velhos!
— Os líderes são os melhores Escorpiões, não os mais velhos. — Bruno o encarou em desafio, ansiava por um pouco de ação.
— Então serei o líder. — Júlio riu ao dar de ombros. Mas quando Bruno fez menção de pegá-lo, o garoto oriental mais magro e baixo apenas correu rindo ao avançar pelo corredor de pedras com mais de três metros de altura, contudo estreito o suficiente para apenas uma pessoa passar. O desfiladeiro limitava o caminho até a vila, a escondendo de embarcações curiosas.
— Hoje à noite vou deixar a porta aberta para você — Bruno comentou para Katrina ao avançar na sua frente pelo paredão de pedras.
— Se Hugo me liberar estarei lá. — Rindo jogou-se nas costas de Bruno envolvendo os braços em seu pescoço e deixando-se ser carregada, ao sussurrar no ouvido dele: — Isso se outra Viúva não correr em direção ao teu quarto primeiro.
— Estão falando de mim nos banhos, é? — inquiriu sem esconder como isso inflava seu ego.
— Principalmente certa loira recém-saída da prova dos 17. — Katrina soltou-se de Bruno quando o paredão ficou para trás e Júlio já estava a muitos passos distantes. — Ela não parava de falar de como é hábil com as mãos.
— O que posso dizer, sou gentil com quem visita meu quarto. — Katrina concordou com um aceno sincero, conhecia seu lugar no coração de Bruno e nunca duvidou disso, assim como ele também sabia onde estava guardado no peito dela. Eram, acima de tudo, amigos inseparáveis, o resto não passava de joguetes sexuais. Ninguém esperava ou desejava que Escorpiões e Viúvas fossem monogâmicos ou que tivessem tempo para dramas românticos. — Lorenzo deve ter ficado feliz com minha ausência, assim pôde te ter só para ele.
— Não seja injusto com teu irmão, sabe que ele só relaxa quando você volta são em salvo. Assim como eu.
— Vocês dois sabem que sempre voltarei por vocês. — Bruno tocou o ombro dela ao chegarem próximos as primeiras casas da vila, para que ela fixasse o olhar castanho-claro ao olhar escuro dele. — E depois as missões são bem mais tranquilas do que nos falavam nos treinos. — Ele deu de ombros ao retomar o passo. — Já faz um ano e meio que só faço ser segurança de riquinhos idiotas, até agora nenhum perigo real. E vampiros nem cheguei perto. Dizem que esses sugadores de sangue desistiram da América do Sul.
— Ouvi os rumores de que, mesmo na Europa, andam quietos demais. — Katrina baixou mais a voz ao passar por um grupo de artesões lidando com toras de madeira para a construção de móveis. — O pessoal no castelo e na vila tem questionado os rumos que Hugo tem nos levado. Alguns dizem que não somos mais caçadores e sim assassinos de aluguel para aquele que pagar mais. E que não há honra nisso.
— Os vampiros estão escassos em Porto Alegre desde os anos 80, todos sabem disso. E poucos foram pegos na Argentina e no Uruguai depois disso. — Bruno deu de ombros, ao observar os aldeões em seus afazeres. — Ser caçador é o que treinamos por gerações, de qual outra formar um Escorpião viveria? Nosso rei regente tem feito o que pode para nos mantermos ativos e economicamente bem até que o Herdeiro seja encontrado e possa nos orientar para uma nova era.
Ele sorriu, tinha um brilho de esperança nos olhos ao passar a mão no cabelo. Katrina não esboçou reação, esse ainda era um assunto para o qual não tinha opinião. E nem sabia se deveria, ainda mais quando os ânimos no castelo estavam por um fio desde o mês passado quando uma equipe de três Escorpiões experientes morreram em uma missão de resgate malsucedida do filho de um magnata da cidade. Ser um Escorpião ou Viúva era lidar constantemente com a possiblidade de não retornar, todos aceitavam essa verdade quando os inimigos eram seres demoníacos sugadores de sangue, mas quando esse não era o caso, antigas insatisfações e medos ressurgiam dos fundos dos corações de um povo acostumado a manter suas tradições.
Assim as superstições voltadas à ruína da ilha e seus moradores, nascidas há 15 anos quando o rei legítimo foi assassinado e seu herdeiro raptado, ressurgiam das sombras. Katrina soltou um suspiro ao observar de canto de olho Bruno andar ao seu lado com o peito estufado orgulhoso por retornar de mais uma missão, e um tremor subiu por sua espinha. E se as superstições não fossem apenas superstições, e se houvesse mesmo uma maldição? Bruno poderia ser um dos que não retornaria um dia, assim como a mãe dela e tantos outros.
Em um rompante temeroso, ela enlaçou seus dedos nos dele por alguns segundos, Bruno ergueu a sobrancelha em surpresa, mas nada disse quando as mãos voltaram a se afastar. Já percorriam as ruelas do centro da vila, quase a porta do castelo, e demonstrações públicas de carinho entre caçadores não era apropriado. Ela guardaria o sentimento para si, até o anoitecer quando eles estariam a sós no quarto de Bruno.
— A pequena Sato está correndo para cá com olhos arregalados. Você deve estar encrencada, mais uma vez. — Bruno riu implicante ao acenar para Katrina e se afastar indo em direção as arenas nas quais algumas crianças estavam repetindo golpes de Karatê e Taekwondo mostrados pelo professor.
Katrina revirou os olhos por ele fugir de Elisa Sato, a irmã mais nova de Júlio, a quem Bruno tentara roubar um beijo enquanto estudavam para uma prova de matemática, alguns anos antes e recebeu um soco em resposta. Ela e Katrina formaram duplas muitas vezes em tarefas escolares e, principalmente, durante os treinos por terem a mesma idade. Katrina gostava de lutar com Elisa, a garota miúda com olhos orientais e pele branca como cera costumava ser um belo desafio. Katrina demorava a derrotá-la, e sempre pensou que Elisa seria uma Viúva-Negra como ela. No entanto, a filha do comandante Sato fora derrotada em sua prova dos 17 e vivia no castelo não como uma guerreira, mas como uma serviçal. Fazia de tudo um pouco, mas sua principal habilidade era o bordado. Horas e horas bordando com fios de ouro escorpiões para os mantos reais, ou mesmo para todos os outros caçadores e Viúvas.
— A Viúva-Real está à sua procura há horas — Elisa comunicou com urgência no olhar, apesar de sua voz se manter doce. Katrina gostava disso nela, o jeito meigo lhe acalmava. Ela teria sido uma ótima Viúva, pensou com pesar.
— Parece aborrecida?
— Um pouco. — A garota lhe lançou um olhar de encorajamento quando Katrina soltou um suspiro. — Ela está na morada das Viúvas.
— Obrigada, Elisa.
Katrina passou pelo salão oval do castelo correndo, atravessou um dos seis arcos de acessos ao interior da montanha. Desviou dos Escorpiões e Viúvas que andavam pelos corredores. À frente da porta de madeira pintada de vermelho parou, respirou fundo e tentou ajeitar os cabelos ao passar os dedos entre os fios, só então entrou.
A Morada das Viúvas, como aquele salão era chamado, se tornara seu lar há um ano, com familiaridade percorria o chão de pedra branca, passando por seus sofás fofos e os cabides intermináveis nas paredes com todo o tipo de roupa feminina pendurada e as penteadeiras com seus espelhos redondos sobre quais ficavam os porta-joias e maquiagens. Algumas mulheres sentadas nos sofás conversavam sem pudores sobre suas últimas missões ou noites com Escorpiões. Outras vinham das piscinas enroladas em toalhas rindo entre cochichos. Acenavam para Katrina quando ela passava, algumas até confirmaram o recado de Elisa, ao comentarem que Anna, a Viúva-Real, a procurava.
Katrina desejava poder se jogar em um dos sofás e ouvir as mais velhas contando como era fora da ilha, quais aventuras e perigos passaram em suas missões, ou apenas chocar-se com os detalhes sórdidos de seus prazeres noturnos. Mas ela tinha outras obrigações, que Anna nunca a deixava esquecer.
Sem vontade, avançou pelo salão principal até o arco de pedras que dava para os banhos. Duas piscinas naturais alimentadas por um filete de água aquecido que vertia infinitamente do teto da montanha. Naquelas águas, as Viúvas banhavam-se, um espaço coletivo, como tudo o era entre aquelas mulheres e garotas, para relaxarem e prepararem-se para seus afazeres diários.
O leve vapor subia pelo ambiente assim como o odor de pedra molhada característico dos banhos. As três Viúvas do Harém Real banhavam-se na primeira piscina e cochicharam quando Katrina entrou no ambiente, pelo visto ela estava mesmo encrencada. As três costumavam ser mais simpáticas com a caçula do Harém.
— Aí está você! — Anna, a Viúva-Real, ou seja, a principal Viúva do Harém e, consequentemente, sua superior, tinha as mãos na cintura esguia ao parar à sua frente. O rosto belo de lábios finos e nariz reto era uma máscara de raiva direcionada à Katrina. — Você perdeu mais uma aula. Como espera ser uma Viúva-Negra decente desse jeito. — Os olhos claros percorreram Katrina dos pés à cabeça, a mulher alta estalou a língua em desagrado. — Não sei onde Hugo estava com a cabeça ao te requisitar para o Harém. Você não é tua mãe, nem de perto.
Katrina desviou o olhar para o chão e engoliu o choro. Apesar do que Anna lhe dizia, ela era sim uma Viúva e se esforçava muito para isso. Treinava nas arenas mais do que todas, e tentava prestar atenção às aulas maçantes de boas maneiras e formas de sedução ministradas por Anna, mas era difícil quando havia coisas mais interessantes para fazer.
— Vá para a água e se faça apresentável. O rei nos aguarda para o jantar — Anna bufou ao girar nos calcanhares resmungando.
Em silêncio, Katrina deixou o vestido escorregar por suas pernas e o colocou dentro do cesto junto com as outras roupas a serem lavadas pelas serviçais. Jogou-se na piscina e nadou para o fundo, ao erguer-se deixou que o filete de água vindo do teto da montanha lhe acariciasse os cabelos, permitindo que todas as palavras maldosas de Anna fossem também lavadas. A mulher nunca teve uma palavra de conforto para ela desde o dia em que entrou no castelo como uma Viúva.
— Não dê atenção para a Anna. — Joana com seus cabelos loiros na altura do ombro, uma das Viúvas do Harém, a mais velha por volta dos trinta anos, a qual Katrina mais gostava, lhe estendeu a mão para ajudá-la a se sentar ao lado dela e das outras.
— Ela anda pior do que o normal. — Mara, outra das Viúvas, uma ruiva com sardas de vinte e poucos anos, revirou os olhos ao jogar um pouco de água em Katrina. — E você também não ajuda com esse comportamento.
— Desculpe. — Katrina suspirou com sinceridade. — Vou me esforçar mais.
— Já tivemos dezoito anos. — Joana sorriu compreensiva ao torcer os longos cabelos loiros. E cutucou com a ponta do pé Vanessa, a outra Viúva de quase trinta anos e pele negra, que relaxava de olhos fechados. — Lembra quando fugimos para aquela festa na capital?
— Não dê ideia para a novata. — Vanessa sorriu ao cobrir o rosto com as mãos. — E depois as coisas eram diferentes antes do rapto do herdeiro.
— Ouvi de um Escorpião que as missões de busca do herdeiro tiveram novas pistas. — Mara se aproximou das outras ao baixar o tom da voz. — Talvez, dessa vez o tragam de volta.
— E como nós ficaremos? — Vanessa comentou ao olhar para o arco de acesso aos salões com preocupação.
— Bem, o Harém sempre passou para o próximo rei quando o antigo morre. Deve ser o mesmo se o herdeiro voltar. — Joana deu de ombros. — Para nós não muda muito, só a quem devemos agradar.
— Hugo tem um corpo de tirar o fôlego como também tinha seu primo, nosso falecido rei. Espero que o herdeiro não fique devendo. — Vanessa sorriu com malícia ao afundar as tranças na água.
— Mas a Viúva-Real é escolha do rei. — Mara sorriu ao acenar em direção a Anna, que retornava aos banhos com os passos pesados fazendo sinal com dedos longo e unhas pintadas de vermelho, para as outras se apressarem.
— Deve ser por isso o mau humor além da conta. — Joana bufou ao sair da água.
As outras, inclusive Katrina, a acompanharam. Seus mantos brancos com escorpiões dourados bordados às costas já estavam dispostos nas cadeiras das penteadeiras. Anna era responsável por escolher suas roupas e complementos para o jantar com o rei e seu Conselheiro Real de todas as noites, assim como em ensiná-las como serem Viúvas-Negras adequadas. Katrina colocou o manto, pensativa ao sentar-se na cadeira e pentear os cabelos negros. Anna poderia perder seu lugar de Viúva-Real caso o herdeiro retornasse e Hugo devolvesse o trono? Talvez isso tornasse a vida de Katrina mais fácil, afinal as outras Viúvas do Harém pelo menos não a tratavam como se ela fosse um ser rastejante indesejado.
Antes de ser uma Viúva, observava aquelas belas mulheres andarem pela vila como rainhas sorridentes e imaginava que fossem como irmãs. As histórias contadas sobre suas glórias contra vampiros ou outros inimigos humanos soavam encantadoras. No entanto, Anna nunca se cansava em apontar que ela não era como a mãe. A envergonhava na frente das outras Viúvas, ou gritava e ameaçava pedir que o rei lhe castigasse por qualquer palavra ou ato de Katrina que não lhe agradasse, era quase como se nunca tivesse saído da casa das crianças. Muitas regras a seguir, muitas aulas maçantes e quase nada de emocionante para fazer.
Não pedira para ser do Harém, e nunca imaginou que seria escolhida pelo rei regente, só queria ser uma Viúva-Negra e contribuir para sua comunidade como a mãe fizera ao trazer vários crânios de vampiros para o castelo. Então, quando Katrina se posicionou à frente do rei junto com as outras dez vencedoras das provas dos 17, não esperava por seu destino.
Hugo andou pela fileira de Viúvas recém-formadas lhe beijando as testas e lhes parabenizando por fazerem parte agora da elite de caçadoras. Ao parar à frente de Katrina, ele sorriu e pegou sua mão.
— É como se eu pudesse ver Kari Maicá novamente. Você é bela como sua mãe, mas com olhos cor de mel. Você lutou com garra. Admiro isso, um dia você será uma guerreira como a sua mãe foi: belamente mortal.
— Obrigada, meu rei. — Katrina reverenciou lisonjeada.
— Só as Viúvas especiais fazem parte do Harém Real. — Ele sorriu ao piscar para ela de um modo que, no momento, Katrina não entendia o real significado. Mais tarde, naquela noite, ela saberia. — Katrina Maicá, lhe convido para ser parte do Harém Real. Você me daria essa honra?
Aquilo a pegou de surpresa, não apenas Katrina, mas todos os convidados que silenciaram em espera. A última Viúva convidada ao Harém fora Mara, há oito anos. O Harém era a elite das Viúvas, um lugar de honra entre os cidadãos. Quem negaria tal honraria? Katrina perdera a fala ao aceitar seu lugar no Harém com um acesso tímido.
Agora, ao trançar seus cabelos na frente do espelho e colocar os brincos e colar escolhidos por Anna, já não se sentia tão honrada. Ser do Harém era ter responsabilidades que a afastava das missões fora da ilha, e, consequentemente, de Lorenzo e Bruno. Ao mesmo tempo era algo pelo qual todas as outras Viúvas-Negras desejavam, sua própria mãe fora do Harém do rei assassinado, por um ano, antes de seu fim trágico.
Observou sua imagem no espelho ao abrir os lábios carnudos para passar o batom claro. Anna a desprezava, mas ela estava ali. Era uma Viúva do Harém, como a mãe fora, era igualmente bela também nem Anna ousava desdizer tal fato. Os traços indígenas contrastando com os olhos em tom caramelo, provavelmente uma herança do pai desconhecido, chamava atenção masculina com facilidade. Além disso, logo teria a oportunidade de sair em novas missões e provar também seu valor como guerreira. Não deixaria Anna lhe fazer acreditar do contrário.
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