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Shirley demorou 5 minutos para pegar suas coisas, ela deu um abraço no pai, Maurício o cumprimentou, e o velho falou para ter cuidado com a coisa, e a essas alturas Maurício pensava que o melhor que tinha a fazer era descartar aquela porcaria em alguma lixeira, assim que tivesse a oportunidade. Mas ele tinha que admitir que era uma história e tanto. Talvez pudesse usar aquilo para alguma coisa, talvez fosse legal fazer uma pesquisa. Mas tudo a seu tempo. A única coisa que ele queria agora era chegar logo ao hotel, se livrar daquela garota e tirar uma boa noite de sono, e amanhã iria ver seu filho, a única coisa que importava.
Depois daquilo ele voltaria para casa e esqueceria aquela gente e suas histórias esquisitas.
Chegaram à porteira e Shirley desceu para abrir. Maurício ligou o rádio e era Iron Maiden de novo, dessa vez cantando The edge Darkness:
I’ve looked into the heart of darkeness
Where the blood red Journey ends
When you’ve faced the heart of darkness
Even your soul begings to bend.
Quando ela voltou para o carro ele estava fumando.
Sentia-se pouco a vontade com aquela coisa na caixa de metal que estava no banco traseiro.
“Tinha alguma coisa se mexendo dentro daquela merda.”
(Trevas)
— Olha... – começou Shirley. – Eu queria pedir desculpas pelo meu pai. Aquela história que ele contou...
— Pensei que você acreditasse.
— Ele conta pra mim desde que eu era criança.
— Eu achei interessante. Um tanto quanto assustadora.
— Daria um bom livro de terror?
— Quem sabe. Qualquer ideia pode ser trabalhada. Depende do contexto. Pesquisa é primordial.
Shirley olhou para trás, e viu a caixa.
— Ele nunca tinha me falado da índia. Eu sabia que ele tinha achado essa coisa no rio, mas a índia foi um elemento novo.
— As lendas indígenas sempre produzem boas histórias. O nosso folclore é basicamente formado por lendas indígenas.
Houve um momento de silêncio, até que Shirley disse:
— Não é estranho e assustador?
— O que?
— Bem... você tem no banco traseiro do seu carro, uma coisa que contém o mal.
Maurício olhou para ela de forma sombria. Tinha algo se mexendo dentro daquela coisa, era como se aquilo fosse um ovo, com um embrião se mexendo, querendo eclodir para a vida.
— A gente vai passar pela ponte do Rio Paraíba. – Disse Shirley.
— E o que tem isso?
Ela olhou para trás, para a caixa.
— Sei lá... meu pai tirou aquilo do rio. Talvez... acho que o lugar dele deve ser o rio.
— Quer jogar isso no rio?
— Você não?
Mauricio olhou para a coisa, depois continuou dirigindo.
Cinco minutos depois se arrependeu de não ter pedido para ir ao banheiro na casa de Shirley.
Ele deu seta e encostou o jipe na beira da estrada.
— O que vai fazer?
— Preciso dar uma mijada. Desculpe. Devia ter pedido para ir ao banheiro da sua casa.
Shirley sorriu.
— Sorte que você é homem. Homem mija em qualquer lugar.
Mauricio saiu do jipe.
Estavam parados em uma curva. Havia uma noite de bambú à direita e um grande pé de manga, perto de uma cerca. A estrada estava deserta. Maurício consultou o relógio de pulso e constatou que passava da meia noite e meia. A lua se sobressaia majestosa em um céu pintado de cinza, algumas estrelas podiam ser vistas entre as nuvens. Era uma noite majestosa, não havia qualquer vestígio da tempestade que caira mais cedo, ali no vale. Ele olhou para o lado oposto, o lado das montanhas, e lá o cenário parecia ser diferente. Nuvens negras povoavam o céu e encobriam as partes mais altas das montanhas.
Lá na frente, no horizonte próximo, dava para ver a cidade toda acesa.
Mauricio abriu o zíper da calça e começou a se aliviar.
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