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Paulo começou a se arrepender do erro que cometera assim que o escritor saiu de sua casa. Pensou em correr atrás dele e pegar a coisa de volta mas já era tarde. E ele ficou ali, praguejando e lamentando a sua estupidez, mais uma vez agira como uma criança insensata.
Ele não conseguiu dormir naquela noite. Ficou ali, sentado na poltrona da sala, tomando uísque e meditando. Era o que fazia quando alguma coisa mexia com sua paz de espírito. Foi o que ele fez em 1987 quando Rita, a única mulher que ele tinha sido capaz de amar na vida morreu e o deixou sozinho para cuidar de Shirley, que na época tinha oito anos. Ele ficou três dias inteiros sentado naquela mesma cadeira, não fazendo mais nada a não ser beber e assistir os vídeos em família que tinham sido gravados, os vídeos que mostravam sua esposa viva, e feliz.
Depois do funeral, Paulo mandou Shirley para a casa do irmão, que morava em Campos do Jordão.
Paulo nunca foi capaz de aceitar a morte da esposa.
Ele conheceu Rita no carnaval de 1975. Ele não era o tipo de cara que gostava de frequentar carnaval, mas alguns amigos o convidaram e ele cedeu. O baile estava acontecendo em uma discoteca no centro de Pinda, ele se lembrava de ter gastado 200 cruzeiros naquela noite, e a única coisa de bom tinha sido conhecer Rita, uma linda garota loira de 19 anos, fantasiada de fada, que o encantou logo de cara.
A relação foi conturbada, não por causa dos dois, mas por conta da família dela. Rita vinha de uma família abastada e tradicional de Pindamonhangaba, o pai dela era médico e vereador na cidade. Uma semana depois do início do namoro, um imenso Ford Landau apareceu na casa de Paulo, e seu João Albuquerque, saiu de dentro dele, e a conversa que eles tiveram foi a mais tensa que Paulo se lembrava de ter tido com alguém, tirando talvez a conversa com a índia, anos mais tarde. João Albuquerque tinha assinado um cheque de mil cruzeiros e estava disposto a deixá-lo com Paulo caso ele terminasse aquele namoro idiota com a filha dele. João deixou bem claro que era perda de tempo, que Rita não era o tipo de mulher para ele. Ela era uma mulher culta, e ele não passava de um peão de roça, que futuro ele tinha a oferecer a ela?
Paulo convidou o homem para sair de sua casa da maneira mais rude possível, disse a ele que ele podia enfiar seu cheque de mil cruzeiros naquele lugar.
De certa forma o namoro prosseguiu, apesar de Paulo saber que o pai dela tinha razão. Que futuro ele podia oferecer a ela? Ele era um agricultor, tinha uma banca na feira onde trabalhava todos os sábados, e fornecia legumes e verduras a armazéns na cidade e fora dela. Com o dinheiro ele conseguia manter o modesto padrão de vida, tinha comprado o Corcel zero quilometro por Cz$ 15.262.00, pagando a vista. Mas o padrão de vida de Rita era elevado, e ele não tinha muito mais a oferecer.
Costumavam se encontrar no bosque da princesa, às quartas feiras, quando Paulo ia fazer algumas entregas, e eles conversaram sobre. Rita disse que dinheiro não importava a ela, nada daquilo realmente importava. Ela o amava, e pediu a ele para não deixá-la, ela morreria se ele o fizesse.
Eles se casaram em 22 de outubro de 1975, e só a família dele compareceu à cerimonia e à festa. Paulo e seu pai eram sócios, seus pais tinham comprado uma casa na cidade e se mudado para lá, e Paulo ficou morando na fazenda.
No meio da festa o imenso Landau branco apareceu, e o pai e a mãe de Rita apareceram com um embrulho de presente nas mãos. Seu João apertou a mão de Paulo, desejou boa sorte ao casal, a mãe dela a abraçou, depois eles entraram no carro e se foram, mais tarde, eles descobriram que o embrulho guardava um faqueiro de prata que devia valer uma fortuna. Eles guardaram o faqueiro na gaveta da cozinha e nunca o usaram, ele ainda estava lá, descansando eternamente.
O pai dela tentou fazer outras interferências na vida dos dois, ofereceu um emprego na câmera de vereadores. Paulo poderia ter aceitado mas não o fez. Às vezes ele mandava dinheiro. Eles brigaram novamente em 1978, um ano antes do nascimento de Shirley, Paulo o procurou em seu consultório para devolver os cheques, e pediu para ele parar de enviá-los, Os dois não precisavam do dinheiro dele. O homem o chamou de cabeça dura, ele entrou no Corcel e foi embora, e por um tempo os cheques pararam de ser enviados.
Shirley nasceu em 1979, e as coisas começaram a ficar apertadas, de um jeito que ele começou a questionar se tinha tomado as melhores decisões.
Paulo perdeu toda uma plantação de tomates, em uma chuva que tinha sido histórica naquele ano, a perda tinha sido de mais de 250 mil cruzeiros. Ele teve que vender um dos tratores, e demitir os funcionários.
Em 1980, ele e Ritra tiveram uma briga feia, porque Rita aceitara dinheiro do pai sem ele saber. Ele a obrigou a devolver e ela o chamou de orgulhoso de merda.
Depois, de noite, sentado em sua poltrona com uma cerveja na mão assistindo o futebol, Paulo se perguntou se ela não tinha mesmo razão. Aquilo era puro orgulho ferido. Ele não queria dar o braço a torcer, ele se achava capaz de resolver as coisas sozinho, mas o que estava acontecendo na realidade era que ele estava escorregando para um buraco cada vez mais fundo, e não queria admitir que precisava de ajuda para isso.
Em 81, a coisa ficou pior, porque seu pai se retirou da sociedade, ele estava aposentado e cansado, e ele discutiu com o pai porque este o mandou procurar um emprego de verdade para sustentar a mulher e a filha.
Em 1987, Rita morreu, e ele descobriu que ela estava com câncer e que vinha escondendo aquilo dele há anos. Às vezes ela pegava o carro e saía sozinha com Shirley, dizia que ia visitar amigas, ou sua mãe, mas o que ela ia fazer era se consultar com médicos. Rita tinha um câncer no pâncreas, e em 1987 ela não foi mais capaz de esconder.
Paulo nunca conseguiu perdoar a esposa por ter escondido uma coisa daquelas, e disse a ela que ela não tinha o direito. Foi a segunda briga que tiveram, e três meses depois ela morreu.
No funeral o pai dela apareceu e fez acusações, disse que ele era o único responsável pela morte de Rita.
- Ela morreu por sua causa, seu verme!
E Paulo perdeu a cabeça, partiu para cima do velho e lhe deu um soco no rosto, e a coisa só não foi pior porque seu pai o segurou. O homem disse que ele ia se arrepender, e já no mês seguinte, ele teve que enfrentar a justiça. João Albuquerque tinha entrado na justiça para requerer a guarda da neta de oito anos, alegando que o pai não tinha condições de cuidar dela.
Paulo não sabia de onde tirou forças para enfrentar aquele período. Era uma guerra desigual, o homem tinha contratado os melhores advogados, e ele certamente ia perder a guarda de sua filha, a única coisa que ele tinha na vida.
Mas o destino parecia estar ao lado de Paulo. Ele descobriu coisas, quase que por acaso. Teve a felicidade de conversar com um assessor de algum vereador, que lhe revelou alguns segredos sórdidos, sobre um esquema de desvio de verba publica, um esquema que era encabeçado justamente por João Albuquerque, naquela época, presidente da câmara.
Paulo viu naquilo seu trunfo, e pela primeira vez na vida viu-se indo contra seus escrúpulos. Ele disse ao homem que era um policial federal, a carteirinha que ele tinha de sócio da biblioteca pública passou despercebida pelo homem que estava bêbado.
- Não estou interessado em prender você, amigo. Não estou mesmo. Acredito que você não passa de pau mandado. Mas escute, você pode se safar.
Paulo representou bem. Quando adolescente tinha participado diversas vezes de peças na escola, e sempre tinha representado muito bem.
O homem ficou interessado, se ele podia se safar, faria tudo o que pudesse.
Paulo disse a ele que queria ver os documentos que comprovavam o esquema, queria todos eles.
E ele os conseguiu. Logo na manhã seguinte ele marcou uma reunião com João Albuquerque, no gabinete dele na câmara municipal, e João não tinha nem ideia de que ele tinha estado ali no dia seguinte, ele não tinha ideia de que certos documentos estavam faltando em seus arquivos.
Paulo disse a ele o que queria, e o que ele queria era o imediato encerramento do processo em relação a Shirley.
- E o que faz você pensar que eu vou fazer isso? Ficou louco?!
- Oh não, meu querido sogro. Não fiquei não.
Então Paulo mostrou a ele o que tinha, contou tudo. Disse a ele que se o processo não fosse encerrado em 24 horas, aqueles documentos (e ele tinha cópias) iriam parar na redação do jornal local, e quem sabe do estadual também.
No dia seguinte ele recebeu duas correspondências. A primeira era do tribunal do júri, dizia que todos os processos sobre a tutela da menor Shirley Maria da Silva Albuquerque estavam encerrados e a guarda da garota estava lhe assegurada. A segunda carta era do sogro, dizia que as coisas tinham sido feitas como ele pedira, e pedia a devolução de todos os documentos que ele tinha em mãos, conforme o combinado. Também havia um cheque de 100 mil cruzeiros.
Dessa vez ele aceitou o cheque, o depositou no banco em uma poupança que tinha aberto para Shirley, colocou todos os documentos em um envelope e o despachou para a casa do sogro.
João Albuquerque morreu em 1990, vítima de um atentado a tiros. Paulo perdeu os pais pouco tempo depois. Sua mãe morreu em 1992 e o pai em 94.
Seu pai deixou a casa na cidade, Paulo odiava cidade e vendeu a casa em 1996, e abriu um armazém, ele continuava a trabalhar com agricultura e vendia os produtos no armazém.
Durante todos aqueles anos a coisa que ele tinha pegado no fundo do rio Paraíba em 1969, a coisa que tinha brilhado como ouro, e depois nunca mais, foi como uma sombra em sua existência.
Ele só foi contar a história para a filha em 1998.
Shirley chegou em casa e encontrou o pai na cozinha, sentado à mesa. A esfera estava sobre a mesa.
- Pai... o que é isso?
E ele contou. Não sabia porque, mas contou. Agira por impulso, e sabia que aquilo tinha sido seu primeiro erro. Devia tê-la protegido, mas ao invés disso despejara sobre ela toda aquela hedionda história sobre as trevas tenebrosas que habitavam aquela esfera que se pareciam com um coco de tucumã.
O que estava feito estava feito, cada um arcava com as consequencias e assumia a sua responsabilidade.
Teria sido assim com Nayeli?
Mas havia uma verdade, e a verdade era que Nayeli não o matara naquela tarde, naquele dia em que ele mergulhou nas águas do paraiba e resgatara a coisa das profundezas. Ela deveria, tinha que ter colocado uma flecha em seu peito. O que estava acontecendo agora não teria acontecido. Mas quem poderia culpar Neyeli? Ela não passava de uma criança, não se podia jogar uma responsabilidade daquelas sobre uma criança. Mas ainda assim tinha sido um erro, assim como ele cometera um erro naquela noite, deixando o escritor levar a coisa, assim como cometera o erro naquela tarde contando a coisa toda a Shirley.
Paulo achava que nunca tinha acreditado naquela história de fato. Era uma lenda, nada mais. Ele tentou acreditar durante todos os dias em que a coisa estivera em seu poder, e poderia ter aberto aquilo, se fosse possível.
(O sangue de uma virgem).
(Shirley).
Mas ele nunca acreditara de fato. Os índios contavam muitas histórias, e que verdade havia nelas? Mitologia era mitologia. Ao menos era o que ele pensara durante todos aqueles anos.
Mas então ele descobriu que na verdade, apesar de não acreditar, acreditava. Ele estava preso em um paradoxo. Sentiu aquilo assim que a coisa saiu de seu poder e uma onda gélida e tenebrosa de medo o invadiu.
Em sua mente ele vislumbrou o dia em que encontrara a sombria cabana em 1981. Ficava a uns dez minutos de caminhada da margem do rio, em uma clareira estranha, cercada por árvores sinistras. Paulo chegou a pensar na casa da bruxa do filme João e Maria, mas não havia doces ali, a cabana de Nayeli era mais tenebrosa, tinha um ar de mistério que fazia seus pelos se arrepiarem.
Naquele dia ele estava caçando e pescando, qualquer coisa que pudesse levar para a casa, seria a mistura para o jantar.
Então ele viu a índia pela segunda vez.
Ele ficou ali, parado, diante da tenebrosa casa, e era como se a casa soubesse quem ele era, ele podia sentir a energia (um tipo arrepiante de energia) emanando lá de dentro. E quando a índia apareceu, saída do meio da floresta como um espírito, foi como acordar de um transe.
Ela estava segurando um arco e tinha uma flecha armada, apontando para ele. Paulo estava armado com uma velha garrucha calibre 38 de dois canos, poderia ter matado a índia, mas não o fez.
Talvez tivesse sido o destino de novo, ou a coisa, pois hoje ele entendia que a esfera tinha vontade própria, e o que ela queria era o que estava acontecendo agora, inundar o mundo com as trevas.
- Quem é você, e o que faz aqui, na minha casa? – Perguntou a índia.
Por um momento ele não soube o que responder, sua reação foi simplesmente erguer as mãos, e se ela quisesse matá-lo, o faria.
Mas ela não o matou, os dois ficaram se olhando por alguns instantes. A índia tinha os cabelos pretos soltos, ao redor dos olhos e na testa ela tinha pintado uma espécie de máscara com tinta vermelha, as faces estavam decoradas com uma pintura que parecia um tribal. Havia adornos amarrados nos braços dela, ela estava usando brincos que pareciam ser feitos de penas coloridas. Uma porção de colares, que deveriam ser feitos de sementes estavam ao redor do pescoço e pendiam na frente dos seios, que estavam ocultos pelos mesmos. Como roupa ela estava usando uma espécie de tanga, que parecia ser feita de palha.
E então, nos olhos dela surgiu a compreensão, ela se lembrou de quem ele era, ela se lembrou daquele dia no rio, e ele também se lembrou de quem ela era.
- É você, - ela disse - o homem branco do barco.
Ele entendeu que ela estava falando daquele dia de 1969, quando ele achou a esfera.
- E você... você é a menina...
- O que faz aqui?
- O que é? – A pergunta saiu de maneira automática, meio sem querer. Ela ficou olhando para ele com uma expressão inquisidora no rosto, então ele repetiu a pergunta, de outro jeito: - O que é aquela coisa? A esfera.
A índia abaixou a arma e começou a caminhar na direção da cabana. Paulo permaneceu ali, plantado como se fosse uma arvore da floresta.
- Se quiser saber venha. – Disse ela.
Ele a seguiu até a casa, e lá dentro ela contou a história, a coisa que no fundo ele sempre achara ser uma lenda, porque uma coisa daquelas era impossível, só podia ser uma história inventada.
Por dentro a cabana parecia ainda mais sinistra que por fora. Paulo viu coisas como ídolos de barro, crânios humanos e de animais, animais empalhados, pedras, e um infinidade de outras coisas que ele não sabia o que eram. Havia uma sala com algumas cadeiras velhas, e uma estante à direita que estava abarrotada de livros velhos. O outro cômodo era uma cozinha onde havia um fogão de lenha aceso, e uma rede no lado oposto.
A índia indicou uma das cadeiras velhas e Paulo sentou-se.
Ficaram em silêncio por alguns instantes, então Paulo começou:
- Naquele dia... vi você naquele dia no rio...
- Por que você tirou da água?
- Bem... eu... eu vi alguma coisa brilhando no fundo da água... pensei que era ouro...
- Estava brilhando?
- Sim...
- Ela escolheu você. Eu sabia. Tem vida própria.
- Mas o que é aquilo?
- Você a mantém segura?
- Sim...
- Deve manter a todo custo.
Ela se levantou e caminhou até a estante velha de livros que ele viu que era feita de bambu. Voltou com um velho livro e Paulo viu que era um manuscrito.
- O que você tem são as trevas que Ubiratã venceu há milênios.
- Ubiratã?...
- Há muito tempo, havia uma mulher na tribo, ela se tornou uma xamã, mas servia as trevas. Seu nome era Anahi. Quando o cacique descobriu que ela servia a Jurupari, tentou expulsá-la e impedi-la de mexer com as artes mágicas. Mas era tarde, Anahi invovou os poderes de Jurupari, e libertou as trevas e os seres que nela habitavam, demônios que passaram a encobrir Tupã, depois ela assumiu o poder e começou a escravizar as tribos, e a matar aqueles que iam contra ela.
“ Um jovem que não aceitava seu poder fugiu e subiu a montanha mais alta. Lá ele teve um encontro com tupã, que mostrou a ele um feitiço e disse o que ele deveria fazer. Disse a ele que no fundo do rio havia uma esfera, um coco de tucumã que tinha sido forjado na lua. Ubiratã precisava pegar a esfera, e recitar as palavras do feitiço quando a lua fosse silício. Depois Anahi e as trevas fossem contidas, ele deveria jogar a esfera nas profundezas do rio, onde ela estaria aprisionada para todo sempre.”
“Ubiratã desceu da montanha e mergulhou nas águas até encontrar o coco. Estava lá, como Tupã dissera. Assim ele partiu para o reino de Anahi, que tinha construído um palácio e uma torre negra às margens do rio, dali ela pretendia dominar todo o mundo, seria seu reino tenebroso de escuridão, com Jurupari como o deus supremo e terrível.”
“O jovem herói enfrentou todos os perigos, entrou lá, e fez o feitiço, aprisionou Anahi e os seres das trevas na esfera e o sol voltou a brilhar na terra, depois ele jogou a coisa, nas profundezas das águas do rio, onde ela deveria ficar por toda a eternidade.”
A essas alturas Paulo já estava bastante impressionado com a história.
- Até... até que eu a tirei das águas... Meu Deus! O que eu fiz?
- Existe uma profecia. – Disse a índia com ar sinistro.
- Uma profecia?!
- Uma velha xamã da tribo dos tuiúcas, antes de morrer disse... – Ela folhou o livro e apontou para uma folha rota. Então completou: - O mal, e escuridão tem vida própria. Jurupari a alimenta, e um dia ela sairá das águas, e quando ela sair, lutem para que as trevas não encubram o sol.
Antes de sair de lá, Paulo perguntou qual era o nome da índia, e ela disse.
Ele voltou para a casa, e foi diferente. Lá, na floresta, ouvindo a história da boca de Nayeli, ela parecia a coisa mais tenebrosa que existia, parecia que Nayeli estava contando alguma coisa que vivenciara. Mas quando ele chegou em casa pareceu diferente.
Ele pegou uma cerveja, depois pegou a esfera, que mantinha guardada em seu guarda roupas, e sentou-se em sua poltrona, passando a examiná-la. Parecia um coco de tucumã, um de metal, ou algo parecido, e nada mais. Nada de trevas. Aquilo não parecia conter nada, e a história que Nayeli contara parecia ser apenas mais uma lenda indígena.
Paulo se lamentava pela ingenuidade do pensamento, agora ele estava vendo, que aquilo era real, ele soube daquilo quando sentiu a coisa.
Houve uma coisa, e ele soube que a esfera tinha sido aberta.
Olhou no velho relógio de parede da sala e viu que ele tinha parado. Verificou seu relógio de pulso e ele também estava parado. Tirou o celular do bolso e ele estava desligado, a tela mais preta que a noite.
Paulo abriu a porta e saiu na varanda.
Olhou para o céu e viu que a luz estava sendo coberta pelo que pareciam ser nuvens negras, mas era como se ela estivesse sendo comida.
Agora seu coração estava palpitando, um medo gélido tomava conta de seu ser.
Ele olhou para a estrada que era a entrada da fazenda e viu a escuridão, ele viu algo mais, coisas se mexendo lá, e ele conseguia ouvi-las, um chamado morto, terrivelmente morto. Mas apesar da morte aquelas coisas ainda estavam vivas, eram uma forma hedionda e tenebrosa de vida.
Ele viu as coisas se rastejando pelas paredes do celeiro, o cachorro começou a latir furiosamente, Paulo desceu rapidamente a escada, se aproximou do cachorro e o soltou.
- Vem Bob. Vamos entrar.
Bob queria ficar ali latindo. Ele estava furioso. Os pelos de suas costas estavam eriçados. Mas então ele murchou as orelhas, ganiu e recuou.
Paulo também recuou.
Olhou mais uma vez para a escuridão tenebrosa que se arrastava lá fora e entrou fechando a porta.
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