Midori estava séria observando o barco de Kaguya se afastar cada vez mais da costa e sumir no horizonte, em seguida um sinal de fumaça feito com fogos foi disparado indicando para o barco que os seguia retornar ao porto e aguardar novas ordens.

Midori logo indicou para Akemi a seguir, onde ambas se dirigiram para dentro do castelo e assim começarem a se preparar. Akemi já havia recebido suas ordens de seguir Kaguya, porém antes algumas tarefas precisavam ser feitas para garantir a segurança na cidade.

Ao mesmo tempo em que se trocava em seu quarto, Midori se lembrava de um passado distante.

Há muito tempo atrás. Vilarejo a sul da província de Aomori.

Uma pequena vila cercada por montanhas e um templo antigo, escondido pela mata onde algumas pessoas moravam tranquilamente naquele lugar. O vilarejo era de porte médio e se sustentava graças à venda de frutas e plantas que eram usadas na fabricação de remédios e antídotos para venenos.

Aquele era o vilarejo de um pequeno clã. O clã Suzuki já havia sido um renomado clã de guerreiros e guerreiras sem exceção, homens e mulheres lutavam lado a lado desde os tempos antigos seja eles em prol do país ou de seus próprios objetivos obscuros, sendo cercados de muitos segredos e mistérios. O clã Suzuki era o tipo de clã que sempre agia sozinho e sorrateiramente, não se aliando a quase ninguém de outros clãs ou famílias nobres pelo país. Exemplo disso se dava pelo fato do clã inteiro ter ligações cortadas com o governo não apoiando as ideias do Daimyo atual e sendo contra o Shinsengumi.

Era um tipo de clã que dava liberdade para seus membros serem quem quisessem ser, desde que as doutrinas do clã fossem devidamente respeitadas por todos. Desde pequenas suas crianças eram ensinadas pelos anciões, sabia o que teriam que fazer para poderem ser pessoas fortes e destemidas no futuro. O clã Suzuki era conhecido também por ser um clã que cultivava o veneno de serpentes para se usar em batalhas país a fora, banhando suas armas com tal toxina.

Os Suzukis eram pessoas leais uns aos outros, possuíam como seu símbolo principal a figura de uma serpente de oito cabeças. Os principais membros principalmente os guerreiros, lideres e anciões, assim que completavam seus 18 anos ganhavam uma tatuagem do clã em seus corpos, apenas aqueles candidatos a lideres dos Suzukis ficavam sem a tatuagem por mais tempo, pois assim que eram escolhidos em definitivo para liderar a todos é que ganhavam uma tatuagem especial.

Desde os tempos antigos o clã Suzuki venerava uma antiga força da época dos deuses, uma força que apenas os lideres das famílias do clã Suzuki e os anciões sabiam do que se tratava.

Na época Midori havia acabado de completar os seus 16 anos de idade, a garota vivia tranquilamente com sua mãe e avó, seu pai foi morto durante a Guerra civil que se alastrou pela terra do sol nascente. Desde pequena Midori já apresentava um grande intelecto, era boa com seus estudos e também na fabricação de diversos venenos sendo treinada exclusivamente por sua mãe.

Porém todos reconheceram sua força quando Midori aprendeu a lutar com uma espada e derrotou um dos lideres do clã. Suas habilidades deixaram todos esperançosos e Midori logo se tornou uma das candidatas a assumir a liderança do clã no futuro. Porém a mesma sabia que ainda teria um longo caminho de aprendizado pela frente para poder se tornar uma boa líder e levar seu clã para a gloria.

O tempo foi passando e o clã Suzuki enfrentou alguns problemas, cinco anos depois uma batalha envolvendo os Suzukis e um clã rival aconteceu. Ambos disputavam um território ao leste da província de Aomori perto da fronteira com outras duas províncias, a batalha chamou atenção do shogun de Aomori que interveio no confronto com seu exercito.

A situação havia sido controlada e a batalha que chegou a durar meses foi encerrada com um acordo de não agressão das três partes, porém as feridas da batalha permaneceram no coração dos Suzukis, algumas pessoas incluindo alguns dos lideres e também a família de Midori vieram a cair em combate.

Os anciões se reuniram e decidiram que era hora de um novo líder ser escolhido, alguém que pudesse trazer a gloria de volta aos Suzukis e assim conseguir realizar o que muitas pessoas não conseguiram ao longo dos anos. Foi então que Midori a candidata principal a liderar o clã se apresentou já com seus 21 anos.

- Midori... – dizia uma das anciãs. – Você será enviada secretamente a caverna Ryuusei... Você sabe o porquê não é? – questionou a velha anciã.

- Sim. – disse Midori se ajoelhando em respeito. – A Espada Oculta... O líder do clã precisa dominar a técnica e retornar com a cabeça de três inimigos. Só assim ele será reconhecido verdadeiramente. – concluía Midori.

- Exato. – disse outro ancião dessa vez um homem. – Midori nós temos muitas expectativas em você, não nos desaponte... O futuro do clã depende disso... – concluiu.

- Sim, irei retornar em breve meu senhor. – afirmava Midori sorrindo timidamente.

E assim Midori partiu sozinha para a caverna Ryuusei em Hokkaido em busca de completar seu treinamento e despertar sua técnica de Espada Oculta. Midori passou dias e dias de viagem até enfim chegar à caverna onde seu treinamento começaria.

Alguns meses se passaram e as pessoas do clã Suzuki já começavam a ficar desconfiados de que até mesmo Midori não conseguiria retornar, afinal mesmo após o termino do treino a mulher ainda teria que conseguir a cabeça de seus inimigos, o que não seria nada fácil. Porém todo esse esforço seria recompensado caso conseguisse, ter a liderança do clã era o principal objetivo de Midori.

Depois de três meses após ter partido, em uma tarde chuvosa, uma mulher se aproximava da entrada do vilarejo, quando os guardas notaram se tratava de Midori carregando o que seria um saco, suas roupas estavam manchadas de sangue e seu rosto estava todo sujo, muitas feridas eram vistas em diversas partes do corpo e a água da chuva a cobria por inteiro encharcando suas roupas.

Midori foi levada até os anciões na entrada da maior casa da vila onde se apresentou depois de tanto tempo. Midori jogou o saco que carregava no chão e assim cabeças rolaram para fora, cerca de 20. Ao mesmo tempo em que os anciões se surpreenderam com tal feito, as pessoas do clã surgiam também observando o que aconteceria a seguir e ficando assustadas com o retorno de Midori.

- Você conseguiu... Impressionante... – afirmou um dos anciões surpreso.

- Sim, mas não foi fácil... Tive diversos problemas no caminho, eu demorei muito, porém peguei os lideres do clã Hoshi que mataram minha família, que jogaram o nome dos Suzuki na lama na última batalha... Eu... Enfim me vinguei de todos eles... Hahahahaha... Ver aqueles gritos, ver o nome dos Suzuki sendo restaurados... Foi lindo... – dizia Midori rindo loucamente e parando logo em seguida.

- Q-que mulher você se tornou... – dizia uma das anciãs assustada.

- Eu fiz o que seria necessário... Graças a minha Espada Oculta, o inimigo sequer teve chance, aliás, não encontrei entre eles um guerreiro que fosse digno de minha espada... É decepcionante ver o quanto nosso clã decaiu para poder perder para eles na última batalha... – dizia Midori.

- Parece que... Não temos escolha... Midori... Aqui diante de todos nesta vila eu a declaro a nova líder do clã Suzuki! – gritou o ancião onde todos soltaram um grito em comemoração.

- Midori... Nos siga até o templo de nosso clã... É chegada a hora de revelar nosso segredo a você. – dizia a anciã.

- Como queira. – afirmou Midori seguindo os dois anciões.

O trio mesmo de baixo de chuva seguia pela trilha até a montanha mais ao norte onde ficava localizado o templo do clã Suzuki. O local era cercado por muitas árvores e também estátuas de diversas serpentes, quando estavam próximos de entrar no corredor do templo Midori ouviu algo vindo de dentro, o som de algo rastejando pela terra.

Midori seguia os anciões com calma prestando atenção em tudo a sua volta, conforme iam andando tochas eram acessas pelos anciões iluminando o caminho. Midori nunca havia entrado no templo, aquela era sua primeira vez, afinal só os lideres tinham direito a tal feito.

- O que exatamente é isso? – perguntou Midori enquanto andava.

- Midori, esse é o segredo de nosso clã. – dizia a anciã.

- Você sabe que nós seguimos doutrinas antigas adorando uma serpente não é? – questionou o ancião.

- Sim, diz a lenda e os pergaminhos antigos de que seria a lendária Yamata no Orochi, derrotada pelos deuses no passado. – respondia Suzuki.

- Exatamente... Porém ela não foi derrota naquela batalha. – afirmava anciã.

- Como assim? – questionou Midori assustada.

- Midori... Segundo os pergaminhos passados de geração em geração em nosso clã... Depois da batalha que cravou a derrota de Yamata no Orochi... Os nossos ancestrais acharam resquícios de seu corpo perdidos pela costa leste do país... Utilizando de seus conhecimentos e diversas drogas e venenos eles conseguiram depois de muito tempo reanimar a última cabeça de Yamata no Orochi que ainda se mantinha viva... Porém eles esconderam essa cabeça em um lugar onde os deuses não encontrariam... O tempo passou e até os deuses caíram, porém não sem deixar resquícios de seus poderes para trás... Seihō... A Espada Oculta... E enfim as relíquias antigas... – respondia à anciã.

- Por muito tempo, nós seguimos as ordens de Yamata no Orochi, seguimos seus ensinamentos e assim conseguimos recuperar boa parte do prestigio que nosso clã exercia... Tudo isso com o objetivo de ter em mãos as relíquias deixadas pelos deuses... Artefatos cheios de poder mágico... As joias Yasakani no Magatama, a espada Kusanagi no Tsurugi e o espelho Yata no Kagami... Se obtivermos as três, o poder de Yamata no Orochi retornara, e assim ela poderá andar pela terra novamente. – concluía o ancião.

- Do jeito que ela está... Desde que a reanimamos, a serpente não pode andar sob o sol, os danos foram enormes e apenas simples drogas não teriam efeito para recuperá-la 100%... Desde os tempos antigos até mesmo na guerra civil que acabou nosso clã veio buscando as relíquias sagradas, porém hoje está muito mais difícil acha-las... Eu diria que é impossível encontra-las... O governo as escondeu bem... E não temos força o suficiente para ir atrás delas... – afirmava à anciã.

- Midori... – disse o ancião virando para encarar Midori, os três estavam agora no centro da caverna, um espaço enorme e escuro. -... Seu objetivo como líder do clã Suzuki é buscar por essas relíquias... Restaurar a honra de nosso clã... E com Yamata no Orochi recuperada... O mundo se curvara diante do poder dos Suzuki... Midori... Você aceita essa missão? Aceita ser parte de algo maior e quem sabe no futuro, ser aquela que governará o país? – questionava o ancião.

- Sim! – respondeu Midori sem hesitar. – Eu aceitarei com grande prazer! Serei aquela a trazer de volta o nome dos Suzuki ao topo deste país. – concluía Midori.

- Ótimo... – disse uma voz sinistra vinda de trás dos anciões. – Eu gostei de você... Vejo em você a determinação para fazer o que deve ser feito... Midori... A nova líder do clã Suzuki... Não me decepcione... – afirmou a voz se elevando.

Midori olhou para cima e viu um par de olhos azuis brilhando no escuro a encarando friamente. Midori então sorriu e viu ali o seu caminho rumo ao topo do país. A mulher aprendeu muitas coisas novas com a Serpente Yamata no Orochi, incluindo uma técnica para se parecer um pouco mais jovem. Midori ganhou sua enorme tatuagem de serpente nas costas que seguia até a parte da frente de seu corpo, indicando ser agora a líder oficial dos Suzuki.

O tempo passou e Midori resolveu sair do vilarejo e investigar alguns assuntos por conta própria, antes disso Midori formou uma organização secreta chamada de Orochi que atuava principalmente no norte de Aomori. Com ela Midori possuía homens e mulheres infiltradas em vilas lhes passando informação sobre tudo, para identifica-los, Midori fez tatuagens de serpente em seus membros.

Em uma de suas viagens Midori acabou conhecendo Aigami por quem se apaixonou, e do fruto desse amor nasceu à pequena Akemi. Porém Midori sabia de seus propósitos, sabia de seus objetivos e da missão que tinha que cumprir, e viver uma vida pacífica não fazia parte deles, foi então que Midori resolveu armar uma determinada situação para que tivesse a desculpa para desaparecer.

O ataque à vila onde morava com Aigami foi armado por Midori e seus homens, com isso Midori conseguiu escapar da vista dos moradores levando consigo a pequena Akemi, onde juntas retornaram ao vilarejo do clã Suzuki. Akemi foi crescendo e com o tempo Midori foi lhe ensinando tudo que aprendeu com o clã. Akemi iniciou seu treino com a espada e não demorou muito para que aprendesse também sobre sua Espada Oculta despertando seu poder na Caverna Ryuusei.

Ambas começaram então a se movimentarem, a Orochi cresceu, ganhou simpatizantes de fora do clã Suzuki. Armaram para matar secretamente o shogun de Aomori, dominaram os portos da província e se estabeleceram secretamente, repassando informações falsas a outros lugares. Midori até mesmo conseguiu despistar o Shinsengumi com seu falso shogun.

Com isso tudo estava indo de acordo com o que Midori e os falecidos anciões planejavam. Tudo o que restava era encontrar as relíquias dos deuses, e assim cumprir com o desejo de Yamata no Orochi. Em breve Midori teria em mãos tudo o que um dia desejou, a sua ambição e seu desejo de querer mais poder vivia forte como nunca dentro de seu corpo.

Atualmente.

- Minha mãe... Estou pronta para sair. O esquadrão de investigação e também sua equipe de proteção está pronta apenas aguardando ordens de partida... – afirmava Akemi na porta do quarto de sua mãe vestindo um Kimono de batalha diferente de antes, onde o verde e dourado predominavam com detalhes em vermelho.

- Sim, também estou pronta... – disse Midori sorrindo.

- Enfim cumpriremos com o nosso objetivo... – afirmava Akemi.

- Sim... E nada ficará no nosso caminho... Vamos Akemi... Pois é a hora da Orochi se revelar ao mundo... – dizia Midori com um sorriso maléfico no rosto.