3°- A Lâmina Oculta!
Enquanto Hijikata e o Shogun Yasunori conversavam, Kaguya e sua mãe se encontravam no quarto da garota, ambas já haviam se trocado e usavam um Kimono mais simples. O quarto de Kaguya era um pouco amplo e muito bem arrumado e perfumado com incensos, havia um armário contendo às roupas da garota feitas da melhor seda encontrada na região, e um espaço para guardar o Futon que usava para dormir. Ao lado do armário, ficava o que seria uma estante de livros dos mais diferentes tipos, além de manuscritos, e pergaminhos antigos.
O quarto de Kaguya ficava no terceiro andar do enorme castelo, e continha uma pequena varanda de onde a garota poderia ter uma bela visão de toda cidade de Saitama. Kaguya e sua mãe estavam juntas sentadas na varanda do local tomando o chá que as empregadas do castelo lhes trouxeram.
Uma corrente um pouco fraca de vento que percorria à tarde em Saitama, batia em seus rostos fazendo seus cabelos se movimentarem aos poucos, deixando um clima calmo e agradável.
- Diga-me minha filha... Não se interessou por ninguém durante as aulas na academia? – questionou Kushina tomando seu chá.
- Por que a pergunta minha mãe? – respondeu Kaguya com outra pergunta enquanto fazia uma cara de assustada.
- Por nada. Mas achei que durante as aulas você tivesse se interessado por alguém. – respondeu Kaguya curiosa.
- M-mas é claro que não. A senhora sabe que não havia ninguém lá que me chamasse à atenção. – respondia Kaguya tomando seu chá e fazendo uma cara estranha.
- Não precisa mentir, eu sei que tinha. – insistia Kushina cutucando Kaguya com o cotovelo enquanto dava um longo sorriso.
- É sério mãe! Eu não tinha interesse em ninguém. Focar nos estudos era mais importante do que um romance de adolescente! – dizia Kaguya rindo do comentário de sua mãe.
- Fingirei que acredito senhorita. – dizia Kushina rindo em seguida.
- As aulas na academia da cidade eram divertidas e interessantes, e a senhora sabe que eu nunca fui muito boa em fazer amigas ou amigos. – dizia Kaguya tomando outro gole de seu chá.
- Eu sei disso, era muito raro ver você pequena brincando com alguém da sua idade, acho que isso só aconteceu umas cinco vezes não foi? – questionou Kushina.
- Na verdade foi somente duas vezes, uma delas foi quando eu quebrei sem querer o braço do Keigo brincando de samurai com a turma... – respondia Kaguya com um sorriso forçado se lembrando vagamente da cena.
- Coitado do pequeno Keigo, lembro que tivemos que pedir desculpas a sua família, e você levou uma bronca enorme de seu pai. – afirmava Kushina.
- Sim... – disse Kaguya dando outro sorriso forçado lembrando-se da bronca dado por seu pai na época. – Acho que o garoto nunca mais vai pegar em uma espada depois daquilo. – dizia Kaguya deixando a xicara de chá do seu lado.
- E de quem será a culpa não é mesmo? – questionou Kushina arrancando leves risadas de ambas. – Aliás, o Keigo daria um ótimo marido não acha? – questionou Kushina.
- Acho que não minha mãe, toda vez que eu o encontro durante minhas caminhadas pela cidade, ele sai correndo de medo. Acho que alguém pegou trauma. – respondia Kaguya rindo junto com sua mãe.
Logo depois, Kaguya afastou um pouco mais sua xícara de chá e inclinou-se deitando com a cabeça no colo de sua mãe, momentos como esse eram os que Kaguya mais gostava. Ter um momento com sua mãe lhe trazia alegria e paz, Kushina em seguida deixou sua xícara do lado esquerdo de seu corpo, e logo começou a acariciar a cabeça de sua filha enquanto observava a cidade.
- É tão bom... Queria que momentos assim durassem pela eternidade. – dizia Kaguya fechando lentamente seus olhos.
- Sim, porém nada dura para sempre, e um dia será você fazendo isso com seus filhos ou filhas. – afirmava Kushina com um sincero sorriso.
- Espero que esse dia demore a chegar... – dizia Kaguya num tom de voz mais baixo e suave.
Kaguya levemente pegou no sono enquanto sua mãe lhe fazia carinho, o som do vento e dos galhos das árvores balançando deixavam o momento apropriado para um cochilo. Enquanto Kaguya cochilava no colo de sua mãe, Kushina a observava com um longo sorriso em seu rosto, por mais que não concordasse com as ideias de sua filha, a esposa do Shogun queria que Kaguya tivesse uma vida feliz e tranquila, queria que a jovem vivesse longe de guerras e lutas, pois não suportaria ver sua filha machucada em batalha.
Após quase uma hora, Kushina começava a cutucar sua filha para que acordasse. Kushina pressionava o dedo indicador de sua mão direita contra a bochecha de Kaguya a fazendo lentamente abrir os olhos, Kaguya calmamente se levantou esfregando seus olhos olhando para sua mãe ainda com sono.
- Eu... Dormi não foi? – questionou Kaguya se espreguiçando.
- Por quase uma hora, parecia um bebê. – dizia Kushina arrancando leves risadas de sua filha.
- Poderia ter me deixado dormir mais um pouco... – dizia Kaguya.
- Seria uma ótima ideia, mas... Não está se esquecendo de nada mocinha? – questionou Kushina enquanto se levantava assim como Kaguya.
- Esquecendo? Como assim? – respondia Kaguya com duvidas em seu rosto enquanto coçava levemente sua cabeça.
- As carpas não vão se alimentar sozinhas. – respondeu Kushina dando uma leve piscada com seu olho direito.
- Merda! Eu esqueci que hoje era minha vez. Até depois mãe! – disse Kaguya correndo pelo quarto e saindo do local.
- Não corra Kaguya! – gritou Kushina, porém sua filha já estava distante para ouvir seu apelo.
Kaguya rapidamente desceu as escadas até o térreo, após atravessar a casa e colocar suas sandálias de madeira, a jovem caminhou até o armazém onde ficava o alimento dos animais. Depois de abrir as portas do local, Kaguya procurou por um balde e o saco onde havia alguns pedaços de plantas e ração orgânica. Como o lugar era pequeno, Kaguya achou rapidamente o que procurava e logo colocou um pouco no balde, após guardar tudo como estava antes, a jovem pegou o balde e saiu do armazém.
Kaguya calmamente andava com passos longos em direção ao jardim enquanto cantarolava um musica, não demorou muito mais que cinco minutos para a herdeira da família Ishikawa chegar ao jardim. Kaguya se aproximou da beirada do lago ficando ao lado da pequena ponte que havia no local, observando o quarteto de carpas que nadavam no lago do jardim.
As carpas eram coloridas, sendo uma delas em cores branco e vermelho quase laranja, outra branca com manchas pretas, outra tinha cores em preto, vermelho e branco, e a ultima era preta com manchas brancas. Kaguya cuidava sempre que podia dos pequenos animais nadadores, era um de seus afazeres dos quais fazia com o maior prazer. Após observar os peixes por mais alguns minutos, Kaguya começou a jogar no pequeno lago os alimentos em seu balde.
- Vejo que não se esqueceu como da última vez. – dizia a voz de um homem se aproximando de Kaguya que logo se virou para ver a figura de seu pai.
- Olá meu pai. – disse Kaguya se levantando e levemente se curvando em respeito a seu pai, que logo se aproximou e deu-lhe um pequeno beijo em sua testa. - A reunião com o senhor Hijikata terminou? – questionou a garota.
- Sim, o Shinsengumi acabou de sair do castelo e estará voltando para Kyoto ainda hoje. – respondia Yasunori observando as carpas no lago.
- Entendo... Achei que fossem ficar um pouco mais. – afirmava Kaguya voltando a alimentar os animais.
- Eles têm seus próprios afazeres, não podem ficar parados em uma cidade por muito tempo, e, aliás, o exame de admissão se aproxima, tudo deve estar pronto até lá, e há muita coisa a se fazer. – afirmava Yasunori com uma expressão seria no rosto.
- O exame... Sabe eu... – dizia Kaguya sendo interrompida por seu pai.
- Eu sei o que você irá falar, e sei que você já sabe a resposta. – dizia Yasunori olhando sua filha.
- Mas eu nem comecei. – retrucou Kaguya encarando seu pai.
- E nem deve, você sabe que não poderá realizar tal exame não é sua função pegar em uma arma. – exclamava Yasunori.
- Eu só quero fazer a diferença neste lugar, não quero ser a simples filha indefesa do shogun. – dizia Kaguya num tom de desanimo.
- Ouça bem minha filha. Você tem outras obrigações, obrigações estas mais importantes que uma batalha de verdade, nunca que permitirei que você faça tal ato, que pegue em uma espada e saia por ai lutando. Isso não é uma tarefa para mulheres. Pegar em uma espada, lutar em uma guerra, isso está longe de ser algo possível para vocês de várias maneiras diferentes. – afirmava Yasunori engrossando um pouco mais sua voz.
- Mas meu pai... – dizia Kaguya sendo interrompida outra vez.
- Kaguya, eu te amo e quero sua proteção nada mais. Vamos encerrar este assunto aqui, e não quero mais nada sobre isso rondando este castelo. Está me ouvindo? – questionou Yasunori encarando Kaguya com um olhar quase em fúria.
- S-sim, eu ouvi. – respondia Kaguya com um olhar cabisbaixo.
- Ótimo, então depois que acabar se apronte para o jantar. – afirmou Yasunori caminhando para dentro do castelo novamente.
- Pelo menos nessa eu posso ter o direito de escolher repetir? – questionou Kaguya.
- Se eu não fizer isso antes, quem sabe você consiga. – afirmava Yasunori enquanto caminhava pelo jardim dando um leve aceno com sua mão direita.
Kaguya soltou um leve sorriso e logo voltou a sua tarefa. Após terminar de alimentar as carpas Kaguya caminhou até o armazém novamente, a garota guardou o balde e trancou o lugar, em seguida, usando a torneira do lado de fora Kaguya lavou suas mãos, após lava-las a jovem caminhou para dentro do castelo.
A garota logo foi à sala de estar do castelo, onde se sentou para ler um livro que se encontrava perto da mesa, o livro havia sido deixado ali por ela mais cedo antes de ir para o teatro com sua mãe. A história que lia seguia em um mundo de fantasia, com feras místicas e um reino distante a ser protegido por guerreiros samurais da ameaça de um poderoso dragão lendário que assombrava a vida das pessoas.
Kaguya estava em concentração total, totalmente fixada na história do livro a ponto de se imaginar como um dos personagens, Kaguya se imaginou com uma armadura branca com detalhes em cor rosa, usando uma espada e tendo poderes místicos de fogo, lutando em uma batalha intensa contra o dragão. Kaguya imaginou cada movimento, cada passo e golpe dado com sua lâmina. Imaginou como seria viver livre e lutar em um mundo como o qual estava imaginando.
Após algumas horas Kaguya foi alertada por uma das empregadas de que a janta estava servida. Rapidamente, Kaguya caminhou até a cozinha onde seu pai e sua mãe já se encontravam sentados a frente de uma pequena mesa. Arroz, algumas verduras e um pouco de carne e molho faziam parte do cardápio. Kaguya sentou-se primeiro cumprimentando seus pais, e logo se pôs a pegar sua parte da comida em uma tigela.
- Obrigado pela refeição! – disseram Kaguya e seus pais ao mesmo tempo.
Com os hashis em mãos a família Ishikawa desfrutava de uma bela refeição em família, Kaguya assim como seu pai repetiu o prato cerca de quatro vezes, deixando Kushina com uma expressão de raiva. Não demorou muito para que Kushina desse uma longa bronca nos dois, reclamando que sempre faziam isso e que não tinham educação. Kaguya e Yasunori riam de Kushina que logo ficou envergonhada. Kaguya possuía o que tinha de melhor dos dois, a bondade e gentileza de sua mãe, assim como a determinação e a teimosia de seu pai.
Após a refeição Kaguya se despediu de seus pais os cumprimentando e logo se virou indo até seu quarto. Kaguya fechou a porta em seguida e preparou seu Futon esticando-o no tatame. A herdeira da família Ishikawa logo se deitou e preparou-se para dormir, ou pelos menos fingiu dormir.
Kaguya se mantinha acordada prestando bastante atenção à movimentação das empregadas pelo corredor do castelo, logo notou que todas haviam ido dormir em seus quartos, porém Kaguya não se levantou. Manteve-se deitada por mais uma hora e meia até tudo estar totalmente em perfeito silêncio.
Com calma e leveza, Kaguya se levantou e caminhou até seu pequeno armário de roupas, pegou um Kimono branco com detalhes em vermelho nas mangas e o vestiu sem pressa e com cuidado. Kaguya estava com os cabelos soltos e após alguns minutos trocando de roupa a jovem estava pronta. Antes que saísse de seu quarto, Kaguya se aproximou da varanda e se abaixou perto do canto da porta, dando um toque na madeira do chão um compartimento se abriu revelando algo que estava escondido e muito bem guardado.
Como era seu quarto e era a sua tarefa limpa-lo, ninguém notou que a garota havia criado um fundo falso para esconder um dos itens que a proibiram de usar. Kaguya logo empunhou a espada que estava guardada, tinha uma bainha preta com detalhes em roxo assim como a empunhadura, com um pequeno acessório de uma flor de cerejeira amarrado na ponta.
Kaguya encarou a espada por alguns minutos e logo voltou seu olhar para a cidade. O vento gelado percorria a noite em Saitama que era iluminada pela lua, com um sorriso no rosto, Kaguya estava pronta para sair, indo em direção a algum lugar misterioso.
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