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Shirley viu o homem apontando a arma e soltou um grito. Mauricio chegou a erguer o pé de cabra, mas ao verificar a inutilidade de sua ação diante da arma apontada para si, o soltou no chão e ergueu as mãos.
- Quem são vocês?! O que fazem aqui?!
- Calma ai cara... senhor... relaxa...- Pediu Maurício. – A gente tá só buscando abrigo.
Foi então que o prédio tremeu. Darci olhou para cima e teve que se equilibrar para não cair. O alarme do edifício foi acionado e algumas luzes vermelhas de emergência foram acesa nas paredes.
- Mas que porra está acontecendo lá fora?!
- Foi minha culpa! – Gritou Shirley desesperada. – Foi...
Maurício a fulminou com os olhos e ela se calou, limitando-se a chorar.
Ele ergueu as mãos para a frente para mostrar ao guarda armado que estava tudo bem e se aproximou.
- Escute... senhor...
- Darci.
- Darci. Eu... me chamo Maurício. Essa aqui é a Shirley. Tem uma coisa acontecendo lá fora... não consigo explicar...
- Pois tente. O que era aquela coisa no céu?! É uma tempestade?
- Pode-se dizer que sim. Uma tempestade de escuridão. Precisamos... eu preciso... O senhor tem um carro?
O homem o olhou desconfiado.
- O chevette vermelho que está parado na rua de trás.
- Precisamos da chave. Não podemos ficar aqui...
- Vai com calma ai meu chapa. As chaves estão lá em cima na minha sala. Se você acha que vou entregar a chave do meu carro a você ficou louco. Até onde sei, você e essa aí são dois ladrões de merda que eu peguei no flagra. E eu vou chamar a polícia!
Maurício percebeu que agora estavam em uma enrascada. Do lado de fora vinham novos e apavorantes sons, o prédio voltou a tremer.
Darci olhou para cima novamente. Aqueles sons eram sinistros demais, alguma coisa estava acontecendo lá fora e de repente ele pensou em sua família.
- Mas que tipo de merda está acontecendo lá fora?
Darci deu um passo na direção da porta e Maurício entrou na frente dele.
- O que o senhor vai fazer?
- Saia da minha frente, filho.
- Não pode abrir essa porta!
O homem agarrou Maurício pelo colarinho e encostou a arma em sua fronte.
- Escute aqui, seu bandido de merda, vai sair da minha frente ou vou meter uma bala na porra da sua cabeça!
O homem empurrou Maurício, que caiu no chão. Shirley se encolheu em pânico.
Darci se aproximou da porta de lata que tinha sido arrombada e a abriu um pouco, empurrando-a para cima, deixando um vão de mais ou menos um metro entre o chão e a porta.
Olhou para fora através da abertura e o centro de Pindamonhangaba tinha desaparecido. Ou alguém tinha metido fogo em uma montanha de pneus ou ele não tinha a menor ideia do que era aquela névoa preta.
Maurício se levantou e foi se juntar a Shirley, a abraçando.
- Mas que bosta é essa?! – Exclamou Darci, abismado com o que estava vendo.
Havia ruídos lá, sussurros na escuridão, ele achava que eram as pessoas lá fora, os habitantes da cidade, mas não tinha certeza. Existia qualquer coisa de sinistro naqueles sussurros, pareciam estar na névoa escura que era terrivelmente densa, tão densa que ele a tocou. Seus dedos tocaram de leve aquilo e ele estremeceu. Um frio intenso dominou sua alma e ele pensou que seus pulmões fossem explodir.
Agora a névoa escura estava entrando no ambiente através da abertura da porta, deslizando para dentro como uma lesma rastejante, e Deus! Que sons eram aqueles?
- Por Deus! Fecha a porra dessa porta homem! – Gritou Maurício.
Foi quando Darci viu uma coisa que deveria tê-lo enlouquecido, ele teria enlouquecido se fosse uma criança talvez. Crianças eram mais suscetíveis ao bizarro, ele pensava.
Por baixo da porta ele viu centenas de pessoas, poderiam ser as pessoas lá fora, os habitantes, mas ele achava que não eram, as pessoas não passavam de meros vultos negros que se confundiam à fumaça, apenas seus olhos se destacavam na escuridão, porque eram vermelhos e acessos como lanternas. Ele viu outra coisa, e achava que era um pé, um enorme pé do tamanho de um ônibus. Tinha uma coisa andando lá fora e era um gigante, um maldito gigante.
Darci achou que estava na hora de fechar a porta, e foi quando os tentáculos apareceram, e foi quando Maurício e Shirley souberam que aquelas coisas metade macacos, metade demônios não eram os únicos habitantes da escuridão.
Os tentáculos surgiram diretamente do meio da névoa preta. Shirley correu em estado de total desespero. Maurício ficou estático, completamente abismado, vendo o homem negro tentando fechar a porta. Agora havia pelo menos oito tentáculos saindo por debaixo da porta e o homem estava no meio.
Das pontas dos tentáculos surgiram protuberâncias que Maurício achava que eram dentes, os tentáculos tinham bocas providas de dentes em forma de espinhos. Ele viu quando uma daquelas coisas tocou a perna do homem e arrancou um naco enorme de carne. Ele começou a gritar, um jato de sangue explodiu manchando a parede de vidro de uma loja. O homem começou a atirar enquanto forçava a porta de lata para fechá-la.
Maurício saiu da inércia, pegou o pé de cabra e começou a golpear os tentáculos.
Darci atirou naquelas coisas fazendo-as recuar, as coisas não gritavam, faziam apenas um repulsivo som de visgo ao se arrastarem.
Ele recarregou o revólver tentando ignorar a dor na perna. Viu que o tal Maurício estava cuidando da porta, forçando ela para baixo. Ele atirou em mais um tentáculo e a coisa recuou.
A porta finalmente foi fechada. Do lado de fora alguma coisa forçou a porta de lata a estufando.
Darci se preparou para atirar, mas desistiu da ideia.
Eles se afastaram. Os dois se entre olharam. Darci respirava como se estivesse morrendo e suava feito um porco. O medo agora estava estampado em sua face.
- Que porra!... que porra está acontecendo?!
Maurício olhou para a perna dele.
- A sua perna...
Darci se lembrou da perna, se lembrou da dor.
- Merda! Tenho... tenho um kit de primeiros socorros na minha sala.
Maurício olhou para tras e viu Shirley sentada em um banco há uns cinco metros.
- Shirley!
Ele correu na direção dela.
Darci olhou para a porta novamente e se afastou mais.
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