6° - Ameaça Eminente
Manhã do dia seguinte. Castelo do shogun.
O dia havia amanhecido em Saitama, os céus estavam com bastante nuvem, algumas delas indicavam que mais tarde poderia haver chuva. Em meio ao quintal de algumas casas ou perto das escolas da cidade, crianças disputavam sua já tradicional briga de besouros, cada uma escolhia um inseto, os colocava em uma espécie de arena improvisada e disputava qual era o melhor dentre eles.
Enquanto a vida na cidade continuava, Kaguya se encontrava em seu quarto, ainda dormindo. Após o treino da última noite com seu mestre Homura, a garota conseguiu voltar para casa em total segurança, passando pelos guardas no castelo com um pouco mais de facilidade desta vez.
Enquanto isso, estranhando a demora de sua filha em acordar, Kushina se aproximava do quarto de Kaguya um pouco preocupada e com uma cara de quem já estava acostumada com tal ocorrência. Kushina rapidamente abriu o Fusuma do quarto e se aproximou da jovem a tocando em seu ombro, já se aproximava do meio dia, e Kaguya ainda continuava a dormir.
- Kaguya! Kaguya! Acorde! Ou pretende ficar dormindo o dia todo? – questionava Kushina enquanto sua filha abria lentamente os olhos.
- M-mãe? O que faz aqui? – questionou Kaguya ainda sonolenta enquanto ficava sentada sobre seu Futon.
- Eu vim te acordar. Gostaria muito de saber por que dorme até tarde e o principal, porque esta com esse cheiro de suor? – perguntava Kushina olhando com uma cara estranha para sua filha.
- Que? Cheiro? – questionava Kaguya achando estranha a pergunta de sua mãe, e se cheirando em seguida. – "Merda! Deveria ter tomado o banho antes de dormir para disfarçar, Kaguya idiota!" – pensava Kaguya brigando consigo mesma.
- Vejo que o sono ainda permanece em você. – dizia Kushina soltando um longo suspiro. – Tome um banho e se troque, depois desça para comer alguma coisa. Entendido? – questionou.
- Sim, pode deixar! – respondia Kaguya com um sorriso.
Kushina acariciou a cabeça de sua filha e logo saiu do quarto de Kaguya fechando a porta. Em seguida, Kaguya soltou um longo suspiro enquanto ajeitava suas coisas, após pegar uma toalha e suas novas roupas Kaguya desceu até a área de banho que ficava no térreo próximo a sala de estar do castelo.
Ao chegar, as empregada já haviam preparado a água quente na enorme banheira que simulava quase uma terma. O banheiro tinha um espaço amplo contendo alguns armários para guardar as roupas limpas e outro para deixar as roupas sujas, cada armário ficava em extremidades opostas das paredes. O espaço do banheiro era dividido por uma enorme parede de madeira bastante expressa, indicando do lado direito da entrada a parte masculina e a esquerda a parte feminina.
Após separar suas roupas Kaguya entrou na banheira ficando sentada com a água próxima de seu rosto, a garota abraçava suas pernas encostando a cabeça nos joelhos enquanto pensava em seus segredos. Kaguya já pensou inúmeras vezes em desistir, em largar tudo e seguir sua vida segundo as tradições antigas, porém sempre que estava com tais pensamentos a garota voltava a se lembrar também da história de Tomoe Gozen, a única mulher shogun descrita em livros antigos e sua fonte de inspiração.
Dizem as histórias antigas que Tomoe Gozen foi à única mulher shogun já registrada na história da terra do sol nascente, Tomoe era uma valente e temida guerreira samurai que lutou em todas as batalhas travadas em sua época, se tornando temida e respeitada por todos os outros shoguns. Porém mesmo com sua história registrada em livros, não se sabia exatamente qual havia sido o seu fim verdadeiro, muitas teorias e histórias eram contadas sobre seu grandioso final.
Durante o banho Kaguya ainda conseguiu ter um breve cochilo sobre as águas da banheira, após vários minutos a garota se levantou e se trocou vestindo um quimono azul. Ao sair do banheiro, Kaguya foi até a cozinha onde seus pais se preparavam para fazerem uma das refeições do dia. Após cumprimentar seu pai e mãe e agradecer pela comida todos se colocaram a comer.
- Dormindo tarde Kaguya? Não é muito comum você fazer isso, mas de uns tempos pra cá, tal ato vem sendo recorrente. – dizia Yasunori.
- Sinto muito meu pai. Não consigo dormir às vezes, e para tentar ter algum sono acabo lendo algo durante a noite e consequentemente perdendo a hora. – dizia Kaguya se concentrando logo em seguida em sua comida.
- Mesmo assim, ficar acordada até tarde pode não ser bom para você. E, aliás, acordando tarde você acaba perdendo o belo dia que esta fazendo lá fora. – afirmava Kushina.
- Eu sei, mas não posso evitar. Às vezes acontece. – dizia Kaguya.
- Tudo bem, pelo menos você não esta fazendo nada de errado, ler para clarear a mente ou ter um refugio em tempos em que a mente está confusa ajuda muito a pessoa a se tornar mais sabia com o tempo. – afirmava Yasunori.
- Sim, é exatamente por isso que gosto de ler, pelo menos na fantasia dos livros posso ser alguém diferente desta que sou hoje. – afirmava Kaguya arrancando um olhar estranho de seu pai e sua mãe. – O que? Não disse nada de errado. – afirmou.
- Não, não disse, mas enfim. Preciso me encontrar com os guardas que fazem a ronda da noite. – disse Yasunori terminando sua refeição.
- Aconteceu algo querido? – questionou Kushina enquanto Kaguya apenas observava.
- Parece que dois deles viram algo durante a noite, e hoje de manhã vieram me alertar sobre o assunto, pedirei para que reforce a guarda a noite por precaução. – respondia Yasunori enquanto Kaguya engasgava com a comida.
- Kaguya! Coma devagar! – disse Kushina se levantando para ajudar sua filha.
- Des-desculpa... cof, cof... – dizia Kaguya tomando um pouco de água.
- Bom, de qualquer forma vejo vocês mais tarde. – dizia Yasunori saindo do local.
- "Merda! Ferrou! Se a guarda for reforçada, sair para os treinos vai ser um desafio enorme! Vou ter que pensar em algo depois!" – pensava Kaguya consigo mesma.
- Está tudo bem filha? – questionou Kushina.
- S-sim, está minha mãe, não se preocupe. Pode deixar que assim que eu acabar arrumarei tudo. – respondia Kaguya com um leve sorriso.
- Está bem, preste atenção quando for comer para não engasgar novamente. – afirmou Kushina se levantando.
- Sim...
Enquanto uma densa chuva começava a cair em Saitama, Kaguya começou a limpar a mesa e consequentemente lavar os pratos, a jovem estava empenhada em sua tarefa enquanto pensava em diversas outras formas de sair do castelo.
Assim que a jovem acabou, Kaguya foi ao seu quarto onde se sentou perto da varanda, o cheiro de terra molhada começava a ganhar espaço enquanto o barulho da chuva e o vento gelado completavam o clima no local. Kaguya pegou um pequeno pergaminho em branco que estava do seu lado e o abriu a sua frente. Em seguida abriu um pote de tinta e pegou um pincel que também estavam ao seu lado, ao molhar a ponta do pincel Kaguya começou a treinar sua caligrafia.
A arte de treinar sua caligrafia era considerada uma das belas funções realizadas por guerreiros samurais da época, Kaguya sempre que podia escrevia algo em pergaminhos, aprimorando cada vez mais sua habilidade. Enquanto escrevia, Kushina a observava escondido do lado de fora do quarto, após dar um leve sorriso para sua filha, Kushina levemente fechou a porta e se dirigiu para outra ala do castelo.
Sul do Japão. Região de Kansai. Província de Wakayama.
Enquanto a tranquilidade reinava em Saitama, no sul as chamas que Yasunori queria evitar começavam a se ascender. Uma grande batalha por território era travada em Wakayama, de um lado, as forças do shogun comandante da região que aos poucos começava a perder força perante seus inimigos.
Do outro, havia um shogun que governava a província de Tokushima e com seus grandes navios de guerra, conseguiu invadir a província vizinha em busca de mais territórios. Seu exercito era bem treinado, comandado por dois homens que usavam uma roupa militar totalmente em cor preta com um, sobretudo de cor roxo escuro, um deles usava óculos e tinha o cabelo branco tendo em torno de seus 30 anos. O outro esbanjava olhos azuis e possuía cabelos pretos amarrados no estilo rabo de cavalo, possuía aproximadamente a mesma idade de seu colega.
Enquanto a batalha se desenrolava em torno do castelo, dentro do lugar os dois shoguns rivais travavam uma intensa batalha, porém após algumas horas de combate o líder de Wakayama estava no chão. Sangue saia de suas feridas, seu braço direito do qual segurava a espada havia sido quebrado por seu oponente.
A frente do homem caído, um guerreiro usando uma armadura de guerra em tons de vermelho se aproximava a passos lentos. Tinha aproximadamente seus 45 anos, porém sua estatura física o fazia parecer mais jovem que o habitual, ao chegar perto de seu oponente, o homem apontou a espada em direção ao governante da província.
- O-o que veio fazer aqui? – questionou o shogun caído.
- Meu caro Hajime... Você sabe o que eu procuro. Até eu encontrar, pretendo agregar outros territórios sob meus domínios. – respondia o outro samurai.
- A guerra já acabou, estamos caminhando para uma era de paz! Você não tem o direito de invadir outros territórios! – afirmava Hajime com a voz um pouco tremula.
- Eu não tenho o direito? Paz? Não me faça rir. Vou perguntar de novo? Você sabe onde estão? – questionou o homem.
- Mesmo se eu soubesse... Eu não diria nada a você! – respondia Hajime com um sorriso no rosto.
- Pois bem, considere essa suas últimas palavras. – disse o guerreiro desferindo um corte em Hajime que caiu morto no chão.
Após limpar o sangue em sua espada, o samurai caminhou até a varanda observando o cenário de destruição a sua frente. A cidade queimava enquanto pessoas inocentes eram feridas, e soldados mortos, Logo um de seus generais surgiu se ajoelhando em respeito e anunciando sua presença, o homem era o de óculos e cabelos brancos.
- Meu senhor! Confirmamos que aquilo não está neste castelo. – afirmava o homem de óculos.
- Entendo, eu sabia que não seria fácil consegui-las. Bom trabalho Takanori! – dizia o guerreiro se virando para observar seu servo.
- Sim! O que faremos agora senhor? – questionou Takanori olhando seu mestre enquanto ajeitava seus óculos.
- Vamos terminar por aqui. Pegaremos as armas e eliminaremos os últimos soldados que sobrarem, faça os sobreviventes se ajoelharem ou perecerem. Depois disso... Peça para o Koga entrar em contato com "ele". Creio que já esperamos tempo demais. – respondia o guerreiro com um olhar sério.
- Como desejar senhor! – dizia Takanori.
- Em breve meu jovem general... Iremos obter os poderes descritos nos pergaminhos antigos, e juntos teremos este país em nossas mãos... Territórios... Dinheiro... Fama... Poder... Mulheres... Tudo estará ao nosso alcance... – afirmava o guerreiro samurai fechando seu punho.
Ao mesmo tempo em que a tranquilidade reinava em algumas regiões, as chamas da guerra começavam a se ascender vindas do sul, em breve a terra do sol nascente não seria mais a mesma.
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