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O nome da lanchonete era Parada obrigatória, e considerando as condições do tempo era de fato quase obrigatório que ele parasse. Coincidência ou não, ele parou.

     Maurício fez uma curva a 60 por hora e viu as luzes vermelhas e azuis do neon que pareciam guerrear contra a tempestade para se destacarem na escuridão, e elas estavam quase perdendo a guerra.

     Hora de parar e dar uma relaxada até que a chuva passasse. Ele ponderou que aquela era a melhor coisa a fazer, dadas às circunstâncias.

     Maurício deu seta para a direita e fez o jipe entrar em uma entrada pavimentada. Havia um posto de gasolina à direita e a lanchonete mais à frente. Alguns carros estavam no estacionamento, ele contou pelo menos uns 5. Havia também uma Veraneio azul, mas, a julgar pelas condições do veículo, ele devia estar parado naquela vaga há pelo menos 30 anos.

     Maurício parou ao lado de um gol azul e se arrependeu de não ter um guarda-chuvas no porta-luvas. Sua mãe sempre tinha um guarda-chuvas no porta-malas do Comodoro que o pai dirigia quando ele tinha 15 anos. Ela dizia que os meteorologistas eram enganadores do diabo e não havia como prever o tempo. O tempo parecia estar revoltado contra a humanidade agora. Maurício teve que tirar o casaco quando entrou na lanchonete, estava pingando, como se ele tivesse entrado em uma lagoa. 

     Era uma daquelas lanchonetes em estilo americano. Quando ele entrou, havia umas 10 pessoas lá dentro contando com os dois atendentes por trás do balcão, uma garota cheia de sardas e o cabelo ruivo e um senhor meio gordo usando um avental que tinha sido mais branco num passado distante.

     Maurício se tornou o centro das atenções quando entrou na lanchonete. Ele sentiu todos os olhares voltados para si e isso durou alguns minutos, até que ele se aproximasse do balcão.

     — Parece que você deu uma sorte danada de encontrar a lanchonete, filho. - Disse o atendente de balcão que estava com o avental.

     — Nem me fale. Parece que o oceano está caindo do céu lá fora.

     O homem deu um sorriso meio amarelo, ligeiramente desagradável.

     — É- Concordou ele. -  A tempestade está nervosa. Você fez muito bem em parar. Muitas pessoas sofrem acidentes em tempestades como essa. Pura teimosia. É melhor chegar um pouco atrasado do que chegar adiantado no inferno.

     Era uma filosofia impactante, mas verdadeira.

     — O senhor está redondo de razão.

     Maurício pediu a Deus que o velho não levasse a mal a expressão redondo, já que ele estava bem "redondo", e isso era notável, mas agora a coisa já estava dita, e como sua mãe dizia, não adiantava tentar juntar o leite derramado.

     O velho meteu a mão por baixo do balcão, pegou um copo americano e colocou duas doses de uísque nele. Maurício não era muito fã de uísque, mas achava que uma dose de uísque era exatamente o que ele precisava, embora ele preferisse uma cerveja gelada.

     — Esse é por conta da casa, meu jovem.

     — Oh não... Obrigado..., mas estou dirigindo...

     — Você está molhado. O uísque vai ajudá-lo a se aquecer. Além disso vai demorar até você seguir virgem. Umas três horas eu diria.

      Maurício fitou o homem que deu uma piscadela. Ele achava que o homem sabia o que estava dizendo, ele era, como diria seu avô, um cavalo velho, já vivera o suficiente para saber das coisas.

      Ele sorriu, pegou o copo, o ergueu e tomou.

      O líquido desceu por sua goela queimando, mas foi reconfortante, Maurício se sentiu melhor, ou aquilo era apenas uma impressão quer o líquido causava, mas fato é que funcionava.

       Ele sentou-se em um dos bancos do balcão. Havia uma moça sentada ali e ele a cumprimentou. A maioria das pessoas ali estavam reunidas nos fundos da lanchonete onde havia uma mesa de sinuca e um jukebox que estava tocando canções brega. A garota que estava ajudando o velho gordo (provavelmente a filha dele) levava bebidas e porções em uma bandeja, periodicamente, ela estava usando uma calça jeans tão apertada ao corpo que se ela fosse homem daria para ver as bolas comprimidas na calça. Maurício não pôde deixar de reparar nos fartos seios que pareciam que iam explodir para fora da blusa branca que ela estava usando. Maurício não gostava de fazer juízo rápido das pessoas, mas algo naquela garota não o agradou, a impressão que teve era que podia ir para a cama facilmente com ela por uma nota de 100, e ele teve uma impressão pior ainda: a de que a nota deveria ser paga ao pai dela.

      Maurício balançou a cabeça afastando o pensamento, e deu uma olhada no ambiente em redor. Havia uma TV antiga de tubo em um canto da parede, estava ligada no futebol e a transmissão estava péssima, talvez por conta do tempo, talvez pela qualidade da antena, ou ainda talvez (Maurício apostaria suas fichas nessa) por uma junção dos dois.

      Ele ponderou que estava com fome. Olhou no relógio e viu que passava das oito da noite. Tinha feito uma reserva em um hotel em Pindamonhangaba e já devia ter chegado lá se não fosse a tempestade, esperava jantar lá, mas achava que isso ia ter que esperar.

      Havia um cardápio meio encardido no balcão e ele o pegou.

      — Se quer uma sugestão - disse o velho gordo - hoje estamos com uma promoção no x burguer. Não é por nada não, mas fazemos o melhor x tudo da região.

      — Bem... Eu esperava jantar na cidade, mas acho que vou provar a iguaria.

      Ele estava com fome. Tinha tomado café da tarde antes de pegar a estrada e comera um Doritos no caminho. Comer Doritos era um vício, para ele era como respirar, o dia não era dia se ele não comece um pacote de qualquer tamanho de Doritos e tomasse uma coca.

      — Acho que você não vai querer saber de outro lanche. - Disse a moça que estava ao lado.

      Maurício olhou para ela. Era jovem, devia ter uns 21 anos. Era morena e os olhos castanhos que brilhavam. Ela olhou para o velho e disse:

      — Faça mais um pra mim seu João.

      — Viu, - Disse o velho do avental sorrindo para Maurício. - Palavras de uma freguesa. E freguês sempre tem razão. Vou fazer os lanches.

O velho entrou por uma porta que devia ser a cozinha. Era melhor não pensar no nível de limpeza e organização da cozinha.  Maurício olhou para a moça sentada no balcão, ao seu lado.

      — Essa tempestade... Parece que vai acabar o mundo em água, não é mesmo? - Disse a moça sorrindo.

      Era realmente uma moça bonita, ele ponderou, ela poderia facilmente ser uma modelo nas passarelas pelo mundo, mas Maurício achava que talvez ela não tivesse altura e nem corpo para tal, ela não era gorda, estava longe disso, mas também não tinha o corpo de uma modelo, o que era ótimo porque Maurício sempre achara as modelos secas demais. Abraçar uma mulher seca demais era como abraçar um cabo de vassoura.

      — Pode apostar que sim. - Respondeu ele sorrindo. - Tive sorte de encontrar essa lanchonete aberta a essas horas da noite.

      — É. Acho que sim. - Ela estendeu a mão ainda sorrindo. Ficava ainda mais linda quando sorria. - Me chamo Shirley.

      Maurício pegou na mão dela, era como pegar a mão de uma criança de 6 anos. A mão parecia pequena demais, delicada demais.

      — Maurício Pereira.

      A moça arregalou os olhos e assumiu uma expressão de assombro, o que fez Maurício se encolher. Mas então ele entendeu.

      — Eu não acredito! Você é Maurício Pereira, o escritor!

      Maurício ficou surpreso. Quais eram as possibilidades de ele ser reconhecido como escritor e ainda mais em uma lanchonete de beira de estrada? Era bastante improvável. Mas a moça o reconhecera prontamente e parecia admirada.

      — Sim. Sou eu!

      Shirley levou as mãos à boca ainda com aquela expressão de assombro, o que, de certa forma, a deixava ainda mais bela.

      — Oh meu Deus! Não acredito! Eu sou sua fã!

      — Não me diga. É mesmo?

      Em todos aqueles anos de carreira, ele já tinha dado alguns autógrafos, já tirara algumas raras fotos com fãs, mas jamais tinha encontrado alguma pessoa que afirmava ser seu fã com tanto entusiasmo como aquela garota.

     — Tenho todos os seus livros em uma estante na minha casa! Já li todos! Meu pai também é seu fã. Ele tem uma primeira edição de Laços do tormento!

      Laços do tormento tinha sido seu primeiro livro publicado de forma independente, uma tiragem pequena, não devia haver muitos deles por aí. Também não deviam valer muita coisa em um sebo.

      — Puxa! É mesmo?! Fico lisonjeado!

      — E eu fico muito feliz em conhecer meu escritor favorito! Posso te dar um abraço e tirar uma foto?!

      — É claro que sim.

      Maurício recebeu um apertado e caloroso abraço. A garota estava cheirando muito bem, uma fragrância que parecia ser Jasmim, mas não era lavanda, ele saberia se fosse lavanda, porque odiava aquela fragrância. Ele também pousou para dois retratos que ela tirou com o celular.

      O velho João voltou com os lanches e Maurício pediu uma coca para acompanhar. Ele começou a comer imediatamente e ponderou que de fato o lanche era bom, um dos melhores que ele já comera até então.

Shirley pediu uma cerveja e iniciou uma explanação detalhada sobre como tinha começado sua orgulhosa coleção de livros de Maurício Pereira, a maioria comprados em sebos. Maurício ouvia tudo em silêncio, a maioria das vezes concordando com a cabeça e sorrindo. Shirley gostava de falar, daria uma ótima oradora de turma em uma formatura.

      Ele não esperava ser reconhecido como escritor porque geralmente isso não acontecia, e ainda mais em uma noite tempestuosa como aquela, mas já que fora reconhecido achou melhor deixar a coisa rolar.

      A moça parecia realmente conhecer todos os livros e contos que ele já tinha escrito na vida, falava deles com propriedade, como se ela mesma fosse o verdadeiro autor. Isso chamou a atenção de Maurício, não era sempre que você encontrava uma verdadeira fã do seu trabalho, mas aquela moça parecia ser exatamente isso: uma verdadeira fã.

      Depois ela passou a informações pessoais, escolaridade, os pais (era órfã de mãe), onde morava, onde trabalhava.

      Maurício perguntou sobre namorados e ela disse que não tinha. Ele não entendeu muito bem porque, mas gostou de saber isso.

      — E então? Algum livro novo?

      Maurício pediu uma cerveja.

      — Bem... Eu tenho uns projetos em mente... Nada definitivo..., mas penso em escrever alguma coisa sobre lendas brasileiras... Essas coisas.

      Os olhos da garota brilharam.

      — Uau. Eu adoro coisas sobre lendas. Você vai escrever sobre quais lendas exatamente?

      Maurício não tinha a menor ideia, aquilo era apenas um projeto que existia apenas em sua mente, não existia nenhuma coisa em andamento, nenhuma conversa com a editora.

      — Bem... Eu ainda não sei bem... É uma coisa muito recente, entende?...

      — Já ouviu falar da lenda da noite?

— Já.

      — A clássica ou a verdadeira?

      Maurício franziu o cenho.

      — Como assim?

      — Bem... As pessoas contam a lenda de um jeito, mas na verdade ela é de outro jeito.

      — Eu conheço a versão dos índios Uaimiri-atroari... Acho que é a melhor versão que existe. Há muito tempo não existia noite. O Sol brilhava intensamente sobre a Terra, tudo era só dia na aldeia e na floresta. Os homens e as mulheres trabalhavam sem descanso. Mauá controlava o Sol, a Lua e as estrelas e não deixava ninguém se aproximar deles. Uma vez, um homem quis saber como o Sol funcionava, esperou que Mauá saísse para caçar e se aproximou dele. Quando o tocou o Sol quebrou, o mesmo acontecendo com a Lua e as estrelas. Foi então que a noite apareceu e engoliu tudo. Os homens que caçavam na mata ficaram perdidos as mulheres mal conseguiram mais encontrar suas redes, crianças e idosos lamentavam-se do fundo da noite tenebrosa. Mauá voltou para consertar o Sol e ao ver o homem que o havia quebrado, o atirou para longe. Quando o homem caiu transformou-se em um macaco, escuro como a noite e com as mãos douradas como o Sol que havia tocado. Diz a lenda que não foi possível consertar o Sol, ele caminhava para o poente, mas não conseguia retornar, sumindo no horizonte e deixando a Terra na escuridão. Mauá então fez com que a Lua e as estrelas surgissem na ausência do Sol para iluminar um pouco a noite.

      Maurício encheu seu copo com mais cerveja e olhou para Shirley que estava absorta na conversa.

      — Bem... Eu conheço a história de uma maneira meio diferente. Meu pai me contou, o que segundo ele, ouviu os índios terenas contarem. Segundo a lenda uma xamã tentou usurpar o poder da tribo   usando magia negra. Ela convocou os poderes das trevas e trouxe a noite e seus terrores, demônios terríveis ávidos de sangue que passaram a espalhar o terror. Um herói indígena chamado Ubiratan se levantou, fez um ritual aos deuses e recebeu a revelação de como destruir a bruxa. Ubiratan recebeu dos deuses uma esfera feita no plano espiritual, e com ela uma pedra de luz que faria com que as trevas fossem sugadas para o interior da esfera, aprisionando assim a bruxa. Ubiratan entrou na oca da bruxa que mais parecia um castelo feito de trevas enfrentou a bruxa, aprisionou a noite, os demônios e a bruxa dentro da esfera e a jogou nas profundezas escuras do rio paraíba onde ela deveria passar a eternidade. Quando a noite voltou, Ubiratan foi eleito o cacique e Xamã da tribo.

      — É uma história e tanto essa. - Disse Maurício
empolgado. - Sem dúvida a melhor versão que eu já ouvi.

      — Meu pai. Pode contar melhor pra você. Ele tem a esfera.

      Maurício ficou olha do para ela por alguns instantes.

      — Ele tem... A esfera... A esfera da história?!

      — Sim. Segundo ele, uma vez ele estava pescando no rio quando achou a coisa. Ele a levou para a casa e a mantém lá ainda hoje.

      Maurício fitou mais a garota para ver se via nela algum traço de brincadeira, mas não havia nenhum.

      — Bem... Isso é uma lenda, não é? Essa coisa não aconteceu de verdade...

      — O que o faz pensar que não?

      — Isso é uma lenda. Lendas são... Bem, são lendas. Nada mais que isso.

      — Nem sempre.

      Maurício se mexeu no banco.

      — Está querendo dizer que no passado existiu mesmo uma índia bruxa que convocou as trevas do inferno para dominar uma tribo, e que ela foi derrotada por um índio que recebeu uma esfera dos deuses?!

      — E meu pai achou a tal esfera, e a mantém guardada em uma maleta. Lá em casa. Se não acredita vai lá pra ver.

      Maurício sorriu. Ele não tinha a menor intenção de checar aquela história. Aguçou os ouvidos e aparentemente a chuva havia dado uma trégua.

      — Bem... Parece que a chuva já deu uma parada, e eu preciso ir andando. - Ele olhou para o homem com o avental. - Pode me dar a conta por favor?

      O homem sorriu e se aproximou do balcão.

      — Vai mais um para a viagem?

      — Estava uma delícia, mas não. Estou satisfeito. 

      O homem pegou um bloco de anotações, depois fez uma conta na calculadora.

      — São 24 reais tudo.

      Maurício tirou uma nota de 50 da carteira e deu ao homem. Ele olhou para Shirley e perguntou:

      — Seu pai vem te buscar Shirley?

      — Não. O corcel estragou.

      — Estragou de novo. Aquela droga vive estragando. Seu pai devia vender aquele monte de ferrugem.

      — É mais fácil ele me vender do que vender aquele carro.

      — Quer que eu peça para o Paulo te levar?

      — Não se incomode seu João. Vou a pé mesmo.

      Maurício olhou para ela e perguntou:

      — Você mora onde?

      — Ela mora há uns dois quilômetros para a frente seguindo a rodovia. Se puder dar uma carona pra ela.

      Shirley ficou ruborizada.

      — Oh, não precisa se incomodar. Eu me viro.

      — Não é incomodo nenhum. Eu vou para aquela direção. Te deixo na porta de casa.

      — Não vou dar trabalho?

      — Nenhum. Vamos indo.

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